P.O.V. Sophie

Nunca senti tanto medo em toda a minha vida.

No momento em que Daryl soca Negan eu achei que fosse o fim, que Negan iria matá-lo e que nós nunca mais teríamos a oportunidade de nos entendermos e de construir alguma coisa só nós dois. Mas não é isso o que acontece.

Os homens de Negan o seguram no chão e o homem loiro que atirou nele lhe aponta a crossbow, mas Negan parece gostar de Daryl então diz que a situação é inaceitável e que não há exceções, nós temos que aprender. Negan se vira e atinge Glenn com o taco de baseball tão forte que seu globo ocular salta para fora e tudo que ele consegue fazer antes que Negan o atinja de novo é dizer que encontrará Maggie novamente.

Rick ameaça matá-lo e Negan o leva embora no trailer e nós os esperamos de joelhos pelo que parecem ser horas. Tento encontrar o olhar de Daryl várias vezes, mas tudo o que ele faz é encarar o chão. Já quando olho para Aaron vejo que ele tenta me tranquilizar, mas isso é impossível. Como eu vou ficar mais calma quando dois amigos nossos estão mortos e algo me diz que esse não é o fim.

Quando Negan retorna com o Rick ele nos ameaça mais uma vez, pede a Rick que corte o braço do próprio filho ou ele nos mata. Pela primeira vez vejo Rick implorar e consequentemente Negan diz a ele que não será mais necessário arrancar o braço de Carl, que nós já entendemos a mensagem. Depois disso meu mundo desaba. Negan pede que Dwight coloque Daryl no furgão, pois gostou dele já que não é um covarde como o resto de nós. Nesse momento eu começo a soluçar, sinto como se estivessem tirando uma vida inteira de mim. E é exatamente o que estão fazendo, estão me tirando toda a possibilidade de um futuro que poderíamos ter.

Os Salvadores vão embora e nos deixam jogados no chão com os corpos de Abraham e Glenn. De todos nós Maggie é a primeira a se levantar, ela não quer deixar isso barato, ela quer lutar. Mas não será assim tão simples, Rick entendeu a mensagem melhor do que Negan poderia esperar, ele não quer revidar e eu sei que ele tem os motivos dele, mas não posso aceitar isso. 

Maggie está péssima e precisa ir para Hilltop ver o médico, ela insiste em ir sozinha, mas eu me ofereço para ir com ela. Eu não estava mentindo, não volto para casa sem o Daryl e se Rick não vai ajudar então meu lugar já não é em Alexandria. No fim das contas fica decidido que Maggie, Sasha e eu iríamos para Hilltop e levaríamos os corpos conosco.

—Você tem certeza disso? Não quer voltar? Você pode ficar comigo e com o Eric. -diz Aaron me envolvendo em um abraço.

—Eu volto quando estiver com ele. -digo.

—Não há nada que possamos fazer. -diz Rick. -Eles tem um exército.

—Daryl não desistiria de ninguém aqui. -digo sem conseguir conter as lágrimas.  -Eu não vou desistir dele, eu não posso desistir e eu sei que também não posso pedir que alguém me ajude.

—Sophie eu posso… 

—Não. -interrompo Aaron. -Para todos os efeitos, eu estou morta. Não vou criar problemas para vocês, mas eu não posso deixar ele para trás.

—Tem certeza disso? -pergunta Rick.

—Enquanto ele estiver vivo ainda há esperança, não é? 

Nós colocamos os corpos em uma picape que foi deixada para nós pelos Salvadores e então abraço Aaron mais uma vez em despedida, ele pode não gostar do que estou fazendo, mas ele entende, ele faria o mesmo se alguém levasse o Eric. Também abraço Carl antes de partir e peço que ele tome cuidado.

—Nós vamos fazer eles pagarem. -diz Rosita apenas para mim antes que eu entre no carro.

[...]

É Jesus que nos recebe quando chegamos em Hilltop. Maggie é atendida pelo médico antes que expliquemos o que aconteceu, enquanto isso Sasha e eu cavamos as covas dos rapazes. Sei que ela e Abraham estavam juntos e que ela deve estar se sentindo péssima, mas não tenho palavras de conforto para oferecer agora. Também vou sentir a falta dele.

Passado um tempo Jesus se junta a nós e nos informa que Maggie e o bebê estão bem. Ela contou a ele o que aconteceu entre nós e os Salvadores e ele nos oferece asilo. Nós não respondemos de imediato, temos que pensar se isso é mesmo uma boa ideia. Ficar aqui também é arriscado.

Depois de enterrados os corpos nós nos juntamos a Maggie que ainda estava no consultório médico. Ela ainda estava muito abalada, eles tiraram o seu companheiro de toda a vida, o pai do seu filho. Glenn e Abraham precisam ser vingados e eu preciso recuperar o Daryl.

—Jesus nos ofereceu abrigo. -começo.

—Sim, ele falou comigo. -diz Maggie.

—Você quer ficar? -pergunta Sasha e Maggie apenas confirma com um aceno de cabeça. -Então eu também fico. Sophie?

—Não sei, acho que posso ficar por enquanto. -digo e posso mesmo já que preciso de um plano antes de qualquer coisa. -Acha que Gregory vai nos aceitar?

—Quero que Gregory vá para o inferno. -responde Maggie. -Meu filho e eu precisamos ficar, nós precisamos do que eles tem aqui.

—Então está decidido. -conclui Sasha. -Nós quatro ficamos.

[...]

No geral todos são muito solícitos conosco, Gregory é um dos poucos que não gosta da nossa presença e não faz o mínimo de esforço para tentar esconder isso, mas todos nós sabemos que ele é um covarde e que tem medo que os Salvadores descubram sobre o nosso acordo de antes.

