Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 19
Porcos não sobem em árvores.


Notas iniciais do capítulo

Isso não é pegadinha de 1° de abril não!
Depois de OITO meses, Isso não é Romeu e Julieta está de volta do Hiatus!!! XD
Vamos ver quanto tempo dura dessa vez O.O



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Não era sempre que Romeu conhecia alguém tão descaradamente cara de pau como Aaron que, mesmo após sua bombástica e incrível descoberta, ainda teve a audácia de simplesmente dizer:

—Que isso Romeuzinho, acho que você anda jogando demais, eu gosto de me exercitar, moro aqui por perto e estudo no mesmo horário que vocês, então não é normal que nós tenhamos horários que coincidam? — ele deu de ombros com um sorriso despreocupado — Ah, cierto, ahora me tengo que irme, ¡creo que dejé  la lechona en el fuego!

E aí se virou e saiu correndo!

—Eu não acredito que ele negou! — Romeu bateu o pé no chão — E ainda me chamou de “Romeuzinho” eu não sou uma criança!

Como se tentasse consolá-lo, Julieta deu tapinhas em seu ombro.

—Não ligue, ele é um idiota. — ela deu de ombros — E, além disso, o que você falou faz sentido, ele é um péssimo perdedor então é claro que ficaria vindo aqui todos os dias forjando “coincidências” só para ter sua revanche, e mesmo quando ganha, volta no outro dia pra esfregar a vitória e quebra a cara.

—Isso! Isso! — Romeu animou-se — Então você concorda certo, Julys?!

—Claro.

—E você vai dançar comigo na festa junina? — Romeu mudou de assunto.

Afinal mesmo se o prazo para as inscrições tivessem acabado de começar, eram apenas cinco casais por turma.

—Você quer tomar um picolé antes de ir para casa? — Julieta desconversou.

Mas antes que pudesse responder, Astolfinho roncou animadamente, sentando-se aos pés dos dois e Romeu apontou-o.

—Acho que Astolfo também quer picolé.

Comentou ao que o porquinho roncou feliz novamente, atraindo um olhar crítico de Julieta.

—Isso é culpa daquele idiota que está dando maus hábitos alimentares a ele com comida fora de hora! — reclamou — Asfoltinho nós temos que cuidar do seu peso!

Porém o porquinho ficou fungando, e olhou-a de forma tão lamentável… que Julieta acabou comprando-lhe um picolé de jabuticaba antes de voltarem para casa.

Mas mesmo que ele continuasse a fingir encontros ocasionais com Julieta com todo o cinismo do mundo, Aaron e suas motivações escusas não era aquilo com o que Romeu precisava se preocupar agora: ele precisava arranjar o quanto antes uma maneira de fazer Julys aceitar ser seu par na quadrilha, pois o prazo final já estava chegando.

—… E de alguma forma Tia Valerie e Helena colocaram o vídeo nos status delas! — Julieta estava contando enquanto eles pedalavam para a escola poucos dias depois.

—Mas se eles fossem cancelar seu aniversário sempre que você arruma briga Julys, então também não haveria tido sua festa de quinze anos…

—Aquilo foi diferente, independente de eu ter ou não acertado uma joelhada que deixou um hematoma do tamanho de uma bola de vôlei nas costelas de uma garota, os depósitos dos meus avós para o fotografo, os vestidos, o bolo, a decoração e o aluguel do salão não seriam devolvidos. — Julieta deu de ombros.

 —Se você diz… Ei Julys, apenas hipoteticamente, se eu te oferecesse alguma quantia para dançar comigo na quadrilha e você fosse aceitar… quanto seria preciso? Talvez… menos de R$ 200,00?

—Romeu, você não pode estar falando s…!

Mis amigos, ¡qué onda! — Aaron chamou-os acenando para eles do portão da escola com um sorriso de lado — Que coincidência chegarmos todos juntos, não é?

Ele com certeza estava zombando deles, pois claramente já os estava esperando ali há algum tempo, parece que o cinismo daquele cara não tinha limites.

—Apenas por curiosidade Aaron. — Julieta freou a bicicleta próxima a ele — Há quanto tempo você está coincidentemente parado aqui?

Aaron sorriu-lhe olhando-a por cima dos óculos escuros.

—Desculpa mi bien, mas estou sem relógio aqui.

Estranhamente dessa vez ao invés de querer socá-lo, Julieta só conseguiu rir.

E, ainda por cima, dedicado em ir até o fim em sua atuação canastrona, Aaron os seguiu depois que entraram na escola.

—Que coincidência, eu estava vindo justamente por aqui!

—Você nem tem bicicleta! — Romeu protestou.

Aaron ergueu as mãos com os olhos arregalados.

—Oh não! Roubaram-me e eu nem percebi?!

Ele podia gostar de competir contra Julieta, mas hoje definitivamente seu único objetivo era irritar Romeu, e estava sendo bem sucedido, porque ele já estava começando a ficar com o rosto vermelho enquanto Julieta respirava fundo e se concentrava em trancar o cadeado da bicicleta, para não achar graça das provocações daquele colombiano cínico, estava na cara que aquilo não ia levar a lugar algum, e até Romeu se deu conta disso em algum momento, então tomou a única decisão sensata possível: deu as costas a Aaron e virou-se para Julieta.

