P.O.V. Sophie

—Tem planos para hoje? -pergunto a Daryl quando o vejo passando por mim com uma mochila.

Eu estava sentada em um banco próximo a onde Morgan ensinava um garoto a usar o bastão.

—Richard disse que precisa da minha ajuda.

—Ele disse com o que exatamente?

—Não, mas ele é o único disposto a nos ajudar, então temos que começar por algum lugar.

Rick e os outros foram embora ainda ontem. Desde então não tínhamos mais falado com Ezekiel. Achei melhor dar a ele esse espaço de um dia para voltar a insistir no assunto.

—Vai tentar conversar com Ezekiel? -pergunta ele.

—Ele saiu.

—Jerry então?

—Também saiu.

—A arqueira?

—Lá fora. -respondo com um sorriso. -Os três saíram juntos.

—Então o que vai fazer?

—Ele. -digo indicando Morgan com a cabeça. 

—Não vai dar em nada.

—Não custa tentar.

—Boa sorte. -diz ele então se abaixa para me beijar. -Te vejo mais tarde.

—Assim eu vou ficar mal acostumada. -digo para ele enquanto se afasta. -Se cuida.

Continuo sentada esperando por uma oportunidade para conversar com Morgan, mas pelo que parece ele e o garoto estão muito entretidos com o treinamento então tenho que esperar pelo menos uma hora antes de ter a oportunidade de pegá-lo sozinho.

—Eu sei o que você quer. -diz ele quando me aproximo. -E não posso te ajudar.

—Você sabe que pode, Ezekiel escuta a você.

—Não posso convencer ele a fazer algo com o que não concordo.

—Então vamos falar sobre isso, com o que você não concorda?

—Primeiro vocês jamais deveriam ter ido atrás deles naquele posto avançado. Vocês mataram essas pessoas enquanto elas dormiam.

—Eu não posso mudar o passado, Morgan.

—Basta se arrepender, tentar fazer diferente.

—Você está enganado. -digo séria. -Eu me arrependo, acho que todos nós nos arrependemos daquele dia porque era só um posto avançado e se eu pudesse voltar atrás com o que eu sei hoje eu iria atrás de todos os outros e garantiria que não sobrasse nenhum Salvador vivo.

—Se você não entende que toda vida importa então eu não posso mesmo te ajudar. -diz ele se preparando para sair.

—Essa sua filosofia é tão hipócrita. -digo ganhando sua atenção mais uma vez. -Porque para você a vida de Glenn, Abraham, Denise, Spencer e Olivia não valem nada.

—Eu não disse isso.

—É exatamente isso que você está me dizendo quando fala que não vai fazer absolutamente nada para nos ajudar. E olha que eu só citei os mortos, como você acha que vai ser a vida da Maggie e do bebê daqui para frente, a da Sasha, da Tara, da Rosita? Nesse exato momento em que estamos conversando e você finge que está tudo bem, Daryl está sendo caçado e se Maggie e eu formos encontradas com vida aí nós vamos ter um destino pior que a morte junto com todos que nos esconderam.

—Tem que existir outro jeito.

—Existir outro jeito? Morgan você não estava lá não existe outro jeito, existe nós contra eles e quando você escolhe não fazer nada sabendo que nós viemos aqui pedir ajuda então você está do lado deles.

Saio de lá deixando Morgan e o seu discurso de “todas as vidas importam” sozinhos. Daryl estava certo, isso não vai dar em nada, eu vou ter que falar diretamente com Ezekiel se eu quiser ter alguma chance. 

[...]

Já estava de tarde quando fico sabendo que o rei está de volta. Fico andando pelas ruas, principalmente às que ficam perto de sua casa para nos encontramos casualmente, mas ele está sempre conversando com alguém então no momento em que vejo uma senhora se afastar dele corro para andar ao seu lado.

—Me procurando? 

—Eu queria agradecer por nos oferecer um lugar para ficar. -começo.

—Era o mínimo que podíamos fazer.

—Não quero soar mal agradecida, mas é menos que o mínimo para ser honesta.

—Vai insistir naquele assunto?

—Você deveria saber que vou, não devemos ficar aqui por muito tempo, temos que ajudar nossa família e esse é o meu jeito de ajudar já que Daryl e eu temos um alvo na nossa cabeça e não podemos voltar para casa.

—Vocês não são um alvo enquanto estiverem aqui dentro. Os Salvadores não entram aqui.

—Nós somos sim e se você acha que tem algum controle sobre o que os Salvadores fazem então você está mesmo em apuros.

