Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 13
Quem vai andar de ambulância primeiro?


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo de 2022, fazia anos que eu não escrevia um capítulo tão na correria assim! O.O'
Mas espero que gostem! ♥



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Vanessa e Valerie ficaram surpresas ao saberem que os dois novos competidores dos jogos na verdade já haviam sido anteriormente “vítimas do espírito competitivo” de Julieta, embora Maria Alice não achasse uma coisa tão inacreditável assim de acontecer, afinal da última vez que haviam jogado, Heleno acabara com um nariz jorrando sangue de uma cotovelada na cara que recebera de Julieta e mesmo assim ele havia voltado… e parecia estar respirando bem também.

—Helena? — Valerie chamou desconcertada ao ver a irmã — O que você fez agora? Certamente não é mais por causa do cabelo! É?

Mas, assim como não podia deixar de ser, Helena assumiu aquele seu típico ar debochado de sempre ao cruzar os braços e responder:

—Você já está até parecendo com a mãe e o pai falando, Valerie! Por que precisa ter acontecido alguma coisa?

—Nenhum dos dois abre o bico. — Romeu reclamou. — Tudo o que sabemos é que Helena não está fumando, não fez outro piercing e nem fez uma tatuagem.

—Mas se estiver interessada em fazer uma tatuagem e não quiser que seus pais descubram de cara, faça em um local que geralmente está coberto, porque se você costuma ficar só de cueca em casa e de repente passa a usar roupas, eles vão saber na hora.

Aaron comentou, fazendo Romeu apontá-lo ultrajado:

—Chega! Você definitivamente está falando por experiência p…!

—Nada aconteceu. — Helena negou impaciente, obviamente alguma coisa havia acontecido — E por que só se focam em mim? Não fui eu quem teve o nariz quebrado e foi louco o suficiente para voltar mesmo assim.

—Hein? Nariz quebrado? — Os olhos de Margarida estavam do tamanho de pires.

—Ninguém quebrou o nariz de ninguém! — Julieta ficou automaticamente na defensiva — Heleno diga a eles!

E ela continuava se recusando a chamá-lo de “tio” e propositalmente ignorando o olhar reprovador de sua mãe.

—Meu nariz não quebrou. — Heleno negou obediente — Só jorrou sangue e ficou parecendo uma beterraba por uns nove dias.

—Mas não quebrou e isso é o que importa! — Julieta salientou.

—Tá, mas você arrancou a unha do papai…

—Mas ele também não quebrou nada! — Julieta calou o tio com um olhar fulminante.

Pobre Margarida, a coitadinha estava ficando tão pálida que parecia capaz de desmaiar a qualquer instante, tanto que Maria Alice estava começando a ficar com pena dela.

No entanto, Valerie ainda estava focada na irmã mais nova, observando-a analiticamente.

—É só que desde aquela vez que Julieta caiu em cima de você e te fez ralar o joelho você jurou que nunca mais participaria dos jogos da família, e cumpriu com a promessa esplendidamente até hoje…

—Em primeiro lugar não foi só um ralado qualquer no joelho, Julieta correu para cima de mim como uma lunática e aquilo sangrou tanto que eu pensei que teriam que amputar minha perna!

—Dramática… — Heleno girou os olhos.

—E eu levei sete pontos, ainda tenho a cicatriz.

—Nem dá pra notar! — Julieta garantiu.

Helena respirou fundo, contando até dez, e só depois continuou:

—Mas isso já faz uns dez anos, as pessoas perdoam.

Mas mesmo enquanto dizia isso, ela mantinha nitidamente o cuidado de manter-se a uns dois metros da sobrinha.

—Uns pontos no joelho aqui e um nariz quebrado ali… não é como se ninguém nunca tivesse acertado o coleguinha com um pedaço de pau na nuca e o deixado sem sinais por uns vinte minutos ou mais. — Aaron comentou casualmente.

—O que? — Margarida ganiu.      

Mas o rapaz limitou-se a enfiar as mãos nos bolsos e dar de ombros.

—Tínhamos uma pinhata e… é, crianças.

Maria Alice olhou-o com um pouco mais de atenção, talvez precisassem ficar de olho em mais alguém além de sua filha competitiva.

