Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 21
Areia, mar e emboscadas!


Notas iniciais do capítulo

Hoje é o aniversário de 2 anos de "Isso não é Romeu e Julieta" yay! XD



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Como um relógio, Julieta acordou e pulou da cama pontualmente às 4h50min em seu primeiro dia de férias, algumas pessoas podiam ser lentas e mal humoradas logo depois de acordarem, mas não ela!

Cheia de disposição, aproximou-se do espelho, já fazendo movimentos de alongamento com os braços, havia sido uma noite extremamente quente, então dormira apenas com shorts curtos e sutiã esportivo, o reflexo de seus cabelos, soltos e muito armados, com mechas grudadas ao pescoço pelo suor, foi a primeira coisa que viu no espelho, e riu com aquilo.

—Parece uma juba de leão. — comentou em voz alta, erguendo-os e torcendo-os para tentar prendê-los. As manchas em seu umbigo, esterno e axilas pareciam estar do mesmo tamanho ainda, bom. — Todos são diferentes um dos outros e cada um é bonito e especial à sua maneira. — iniciou seu exercício motivacional diário, virou o rosto, esticando o pescoço, o lado branco de seu rosto parecia igual também, bom — Não há nada de errado com você… acho que precisa lavar o cabelo, mas você é muito bonita. — seguiu seu monólogo com o espelho, começou a avaliar a mão direita, a parte interna das coxas, a lateral esquerda da cintura e o pé esquerdo também, tudo parecia igual e estável, bom. — Você não tem nada pelo que se envergonhar, essa é quem você é, e nunca se esqueça… ou soque a fuça do imbecil que disser o contrário.

Sorriu consigo mesma.

Inicialmente, quando o psicólogo lhe sugerira fazer aquilo depois que Julieta se trancou no quarto e não quis mais sair por semanas a fio — por vergonha de suas manchas — ela tinha achado que era a maior e mais inútil estupidez do mundo, mas com o passar do tempo acabara se tornando um hábito natural seu e, por mais que odiasse admitir, até ajudou um pouco também, especialmente com o toque especial que acrescentara, no qual se visualizava todas as manhãs descendo a porrada em qualquer imbecil que acabasse com sua paciência.

Ainda avaliando-se diante do espelho ela virou-se… e parou.

Os olhos ficaram arregalados, a boca entreabriu-se.

Mesmo Altolfinho, dormindo em sua casinha do quintal, acordou surpreso com o grito enraivecido que ecoou da casa naquele instante.

Romeu sabia que o monstro estava logo atrás dele, mas não tinha coragem de olhar para trás, sabia que se olhasse seria pego.

—Ali! Vamos nos esconder lá! — gritou apontando para uma loja abandonada mais a frente.

Sem tempo para raciocinar, jogou-se loja adentro e fechou a porta por impulso, virando-se bem a tempo… de perceber que havia deixado Aaron do lado de fora, que foi rapidamente encurralado pela criatura que os perseguia.

—Hermano ¡tu me jodíste! — Aaron gritou em seus fones de ouvido enquanto o avatar dele levava múltiplos socos e chutes.

 Romeu arregalou os olhos.

—Chile, desculpa! — gritou esganiçado.

—¡Abre la puerta!

No mesmo instante a porta do quarto de Romeu abriu-se com um rompante que o sobressaltou, e Julieta entrou por ali como uma tempestade.

—Julys? — chamou confuso. — O que foi? — Sem responder, Julieta jogou-se na cama dele, agarrou um travesseiro e grunhiu — Está tudo bem?

Perguntou girando a cadeira e afastando-se um pouco do computador enquanto pendurava os fones de ouvido no pescoço.

—Montecchio eu estou apanhando aqui! — Aaron gritou desesperado através de seus fones.

—Claro que está tudo bem! — Julieta respondeu irritada, com a voz abafada pelo travesseiro — Por eu não estaria?!

—Agora são dois! — Aaron praticamente chorou através dos fones — Abre essa porta Montecchio!

—O que foi que aconteceu? — Romeu insistiu pacientemente.

Julieta olhou-o mal-humorada, com a cara meio oculta pelo travesseiro.