—Julys, você ainda não me deu sua resposta.

Mas bem que ele poderia ter escolhido algum outro assunto.

—Resposta para que? — Julieta fez-se de desentendida, mesmo sabendo que era inútil.

—Como não sabe Julys? — ele pegou a mão descolorida dela entre as suas — Sobre eu te pagar R$ 200,00 para dançar na quadrilha comigo, o prazo é até hoje!

Julieta tentou puxar a mão de volta.

—Romeu eu não posso aceitar R$ 200,00…

—Mas é tudo o que eu tenho! — interrompeu-a suplicante sem querer soltá-la.

—A questão não é…

¡¿Ducientas platas?! — Aaron engasgou-se, puxando o ombro de Romeu e virando-o para si — Por metade desse valor eu mesmo coloco um vestido, danço com você e ainda sou a noiva!

—Você nem é do mesmo ano que a gente! — Julieta o empurrou para longe de Romeu.

Aaron sorriu encolhendo os ombros e erguendo as mãos com as palmas voltadas para cima.

—Você gostaria que eu lhe jogasse o buquê, meu bem?

Por que ele tinha que se dedicar tanto em ser irritante?!

Julieta enlaçou seu braço ao de Romeu e começou a levá-lo consigo.

—Romeu, o que quero dizer é que não precisa ser justamente eu a dançar com você…

—Mas eu quero você Julys!

—E também que você não deve pagar nem a mim e nem a mais ninguém para dançar com você! — lançou um olhar direto a Aaron que ainda os seguia.

—E como um pedido de aniversário? — Romeu perguntou esperançoso.

—Eu e você fazemos aniversário do mesmo dia! — o relembrou.

—Ah sim! — Aaron intrometeu-se novamente, até quando ele iria continuar seguindo-os? — Doze de junho, certo?

—Como você sabe?! — Romeu perguntou surpreso.

Aaron arqueou as sobrancelhas.

—Cara, você me mostrou suas identidades quando nos conhecemos, não é todo dia que se conhece um Romeu e uma Julieta andando juntos de verdade por aí, muito menos que tenham nascido justo no dia nos namorados! Como é que eu iria esquecer?

Ele tinha um ponto, mas isso não tinha importância.

—De qualquer forma Romeu, você só tem que convidar outra pessoa…

—Então não tem mesmo jeito de você ser meu par, Julys?

O amigo olhou-a suplicante.

—Ah… bem… — Julieta realmente pretendia dizer “não”, mas se Romeu continuava a olhá-la daquele jeito — Hum… quero dizer…

Romeu era magricelo e pouco (nada) atlético, ele não teria muitas chances como aquela de tirar uma nota perfeita em Ed. Física, mas também não era ousado o bastante para ir “sozinho” se apresentar na frente da escola inteira… até na aula de natação Julieta tivera que dar o primeiro empurrão (literalmente) para ele entrar na piscina quando eram crianças.

Julieta realmente não queria dançar, ela não precisava desses pontos em Ed. Física e se mais alguém fizesse piadinhas sobre ela não precisar de roupas quadriculadas para a festa junina porque ela inteira já era uma colcha de retalhos, então esse alguém também não precisaria de maquiagem nenhuma para fingir ser banguela… mas como é que ela ia continuar dizendo “não” com o Romeu a olhando e suplicando daquele jeito?!

Ela repuxou uma mecha de cabelo por sobre o olho esquerdo. Mas que inferno.

Claro que nenhum dos dois iria imaginar nem de longe que Margot iria se debulhar em lágrimas quando descobriu que havia “perdido a chance” de ganhar R$ 200,00 ao recusar Romeu como par.

—Margot ele não ia te dar R$200,00 para dançar com ele! — Julieta exclamou incrédula — E você já tem par também, por que todo esse drama criatura?!

—Eu não sei. — Margot esfregou os olhos — Acho que é hormonal, por causa daqueles dias.

—Hormonal por causa daqueles d…? Ah! — Romeu engasgou-se, arregalando os olhos.

—Sério? — Julieta apoiou o rosto de lado em uma mão, ela era mais do tipo que às vezes em dias assim queria arrumar briga até com as plantas da rua. — Você precisa de um absorvente?

Parecendo de repente muito perdido e assustado Romeu levantou-se com um pulo e o rosto muito vermelho.

—Eu vou… vou ali… e… e… tchau! — gaguejou antes de sair correndo da sala de aula.

—Valeu Juju, mas…

—Não me chame de Juju.

—… eu estou bem, só preciso de um pouco de chocolate e o contato do seu tio gatinho.

Dessa vez foi Julieta quem levou um susto:

—Jesus, garota!

—Não, seu tio Heleno. — Margot a corrigiu com um sorriso — Mas se você tiver também um tio Jesus gatinho…

Julieta até tinha um tio Jesus, mas ele já tinha mais de cinqüenta anos.

—Não, chega. — ergueu as mãos sentindo que não podia continuar ouvindo mais — Eu vou procurar o Romeu, a aula já vai começar.

—Me convide para a próxima reunião de família! — a louca ainda teve coragem de pedir-lhe com toda animação do mundo.