—Então acho que seria bom se começássemos logo, não é mesmo? — Vanessa pronunciou-se, abrindo um saquinho de amendoins japoneses — Tenho certeza que já se conheceram enquanto estavam lá dentro, bem, então Aaron, Margarida, eu sou Vanessa, mãe do Romeu. — ela jogou alguns amendoins na boca — Essa é Valerie, mãe do Benjamin, e claro que já conheceram Maria Alice, e estamos muito felizes por vocês terem vindo se juntar a nossa gincana hoje…

—Mãe! — Romeu protestou — São os Jogos Capellette e agregados!

Ele era sempre tão entusiasmado com seus joguinhos de faz de conta… Vanessa jogou mais alguns amendoins na boca.

—Claro, desculpe. — falou despreocupada, recomeçando logo depois: — E estamos muito felizes por vocês terem vindo se juntar aos nossos Jogos Capellette e Agregados. — comeu mais um punhado de amendoins — Ah, e a você também Helena.

—Muito obrigada Vanessa, pelo menos alguém aqui não me trata como criminosa. — Helena lançou um olhar significativo à irmã mais velha.

Vanessa prosseguiu:

—Cada uma de nós selecionou três brincadeiras, sendo duas atividades físicas e um jogo de mesa, e para que seja mais interessante, as brincadeiras serão escolhidas por sorteio, Valerie você poderia, por favor…

Ela parou, piscando surpresa quando colocou a mão dentro do pacote de amendoins e o percebeu vazio, e afastou-se para ir buscar mais alguma guloseima nas sacolas que as crianças haviam trazido, enquanto Valerie se adiantava com uma panela nas mãos.

—Julieta. — chamou — Como você foi a última ganhadora dos jogos, pode sortear a primeira brincadeira.

Mas antes que Julieta se aproximasse, Margot agarrou seu braço com as duas mãos e deteve-a.

—Julieta espere um pouco aí! — sussurrou cheia de pânico e urgência — O que é que está acontecendo aqui?! Não foi isso que você me prometeu, você tinha me prometido piscina e churrasco!

Julieta nem sequer teve a decência de parecer culpada.

—Ah sim, eu posso mesmo ter dito algo assim. — ela deu de ombros — Mas também te disse que poderia conhecer meu tio e jogar uno, e provavelmente teremos uno, então acho que dois em quatro não é tão ruim assim.

Então lhe beliscando a bochecha ela desvencilhou-se de suas mãos e correu para junto da mãe e das tias, enquanto Margarida tentava chamá-la de volta com um fio de voz estrangulado e quase inaudível:

—Espera sua vaca desgraç…!

Mas alguém a chamou dando-lhe duas tapinhas no braço.

—Não precisa ficar com medo, só estávamos brincando, não tem nada de realmente perigoso nos jogos, nem ninguém nunca saiu gravemente ferido. — Benjamin garantiu com um sorriso.

Margarida engoliu em seco.

—Então aquela história sobre ambulância…?

—Pessoal a primeira brincadeira será dança das cadeiras! — Julieta anunciou repentinamente.

—Ah, legal, foi com essa que Ju arrancou a unha do dedão do vovô! — ele comemorou alegremente, enquanto se afastava saltitando.

Mas o que ele considerava perigoso ou um ferimento grave afinal?! Aquela família toda era maluca!

Margot começou a olhar nervosamente por cima do ombro para a porta não tão distante, talvez ainda tivesse tempo de inventar alguma coisa de última hora — até uma dor de barriga serviria! — e fugir.

Alguém colocou a mão em seu ombro.

—Você vem?

Heleno estava parado diante dela, sorrindo como um deus grego de quase 1,90 m, olhos verdes e camisa cor de rosa, fazendo Margot ter vontade de pular sobre ele e mordê-lo, exatamente como Julieta…

—Estou indo. — sorriu seguindo-o.

Não podia ser tão ruim assim. Disse a si mesma enquanto a mãe e a tia de Julieta organizavam as cadeiras o mais juntas possível — duas voltadas para leste, outras duas com as costas coladas às das primeiras e, portando, voltadas para oeste, uma cadeira virada para o sul e uma cadeira voltada para o norte — e a mãe de Romeu recitava-lhes as típicas regras.

