Rose Blush escrita por red hood


Capítulo 2
PART II: anticipating my face in a red flush




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801372/chapter/2

Astoria levou três dias para resolver entrar em contato com Draco, já que toda vez que olhava o número dele no grupo de mensagens do casamento sentia raiva. Não tinha estômago para ligar para ele, então apenas passou uma mensagem avisando que precisava de ajuda para preparar o vídeo que seria passado durante a recepção, portanto precisava e algumas fotos de Theodore com os amigos e familiares. Aquela era uma das poucas surpresas que Daphne havia permitido no casamento.

Foi logo surpreendida com uma chuva de imagens de Theodore criança. Algumas o jogador estava sozinho e outras com Draco. Astoria não podia deixar de notar como o Malfoy havia sido uma criança extremamente linda. Com os cabelos levemente cumpridos caindo no lugar certo como dominós.

Como deve ter sido crescer assim? ela pensou.

Agradeceu secamente e em seguida recebeu um breve “até mais tarde” dele. Estranhou, mas ignorou a mensagem, jogando o celular no sofá e voltando a sua escrita.

Estava empacada nesse capítulo de seu livro. Sentia que quanto mais se aproximava do fim tudo ia sempre ficando mais difícil. A euforia de começar algo já havia passado, os prazos iam se apertando, seus personagens tinham que fazer escolhas que ela mesma não sabia se teria coragem de fazer na vida real. Porém, era aí que estava a verdadeira magia da escrita, esse eterno empurrar barreiras pessoais para criar algo que importasse, que deixasse uma mensagem positiva para aqueles que estivessem lendo.

Mesmo que ela fosse simplesmente previsível.

Astoria grunhiu ao lembrar do comentário e nessa hora soube que provavelmente não renderia mais naquele dia. Portanto, fechou seu arquivo de escrita, salvando as últimas míseras 200 palavras que tinha conseguido adicionar e abriu uma página no Google.

Draco Malfoy.

Digitar o nome dele quase dava a ela calafrios, de raiva é claro.

Assim que a página carregou, foi bombardeada por fotos de paparazzis, misturadas com artigos sobre advogados em ascensão e o noticiário da justiça inglesa. Em momentos assim que ela era lembrada que Theodore era um astro do futebol e todo o círculo de amizades e relacionamentos de Daphne tinham algum grau elevado de status na sociedade.

Chegou a achar também o site oficial do escritório Zabini & Malfoy, em que logo no banner principal Draco posava o pai e os sócios. Astoria esboçou um sorriso analisando como ele parecia tenso e sério naquela foto, ao contrário do que ela viu na degustação, ou até mesmo nas fotos em bares com as modelos e os amigos famosos em Ibiza.

De saco cheio de ver o rosto do advogado e todos os seus feitos no ramo civil, resolveu voltar para o lugar onde viu o nome Malfoy pela primeira vez: o goodreads. Era mais fácil encarar o pequeno Link no perfil, do que pensar no Draco real.

Assim que abriu o perfil dele se deparou com longas e extensas análises sobre cada título que ele havia lido. Havia resenhas desde os livros da Jane Austen, até Senhor Dos Anéis — possivelmente única saga capaz de arrancar cinco estrelas dele.

A cada página que ela investigava seu ódio pelo loiro crescia. Por que ela não merecia uma dessas? Só por que era uma literatura contemporânea?

Esse sem dúvidas era um ótimo tópico para ser trabalhado na terapia.

 

 

Depois do que Astoria gostava de chamar de análises de perfil do Dr. Malfoy, ela tirou o dia para resolver coisas que andava procrastinando, já que havia decidido não escrever mais naquele dia.

Tinha que comprar um vestido novo para um lançamento que teria dali há algumas semanas, logo depois do casamento de sua irmã. Precisava comprar nossas essências para seu difusor, pois o estresse da última semana tinha acabado com.

Não esqueça de trazer o vinho hoje!

Ah, e ainda tinha que atender ao jantar semanal na casa de seus pais.

Bufando, enquanto se praguejava de ter esquecido disso, saiu de casa. Mais um dia que seu self-care, com pizza, comédias românticas dos anos 2000, e máscaras faciais, ficariam para depois.

Aquela era uma tradição besta para Astoria. Afinal, via seus pais toda semana. Alguns dias ia lá para pintar com sua mãe, outras recebia a visita de seu pai para receber samples de produtos que chegariam nas farmácias da rede e ele queria saber se eram da moda. Desde que ela havia se mudado eles não haviam descuidado dela por se quer um dia. Ainda recebia mensagens perguntando se ela estava tomando suas vitaminas, se pegava sol regularmente e se estava comendo coisas saudáveis. Mas apesar disso tudo, eles ainda achavam de extrema importância o jantar semanal, para estreitar os laços familiares. Astoria sempre brincava dizendo que ia acabar sufocada, o que fazia sua mãe a repreender e lançar uma carranca, fazendo com que ela apenas risse mais.

Tentou fazer de tudo para não chegar atrasada na casa de seus pais. Mas o universo parecia não estar conspirando a seu favor. Sentia que havia rodado Londres inteirinha até finalmente encontrar tudo que precisava, portanto, ao chegar em casa estava exausta. Tinha energia o suficiente apenas para tomar um banho e se convencer de não ir para cama.

