Com muita cautela, os dois tentam explicar da maneira mais leve possível o que aconteceu e o que estaria por vir. Ela ouve tudo atentamente, mesmo que sua ficha ainda não tenha caído sobre todas aquelas informações. Resumidamente: não sobrou ninguém dos capangas e muito menos Julian, que inclusive a havia matado antes de morrer; Lily viria morar na casa; Elena havia voltado à vida; Kate teria que escolher entre ficar com sua magia ou completar sua transição de vampira e perder totalmente seus poderes e sua linhagem de família. De fato, estava difícil de processar.

—E eu tenho quanto tempo pra decidir isso?

—Talvez 24… 

—Dias?

—...horas.- Stefan completa, para o choque de Kate.

—Uau… - Kate esfrega as mãos no rosto, apoiando sua cabeça nas mãos com os cotovelos nos joelhos, encarando o nada por instantes - Eu posso… ficar sozinha pra pensar um pouco? É coisa demais… 

—Você ainda precisa pensar? É sério? - Damon franze a testa confuso, confiante de que ela não iria hesitar em prosseguir com a transição.

—Damon… - Stefan o repreende com o olhar. - A decisão é dela.

—A gente tá falando de terminar uma linhagem de bruxos que aparentemente vieram de muito tempo e… - Kate tenta explicar o que se passava na sua cabeça, mas não conseguia nem raciocinar direito.

—De qualquer forma a linhagem terminará. - Damon fala sem pensar, sabendo que mesmo sendo óbvio acabou não saindo numa boa hora.

—Nossa, muito obrigada por facilitar. - Kate o olha indignada por alguns segundos, antes de esconder seu rosto por entre as mãos e encarar o chão por mais um tempo.

—...Mas, você pode ter a eternidade a seu favor. - Damon completa, indiretamente tentando influenciá-la a tomar uma decisão.

—E me tornar uma vampira, o que ironicamente tem a ver com um grande trauma meu. - Kate explode as palavras de sua boca, sentindo tamanha repulsa em pronunciar aquilo em voz alta. - Correndo o risco de me tornar um monstro sedento, que manipula e mata pessoas por egoísmo!

Damon então se levanta do sofá sem dizer mais nada, refletindo se o que dizia era uma forma de julgá-lo ou apenas a irritação de não estar no controle. O mais sensato a se fazer era se afastar, sendo assim, os dois acabam indo na direção da cozinha para deixá-la só; quando a campainha da casa toca, para a surpresa dos dois. Ou alguém ressurgiu dos mortos, ou era Lily, ou algum outro indivíduo inconveniente. E quando Stefan abre a porta para verificar, dão de cara com Matt e seu fardo policial, olhando para eles com uma cara espantosa.

—Alguém pode me explicar o que são esses inúmeros corpos no quintal de vocês?

—Resolvemos antecipar o Halloween. - Damon zomba, abrindo seu sorriso sarcástico enquanto recebia uma encarada de Matt.

—Nós vamos dar um jeito nisso… Agora. - Stefan afirma, olhando por cima do ombro de Matt os corpos espalhados.

—Eu não sei o que foi isso, mas… precisam ser mais discretos.

—Mais ainda? Nem chegamos a imprimir todos os folders, foi uma festa… bem privada. - Damon continua seu tom de gozação, para a impaciência de Matt - Não sabemos quando será a próxima, mas quem sabe você possa vir.

—Ignora. - Stefan revira os olhos ao ouvir o irmão.

—Só mais uma coisa, aproveitando que estou aqui… - Matt diz, puxando sua gola da camisa um pouco mais para baixo, deixando à mostra arranhões recentes no seu peito. - Acabei de tirar um gato da árvore e senti que começou a arder, acho que ele me arranhou… 

Kate havia sentido um cheiro estranho assim que ele chegou, mas não sabia decifrar o que era, afinal, estava mais preocupada em resolver seu dilema do que prestar atenção na conversa deles.

