P.O.V. Sophie

Eu nunca quis tanto a oportunidade de socar alguém em toda a minha vida e olha que a competição está acirrada agora que conheci Negan e todo o seu circo. Gregory não vai mover um dedo para nos ajudar contra os Salvadores, ele não vai falar com absolutamente ninguém em Hilltop para saber se qualquer pessoa está disposta a lutar conosco. Mas para o nosso alívio Enid falou com as pessoas enquanto estávamos reunidos com Gregory e uma boa parte está disposta a ajudar. Felizmente a moral de Gregory é bem baixa por aqui. Contudo, mesmo com as pessoas que se ofereceram para nos ajudar ainda somos poucos quando comparados aos Salvadores.

—Precisamos de mais gente, de mais um grupo. -diz Rick já do lado de fora da grande casa no centro de Hilltop. -E nós temos que voltar, quando eles descobrirem que o Daryl fugiu vão procurar por nós.

—Na verdade vocês não tem que voltar agora. -diz Jesus revelando um walkie talkie. -Eu roubei deles quando estivemos na fábrica, é de longo alcance então podemos escutar tudo que eles falarem. Se eles estiverem indo atrás de vocês, nós vamos saber. 

—Mas se não vamos voltar, o que vamos fazer? -pergunta Michonne.

—Acho que é hora de apresentá-los ao Ezekiel. -responde Jesus. -Rei Ezekiel.

Nós mobilizamos um pequeno grupo em um grande carro e na moto de Daryl, após uns bons quilômetros chegamos a um prédio abandonado. Nenhum de nós está entendendo nada, até que dois homens aparecem montados cada um em um cavalo. Jesus pede ao homem chamado Richard que nos leve até um audiência com o seu rei, fazendo com que essa história pareça ainda mais absurda.

Quando finalmente temos nossa entrada permitida e somos levados até a comunidade eu fico impressionada. O Reino parece estar indo muito bem diferente do resto de nós, o lugar parece próspero e acho que nunca vi tanta gente junta desde os Salvadores. E por alguma razão antes de Richard nos levar até o rei nós encontramos Morgan. Eu sequer sabia que ele já não estava mais em Alexandria, mas Rick parece estar a par de boa parte da situação pois pergunta a Morgan se ele encontrou Carol. Mais uma que eu não sabia que havia sumido. Daryl também parece surpreso e Rick conta a ele um breve resumo dos acontecimentos, basicamente no dia em que Daryl foi atrás de vingança por Denise, Carol fugiu de Alexandria deixando apenas um bilhete.

—Onde ela está? Ela está bem? -pergunta Daryl.

—Ela esteve aqui, mas partiu. -explica Morgan. -Ela quer se afastar de todos nós.

Daryl faz mais algumas perguntas e Morgan conta a ele que salvou a vida de Carol. Acho que agora toda a implicância que Daryl tinha com ele deve acabar. Eles dois são bem próximos e apesar dela nunca ter me dado espaço para nos conhecermos, sinto muito que ela já não queira mais viver com o resto de nós. Eu não queria que Daryl perdesse mais ninguém. Depois que Morgan termina a história nós seguimos para a nossa conversa com o rei e se eu achava que o simples fato de existir alguém que se auto intitulava rei de alguma coisa era um delírio o que eu vejo a seguir é ainda pior.

Nós entramos em um auditório, no centro de fato havia um trono com o que definitivamente tinha que ser o rei Ezekiel. A sua direita havia dois homens segurando uma lança e a sua esquerda, bom, havia um tigre. Um tigre de verdade. Todos nós ficamos paralisados no fundo do auditório, mas Jesus sem parecer se importar com a situação, se aproxima da plataforma onde estava o rei. O tigre ruge para nós e Daryl entra na minha frente.

—Jesus, que prazer ver você. -diz o homem sentado no trono. -A que devo a honra de sua presença? Me trouxe novos aliados?

—De fato, Vossa Majestade. Estes são... -responde Jesus e só então olha para trás e nos vê amontoados próximo a porta. -Droga, eu esqueci de falar…

—Que ele tem um tigre. -completa Rick.