Está tudo bem. Ela tomou relutantemente um lugar atrás de Benjamin em volta das cadeiras dispostas, tentando não ficar nervosa quando Romeu por acaso comentou a respeito das regras gerais sobre as quais todos haviam concordado de não morder, chutar, empurrar — sendo interrompido por um breve protesto de Julieta afirmando que não havia como jogar dança das cadeiras sem dar alguns empurrões, ao que ele concordou e disse “está certo, mas nada que vá fazer alguém ser esfolado no encontro com o cimento” — ou cuspir, nem quando as mulheres mais velhas assentiram como se fosse perfeitamente plausível que alguém precisasse realmente pontuar aquilo e nem quando, um tanto apreensiva — precisava admitir — percebeu que todos, com exceção de Aaron e ela, ali estavam usando tênis, olhou para as próprias unhas dos pés, perfeitamente feitas e brilhantes com esmalte vermelho beterraba, já imaginando qual delas seria arranc… quando foi que Helena havia pegado aquelas cotoveleiras, joelheiras e capacete?!

E por que ela precisava colocar essas coisas?!

Os olhos de Margarida estavam arregalados e ela teve a nítida impressão de que havia começado a hiperventilar.

—Meu Deus, Helena, de onde você tirou essas coisas? — a mãe de Julieta riu.

—Eu ando de patins. — Helena, que estava bem atrás de Margarida, explicou com absurda naturalidade.

Como se aquilo realmente explicasse tudo!

As expressões em volta das cadeiras variavam desde um irritadiço desdém — Julieta — ao riso mal contido — exceto no caso de Aaron, que parado bem diante de Julieta, havia começado a gargalhar abertamente, dobrando-se ao meio com as mãos em volta da barriga como se mal aguentasse ficar de pé — até o mais absoluto terror que Margarida tinha certeza estar estampado em sua própria cara sem nem precisar de um espelho.

Ela começou a olhar nervosamente para o chão. Por que o chão do quintal na casa de Julieta tinha que ser aquele cruel e esfolante cimento? Porque não podia ser de grama e terra?!

—Eu acho… — começou a dizer.

A música começou.

Era um ritmo acelerado, agitado, e provavelmente popular, mas o sangue ribombava tão alto nos ouvidos de Margarida que nem mesmo se o cantor — cantora, dupla, ou banda, ela não fazia ideia! — estivesse bem ali fazendo um show exclusivo ao vivo, ela teria reconhecido.

Só continuou girando e girando em volta das cadeiras, com a boca seca e os olhos arregalados fixos nos assent… o que pareceu ser um ombro cravou-se em suas costas e a empurrou bruscamente.

Margarida tropeçou nos próprios pés, trombou em Benjamin e cambaleou, girando desajeita, para o lado e já estendia os braços diante do corpo para aparar a iminente queda, quando de repente conseguiu firmar um pé a frente e inesperadamente manter o equilíbrio, deve ter ficado paralisada naquela posição estranha — ainda com as mãos estendidas a frente prontas para aparar uma queda que já fora interrompida — por uns dois segundos, ainda se perguntando o que havia acontecido, até finalmente piscar e perceber que a música havia parado.

Ainda atordoada virou-se ajeitando os óculos sobre o nariz, Helena e Romeu estavam sentados de frente para ela nas cadeiras voltadas para oeste, Benjamin estava sentado na cadeira virada para o sul, enquanto Heleno estava de costas na cadeira virada para leste, bem atrás da irmã, mas a direita dele Aaron e Julieta grunhiam e empurravam um ao outro brigando pela cadeira restante… mesmo que, com Margarida tendo sido empurrada para fora, ainda havia outra cadeira restante virada para o norte.

Ela só não sabia dizer se eles não haviam se dado conta de que havia mais uma cadeira restante, ou simplesmente eram teimosos demais para dar o braço a torcer.

Teria sido muito simples para Margarida ir até a cadeira restante e ocupá-la… ela deu um passo para trás.

Mas então alguém lhe deu uma tapinha nas costas.