—Não posso só querer aproveitar o seu ar-condicionado? Está um inferno lá fora.

—O ar não está ligado.

—E tem pelo de gato na sua cama! — reclamou ponto a língua para fora e tentando tirar os pelos com a ponta dos dedos.

—Perséfone dorme aqui, às vezes. — respondeu calmo — Onde elas apareceram agora?

—Eles são três! — Aaron gritou — ¡Madre di Dios! O que está fazendo aí Montecchio?!

Julieta voltou a esconder o rosto no travesseiro e ficou assim ainda por vários segundos, antes de voltar a falar, com voz abafada:

—Sua câmera está ligada?

—Não.

—Então liga a luz.

Aaron ainda estava aos gritos, implorando por socorro e misericórdia, quando Romeu deixou os fones de lado e levantou-se para ir até o interruptor, quando se virou de volta Julieta já havia tirado a blusa e estava sentada de costas para ele na cama, abraçada ao travesseiro.

Ao principio ele não conseguiu ver o que tinha de errado, mas quando chegou um pouco mais perto, pôde perceber a série de pequenas de pintinhas descoloridas descendo ao longo da linha da coluna da amiga.

—O que o seu médico disse?

—Eu não mostrei para minha mãe ainda, vai ser a mesma coisa de sempre: vão dizer que a progressão da doença é imprevisível, e que ela pode estabilizar logo ou não, mas meu avô tem quase 60% do corpo coberto, então… — deu de ombros.

—Ah Julys…

Julieta voltou a se deitar.

—Está quente como o inferno lá fora, então eu vou ficar aqui algum tempo. — declarou rabugenta.

—Tudo bem.

—E acho que o seu boneco morreu.

—O que…? — e quando olhou de volta para a tela do computador, arregalou os olhos ao ver que uma das criaturas conseguira invadir a loja abandonada — Ah! Essa não!

Gritou correndo de volta para o jogo.

O “algum tempo” que Julieta mencionou, acabou se tornando praticamente uma semana inteira: Julieta chegava pela manhã, depois da caminhada matinal de Astolfinho, passava o dia todo na cama usando o Wi-fi pelo celular e só ia embora ao anoitecer, perto do horário do passeio vespertino do porquinho, enquanto Romeu passava suas horas diante da tela, enfrentando monstros, zumbis, animatronicos…

—Estou começando a ficar preocupada com as crianças. — Vanessa admitiu a certo ponto, comendo uma porção de sementes de girassol — Geralmente eu chamo Julieta aqui para conseguir tirar Romeu do quarto, mas dessa vez…

—Essas crianças precisam tomar sol antes que comecem a cultivar cogumelos. — Maria Alice concordou de imediato. — Julieta acha que eu não sei que surgiram mais manchas nela, mas ela sempre age assim quando aparecem mais manchas.

—Julieta tem tomado banho? — Vanessa perguntou — Eu não tenho certeza sobre Romeu… — comeu mais algumas sementes de girassol — Ah, você tem queijo aí?

Acenando afirmativamente, Maria Alice levantou-se e foi até a geladeira.

—Eu tenho em fatias e em cubinhos, qual você…? — de repente Maria Alice colocou-se ereta, fechando a porta da geladeira — Eu tive uma ideia!

Uma péssima ideia, se você quisesse saber a opinião de Julieta.

—Eu não acredito que realmente estão me arrastando para isso! — Julieta reclamou de péssimo humor, do banco de trás do carro — Não podia só ter me deixado na casa da tia Valerie, junto com o Astolfinho?!

No banco da frente, a mãe de Julieta que mexia no celular com fones nos ouvidos, parecia bem confortável em ignorar todas as reclamações da filha, enquanto o pai dirigia em silêncio.

—Não precisa ficar assim, Julys, com certeza vai ser divertido!

Romeu exclamou entusiasmado ao seu lado, atraindo um olhar incisivo da amiga:

—E por que você está tão animado assim? Você odeia ir à praia! Tem medo de entrar no mar porque não consegue ver o fundo, e se queima tão fácil que fica parecendo uma lagosta cozida, da última vez você praticamente brilhava ao sol! Achei que iria virar cinzas!