Hormônios, claro, a mulher era apenas maluca, porém Julieta teve o bom senso de ignorá-la e, enquanto saía da sala, percebeu que, felizmente, dessa vez ninguém começou a recitar a velha anedota “Romeu, Romeu, onde está meu Romeu?”, quem sabe a surra em Alan não tivesse lhe rendido alguns dias de paz?

Mas uma reunião de família? Até parece, àquela altura os pais de Julieta já deveriam estar discutindo para qual internato mandar a filha pugilista… ou assim seria se não fosse por duas simples razões: primeiro, seria algo muito problemático transferir alguém no meio de seu último ano escolar; e segundo: aquele também era o aniversário de Romeu.

—Os dezoito anos são uma idade importante para os garotos, e ele até foi o príncipe de Julieta quando ela fez quinze anos, deveríamos fazer algo para não passar em branco, mesmo que pequeno.

Maria Alice argumentou ignorando propositalmente que aquele também era o aniversário de sua única filha, que estava logo ali ao lado cozinhando ovos, talvez porque não quisesse ser relembrada que logo Julieta poderia ser legalmente presa… às vezes ela se preocupava demais, Julieta girou os olhos.

—Se está pensando em fazer alguma reunião, não chame a Valerie. — o pai de Julieta comentou sem desviar os olhos do celular.

—Carlos André, ela é sua irmã! — Maria Alice o repreendeu.

Ele nem se importou em erguer os olhos quando ajeitou os óculos e respondeu:

—E da última vez que a convidamos para um aniversário de Julieta aqui em casa, ela apareceu com um mini porco numa caixa de papelão, da próxima vez podemos acabar nos surpreendendo com um cabrito ou cinco galinhas.

—Você adora esse porco, eu sei que tem uma caneca com a foto dele no seu consultório!

—Então você quer mais animais?

Maria Alice lançou um olhar a Astolfinho que roncava impaciente girando em volta dos tornozelos de Julieta enquanto ela colocava dois ovos cozidos com casca em uma tigela com ração, abobrinha e batata doce picada.

—Vou avisá-la que mais animais de estimação estão fora de cogitação.

Assim, após passarem praticamente a semana inteira em deliberação, os pais de Julieta resolveram avisarem-na, quase em cima da hora, que eles não tiveram outra escolha além de preparar um bolo de aniversário, esconder as facas e preparar os balões d’água.

—Eu entendi a parte do bolo, mas que história é essa de balões d’água…? Não, esqueça, por que eles precisam esconder as facas?! — Margot perguntou alarmada.

—É só uma piadinha interna de família, não leve a sério. — Julieta deu de ombros.

Mas Margot ainda estava apavorada.           

—Por acaso não uma piadinha baseada em fatos reais, né?

—Claro que não.

—Mas só por precaução, não seria melhor escondermos os garfos também? — Romeu sugeriu.

—Vai ficar tudo bem se ninguém mexer na minha comida. — Julieta retrucou semicerrando os olhos enquanto Margot empalidecia — De qualquer forma, Margot, você pediu para avisar e eu estou avisando, é amanhã, apareça por sua conta e risco, leve toalha e uma muda de roupa.

Não! De jeito nenhum! Margot podia até estar um pouco interessada no tio gatinho de Julieta, mas ela ainda prezava pela própria segurança! E também ele nem era tão gatinho assim, mesmo se ficasse com a camisa toda molhada ou será que na verdade ele não usaria camisa alguma…? Será que levar presente era obrigatório?

—Sério o que você está fazendo aqui?

Julieta perguntou cruzando os braços ao abrir a porta para Margot que, obviamente, ficou ofendida.

—Como assim “o que”? Você me convidou Juju!

—Não você, ele. — apontou com o queixo para alguém atrás dela — Eu não o chamei.

— ¡Olá! ¿Qué pasa? — Aaron sorriu-lhe — Romeu me convidou.

—Eu não…!

Romeu tentou dizer, mas Aaron já estava entrando.

— ¡Feliz cumpleaños mis amigos! — cumprimentou-os abraçando a ambos, segurando uma sacola de presente em cada mão, e então se afastando e falando, com um sorriso, rápido demais para que pudessem compreender: — Y ahora que han llegado a la mayoridad, déjame dije-les algunas cositas: el hecho de que son mayores no lo significa que sus mamás no poden dar-les una palmada en las espaldas tan fuerte que te hará esculpir los pulmones  cuando te ve la tatuaje nueva, o quizás una en la oreja que te haga rodar la cabeza porque rompiste el ventilador.

Julieta não entendeu uma vírgula, mas Romeu saltou para trás como se tivesse sido eletrocutado.

—Você acabou de falar de uma tatuagem, não foi?! — acusou-o.

—Eu? — Aaron olhou com a cara mais deslavada do mundo — Não.

—Você fez ou não uma tatuagem?! — Romeu exigiu saber.

—Claro que não. — Aaron riu passando uma mão pelos cabelos e com a outra estendendo as sacolas de presente para os aniversariantes, completando rapidamente assim que eles a pegaram: — Tecnicamente foi o tatuador.

Romeu quase deixou o presente cair.

—Que?! — perguntou piscando.

—Que? — Aaron piscou de volta.

—Obrigada, mas agora não posso te colocar para fora por ter vindo de penetra.  