—O que está esperando? — uma das três mulheres, ela não sabia qual, a incentivou — Ainda tem uma cadeira sobrando bem ali! Anda logo sua bob…!

Antes que ela pudesse terminar de falar Julieta, de alguma forma, ganhou a disputa pela cadeira e Aaron quase foi parar no colo de Heleno quando cambaleou para a cadeira restante.

—Margarida está fora. — a mãe de Romeu declarou, sentada na área coberta e arrancando com os dentes um pedaço do alcaçuz que estava segurando. — Tirem uma cadeira e começaremos a segunda rodada.

—Ah! Só lembrando que quem quebrar uma cadeira está automaticamente fora! — D. Maria Alice comentou de repente.

Julieta foi a única que pareceu ultrajada com aquilo, mas por que é que Margot não estava surpresa com isso?

—Mas que tipo de regra é essa?! — reclamou.

—É a regra de alguém que precisou pagar por três cadeiras alugadas no último ano novo! — a mãe de Julieta girou os olhos — Agora… comecem!

Quando a música começou — ah, era “Despacito” — D. Vanessa ofereceu um pedaço de seu alcaçuz a Margot, que o recusou educadamente, por causa do aparelho nos dentes.

Helena acabou sendo a eliminada da segunda rodada, mas nem todos os seus equipamentos de segurança puderam impedi-la de ralar as mãos quando caiu de quatro longe da roda de cadeiras.

—Argh! Inacreditável! — ela reclamou olhando as palmas avermelhadas.

E Margarida teve a ligeira impressão de que Helena só foi jogada mais facilmente da roda porque tropeçou quando o irmão gêmeo chutou seus calcanhares segundos antes da música parar… ou pode ser que ele também tenha tropeçado.

Romeu foi o próximo a sair voando, quase literalmente, na rodada seguinte, mas como ele saiu voando junto com a cadeira, sentado nela e como a cadeira não quebrou, quem acabou sendo eliminado foi Benjamin, que ficou parado de pé olhando impotente para as cadeiras ocupadas e depois simplesmente se afastou e foi pedir pipocas para a “tia Ali”.

Aaron e Julieta foram simultaneamente eliminados na quarta rodada quando ela acertou o cotovelo no ouvido dele e ele acertou uma joelhada na lateral da barriga dela, e ninguém soube dizer quem acertou quem primeiro.

Então, quando apenas Romeu e Heleno restaram na última rodada, Romeu acabou saindo o vencedor.

—Tudo bem, mas no próximo desafio não serei tão boazinha.

Julieta prometeu rancorosamente cruzando os braços e semicerrando os olhos enquanto observava Romeu sortear o próximo jogo na panela.

—Boazinha?! — Margot repetiu incrédula ao seu lado.

Mas é claro que Julieta não estava escutando-a: seu único foco era somente a vitória.

—Pessoal! — Romeu gritou com o braço esticado para o alto, balançando o jogo sorteado. — Balão no calcanhar!

Um balão vazio foi entregue a cada um deles e, enquanto enchia o seu próprio, Margarida não conseguia pensar em uma forma de uma brincadeira com balões cheios de ar resultar em “um passeio de ambulância”, mas se havia um modo ela tinha certeza que Julieta descobriria — e Aaron provavelmente ajudaria.

A brincadeira era bem simples, conforme D. Valerie explicou, cada um deles amarraria com um barbante — que também lhes foi entregue — o balão em um de seus tornozelos, e cada competidor iria tentar pisar e estourar o balão dos adversários enquanto evitavam que o seu próprio fosse estourado.

—É proibido manter a perna com o balão levantada o tempo inteiro e tentar proteger o balão entre os pés. — concluiu D. Valerie.

—E também imobilizar o amiguinho com “mata leão”. — acrescentou D. Alice.

Inevitavelmente os olhos de Margarida voaram direto para Julieta, mas aquela maluca agressiva super competitiva que ela chamava de amiga estava surpreendentemente impassível, como se dessa vez a alfinetada nem tivesse sido com ela, mas se aquilo não havia sido para Julieta, para quem fora? Margot começou a olhar freneticamente para todos os suspeitos. Daqui a pouco alguém iria puxar um canivete do tênis!