Assim como destacado por Julieta, os ânimos certamente estavam bem às avessas naquele dia, pois geralmente era Romeu quem precisava ser arrancado de sua caverna para enfrentar o sol.

Mas, sem se deixar afetar, Romeu garantiu:

—Há! Mas dessa vez eu tenho um objetivo!

—Que tipo de…?

A porta ao lado dela se abriu.

—¡Mis amigos, qué onda!

Aaron os cumprimentou animadamente ao entrar espremendo Julieta contra Romeu no banco, com sua enorme sacola de praia.

—Mas que droga…! — Julieta o golpeou instintivamente com um punho — O que está fazendo aqui?

Estava tão ocupada descarregando todo seu mau humor que nem havia percebido que eles haviam parado o carro e seus pais descido.

—Romeuzito me invitó. — alegou.

—Eu o convidei! — Romeu confirmou — Você acabou de me chamar de “Romeuzinho”?!

Os pais de Julieta estavam, naquele momento, do lado de fora do carro, conversando com os pais de Aaron.

—Se esse muchacho causar problemas, vocês têm minha benção para dar um cascudo bem dado. — Mariangel garantiu — E, garantam que ele está bebendo água, em hipótese alguma o deixem os enrolarem ao ponto dele passar o dia todo correndo ao sol só à base de Coca-Cola e ir parar no pronto socorro de novo!

—De novo? — Carlos André piscou.

Mi vida, desse jeito eles vão devolver o garoto antes mesmo de levarem… deixe as surpresas para depois. — Alejandro comentou com o sorriso divertido de quem estava prestes a ver alguém fazer uma besteira muito grande.

—Ele precisa ficar o tempo todo com os óculos escuros. — Mariangel seguiu falando, como se o marido não existisse. — Ele está levando remédio e dinheiro também, mas, por favor, garantam que ele fique com a cabeça molhada.

—Pode deixar, ele ficará em segurança conosco. — Maria Alice garantiu sem querer mencionar que, na verdade, tinha toda uma maleta de primeiros socorros digna de um pronto-socorro na mala do carro.

—Um dia na praia parece uma ótima ideia, talvez eu pudesse só ligar para o trabalho e dizer que fui atropelado, para poder ir junto… — Alejandro sugeriu com um sorriso, mas logo riu nervosamente diante o olhar fulminante da esposa — É brincadeira mi vida, é só que eu ganhei aquela churrasqueira no bingo de escola e pensei que seria uma ótima chance de usá-la, meu amigo aqui sabe como é. — ele afastou-se da esposa, passando o braço em torno dos ombros de Carlos André — Quando ganhamos um prêmio assim unicamente por sorte… ah espera, ele não ganhou nada. — riu cobrindo a boca.

Carlos André suspirou afastando-se do sujeito sem noção de espaço pessoal.

—É melhor irmos agora, não quero pegar trânsito…

—Não precisa ficar chateado, amigo! — Alejandro exclamou alegremente — Afinal para que você iria querer uma churrasqueira se vive a base de fotossíntese, não é?

Carlos André voltou a entrar no carro sem dizer uma palavra, onde Julieta praticamente espremia Romeu contra a porta, para tentar se mantiver longe de Aaron tanto quanto possível.

—Sério, por que você o chamou? — reclamou por entre dentes.

Enquanto Aaron se esparramava confortavelmente no banco, colocando os óculos escuros.

—Como é bom poder ir à praia com a família toda!

Exclamou, embora fosse o único membro de sua família ali, acenando pela janela cinicamente para Adila que, por trás dos pais, mostrava-lhe o dedo do meio.

—Eu tenho um plano Julys! — Romeu sussurrou de volta em seu ouvido — Agora finalmente vamos poder ver se ele tem ou não uma tatuagem!

Céus, aquele menino estava obcecado!

Porém, os planos de Romeu foram logo arruinados quando, mal tendo colocado os pés na areia, Aaron já saiu correndo em direção ao mar, de roupa e tudo, abandonando apenas os chinelos no caminho enquanto gritava a plenos pulmões, algo sobre “ter chegado a Acapulco”.