Depois que nos sentimos um pouco mais seguros em nos aproximarmos Jesus explica ao rei quem somos nós e o que queremos. Em seguida, Rick explica a ele o que viemos procurar aqui, o tal Richard parece mais do que disposto a combater os Salvadores, mas Ezekiel está irredutível, ele acha que pode manter a paz com o acordo que tem com os Salvadores, mas mesmo assim ele pede a opinião de Morgan, que começa um discurso de que toda a vida importa. Bom, não para os Salvadores, já que eles estão dispostos a matar quantos dos nossos forem necessários. Eu sequer tive tempo de sentir o luto por aqueles que perdemos.

Michonne conta a eles e principalmente a Morgan sobre todos que perdemos, sobre tudo que foi tirado de nós, sobre como Daryl foi levado e agora cada segundo que ele passa num mundo com os Salvadores ele está arriscando sua vida e sobre como nós dois teremos um destino pior que a morte se eles nos encontrarem juntos.

Ezekiel não parece convencido, mas de toda forma, o rei promete pensar no que estamos pedindo e nos oferece abrigo até o dia seguinte, quando ele nos dará sua resposta.

[...]

Na manhã seguinte todos nós levantamos bem cedo. Ezekiel ofereceu uma pequena casa para que ficássemos. Daryl e eu dividimos um quarto, Rick, Michonne e Carl dividiram o outro e Rosita e Tara estavam em um terceiro,  enquanto isso Jesus dormia na sala. 

—Eles me trancaram nu naquela sala onde você me encontrou. -diz Daryl quando já havia amanhecido. -Eles me mostraram uma foto do Glenn morto pra eu saber que aquilo aconteceu por minha causa. Agora eu acho que eles queriam que eu me sentisse distante o suficiente de vocês para me tornar um deles.

—Então eles são mais estúpidos do que pensávamos. -digo. -Eles não entendem que nós estamos comprometidos uns com os outros por escolha. Tudo que eles conhecem é medo.

—Eu queria falar sobre isso com você. -diz ele sério. -Se Ezekiel não nos ajudar e Rick decidir que não vai arriscar uma guerra…

—Lá vem. 

—Me deixa terminar. -diz ele. -Se não houver uma luta entre nós e os Salvadores, você iria embora comigo? Você deixaria tudo pra trás pra ir comigo? Sem comunidade, sem casa, sem nada?

—Acho que eu já fiz essa escolha no dia em que decidi que não iria voltar para Alexandria. Mas e você? Deixaria sua família para trás?

—Nós dois sabemos que é o melhor pra todo mundo e eu sei que naquele dia você fez uma escolha, é por isso que imaginei que você viria. Quando você decidiu se fingir de morta pra ir atrás de mim, aquela foi uma escolha pra vida toda.

—Foi é? -acabo sorrindo.

—Foi. Existe um ditado que diz que quando você forja a própria morte pra ir atrás do seu namorado em cativeiro não tem como voltar atrás. -brinca ele.

—Existe? É um ditado da Geórgia? 

—Não, é estadunidense, vale em todo o território nacional. -acabo gargalhando quando ele diz isso.

—E você é meu namorado? -pergunto, não deixei isso passar.

—Acho que isso também já é indiscutível.

—Você sempre me surpreende.

—Por que?

—Você quis conversar sobre isso enquanto eu fui apenas uma simples mulher de poucas palavras.

—Eu já sabia, só queria ter certeza. -diz ele se levantando e me estendendo a mão. -Vem, tá na hora de levantar.

Depois de comermos, Jesus nos chama para dar uma volta pelo reino, mas apenas Carl e eu nos animamos. Eu estou muito impressionada com o que eles tem por aqui. É mesmo muita gente e pelo que pude ver eles podem lutar, pois estavam sendo treinados. Durante nosso pequeno tour nós paramos em um lugar onde Richard e uma outra mulher ensinavam crianças a usarem arco e flecha e no mesmo momento fico presa na cena e Jesus e Carl param ao meu lado.