—Rápido! — sussurrou urgentemente para Benjamin ao seu lado, agarrando um de seus braços — Me diga quais os possíveis riscos à saúde envolvidos aqui!

O ruivo a olhou sem entender, claro, porque naquela família era absolutamente normal precisar de uma ambulância depois de brincar com alguns balões.

—Acho que o único perigo é você tropeçar no seu balão e torcer o tornozelo quando cair. — Heleno, que estava do outro lado de Margot, respondeu no lugar do sobrinho.

—Foi só um mau jeito. — Benjamin o corrigiu corando — E eu não teria caído se não tivesse me assustado quando Julys derrubou o tio André quase em cima de mim.

Heleno fez uma careta.

—O alvo era o calcanhar! Por que ela chutou no joelho?!

Afinal por que ela ainda estava ali mesmo?

Os limites da arena — e essa escolha de palavras não era nem um pouquinho preocupante — eram a área descoberta do quintal até a árvore torta.

Então, quando o som do apito soou, o caos se iniciou como se fosse alguma espécie de paródia de um campo de batalha, gritos e correria se espalharam e, na falta de uma trincheira onde se esconder, Margot de repente viu-se com as costas prensadas contra o muro, de alguma forma parecendo observar tudo de fora.

Entre gritos, corridas e pulos, Benjamin, Heleno e Helena pareciam perseguir e desviar uns dos outros a esmo, sem que nenhum deles tivesse conseguido estourar o balão do adversário ainda, mas Aaron e Julieta tinham um alvo fixo: Romeu.

—Por que justo eu?! — ele gritou desesperado ao passar correndo em frente de Margot, com os dois ao seu encalço sem que nenhum dos três sequer se desse conta da presença dela ali. — Por que estão vindo atrás só de mim?!

Quando Margot voltou a olhar para frente, um grito estrangulado de surpresa saiu de sua garganta, pois Helena a havia avistado e vinha correndo em linha reta diretamente para ela com sede de sangue estampada em seus olhos, só lhe dando tempo de esquivar-se saltando para o lado alguns metros antes.

Mas Helena não desistiu, ela continuou avançando e pisando em frente, mirando o balão verde no calcanhar direito de Margot que, de olhos arregalados, saltava para trás com pernas e braços abertos a cada investida, até que de repente Helena foi detida quando ambos os seus braços foram puxados para trás e uma terceira perna intrometeu-se por entre as dela, estourando o balão roxo em seu calcanhar e na seqüência a derrubando de lado no chão.

—Ai Heleno, francamente! — ela gritou do chão.

Então Heleno estava diante dela, lindo, alto e heroico, mas justo quando Margot estava prestes a sorrir agradecida e relaxar, ele avançou saltando por sobre a irmã.

Oh não! De novo não!

Como se sua vida dependesse disso, Margot começou a desesperadamente saltar e esquivar-se, mas não havia como ela durar muito ali, pois as pernas de Heleno eram muito mais longas que as suas, Heleno esticou o braço para pará-la…!

Benjamin brotou entre eles e, girando e saltando agilmente, simplesmente estourou os balões de ambos em somente uma fração de segundos.

—Uhu! — comemorou jogando os braços para o alto e virando-se para sair correndo.

Logo antes de atrapalhar-se, tropeçar nos próprios pés, e cair sentado no chão estourando o balão em seu calcanhar.

Margot piscou incrédula, enquanto ao longe Romeu perguntava se Benjamin estava bem e Heleno ria tanto que se curvou para frente e precisou apoiar-se nos joelhos.

—Caramba Benji…! — ofegou entre risadas — De novo?!

Suado e ofegante o garoto olhou para cima com o rosto quase tão vermelho quanto os cabelos e os cachos grudados na testa.

—Acho… que minha… — disse arfante — coordenação não… é das melhores.

—Você está bem? — Julieta perguntou aparecendo por trás do primo e, com um grunhido, ajudando-o a se colocar de pé.

Por um instante de pânico Margot se esqueceu de que já estava fora do jogo e recuou assustada para longe de Julieta, antes que levasse uma rasteira e um pisão certeiro que estouraria seu balão e quebraria seu calcanhar, porém quando olhou para baixo viu que Julieta também já fora eliminada.