—Então… qual era mesmo o seu plano? — Julieta perguntou ceticamente colocando as mãos no bolso canguru da jaqueta esportiva. — Ah, você já está começando a ficar vermelho? Devia passar o protetor rápido.

Ela tocou a testa de Romeu, fazendo-o ficar ainda mais vermelho e se esquivar reclamando que ela estava o provocando de propósito, logo antes de sair correndo para recolher as sandálias que o desvairado do Aaron simplesmente havia abandonado na areia.

—Onde estão os rapazes? — Maria Alice perguntou chegando com o guarda-sol.

Julieta deu de ombros.

—Sabe como são os garotos: nada na cabeça.

E se afastou para ir ajudar o pai com as cadeiras, bolsa e isopor sem ligar para Aaron que, a distancia, havia saído temporariamente do mar e agora tentava arrastar Romeu consigo feito um kraken vindo das profundezas enquanto a pobre vítima de debatia e gritava por socorro.

—Julys, por que você não veio me ajudar?!

Romeu reclamou retornando molhado e ofegante, com as mãos apoiadas nos joelhos, para uma Julieta sentada à sombra sobre uma toalha de praia concentrada em cobrir cada mísero centímetro de suas pernas nuas com uma grossa camada de protetor solar.

—Acho que eu estava ocupada. — respondeu.

—Desculpe aí Romeu, eu não sabia que você não sabia nadar! — Aaron chegou logo depois rindo e sacudindo os cabelos.

—Eu sei nadar! — Romeu protestou — Só não queria entrar no mar, podia ter água-viva!

—Então para que vir à praia? — ele tirou os óculos escuros da camisa e os recolocou no rosto.

—Agora minhas roupas estão molhadas e eu estou com a sunga cheia de areia. — reclamou.

—Então espero que tenha trazido uma muda de roupas, e você também Julieta, por que está toda coberta assim?

—Minha pele é delicada. — Julieta respondeu ranzinza.

Até que sua mãe a emboscou por trás e agarrou-lhe a jaqueta esportiva com uma fúria descomunal:

—Que pele sensível o que! Tira isso agora garota, que eu estou com calor só de te ver! — ralhou tentando arrancar as roupas da filha.

—Mãe! — Julieta protestou se debatendo — Para com isso! O Que a senhora está fazendo…?!

— Julieta Alice não ouse morder sua mãe! — Maria Alice gritou em meio ao duelo — Vocês dois segurem as pernas dela!

Arregalando os olhos, Romeu correu para cumprir as ordens, o tempo todo pedindo mil desculpas à Julieta, enquanto Aaron o imitava entre gargalhadas até que, ao final de uma árdua batalha de quase sete minutos, finalmente conseguiram arrancar fora a jaqueta de Julieta, deixando-a apenas com a parte superior do biquíni estilo cropped estampado com várias folhas de tom azul turquesa (quase neon) sobre um fundo azul escuro, e os shorts curtos, expondo suas manchas completamente.

—Ah, que se dane! — ela reclamou arrancando também os shorts e os jogando de lado.

—Julieta, cuidado. — o pai reclamou calmamente tirando a peça de cima de seu livro.

As manchas ao longo da linha da coluna de Julieta haviam crescido e se espalhado um pouco mais, evoluindo de pequenas pintinhas pouco notáveis para marcas com até três centímetros de diâmetro, mas ninguém comentou a respeito.

—Quem é que vem na praia para ler um livro?

Aaron questionou enquanto se afastavam sob as ordens expressas de Maria Alice para “saírem de perto dela e irem de divertir”, logo depois de Julieta ter passado longos dez minutos cobrindo a parte superior do corpo com protetor solar e procurando pela viseira na bolsa.

—O meu pai. — Julieta respondeu com uma bola debaixo do braço.

—Meu pai já estaria com uma caixa de som no último volume grudada no ouvido, dançando só de sunga “o nome dela é Jennifer”  e uma lata de cerveja na mão. — Aaron comentou pensativo — Mas então o que faremos agora, já que vocês dois claramente não querem entrar na água?

—Meu protetor não está totalmente seco ainda. — Julieta retrucou.