Julieta comentou ignorando completamente aquela ladainha enquanto tirava seu presente de dentro da sacola de papel: uma bolsa pochete coberta de lantejoulas rosa neon.  

Ao que Aaron abriu um grande sorriso e Margot fez uma careta.

E, levado pela curiosidade, Romeu também se esqueceu da tatuagem de schrödinger de Aaron e abriu seu próprio presente: um par de headphones bluetooth.

—Ah, obrig…

Aaron bateu palmas e esfregou as mãos.

—E o bolo?

—Você é o que? Um interesseiro? — Margot o censurou de cara lisa.

Julieta cruzou os braços.

—Os bolos são para mais tarde. — respondeu, e então olhou para Margot — Depois que todos os convidados chegarem.

Ambos murcharam visivelmente, mas Aaron se recuperou quase instantaneamente:

—Você disse bolos? No plural?!

—Nós somos dois aniversariantes.

Romeu explicou antes de ser surpreendido, juntamente com Julieta, por mais um abraço de urso de Aaron.

Se Maria Alice e Vanessa ficaram surpresas com a aparição dos convidados não aparentados, elas disfarçaram bem, mas Carlos André ficou claramente confuso.

—As crianças não são muito boas em fazer amizades. — comentou olhando para Aaron e Margot como se fossem algum tipo de espécie nova de animal.

Ele era um homem magro e pequeno com barba por fazer, cabelos já grisalhos nas laterais que iam rareando mais no topo e tinham grandes entradas na frente.

—Romeu é um pouco tímido, ele não consegue se aproximar facilmente das pessoas. — Vanessa explicou comendo um tablete de queijo.

—E as crianças da rua não costumam se aproximar de Julieta desde que ela enfiou um garfo naquele garoto. — Carlos André completou pensativo.

—Não Carlos, aquilo aconteceu no aniversário dos gêmeos e eu acho que ninguém aqui da rua ficou sabendo. — Maria Alice o corrigiu — Os vizinhos só começaram a ficar receosos com Julieta depois que ela deu uma joelhada no meio das pernas daquela menina… Isabel, não é?

—M-mas…! — Julieta eriçou-se automaticamente, como costumava acontecer sempre que mencionavam seus “incidentes”. — A culpa foi dela mesma que se escondeu atrás daquela parede e pulou para me assustar! Eu…! Eu só reagi pelo susto!

Maria Alice cruzou os braços, com uma expressão descrente para a filha.

—E quanto à tapa e os chutes?

Julieta mexeu-se desconfortável, repuxando uma mecha do cabelo por sobre o olho esquerdo.

—Eu… posso ter ficado com um pouco de raiva. — resmungou.

Enquanto isso, Margot discretamente afastava-se um passo para o lado.

—Nunca se deve assustar a Julys. — Romeu advertiu Aaron e Margot sussurrando — As pessoas costumam descobrir isso da pior maneira.

Margot afastou-se mais uns passos…

Aaron encolheu os ombros.

—Certo, mas quem é que nunca deu um soco na hora do susto?

—Não foi um soco, foram alguns chutes… — Romeu o olhou.

Aaron concordou.

—É, mas isso foi depois.

Romeu e Julieta não tinham ideia sobre o que ele estava falando, mas Margot fez menção de se afastar dele também, até perceber que isso só a reaproximaria de Julieta, quando é que ela tinha acabado bem entre a cruz e a espada? Engoliu em seco e, discretamente, deu um passo para trás.

E agora Carlos André estava lançando a Aaron o mesmo olhar de suspeita que sua esposa fizera no dia dos jogos Capellete, provavelmente também chegando a conclusão que era melhor ficar de olho nele naquele ali.

—Eu gostaria que Romeu saísse mais e fizesse amigos, a timidez dele sempre me preocupou um pouco. — Vanessa suspirou, parecendo até alheia ao rumo da conversa, enquanto comia mais um queijinho — E desde a pandemia ele começou a falar sozinho no quarto também.

—Mamãe! — Romeu começou a ficar vermelho — Eu não falo sozinho, são meus amigos de guilda!

Mas o olhar preocupado de sua mãe apenas se intensificou, e também não ajudou em nada quando Aaron colocou uma mão em seu ombro e zombou com um sorrisinho irritante:

—Você não acha que já está grandinho demais para ter amiguinhos imaginários?

—Ah, corta essa! — Romeu empurrou a mão dele para longe.

Por mais preocupante que fosse Margot não estava tão interessada assim no possível histórico criminal de Julieta ou psicológico de Romeu, pelo menos não tanto quanto na chegada dos outros convidados, ela já havia se atirado ao fogo mesmo, então para que se preocupar se iria ou não sair queimada?

Talvez, pensou sonhadora, se ela caísse, o Heleno a carregasse.

Mas infelizmente o universo parecia ciente de seus desejos… e estar zombando deliberadamente deles, pois durante os oitenta e cinco minutos seguintes, Margot viu Julieta receber com grande surpresa aos avós maternos, os quais ela não tinha ideia de que viriam e que até pareciam ser um casal simpático: a mulher com um lenço colorido na cabeça chegou mancando e beijando as bochechas de Julieta e Romeu, e o homem, com barbicha preta e branca e manchas de vitiligo espalhadas pelo corpo fez questão de abraçá-los, mas — a julgar pelas expressões dos aniversariantes — apesar da aparência frágil, era bem forte.

