A biblioteca da escola pegou fogo! escrita por Fane


Capítulo 13
A biblioteca da escola pegou fogo!




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Depois

A biblioteca da escola pegou fogo.

Não. Na verdade, a biblioteca da escola foi incendiada por alguém durante (ou depois) da quermesse, segundo as fontes do diretor Paiva.

Eu recebi a notícia assim que acordei — já que Mel resolveu me acordar na base do grito — e não tive tempo nem de respirar direito porque minha mãe me arrastou para a escola já que o diretor havia solicitado a minha presença para esclarecer o assunto.

Eu esperava ver mais algumas dúzias de estudantes, ou pelo menos todo o pessoal do grêmio, — que entrou e saiu da biblioteca mil vezes durante a noite — mas assim que chegamos lá a ficha caiu.

O diretor Paiva também tinha chamado Dennis, ele estava lá quietinho com uma cara horrenda de tédio ao lado de uma mulher alta e loira platinada. Assim que nos sentamos, o diretor começou a falar.

Depois de uma eternidade dando uma palestra enorme sobre honestidade, sinceridade, segurança e explicar as consequências para aquele tipo de “pegadinha”, o homem finalmente fez silêncio.

— Ainda não entendi por que o senhor chamou a minha filha, diretor — minha mãe falou, bem calma, serena. Mas com uma olhadela eu senti o fogo nos olhos dela.

Mas o diretor Paiva nem abriu a boca, a mulher loira fez questão de escarrar:

— Pois eu sei muito bem porque você chamou meu filho, diretor. Eu sei que esse moleque faz de tudo pra chamar atenção, mas uma acusação dessas é séria demais!

— Não houve acusação nenhuma, dona Clarice. Só quero deixar claro que a escola não vai deixar o culpado pelo incêndio sair dessa impune.

— E o senhor está insinuando que minha filha é a culpada, é isso?

— Não, eu nunca disse isso. Mas se a senhora acha que...

— Em vez de dar palestra e acusar inocentes, você bem que podia se preocupar em achar os culpados, né? — falei cheia de ódio.

E o silêncio que se fez em seguida quase me engoliu viva.

— Veja bem — o diretor respirou fundo — Amélia e Dennis foram os últimos alunos a serem vistos saindo da biblioteca. Então, caso o culpado não apareça, os dois terão que se responsabilizar por isso.

— Mas não faz sentido! Nós saímos da quermesse mais cedo! — comentei.

— Se não colaborarem, — Paiva continuou, fazendo questão de me ignorar — não vejo outra solução a não ser suspender os dois.

— A gente não fez nada!

— Tinha mais gente na biblioteca! — Dennis falou, finalmente saindo da bolha de silêncio. — O Gabriel.

Mas antes mesmo que o diretor conseguisse falar alguma coisa, a própria mãe do Dennis soltou uma risadinha cheia de escárnio.

— Que besteira, Gabriel é um menino bom, nunca deu trabalho, nunca faria isso...

— Ah, claro, todo mundo tem que proteger o ídolo da escola, vocês são um bando de hipócritas!

— Dennis, cala essa boca!

A confusão a partir daí ficou pior. Clarice começou a gritar com Dennis, o diretor falava por cima e estava na cara que Dennis seria capaz de cometer um crime de ódio se ficasse no meio daquele furdunço por mais cinco minutos. Felizmente, minha mãe sempre foi muito boa lidando com aquele tipo de barraco.

— Eu não acho que a minha filha seja a responsável disso, — ela falou — mas como forma de justiça, vou deixá-la de castigo. Não há motivos para suspensão, diretor.

— Sendo assim, tudo bem.

Fui liberada mais cedo por causa disso. Dennis, coitado, não teve a mesma sorte. O pior de tudo era que eu sabia que o diretor Paiva não deixaria aquela situação por isso mesmo.

 

Quando chegamos em casa minha mãe soltou um suspiro daqueles. E eu, como sempre, comecei a bater boca sozinha já que precisava provar minha inocência para que ela não me deixasse de castigo de verdade.

— Eu juro, juro mesmo! Acredita em mim, por favor! Eu cheguei tarde em casa ontem, mas eu não tava na quermesse, nem na biblioteca, eu saí pra merendar com o Dennis e a gente ficou conversando e conversando, aí eu voltei pra casa e fui dormir, eu juro!

— Mia...

— O Farofa me viu chegar em casa, se gato pudesse falar ele me defenderia, eu tenho certeza!

— Mia, filha...

— E outra coisa, eu não fui a única a entrar na biblioteca, o grêmio todo tinha deixado as coisas lá, até tive que devolver a chave quando fui embora! Não tinha como eu ter voltado e...

— Mia, fica calma, tá bem! Eu acredito em você, não precisa entrar em pânico — minha mãe disse, calma. Alguma coisa estava muito estranha.

— Acredita?

— Acredito.

— Mesmo?

Ela se sentou no sofá, provavelmente pensando em todos os erros que cometeu na minha criação.

— Mesmo.

— Então... eu não tô de castigo não, né?

Ela sorriu, me chamando pra sentar ao lado dela.

— Não. Eu só... só queria conversar com você sobre essa história toda. Sinto que fiquei muito distante de você e da Melissa desde que... desde que nos mudamos.

— Mas não é sua culpa, você tá muito ocupada no trabalho... a gente entende.

Ela balançou a cabeça.

— É minha culpa sim... e eu vou mudar isso, tá bem? Se você diz que não foi você quem botou fogo na biblioteca, eu acredito em você. E se você tem certeza de que não foi seu amigo, eu também acredito. Mas...

— Mas...?

— Mas se você tá pensando em fazer alguma coisa duvidosa e perigosa só pra provar que o diretor Paiva está errado e salvar seu amigo de uma possível expulsão...

Quase dei um pulo pra trás, era como se ela lesse minha mente.

— Eu nem tava pensando em fazer nada disso — menti.

— Eu te conheço, meu bem. Só tô dizendo que, se é isso que você pretende fazer, espero que tome muito cuidado. Eu confio em você, mas o diretor não parece confiar muito não.

Então eu respirei fundo, como se uma grande onda de coragem e motivação me atingisse de repente.

— Tá bom, eu vou tomar cuidado.

Foi uma meia verdade. Porque eu estava disposta a fazer do impossível possível para que Dennis se livrasse da acusação — e de quebra, eu também — e para que o diretor Paiva (e a mãe de Dennis) engolissem suas próprias palavras.


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