De repente Romeu deteve-os simplesmente pulando diante de ambos:

—Que tal vôlei? — sugeriu animado.

—Você não joga vôlei, Romeu. — Julieta estranhou-o.

—E aí formávamos dois times! — Romeu continuou, empolgado — Um com camisa e outro sem! Aaron o que você acha? Eu com e você sem!

Sugeriu, embora fosse ele quem estivesse usando apenas uma sunga box azul escura e uma camisa de botões aberta com estampas de flores tropicais e palmeiras enquanto Aaron continuava vestindo a mesma camiseta e bermudas de quando chegara, e tentou agarrar e puxar a gola da camiseta do outro, como se tentassem reproduzir um remake da emboscada antes protagonizada por Julieta, mas Aaron esquivou-se, afastando-se em posição defensiva.

—Êpa, amigo! Estou te estranhando viu! — ele foi se escondendo discretamente por detrás de Julieta — Não quero magoar seus sentimentos nem nada, mas meus gostos são outros, ta?

Romeu deteve-se por um instante, sem entender, e então começou a ficar intensamente vermelho e, dessa vez, não parecia ser coisa do sol.

—Não é nada disso! — reclamou envergonhado.

—Em particular acho que um pouco mais de curvas e até alguma agressividade para dar uma apimentada, não caiam mal…

Então Julieta o calou com um pisão no pé, antes que Romeu desmaiasse com uma insolação.

—Vamos jogar cinco cortes. — decidiu.

Brincadeiras com bolas não eram as favoritas de Romeu, especialmente, quando Julieta estava envolvida nelas e, conhecendo Aaron como o conhecia agora, supunha que o perigo apenas se multiplicava em dez vezes, mas… todo conhecimento tinha seu preço, certo?

“Cinco cortes” era um jogo que Julieta achava até bem singular, ele não era como queimada, onde você direcionava toda a sua raiva de uma vez em um alvo específico, ao invés disso você tinha que ir acumulando sua raiva golpe a golpe, conforme suas presas iam, gradualmente baixando a guarda, para então… no quinto golpe… descarregar de uma só vez, toda ira e rancor guardado no fundo do seu coração para exumar da face da terra quem estivesse na sua frente!

E isso o tempo todo ciente de que todos os outros tinham exatamente a mesma intenção.

No começo, parecia que seria tudo tranquilo, Aaron e Julieta estava jogando a bola para cima sem muito ímpeto, de forma que não era difícil mesmo para o desajeitado Romeu conseguir aparar e rebater algumas, e sempre guardavam a quinta e última bolada da morte um para o outro.

Mas conforme as jogadas iam passando, eles pareciam ir se empolgando gradualmente, chegando ao ponto em que, em dado momento quando Romeu olhava para cima erguendo as mãos para rebater uma bola de Julieta… foi atropelado por um caminhão de nome Aaron!

Ainda assim, ele não se ralou nem deslocou nada do lugar, então achou que poderia continuar jogando… mas talvez ele devesse ter simplesmente pegado a dica aí e se retirado.

Agora Aaron e Julieta estavam definitivamente mirando em Romeu a cada quinta cortada, sempre lançando uma bola mais assassina do que a outra contra o pobre rapaz que se limitava a pular, correr e gritar desajeitado — perdendo até as havaianas na areia durante uma dessas corridinhas — a cada vislumbre da morte.

—Para quem se diz pouco atlético, você até que sabe se esquivar bem, não é mesmo Romeuzinho? — Aaron sorriu rebatendo a bola para Julieta.

—Por que vocês… sempre… querem me eliminar… primeiro? — reclamou vermelho e ofegante. — E a areia está quente!

—Impressão sua. — Julieta garantiu.

E aí ele levou uma bola cheia de areia no ouvido tão rápida que nem viu de que lado veio e o deixou sentado na areia (talvez estendido) zonzo e desorientado por uns bons segundos.

—Rom… — a voz distante ressoava em seus ouvidos — … meu…! Romeu…! Romeu!

—Hã? — ele piscou.

—Você está bem? — Julieta colocou a mão em seu ombro — Quer um pouco de água de coco?

Quando ele tinha se sentado? Da onde veio aquele coco…?