Bem como a chegada dos tios errados da amiga, e a alegria com a qual ela se atirava sobre o primo ruivo e amassava-o, ignorando completamente seus pedidos por clemência (ele estava usando gravata borboleta?), além da chegada de uma tia e um trio de primos mais novos de Romeu, que deviam ter entre nove e treze anos, o que já não era muito bom por si só, já que ela não tinha boas experiências com crianças, mas o pior é que não tinha nem sequer sombra do tio jovem e bonitão!

—Eu soube das novidades, Vanessa, meus parabéns. — a tia de Julieta felicitou a mãe de Romeu sentando-se junto a ela.

—Samuel ficou muito surpreso, quase achei que fosse desmaiar. — a mãe de Romeu contou com um sorrisinho, enquanto comia algumas nozes.

—E já pensou em algum nome?

Quem perguntava era o pai de Benjamin, um homem que, em suma, parecia o completo oposto da esposa: baixo e corpulento, com cabelos castanhos e expressão séria. Além disso, pai e filho pareciam ter o mesmo gosto para roupas, mas Margot ainda não havia decidido se achava isso fofo ou estranho.

—Em realidade não… mas é engraçado chamar o bebê de “Romeu Júnior” na frente de Romeu…

Justo ao lado dela, Romeu acabara de passar a cabeça pela gola da camisa nova que ganhara apenas para protestar com grande indignação:

—Mas não é meu filho!

—Vanessa, você nunca perde o senso de humor. — a tia de Romeu comentou sorrindo.

E ainda estavam todos rindo, sem que Romeu conseguisse entender porque, quando Julieta de repente correu para ir receber mais convidados e Margot, secretamente, cruzou os dedos em expectativa.

E — antes tarde do que nunca — suas preces foram finalmente ouvidas!

Pois ali vinha Julieta pendurada ao jovem e lindo tio, feito um bebê canguru!

—Ai Julieta, por favor, ai, meu ombro!

Ele reclamava, ainda que continuasse dando apoio à sobrinha para evitar que ela caísse.

—Você já é uma moça, Julieta, está fazendo dezoito anos, não está mais do que na hora de tomar jeito? — uma voz a censurou vindo de dentro da casa.

—Pelo contrário vovô, comigo já tão grande não acha que está mais do que na hora de perder as esperanças de que eu venha a tomar jeito? — Julieta respondeu com alegre petulância.

—Julieta! — o pai a chamou levantando.

Mas Julieta apenas riu e desceu do colo do tio, abrindo espaço para o primo que correu para abraçá-lo:

—Tio Leno!

—Oi rapaz! — Heleno o cumprimentou recebendo-o de braços abertos.

E claro que Margot também não podia perder essa oportunidade:

—Tio Heleno! — exclamou também se jogando aos braços dele.

—Hã… Margot? — Heleno chamou-a sem jeito, não sabendo bem como reagir agora — Eu não sou seu tio.

—Melhor ainda.

Suspirou contentada, descansando a cabeça em seu tórax largo… até ser brutalmente puxada dali!

—Garota você está tentando me matar de vergonha?! — Julieta reclamou sem nem saber onde enfiar a cara — Eu realmente deixei Astolfinho no meu quarto pra isso?!

—Juju não precisa ficar com ciúmes só porque em breve eu serei sua tia! — Margot riu sem arrepender-se de absolutamente nada.

—Valha-me Deus garota! — Julieta a puxou para longe.

O constrangimento era tanto que Heleno ainda ficou plantado no mesmo lugar até ser removido dali por um empurrão pouco gentil.

—Por que é que você sempre fica no meio do caminho, paspalho?! — Helena reclamou querendo passar — Julieta, eu devo ter ouvido errado, porque você disse que deixou Astolfinho em seu quarto? Eu vim hoje apenas para vê-lo e até comprei um presente!

Exclamou mostrando a sacola de presente com estampa de Mickey Mouse que trazia e parecendo ignorar completamente o sobrinho atirando-se de braços abertos para ela enquanto gritava um animado “tia Helen!”.

Julieta apontou sem cerimônia para a amiga ainda contida em seu agarre.

—Essa aqui tem medo de porcos.

Mas ela não precisava falar com tanto desdém, porcos podiam ser muito ferozes!

—Não veremos o porquinho? — o mais novo dos primos de Romeu lamentou.

—Mateus! — a tia de Romeu o chamou entre dentes — Viemos porque é o aniversário de Romeu! Está lembrado?!

—Eu tenho uns vinte primos! Mas não posso ver um porco todos os dias! — o garoto reclamou de volta..

—A menos que esteja na feijoada. — Aaron comentou sorrindo.

Julieta até poderia tê-lo socado, se não fosse Benjamin completando animado:

—Ou no X-bacon!

Agora pelo menos Julieta teria que dar alguma gratidão a Margot por fazê-la deixar seu amado (e saboroso) porco longe daqueles carnívoros!

—Não! Eu quis dizer um porco vivo! — Mateus reclamou ainda inconformado.