—Estou? -pergunta ele mantendo o bom humor.

—Sim, mas para a sua sorte eu estou aqui para abrir seus olhos. -tento dizer com algum humor. -No dia em que conheci Negan ele matou dois dos nossos na frente de todo mundo e obrigou Rick a arrancar um braço do próprio filho ou ele mataria o resto de nós.

—E Rick arrancou?

—Não, Negan estava só se divertindo, ele fez isso porque não estava gostando do jeito como Rick olhava para ele.

—Rick deve ser mesmo intenso. -diz ele tentando se esquivar.

—O que eu estou tentando dizer é que se os Salvadores acreditarem que você não está colaborando eles vão arranjar um motivo para destruir a sua tão preciosa paz e não há nada que você possa fazer, não tem como justificar uma coisa que só existe na cabeça deles. No dia em que eles decidirem está feito.

—Essa é só uma possibilidade, pode não acontecer.

—E é aí que você está errado mais uma vez. Nós vamos lutar e pode ser que nós ganhemos, mas você sabe que sem o Reino todos os fatores estão contra nós e se nós perdermos então estaremos todos mortos e eles virão atrás de vocês precisando de cada vez mais coisas. Vai chegar um momento em que o Reino não vai mais dar conta. Infelizmente esse momento já chegou para Alexandria e Hilltop.

—Maldito o dia em que vocês vieram atrás de mim com esse assunto e me metaram nisso.

—Nós não metemos você nisso, foram os Salvadores que te enfiaram nessa história, quando nós viemos atrás de você nós te demos uma escolha.

—Uma escolha que eu já fiz.

—Você escolheu não fazer nada.

—Ainda sim é uma escolha.

—É sim, eu disse isso para Morgan hoje cedo e vou dizer mais uma vez para você, quando você escolhe não fazer nada você está escolhendo o lado deles.

—Você não sabe o quanto essa é uma escolha difícil, você não está tendo que abdicar de nada.

—Eu não estou tendo que abdicar de nada? Eu abdiquei da minha casa, dos meus amigos, do meu irmão e da minha vida para ter uma chance de ir atrás de quem eu amava porque os Salvadores me tiraram isso e agora quando eu decidi lutar eu estou abdicando até da única coisa que me restou porque eu sei que Daryl e eu podemos morrer. -digo firme. -Eu não estou pedindo que você force alguém a ir para a guerra conosco, eu estou pedindo que você deixe as pessoas escolherem nos ajudar. Nós não pedimos nada às pessoas em Hilltop, elas simplesmente se ofereceram mesmo que estivessem contrariando Gregory.

—Eu sinto muito pelo que vocês perderam, mas…

—Mas ainda sim não vai fazer nada. -o interrompo. -Obrigada pela estadia Vossa Majestade, mas acho que estamos indo embora agora.

[...]

—Dia ruim? -pergunta Daryl quando eu entro em casa batendo a porta.

—Péssimo e o seu?

—Encontrei a Carol. -diz ele. -Ela está morando em uma casa aqui perto.

—Vocês conversaram? Ela está bem?

—Não contei a ela sobre o que estamos fazendo ou sobre os que morreram. Mas acho que deveríamos ir embora, não consigo mentir pra ela.

—Eu andei pensando sobre exatamente a mesma coisa, não quero mais ficar, não vamos conseguir nada com essas pessoas. -digo. -Mas você não me respondeu, Carol está bem?

—Fisicamente sim, mas acho que ela já está cansada de tanta luta, o melhor que ela pode fazer agora é ficar em paz no canto dela.

—E você está bem com isso?

—Só quero o bem dela, então sim. -diz ele. -Quer ir agora ou quer esperar amanhecer?

—Agora, de manhã chamamos muita atenção.

—Então arrume suas coisas e nós podemos ir.

—Bom, então eu estou pronta. -digo dando de ombros. -Eu estou vestindo todas as coisas que eu possuo no momento.

—Deixaram uma coisa pra você na porta quando eu cheguei. Está na bancada da cozinha.

Vou até lá e encontro um arco, um muito bom por sinal e do lado tinha uma aljava cheia de flechas. Eu seguro o arco e meu Deus o peso é maravilhoso, não vejo a hora de poder usar.

—Dianne deixou pra você. -diz ele entrando na cozinha. -Richard me arranjou uma crossbow.

—Já é Natal? -brinco. -Falando nisso, como foi com ele lá fora? Conseguiu alguma coisa?

—Só um novo desafeto.

—Bom, então acho que já não temos mais o que fazer aqui.