—Ah… obrigado. — ele aceitou levando o canudo até a boca.

Aaron agachou-se diante dele.

—Qual o seu nome? Onde fica minha tatuagem? Quantos dedos têm aqui?

Romeu fez uma careta.

—Então você tem uma tatuagem!

—Quem aqui falou de tatuagem?! — Aaron o olhou surpreso antes de virar-se para Julieta — Ele deve ter tido uma concussão! Vamos esfriar a cabeça dele no mar!

—Para de dizer besteira! — Julieta ralhou chutando areia nele. — Então vamos continuar a jogar ou…?

—Tia! — alguém chamou se aproximando — Ô tia!

Um garoto magricela de uns nove para onze anos, usando uma sunga listrada com uma garotinha ainda menor usando um maiô cor-de-rosa, veio correndo até eles vindos do mar.

—É comigo? — Julieta virou-se com a bola debaixo do braço — “Tia”?!

Mira Julieta. — Aaron a chamou ainda agachado ao lado de Romeu — Creo que no puedes pegar a niños desconocidos…

O garotinho apontou para o braço descolorido Julieta.

—Isso aí é contagioso?

Romeu engasgou-se com a água de coco, Aaron arregalou os olhos e sentou-se ao lado dele puxando o coco para si.

— ¡Pero algunos realmente lo piden! — exclamou impressionado.

—Hã… Julys… — Romeu tentou se levantar para segurar o punho que Julieta já havia começado a cerrar.

—Qual o seu nome? — Julieta perguntou entre dentes.

—Carlos Eduardo. — o molequinho respondeu.

—Eu sou a Duda! — a garotinha ao lado dele completou — De Maria Eduarda! Por que você tem duas cores?

—Certo, Maria Eduarda e Carlos Eduardo, eu vou contar uma história para vocês… uma vez, quando eu era pequena… assim mais ou menos do tamanho de vocês, acho. — ela os mediu com a mão livre — Eu vi uma moça toda manchada, igual a mim, e fiz essa mesma pergunta a ela.

—E o que ela disse? — quis saber Eduardo.

—Ela me disse que as manchas não eram contagiosas. — Julieta deu de ombros — Mas que apanhou tanto da mãe que até perdeu a cor.

—Isso é mentira! — Duda a acusou.

—Foi o que eu também disse para ela! — Julieta exclamou com falsa surpresa — E sabe o que ela fez?

—O que? — Eduardo perguntou cético.

—Ela me deu uma surra tão grande eu que acreditei! Porque acordei três dias depois no hospital… assim! — e, para dar impacto, abriu sua mão descolorida bem na frente das crianças, fazendo o garoto tropeçar para trás e a menina gritar e cair sentada — E aí eu aprendi a não chamar uma jovem moça de tia!

Completou cerrando o punho, e as crianças arregalaram os olhos e saíram correndo… que falta fazia Astolfinho…

—Ótima didática com crianças, Julieta, estou impressionado. — Aaron riu devolvendo o coco para Romeu.

—Ei! Isso aqui está vazio! — Romeu reclamou.

Julieta virou-se com um sorriso que era, para dizer o mínimo, assustador.

—Vamos nadar agora!

À distância, Maria Alice estava comprando milho cozido com um ambulante.

—Acha que as crianças vão querer um?

—Acho que não, elas estão indo brincar no mar agora.

Carlos André respondeu erguendo os olhos do livro e assistindo como Aaron e Julieta pegavam Romeu pelos pés e mãos e carregavam o pobre rapaz — possivelmente contra a vontade — para o mar.

—Ah certo. — Maria Alice sentou-se na toalha — Que bom que o humor de Julieta finalmente melhorou.

Entre gargalhadas e com água até o meio das canelas, Aaron e Julieta começaram a balançar um Romeu aos berros de um lado para o outro antes de arremessá-lo na água.

Mesmo que soubesse nadar, Romeu tentava ao máximo sempre manter a água apenas até a altura dos quadris quando era “convencido” a entrar no mar, o que hoje, aparentemente, estava se tornando uma grande impossibilidade com Aaron ali.