Estamos aqui há dois dias e eu tenho ajudado todos ao máximo, não porque eu me importe, mas porque preciso de um favor dessas pessoas. Perdi meu arco quando os Salvadores nos pegaram e não posso ir atrás deles sem uma arma. Sei que essa gente não tem armas de fogo, pois eles levaram todas, mas posso fazer isso com um arco. Além disso, ainda não sei como encontrar Negan.

—Ei Jesus. -chamo quando o vejo saindo da casa. -Posso falar com você?

—Vai me pedir alguma coisa, não vai? -pergunta ele e eu confirmo. -Dá pra sentir que você quer alguma coisa.

—Bom, isso me poupa trabalho. -digo. -Preciso de um arco, os Salvadores levaram o meu.

—Você está aqui agora não precisa…

—Eu não vou ficar. -interrompo. -Eles levaram o Daryl.

—E você vai atrás dele sozinha? 

—Sim, não posso envolver mais ninguém nisso.

—Você é suicida?

—Você não conhece o Daryl. -digo. -Não entenderia.

—Mas eu conheço o que você está sentindo. -diz ele. -Vou te ajudar.

—Obrigada.

Passo o resto do dia ajudando com o cultivo de comida, mas meu pensamento está em Daryl. Eu tenho evitado pensar no que pode estar acontecendo com ele porque eu não quero ficar mais assustada do que eu já estou, mas eu estou com tanto medo do que possam estar fazendo com ele. Daryl já está quebrado, ele precisa ter a sua família de volta. Ele já se sentia responsável por nos deixar naquela situação, não quero nem imaginar o que está passando pela sua cabeça depois da morte de Glenn.

Pensar em Alexandria também me dói. Rick não quer revidar, ele acha que não podemos e eu não quero questioná-lo depois de tudo que passamos, mas não podemos viver nessa situação. Negan sempre vai querer mais e mais de nós, de toda forma acabaremos mortos e eu prefiro morrer lutando. E é isso que eu vou fazer, sei o quanto estou arriscando, mas é necessário. O pior é que se tudo der certo e eu conseguir tirar o Daryl de onde quer que ele esteja ainda sim nós não teremos para onde ir. Não podemos arriscar ficar em Alexandria e sei que aqui não seremos bem-vindos, mas se esse é o preço que eu tenho que pagar pela nossa liberdade então eu estou disposta.

Vou para a casa de Jesus quando a noite cai. Ele estava nos abrigando e apesar de ser bem apertado nós quatro dentro do que parece mais um contêiner não consigo pensar em um lugar melhor para estar nesse momento. Todos nós jantamos juntos e ao final quando Maggie e Sasha já estavam prontas para dormir, Jesus me chama para conversarmos e eu fico grata pela sua descrição. Ainda não quero compartilhar isso com as duas, elas já tem seus próprios problemas.

—Não consegui seu arco, sinto muito.

—Está tudo bem, pelo menos você tentou. -digo. -Eu vou dar um jeito.

—Posso te ajudar a encontrar um lá fora.

—Posso fazer isso sozinha.

—Eu insisto. -diz ele. -Além disso, eu estive pensando e eu posso te ajudar a descobrir onde ele está.

—Como?

Antes que Jesus possa me responder nós ouvimos um barulho do lado de fora. Saímos imediatamente junto de Sasha e Maggie. Os portões estavam abertos e havia um carro de som no meio da comunidade tocando uma música irritantemente alta. Os mortos já estavam começando a entrar, vários deles. Maggie começa a gritar ordens e Jesus e eu corremos para fechar os portões enquanto Sasha tenta desligar o som. 

Dezenas de zumbis já haviam entrado e Sasha não consegue de forma alguma desligar o maldito som, aparentemente o carro estava blindado. Então vemos Maggie dirigindo um trator em direção ao carro e nos encarregamos de matar os zumbis, ela poderia dar conta disso e quando ela finalmente esmaga o carro nós ainda estávamos derrubando os mortos um a um, o máximo que podíamos fazer com uma faca.

Apenas depois de tudo estar resolvido é que Gregory aparece insistindo para irmos embora de uma vez por todas antes que os Salvadores descubram que estamos aqui. Jesus insiste para que conversemos de manhã e ele aceita a contragosto. Isso só mostra o quanto eu preciso ir embora daqui o quanto antes, quem sabe assim ele deixe que Maggie e Sasha fiquem afinal elas são só duas, ou três com o bebê. Eu seria uma boca a menos para alimentar.

[...]

Na manhã seguinte nós continuamos nossa discussão com Gregory. Eu aviso que estou de partida e Sasha se oferece para trabalhar para ele para que Maggie possa ficar, mas nada disso é o suficiente e antes que possamos nos humilhar mais um pouco os Salvadores chegam, são pelo menos trinta deles e Jesus corre para nos esconder do bando.

Ele aparece quase uma hora depois para nos tirar de dentro do armário de casacos do Gregory. O desgraçado tentou nos entregar para os Salvadores, Maggie o soca por isso e por Gregory tentar defendê-los, ela mais que todo mundo tem suas razões para estar machucada. Jesus me chama em um canto mais uma vez e me avisa de que os Salvadores ainda não foram embora.

—Achei que pudéssemos segui-los. -diz ele -Um deles vai nos levar direto ao Negan, eu ouvi eles dizerem.

—Você também vem? -pergunto e ele confirma com um aceno. -Então temos que ser rápidos.

Nós dois saímos da comunidade pelos fundos e entramos na traseira de um dos caminhões já em movimento. E para a nossa surpresa Carl estava lá.