—Sente falta? -pergunta Jesus.

—Você não faz ideia. 

—Eles tem uns bons arqueiros por aqui. -diz ele.

—Ei garoto, você não quer tentar? -pergunta a mulher percebendo que estávamos observando.

—Ah não, nunca usei isso antes e acho que a minha mira não é das melhores. -diz Carl apontando para o curativo em seu olho.

—Acho que fez a pergunta para a pessoa errada, Dianne. -diz Jesus me indicando com a cabeça.

—Sabe atirar? -a mulher agora pergunta para mim.

—Sim, mas perdi o meu arco um tempo atrás. -respondo. -Ainda não consegui encontrar outro.

—Você é boa? -pergunta ela. -Me mostra.

A mulher me empresta um arco e me entrega uma flecha, depois indica o alvo que eu deveria acertar, mas está fácil demais, perto demais e mesmo que esteja ventando bastante eu conseguiria acertar facilmente então miro em uma macieira que estava a uns bons metros depois do alvo. Espero um pouco e quando vejo uma das frutas baixas o suficiente eu atiro e ela acaba ficando presa no tronco da árvore.

Dianne sorri para mim e eu pisco para ela, esperando que ela tenha ficado impressionada. Quando olho para trás para ver se Jesus e Carl testemunharam meu grande feito vejo que o resto do grupo já tinha saído de casa e estava nos chamando. Provavelmente o rei já tinha o seu veredito.

—Preciso ir. -digo a Dianne devolvendo o arco.

—Vou ver o que posso fazer por você. -diz ela e eu agradeço com um aceno.

Quando encontramos Ezekiel no auditório mais uma vez ele não está com a cara nada boa e só pelo começo de seu discurso eu já sei que ele não vai nos ajudar. Ele não quer arriscar seu reinado de paz e não há mais nada que possamos fazer aqui. Acho que o desapontamento está estampado em nossa cara, pois ela tenta aliviar um pouco a situação oferecendo asilo a Daryl e a mim, mas ele o rejeita.

—Você estará seguro aqui. -insiste Ezekiel. -Os Salvadores não entram em nosso território, eles não ultrapassam esses muros.

—E quanto tempo você acha que isso vai durar? -retruca Daryl e deixa o auditório enraivecido. O resto de nós faz o mesmo.

Nós seguimos em direção ao portão e Richard vem atrás de nós, está escrito na nossa cara que o rei se recusou a nos ajudar, mas Richard ainda sim quer vir conosco e lutar. Estou começando a gostar dele, mas não consigo acompanhar o resto da conversa pois tento alcançar Daryl que andava a nossa frente.

—Nós vamos fazer dar certo. -digo a ele.

—Abre o portão, estamos indo embora. -diz Daryl para os guardas quando chegamos no limite da comunidade.

—Não, não. -diz Rick. -Vocês dois ficam.

—Não vamos ficar aqui. -diz Daryl. 

—Vocês tem que ficar. Essa é a jogada mais inteligente. -insiste ele. -Sophie pode tentar falar com o Ezekiel e quem sabe convencer ele. E você Daryl pode encará-lo até ele mudar de ideia.

—Tem certeza? -pergunto.

—Sim, nós voltaremos em breve. -diz Rick e então se vira para ir embora junto aos outros.

—Rick, espera. -finalmente tomo coragem para perguntar o que eu queria saber.

—Sim? -diz ele se virando para mim mais uma vez.

—Como ele morreu? Spencer. -eu estive pensando nisso, mas sabendo como Spencer estava já perto do fim eu tinha medo da resposta.

—Ele tentou negociar minha cabeça com o Negan, então ele o matou na frente de todos. -responde ele e eu suspiro. -Está decepcionada? Isso me parece a cara dele.

—Eu não estou tão surpresa e isso é pior ainda. -respondo.

—Se serve de consolo, ele só iria atrapalhar o que nós estamos tentando fazer agora. Spencer não ia pensar duas vezes antes de nos entregar para o Negan.

—Talvez. -digo por fim e então Rick vai embora.