—Estou. Eu caí no macio. — Benjamin garantiu sorrindo.

—Ninguém o derrubou. — Heleno ergueu as mãos — Benjamin caiu so…

Entretanto suas últimas palavras foram parcialmente abafadas pelo som estridente do apito de D. Alice, encerrando a brincadeira.

Aaron foi o ganhador, mas segundo Julieta se ela não tivesse se distraído quando Benjamin caiu, as coisas teriam sido bem diferentes.

—Sí, cariño, ¡y  si acaso yo tuviese corrido a la izquierda cuando coloqué una cucaracha en el pelo de Adila, las chancletas voladoras de mi madre no tenían golpeado mis espaldas!

Julieta não tinha certeza sobre o que ele estava falando, mas só aquele sorrisinho irritante e tom debochado que ele usava para falar já lhe dava vontade de socá-lo.

—Julys! — Romeu a chamou, lhe segurado o braço antes que Julieta se desse conta de que já estava avançando em Aaron.

—Então Arão, venha sortear a próxima brincadeira. — Tia Vanessa o chamou enquanto dividia um pote de sorvete com Helena e Benjamin.

— ¡Soy Aarón, tía!

O jogo sorteado seguinte era “comer sem as mãos”.

Com as mãos nas costas, todos enfileirados teriam um biscoito colocado em suas testas que só com os movimentos faciais deveriam fazer chegar até a boca e comê-lo.

—Se o biscoito cair, cada um tem direito a um segundo biscoito, mas se deixar o segundo biscoito cair, você está fora. — A mãe de Julieta explicou enquanto, sentada junto com Benjamin, tia Vanessa comia todos os biscoitos em uma velocidade tão grande que Julieta começou a duvidar se sobraria o suficiente para jogarem. — Nada de chutar ou dar cotoveladas no amiguinho e…

Ela apitou.

Era como um concurso de fazer caretas, Julieta começou a franzir a testa e piscar repetidas vezes, inclinando levemente a cabeça em suscetíveis e pequenos movimentos para frente, como se estivesse imitando um pombo com tique nervoso, enquanto sua língua se esticava instintivamente para fora da boca, como se realmente fosse alcançar o maldito biscoito que havia teimosamente empacado em cima de sua sobrancelha esquerda e, com aquele sol em seus olhos, ninguém podia culpá-la por ter se desequilibrado um pouquinho e só por acaso trombado com Margot.

—Margarida! Heleno! — Tia Valerie chamou — Peguem outro biscoito rápido!

O biscoito estava em cima do olho de Julieta agora, e ela começou a movimentar a boca e a bochecha, algumas migalhas ficaram em seu olho, que começou a lacrimejar, mas ela não pararia, estava tão perto…!

—Heleno está fora! — sentenciou tia Valerie, pouco antes de Julieta, tentando impulsionar o biscoito para o lado certo, pisar no pé de Margot que ganiu — Margarida está fora! Romeu pegue outro…!

A ponta da língua de Julieta já estava quase tocando o biscoito, tão perto…!

O apito soou.

Julieta endireitou-se tão rápido que o biscoito saiu voando de sua cara, e ela olhou diretamente para Aaron na outra ponta da fila que, provocando-a, arqueou as sobrancelhas e piscou-lhe estupidamente enquanto comia seu biscoito.

Aquele…!

—Parabéns Benjamin. — Tia Vanessa parabenizou, tranquilamente abrindo uma lata de refrigerante de laranja.

Benjamin?

—Posso comer os outros biscoitos agora? — ele perguntou todo sorridente e adorável.

—Claro que pode. — Tia Valerie concordou sorrindo — Venha sortear o próximo jogo e então você pode comê-los.

Mais feliz pelos biscoitos do que pela vitória, Benjamin deu um soquinho no ar e foi correndo até a mãe de Julieta que segurava a panela.

—Juju, você quase quebrou meu mindinho! — Margot reclamou apoiando-se em seu ombro enquanto massageava o pé.

—Eu me desequilibrei, deixa de ser fresca. — Julieta deu de ombros.