—Ele é mais comportado que nosso cachorro! — a mais velha dos primos de Romeu, e única menina, concordou.                                  

—Festas de aniversário não são lugares para porcos. — aquele que devia ser o futuro sogro de Margot reclamou finalmente chegando ao quintal junto com a futura sogra de Margot, depois que conseguiu tirar o futuro marido e a futura cunhada de Margot do caminho.

Comparado aos avós maternos de Julieta, os avós paternos pareciam muito mais sérios e difíceis de agradar, vestidos inclusive de maneira um pouco formal demais para uma pequena festa de aniversário duplo no quintal de casa, para a qual inclusive fora recomendado levar sua própria toalha (mesmo não tendo piscina) e onde um porco vivo de verdade podia ou não dar as caras a qualquer momento.

O marido parecia uma versão mais enrugada, careca, barriguda e mal humorada do pai de Julieta e a esposa era uma senhora de cabelos curtos brancos e também não com uma expressão muito simpática… não obstante, toda a atmosfera pareceu um pouco mais incomoda e rígida com a chegada deles.

Imediatamente quando os viu, o pai de Julieta levantou-se para ir tomar a benção, mas sua irmã pareceu simplesmente ignorá-los enquanto conversava qualquer aleatoriedade com os gêmeos.

—A menos que esteja na feijoa…! — Aaron começou a falar bem humorado, sem a menor noção do clima.

Até que Julieta deu-lhe uma cotovelada.

—Será que dá para calar a boca?! — reclamou.

Mas mal havia fechado a boca e ela própria soltou um grito agudo de surpresa quando um objeto gelado estourou em suas costas e a molhou.

Benjamin estava parado não muito distante junto dos primos de Romeu, carregando uma série de bolas coloridas.

—Julys, nós achamos sua surpresa!

Benjamin gritou extasiado pegando mais uma das bolas com as crianças e a jogando em sua prima, mas errando-a e acertando, ao invés disso, um ponto no chão perto de seus pés, onde estourou e molhou as pernas de todos os que estavam mais próximos.

Não eram bolas coloridas, eram balões d’água!

—Benji!

Julieta gritou indignada, correndo para longe antes que as crianças pudessem bombardeá-la novamente e, percebendo a deixa, Aaron também se afastou correndo para a direção oposta antes que ele também pudesse virar um alvo, quase ao mesmo tempo em que os adultos se levantavam e corriam para dentro da proteção da casa.

Por um breve instante de pânico Margot até pensou em segui-los, mas foi detida ao se distrair com a imagem de Helena colocando uma touca de natação!

—Eu não quero molhar o cabelo. — ela explicou calmamente a Margot quando a viu olhando-a.

Não houve tempo para resposta porque, perdida e sem saber onde conseguir munição, logo Margot foi identificada como o membro mais vulnerável do bando e atacada em massa.

—Quem derrubar os óculos ganha 50 pontos! — Aaron gritou pouco antes de acertá-la no ombro.

—Nós estamos contando p…?

Romeu tentou perguntar logo antes de levar um balão d’água na cara de procedência desconhecida por sua distração, e então, desorientado, com os olhos fechados e o nariz cheio de água acabou jogando seu balão em qualquer direção aleatória, só dando a Heleno tempo de gritar e puxar a gêmea como barreira humana.

Havia muitos gritos, correria e balões d’água estourando, mas no geral tudo parecia divertido e inofensivo, até mesmo Margot havia acertado uns quantos balões nos pirralhos e em Julieta.

Até que alguém, cuja voz parecia destoar de todo o resto, começou a gritar e comemorar:

—Isso! Bem no topetinho de Elvis! Toma!

E bem ali, no meio de jovens estáticos e surpresos de nove a dezoito anos, estava um elétrico e magricelo senhorzinho de mais de setenta anos, com um balão d’água em uma mão.

Em meio ao silêncio, podiam-se ouvir claramente os dois meninos, primos de Romeu, perguntando um ao outro:

—E agora o que fazemos?

—Jogamos água no velho também?

—A mãe vai ficar brava se molharmos um vel… um idoso. — a prima de Romeu opinou.

—Mas foi ele que começou! — os garotos se defenderam.

—Qual o problema frangotes? — o avô de Julieta começou a pular de uma perna para outra, provavelmente não eram muitos os idosos tão ágeis assim — Estão com medo…?!

Um balão d’água estourou em seu ombro.

E é claro que foi Julieta quem deu o primeiro tiro.

—Caí dentro vovozinho!

—Oh, bem, jogar água num velho não é tão ruim quanto quebrar a janela dele com um tijolo. — Aaron comentou também já se armando.

Romeu o olhou um pouco hesitante.

—Hã… criança?

—Pois é. — Aaron deu de ombros— Só que nem tanto assim.

Houve então um acordo mútuo silencioso entre todos os presentes de não se fazer mais nenhuma pergunta a respeito… mesmo porque ninguém estava muito interessado nisso, agora que o avô de Julieta havia se oferecido voluntariamente como alvo coletivo.

E, no meio da baderna, duas vozes pareciam ser ouvidas a distancia — embora não estivessem nem a três metros deles:

—Velho! — gritava a mais enfezada — Volta já pra dentro antes que quebre o quadril ou peque uma pneumonia!