—Para de me arrastar para o fundo! — Romeu reclamou jogando água em seu rosto e nadando para longe.

—Nem é tão fundo assim! — Aaron riu com água na altura do peito.

Julieta emergiu ao lado dele.

—Tudo bem, deixe-o em paz agora, você já se divertiu.

—Não seja estraga prazeres Julieta. — Aaron virou-se para ela ainda rindo — E quanto a você? Já parou de me evitar?

Julieta arregalou os olhos.

—Hã? Eu não estou…!

Aaron nadou para mais perto e ela automaticamente afastou-se.

—A-há! — exclamou vitorioso.

Ela fez uma careta como se quisesse socá-lo.

—Para que foi que você me beijou, afinal?!

—Não sei. — Aaron deu de ombros — Para que foi que Margot se agarrou com o padre da festa junina atrás da quadra?

—Ela… — Julieta piscou — O que?

—Para que é que eu vou todos os dias nos mesmos horários na praça para te ver?

—Por que você é um competitivo ridículo. — Acusou-o.

—O sujo falando do mal lavado. — sorriu-lhe de lado — Mas acho que é simplesmente porque estou interessado em você.

Julieta afastou-se um pouco mais, nadando para trás.

—Você… — Julieta ponderou por um momento e então se aproximou, com a mão no ombro dele — Está tirando sarro de mim, certo?

Aaron a encarou em silêncio, mas Julieta sentiu quando, por debaixo da água, uma das mãos dele tocou-a no quadril e ficou ali parada por alguns instantes, como ela não fez nada — incluindo chutá-lo nos países baixos — ele pensou que fosse segurou ousar um pouco mais e puxá-la para mais perto.

—Você tem uns parafusos soltos, não é?

—Talvez. — ele coçou o ouvido com o mindinho, como se tentasse tirar água de dentro — Mas a culpa é sua: Eu acho que soltaram naquele dia que você me nocauteou na escola.

Quando ele voltou a rir, Julieta olhou para seus lábios, a mão dela ainda estava em seu ombro, ele agora tinha as duas mãos nos quadris dela… ela experimentou se aproximar, tendo a certeza de que ele iria se afastar rindo e dar a desculpa perfeita a ela para poder socá-lo, mas, muito pelo contrário, Aaron aceitou seu beijo de bom grado.

Foi rápido e salgado, e foi ela quem acabou afastando-se com a mão sobre a boca logo depois — o chutando na canela com pressa.

—Afinal você tem ou não uma tatuagem? — perguntou de repente.

—Foi o Romeuzinho quem pediu para você me seduzir e descobrir? — Aaron gargalhou.

Julieta lançou um jato de água com ambos os braços na cara dele.

—Não diga besteiras! Romeu nunca… — ela arregalou os olhos se virando — Onde está Romeu?!

E, respondendo à sua pergunta, Romeu pulou da água bem atrás de Aaron e se agarrou as costas do outro com braços e pernas.

—Agora eu te peguei! — comemorou vitorioso. — Julys, me ajuda a tirar as roupas dele!

—Ei! Não! — Aaron reclamou debatendo-se na água, mas Romeu parecia um caranguejo, e ele teve quase certeza de imediatamente sentir Julieta arriar suas bermudas por debaixo da água — Isso é assédio! Meus óculos estão nesse bolso! Socorro!

Com certeza a última coisa que se passava pela cabeça dos três era a bola e as havaianas que foram esquecidas na areia ao lado do coco vazio, e que haviam acabado de serem recolhidos por Maria Alice.

—Julieta não aprende, ela sempre deixa as coisas dela espalhadas por aí! — reclamou retornando para perto do marido — É por isso que, quando era criança, perdia todos os seus baldinhos!

Mas Carlos André não respondeu, pois estava muito concentrado vendo ao longe como uma onda particularmente grande varria os três do mar e os jogava entre cambalhotas — com direito a pernas para cima — na areia.


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Notas finais do capítulo

Eu senti falta do Astolfinho nesse capítulo, e vocês? '^'
Só quando terminei de escrever, percebi que tivemos todas as combinações de emboscadas possíveis entre o trio nesse capítulo kkkkkk



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