—Qualquer coisa fala com a Maria Alice: ela tem ban dads. — Helena avisou passando ali per perto, alisando os ban dads nas palmas de suas mãos.

—Exageradas. — Julieta estalou a língua.

—Na verdade uma folga até seria bom. — Heleno aproximou-se massageando uma coxa — Não tinham uns jogos de tabuleiro?

—Pessoal! — Benjamin gritou com o rosto cheio de farelos de biscoito — Detetive!

Todos os olhares se fixaram automaticamente em Heleno.

Dessa vez as mais velhas resolveram os deixar sozinhos e entraram enquanto Romeu e Julieta arrumavam duas mesas juntas na área coberta do quintal e as cadeiras em volta delas, para que todos pudessem jogar.

—Muito bem, todos já conhecem as regras. — Julieta afirmou com segurança, enquanto embaralhava as cartas dos suspeitos e Romeu arrumava o tabuleiro.

—Yo no las conozco. — Aaron jogou uma aspirina para dentro da boca e a engoliu com um gole de refrigerante como se fosse um M&M. — Nunca joguei isso.

Julieta o encarou.

—Muito bem, é o seguinte: nós vamos separar e colocar nesse envelope três cartas, um suspeito, uma arma e um lugar. Mas ninguém pode saber quais são essas cartas…

—Ah, e se cada um dos ganhadores anteriores sortear uma carta? — Romeu sugeriu sorrindo. — Alguém está anotando o placar?

Julieta estava! E a pontuação dela era: 0!

Ela respirou fundo, contou até dez, e continuou:

—Você vai tentar descobrir quem é o culpado, a arma e o local do crime, mas só pode fazer uma acusação quando estiver no local em questão e se alguém acusar uma carta que você tenha em mãos você é obrigado a revelá-la, mas só uma carta por rodada. Ah, e cada participante tem o seu próprio ponto de partida. Você entendeu? — Aaron encarava-a sem nem piscar até que, ao final da explicação, lentamente desviou o olhar e bebeu mais um pouco de refrigerante, Julieta suspirou — Vou explicar de novo.

Pelo menos ele a ouviu atentamente, esse crédito ela tinha que lhe dar, mas ao final continuava com o olhar tão perdido quanto no começo.

—Você entendeu? — perguntou aborrecida, já sabendo a resposta.

Talvez se explicasse em espanhol ele entendesse!

—Ah… claro. — mentiu.

Helena cutucou lhe o antebraço com um sorrisinho.

—Você não entendeu nada, não é?

—Não. — ele sorriu de volta.

—Não tem problema, aprende jogando. — ela deu de ombros.

Julieta girou os olhos, desistindo daquele caso perdido.

—Ah, Julieta. — Benjamin comeu uma batatinha — Você se esqueceu de dizer que nós gostamos de apostar nas nossas “suspeitas”, por exemplo, “eu aposto duas batatas e três pipocas que o crime foi no cemitério”.

—É verdade. — Julieta concordou — E se alguém desmentir pode ficar com a comida, mas apostar não é obrigatório.

Embora eles sempre apostassem.

—E também que a culpada é sempre a Dançarina. — Heleno acrescentou.

Ele estava obviamente brincando, mas Helena, Romeu e Benjamin olharam-no bastante sérios.

—Ah sim, e também se esqueceu de dizer que jogar com o Heleno nunca tem graça. — Helena afirmou bastante séria.

—Eu só estava brincando! — Heleno riu nervoso.

—Sei… — Romeu semicerrou os olhos.

Margot pegou a peça vermelha do tabuleiro, a Dançarina.

—Mas… o que acontece se eu for a culpada?

—Nada. Você pode acusar a si mesma também. — Julieta respondeu vendo Romeu pegar a peça de Margot e colocá-la cuidadosamente de volta no lugar. — Querem jogar os dados para ver quem começa?

—Poderíamos começar pelo Benjamin, que ganhou a última partida. — sugeriu Romeu — E ir seguindo em sentido horário a partir dele.

O que, por extensão, deixava Julieta em último, mas isso não tinha importância, porque ela certamente ganharia aquela partida!


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Notas finais do capítulo

E então, estão contando o placar? XD



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