—Pai! — gritou a outra, mais preocupada — Deixa as crianças em paz! — mesmo que “paz” fosse à última coisa que houvesse ali — Julieta! Você vai acabar rachando a cabeça do seu avô desse jeito! Cuidado menina!

—Escute aqui Pedro, eu não vou ficar passando gel de arnica em você depois, seu velho biruta!

Mas se Julieta ou o avô — ou qualquer um ali naquela loucura — estavam escutando-as, não deram o menor sinal disso.

—Podem vir pirralhos, podem vir! — o velho senhor continuava provocando-os, rindo e gritando enquanto se esquivava e pegava mais balões com uma agilidade quase sobre humana (especialmente na sua idade!), agora Margot sabia da onde vinha a aparente energia infinita de Julieta — Se vocês pensam que vou arregar…!

Mas é claro que nem todos podiam acompanhar aquele ritmo, e logo Benjamin já estava voltando para casa, pedindo por refrigerante e perguntando sobre os bolos, Romeu o seguiu menos de quinze minutos depois, reclamando algo sobre achar ter deslocado o quadril.

—Pelo menos dessa vez acho que ninguém vai precisar de uma ambulância. — Heleno comentou rindo e tentando se esquivar dos balões jogados pelos primos de Romeu.

No mesmo instante, Helena largou o balão d’água que tinha, deixando-o estourar aos seus pés.

—Não gente, já deu, eu to fora! — declarou repentinamente sua rendição, com as mãos para o alto.

—Por quê?!

Julieta parou surpreendida com o anuncio, dando a chance que seu avô e Aaron esperavam para bombardeá-la (e até Margot arriscou-se a jogar um balão no meio).

—Sempre que Heleno fala essas coisas aleatórias algo ruim acontece, e eu não vou dar sorte ao azar e ficar aqui para ser uma das candidatas a passear de ambulância!

Margot e as crianças menores pararam repentinamente ao ouvir isso.

—Isso é exagero, Helena! — o gêmeo reclamou.

Sim, claro, exagero, não tinha como uma coisa dessas…

—Está bem, continuem pensando que é só neurose da minha cabeça depois que alguém acabar com uma fratura exposta de n…

Helena ia dizendo enquanto se afastava, mas sua frase foi abruptamente interrompida quando ela abriu a porta dos fundos da casa e um guincho alto e ensurdecedor fez a alma de Margot deixar seu corpo por alguns segundos ecoou.

Atraído pelo som da baderna, Astolfinho surgiu com um chapeuzinho de festa na cabeça e correu diretamente para eles e, talvez por Margot ter gritado mais alto que todas a crianças juntas, ele tenha achado que ela era a mais animada ali para brincar com ele, e por isso escolheu-a como seu primeiro alvo.

Ou então foi falta de sorte mesmo.

—Não! Segura ele! Tira ele daqui!

Gritou apavorada, puxando Aaron, que era a pessoa mais próxima, como escudo humano, que gargalhou desconcertado até ser, repentinamente empurrado para frente, desequilibrando-se e caindo sobre um joelho enquanto Margot procurava uma nova barreira atrás da qual esconder-se.

Helena não observou aquela cena nem mesmo durante trinta segundos antes de dar de ombros e entrar, ela tinha avisado.

—O chão está cheio de pedaços de látex! — Julieta avisou dividindo-se entre catar os pedaços de balão espalhados pelo chão e tentar perseguir a mascote desenfreada — Não o deixem por nada disso na b…! Astolfinho não se atreva!

E de repente a já caótica guerra de balões d’água virou uma ainda mais caótica perseguição ao porco, ao ponto de nem escutarem quando Maria Alice começou a chamá-los para entrar.

—Eu peguei! — o avô de Julieta gritou eufórico, abaixando-se quando Astolfinho correu em sua direção — Eu p…!

Mas ao invés disso o suíno passou correndo por entre suas canelas finas e o idoso, de alguma forma, ao tentar agarrá-la acabou dando uma cambalhota e caindo de costas no chão.

—Ui! — Romeu deixou escapar juntamente com uma careta de dor, saindo para sentar-se à mesa no espaço coberto que antes era ocupada pelos adultos — Isso vai doer amanhã.

Sentando-se ao seu lado, Benjamin balançou a cabeça enquanto se servia de um prato com docinhos.

—A-hã. Aposto que já está doendo agora.

Ele apontou enquanto o senhor idoso lutava para se levantar sozinho entre caretas de dor e gritos indistinguíveis e afastar de si tanto Julieta quanto Heleno, que haviam corrido para ajudá-lo.

—Ai meu Deus, papai! — D. Maria Alice gritou da janela da cozinha ao ver a cena.

Como um relâmpago a porta dos fundos se abriu e a avó de Julieta saiu em disparada por ali, gritando:

—Seu velho esclerosado! Eu não vou passar outra noite no pronto socorro com você!

—Mãe! Volta aqui! — E agora Maria Alice tinha saído correndo atrás da mãe também.

Para resumir a contagem de danos podemos dizer que todos ficaram encharcados e Benjamin foi o único que saiu completamente incólume daquela brincadeira toda.

—Helena você já acabou de usar o anticéptico spray? — Valerie perguntou enquanto avaliava o cotovelo esfolado de Maria Alice sentada à mesa da sala de jantar.