Porém, assim que ela viu os arranhões de Matt com aquele filete de sangue, ela sente sua pele abaixo dos olhos estranhamente se enrugarem e ao tocar seu rosto, sente que suas veias estavam bem dilatadas e aparentes. Como se não bastasse, seus dentes começam a doer e ela agoniza de dor, atraindo a atenção dos meninos enquanto gemia, sentindo como se seus dentes fossem saltar da boca. Damon chega rapidamente para acalmá-la e distraí-la, mas ela de repente fixa seu olhar em Matt, mostrando seus caninos recém crescidos, ansiando de alguma forma descontrolada pelo sangue à mostra.

—Matt, melhor você ir.- Stefan diz rapidamente, literalmente expulsando-o e fechando a porta.

—Stefan, pega uma bolsa de sangue lá embaixo. - Damon ordena, enquanto segura o rosto de Kate sutilmente com as mãos continua distraindo-a.

—Eu não sei o que… 

—Tá tudo bem. - Damon a olhou com tranquilidade, o que ajudou-a a se acalmar aos poucos. - Queria te dizer que depois fica mais fácil… 

—Eu não quero ser assim.- Kate diz de repente, pegando Damon de surpresa. - Não quero me transformar.

Damon engole a seco durante a troca de olhares entre os dois, vendo que ela falava sério. Ele estava realmente chocado ao ouvir aquilo, enquanto Kate só conseguia pensar no que não queria ser: um monstro. Ela não acredita conseguir suportar a ideia de morder pessoas e se descontrolar, porque ela não queria sentir novamente a sensação horrível de culpa igual ao dia de sua tragédia. Então quando Stefan volta com a bolsa e vê o irmão visivelmente decepcionado, ele tira sua própria conclusão sobre a conversa entre eles e disfarçadamente dá meia volta para devolver a bolsa de sangue ao freezer do porão.

Enquanto isso, as garotas estavam aproveitando a noite do pijama nostálgico. Já haviam comido pizza na cama de Bonnie enquanto tomavam duas garrafas de vinho e assistiam um filme clichê de romance, zombando das cenas e rindo do previsível. E agora, estavam com seus rostos cobertos de creme e máscara facial, enquanto inventavam penteados umas nas outras para depois fazerem um desfile brega de lingerie.

—Eu tô parecendo um poodle. - Caroline ri ao ver os seus cachos todos no alto da cabeça, completamente enrolados na tentativa desastrosa de um certo coque que Bonnie tentou fazer.

—Antes um coque do que chifres… - Elena faz uma piada autodepreciativa e até tenta rir sozinha, mas então desiste - Esquece, não vamos falar disso. Mas me contem, o que eu perdi?

—Bom… Tyler se mudou para New Orleans e só está em Mystic Falls vez ou outra. - Caroline começa contando, já que era a que mais sabia de fofocas - Matt se envolveu com uma policial, mas descobriu que ela era lésbica… 

—Ops! - Elena ri, chocada com a informação e adorando o rumo das fofocas - E Alaric? Alguém soube de mais alguma coisa?

—Ele se afastou real de todo mundo, não quis se envolver com mais nada depois que você… - Bonnie responde, mas para de falar ao lembrar do dia em que viram Elena desacordada pela primeira vez.

—Damon deve ter ficado arrasado com a partida dele.- Elena abaixa o olhar lembrando de como os dois eram próximos, mas então lembra que não estava ali para ficar pra baixo - Mas e Stefan? E Vocês? Eu quero fofocas!

—Ah… - Caroline diz, olhando para Bonnie, insegura com o que deveria falar. - Nada demais… Nossos meses foram… sem graça.

—Então Stefan não encontrou ninguém? - Elena olha para as duas, esperando uma resposta, mas ela percebe Caroline corar. - Vocês… ?

—Ér… Não! Nós não… - Caroline começa a ficar nervosa e a gaguejar, então rapidamente busca uma fuga - Vou fazer pipoca!

—Caroline, tá tudo bem. - Elena diz, tirando suas próprias conclusões do assunto por conhecer bem aquele nervosismo da amiga - É sério, tá tudo bem se vocês estiverem juntos. 

—Jura? - Ela pergunta, insegura e ainda corada. - Mas a gente não… ainda não estamos… 

—Eu quero que vocês sejam felizes, de verdade. - Elena estende a mão para Caroline, que segura-a e dá um sorriso tímido, porém muito mais aliviada por ter exposto aquele segredo.