P.O.V. Daryl

Ando pelas ruas de Alexandria em direção a minha casa, decidido que o melhor a se fazer é esquecer o que quase aconteceu e me afastar de uma vez por todas dessa garota, eu ainda não consigo acreditar que eu estava mesmo prestes a agarrar ela. Com certeza seria culpa da bebida, mas eu jamais me perdoaria por isso. Tentar fazer parte disso pelo bem da minha família é uma coisa, mas me envolver com alguém? Isso vai além de qualquer limite.

Assim que passo pela porta encontro Rick sozinho na sala com um olhar preocupado.

—Teremos uma reunião amanhã. –diz ele.

—Aconteceu alguma coisa?

—Morgan e eu fomos lá fora hoje e vimos o motivo pelo qual essa comunidade ainda está de pé. –ele começa. –Há uma erosão perto daqui, os zumbis estavam caindo lá dentro e não conseguem sair porque o caminho está bloqueado por caminhões. O problema é que os mortos estão atraindo cada vez mais mortos e os caminhões não serão suficientes por muito tempo e assim que eles saírem irão vir direto pra cá.

—E o que nós vamos fazer? –pergunto. –Matar todos?

—Não dá, eles são muitos. Nós teremos que tirar eles de lá e levá-los na direção contrária. Falamos sobre isso amanhã. –Rick se retira, eu faço o mesmo e vou para meu quarto. Demoro a pegar no sono pensando em Sophie e no que quase aconteceu essa noite, se Merle estivesse aqui estaria rindo da minha cara, mas é inevitável não pensar no que poderia ter acontecido.

[...]

No dia seguinte, todos da comunidade se reúnem na casa da Deanna, inclusive Sophie, a quem eu ignoro quando acena pra mim. Nós não havíamos sequer nos olhado depois do que aconteceu ontem e talvez fosse melhor assim. Rick alerta a todos sobre os mortos e que eles não permaneceriam presos por mais muito tempo. Heath um garoto de Alexandria nos informa de que antes havia um pequeno acampamento no lugar e que os que viviam lá acabaram morrendo. E isso provavelmente deu início ao que Rick e Morgan encontraram.

—Então os errantes foram atraídos pelo som. E como eles fazem mais barulho, atraem mais errantes. –diz Michonne.

—E aqui estamos. –inicia Rick. –Sei que minha proposta é arriscada, mas já têm errantes escapando, Um dos caminhões que os mantém dentro da cratera pode despencar a qualquer momento. Aquela saída os mandará para o leste, todos eles para nós. Isso não é uma questão de “se”. É de “quando”. Por isso precisamos fazer isso logo.

—Isso é... E nem tenho outra palavra para descrever. É aterrorizante. –diz Carol ainda mantendo a aparência de dona de casa frágil e assustada que assumiu desde que chegamos aqui. –Mas não há outra saída.

—Talvez exista. –começa Carter de Alexandria. –Não podemos só fortalecer os pontos fracos? Posso elaborar um plano. Eu trabalhei no muro com o Reg. Podemos tentar deixá-lo seguro.

Rick tenta convencê-lo de que isso não adiantará e a melhor saída é guiar os zumbis na direção contrária.

—Faremos o que Rick diz. –Deanna finalmente se pronuncia. –O plano que ele descreveu.

—Será como eu falei, Daryl os conduzirá para longe. –Rick começa a explicar o plano novamente. –Teremos duas equipes, uma de cada lado da floresta, auxiliando na execução do plano. Algumas pessoas ficarão de vigia a partir de agora. Rosita, Spencer e Holly podem fazer isso então eles estão fora. Quem está dentro?

—Eu. –diz Michonne.

—Pode contar comigo. –diz Sophie e nossos olhares se cruzam apenas por alguns milésimos de segundo.

—Estou dentro. –Glenn também se oferece.

—Eu gostaria de ajudar. –diz o Padre.

—Não. Quem mais? –Rick o corta. –Precisamos de mais pessoas.

—Tem de haver outra saída. –Carter começa a nos encher novamente. –Não podemos controlar tantos assim.

—Eu já disse isso antes, errantes se agrupam. Seguirão um caminho se algo os atrair. Assim pegamos todos de uma vez.

—Devemos simplesmente acreditar na sua palavra? Devemos fazer o que você diz após...

—Após o que? –pergunta Rick perdendo a paciência.

—Após você andar armado por aí, gritando, apontando para as pessoas. Após você atirar no rosto de um homem, após você...

Deanna grita com Carter dando fim a discussão. O clima fica tenso por um momento, contudo ao longo da reunião cada vez mais pessoas de Alexandria oferecem ajuda.

 -Pode repassar o plano? –pergunta Carter me fazendo começar a perder a paciência também.

—Cara, ele acabou de falar. –digo.

—Cada parte, novamente. –diz ele. –O plano exato.

[...]

—Pelo amor de Deus, Carter. -explode Sophie após o idiota pedir que Rick explique o plano pela centesima vez. -Ninguém aguenta mais. Todo mundo já entendeu, se você quiser participar, ótimo, mas se for atrapalhar vai embora.

—Eu irei explicar novamente e dividir as funções de cada um. –diz Rick, também irritado com Carter.

Rick reúne do lado de fora da casa apenas aqueles que irão participar do plano, deixando de lado aqueles que ficariam de vigia e os que não sabiam como se proteger, nesse caso, a maioria. Basicamente o plano era atrair a atenção dos mortos e cercar a estrada com carros fazendo com que eles fossem na direção contrária à da comunidade. Rick, Michonne, Morgan, Carter, Glenn, Heath e Nicholas iriam ficar na floresta para garantir que nenhum dos mortos se desviasse da estrada. Sasha e Abraham iriam comandar um grupo para eliminar toda e qualquer coisa que pudesse atrair a atenção do bando durante o caminho. Eu iria de moto para atraí-los durante todo o caminho. E Sophie vai me acompanhar de carro para garantir que nada de errado acontecesse durante a execução do plano.

Todos iriam ajudar a cercar a estrada com os carros e na construção de uma espécie de muro para fazer com que a horda fosse na direção correta. Assim que Rick explicou o plano todos começaram a se retirar e sobramos apenas Sophie e eu.

—É impressão minha ou você está me evitando? -pergunta ela.

Eu tento me esquivar da pergunta e me direciono a escada da varanda, mas ela põe a mão em meu peito tentando impedir minha passagem.

—Nós não vamos mais precisar ir lá fora por um bom tempo, então por que você não me deixa em paz? -respondo seco e percebo que ela muda de expressão  instantaneamente.

—Você não precisa ser um completo babaca.

—Também não preciso mais aturar você, então se puder me dar licença. -digo e ela sai da minha frente me dando passagem.

Dou as costas e a deixo sozinha de novo. Me sinto um idiota, mas isso não é pra mim, eu não quero me envolver nisso. Ela não é uma de nós e eu jamais vou estar pronto pra uma coisa dessas.