—Quase.

Helena respondeu na cabeceira da mesa com uma careta, quando e como foi que ela tinha raspado as canelas?!

—Está feliz agora, hein Pedro?! Está?! — A avó de Julieta reclamou na cozinha usando o próprio lenço de cabeça para fazer uma compressa de gelo no joelho do marido. — E depois daquela queda o seu joelho vai ser o menor dos seus problemas amanhã!

—Ai mulher! Cuidado!

—Cuidado eu te disse para ter quando puxou aquela peixeira contra Osvaldo, e você me escutou?! Pergunte a sua orelha pela metade se você me escutou! — reclamou de volta enquanto ela própria tinha com o dedão do pé enfaixado — E você vai me comprar uma havaiana nova pela que eu arrebentei hoje!

Em tom mais baixo, mas não menos irritado, a mãe de Heleno praticamente esfregava a bermuda na cara do filho depois que ele trocou de roupa e mostrou-lhe o estrago:

—Tá achando que roupa é descartável?! Essa bermuda era nova e olha isso, agora nem pra pano de chão!

Sentado no sofá mas quase parecendo alheio como se nem estivessem falando com ele, Heleno se limitava a olha para o polegar da mão direita com uma careta.

—Acham que está ficando inchado?

—Pelo menos ele só vai precisar costurar a roupa, eu acho que preciso costurar meu joelho. — Aaron suspirou  sentado no outro sofá com a perna sobre a mesa de centro olhando o joelho ensanguentado.

—Deixa de frescura, aposto que só parece pior do que é… ui! — Julieta retrucou do braço do sofá apalpando a lateral da cabeça, onde um galo já podia ser visto.

Aaron não tinha certeza se ela já havia notado o grande hematoma surgindo na lateral da coxa direita.

—O banheiro está livre! — Vanessa anunciou descendo as escadas, seguida pela irmã.

Cada uma delas carregava um garoto soluçando e choroso nos braços, enquanto a menina vinha dando pulinhos num pé só logo atrás e as crianças pareciam mosaicos coloridos de tantos band-dads espalhados pelo corpo.

Enquanto isso, Benjamin subornava Astolfinho com guloseimas debaixo da mesa da cozinha para fazê-lo ficar parado e poder tirar fotos dele com chapeuzinho de festa e Carlos André ainda estava lá fora junto com o pai, tentando ajudar Margot a descer da árvore.

Como ela havia subido ali era um mistério que nem ela própria sabia responder.

Julieta bateu no ombro de Aaron o chamando:

—Vamos lavar isso lá em cima seu bebê chorão, e você vai ver que não é tão ruim quanto parece!

E seguiu em direção às escadas parecendo fazer um grande esforço para não mancar.

—Ai! — Romeu gritou na sala enquanto eles subiam — Câimbra! Câimbra!

No banheiro apontou para o vaso e o fez sentar enquanto molhava uma toalha de rosto na pia.

—Vamos limpar primeiro. — avisou-o.

Mas assim que encostou a toalha em seu joelho, Aaron pulou.

—¡Ai! ¡Loca, prométeme que nunca serás enfermera! — reclamou.

—Eu mal encostei! — Julieta agarrou sua perna para que ele a mantivesse parada — E se me chutar, esse joelho arranhado vai ser a menor das suas preocupações!

—Ai! Ai! — ele continuou a reclamar — Você está tentando esfoliar…?! — respirou aliviado quando Julieta se afastou, mas então percebeu que ela só estava lavando a toalha para voltar a esfolar mais um pouco o joelho dele — Chega mulher!

Julieta empurrou seu ombro para trás com a mesma delicadeza de um coice de cavalo.

—Fecha boca e aguenta, nem Benji reclama tanto!

—Porque você deve tratar ele como se fosse feito de massa de pão! — Aaron rebateu.

Eles estavam muito perto.

Aaron conseguia ver agora com ainda mais detalhes os cabelos brancos que cresciam por entre os cabelos escuros na sobrancelha direita dela, e não era apenas ele que havia reparado nas sobrancelhas dela.

—Você faz as sobrancelhas? — Julieta o encarou mais de perto.

—E você não? — ele retrucou bem humorado.

Mas de repente Julieta olhou-o praticamente indignada.

—Que tipo de pele é essa?! — reclamou — É quase perfeita! Mal tem marcas…! O que você faz?! Como é possível?!

Ela parecia ter esquecido que ainda estava com uma mão sobre a sua perna ainda segurando aquela lixa/toalha molhada e a outra apoiada em seu ombro.

Aaron sorriu de lado e piscou.

—Mamãe bonita, papai gatão. — mas quando pareceu que ela iria socá-lo (ou esfregar aquela toalha abrasiva de novo no joelho dele), ele riu nervoso e corrigiu-se: — Na verdade, mi bien, além da genética e outras coisas, é porque mi madre planta babosa.

Quando Julieta piscou confusa, Aaron voltou a rir e inclinando-se para frente a beijou nos lábios.

 Talvez a perda de sangue que o estava deixando tonto.


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Notas finais do capítulo

E é isso, obrigada a quem voltou e nos vemos novamente em 40 dias... Espero.



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