Entrou na Mansão Greengrass correndo, torcendo para não tropeçar em seus saltos e deixar o vinho escapar de suas mãos. Chegando na sala de jantar, todos pareciam já esperar tal comportamento da mais nova.

— Nos perdoe a falta de educação da nossa filha mais nova, Sr. Malfoy — seu pai anunciou sua chegada. — É um caso perdido.

Sr. Malfoy?!

O sorriso bobo em seu rosto murchou um pouco, enquanto ela colocava a garrafa na mesa e ia cumprimentar as pessoas ali presentes, sua mãe, sua irmã, seu cunhado e ele, Draco Malfoy.

Vê-lo fora da tela do computador depois de alguns dias era tortuoso, como levantar da mesa depois de beber demais. Ele estava menos polido e arrumado do que da última vez. Não pode evitar de pensar que roupas casuais caiam bem nele, assim como a cor verde.

— Um caso perdido que estava atrás do seu vinho favorito, papai! — ela protestou saindo de um rápido transe pessoal após analisar o loiro do outro lado da sala.

Seu pai prontamente foi a receber com um sorriso e um abraço apertado e logo em seguida veio sua mãe que sussurrou no ouvido dela:

— Você pelo menos é o meu caso perdido preferido.

Ninguém pareceu perceber o desconforto de Astoria naquela noite. Ela se manteve quieta e com a boca cheia o suficiente para não soltar nenhum comentário desagradável ou questionar porque havia um intruso no jantar em família.

Em algum ponto entre o prato de entrada e o prato principal, a conversa entrou em um território perigoso para Astoria. Sua mãe e seu pai falavam como estavam felizes em relação ao casamento de Daphne, já que a mais velha estava próxima dos 30 anos e sonhava em ter filhos.

Como ela detestava esse tipo de constatação. Nessas horas agradecia que por mais que seus pais as vezes puxassem seu pé para arrumar um noivo também — a cobrança não era nem mesmo de um namorado —, pelo menos ela era a mais nova, e não a herdeira Greengrass.

Admirava Daphne que continuava com o sorriso intacto e a mão direita segurando a de Theodore.

— E você, querido Draco? — a Sr. Greengrass quis saber, enquanto bebericava seu vinho. — Já tem alguma pretendente para ser a senhora Malfoy?

Astoria não evitou de revirar os olhos, enquanto lembrava das notícias que havia encontrado naquela manhã. As fotos de paparazzi dele saindo de restaurantes com modelos, beijando a tão grande artista Pansy Parkinson no meio da rua. Todas as manchetes falando sobre a beleza e controvérsias do o advogado.

Todo mundo parecia querer um pedaço dele. Saber como era estar nos braços do grande Draco Malfoy ou poder mexer nos cabeços platinados que valiam milhares de libras.

Pensar naquilo estava a deixando enjoada.

— Duvido alguém ser boa o suficiente para o grande Draco Malfoy — murmurou, usando sua voz pela primeira vez na noite, enquanto dava um longo gole em sua própria taça.

Esperava que seu comentário fosse ignorado, ainda mais por ter falado baixo o suficiente para que ninguém tivesse ouvido. Porém, para seu desespero percebeu que estava errada quando levantou os olhos para encarar os demais da mesa e a atenção estava toda voltada para ela.

— Se você sabe tanto sobre relacionamentos Astoria, me diga sobre os seus — Draco pediu com um sorriso desafiador entre os lábios.

— Sei o suficiente para entender como você é amargurado com os seus — a resposta dela saiu mais ácida e de tom infantil do que pretendia, mas não tinha como voltar atrás. Claro que ela estava falando mais da resenha de seu livro do que sobre Draco de verdade.

— Gostaria muito de saber o quão suficiente você me conhece em outras áreas da minha vida— ele retrucou.

Astoria sentia suas bochechas pegarem fogo, mas se recusando quebrar o contato visual deles. Os olhos de Draco tinham um estranho brilho naquela noite, adquirindo um tom mais cinzento do que azul.

— Acho que está na hora da sobremesa! — Daphne quebrou o clima estranho que estava no ar. — Theo trouxe esse Tiramisù incrível de uma confeitaria nova que abriu na Piccadilly Circus!

Eles comeram em silêncio, mas nada parecia dissipar a estranha tensão que Astoria havia criado. Felizmente, seu pai puxou um assunto sobre novos contratos com fornecedores, fazendo com que pelo menos o olhar de Draco se voltasse para outra coisa que não fosse ela.

Assim que terminaram Astoria anunciou que tinha que ir embora. Planejava acordar bem cedo no dia seguinte e não tirar a bunda da cadeira até ter pelo menos finalizado o rascunho daquele capítulo que estava tendo dificuldades. Ninguém questionou sua escolha, sua mãe até lhe desejou sorte, até que Draco resolveu estravar tudo:

— Eu posso te levar — ele se prontificou.

— Ah, que cavalheiro — a Sr. Greengrass exclamou em deleite. — Seria incrível, odeio meu bebê perambulando sozinha tarde da noite.

— Isso não é necessário, mamãe. — Astoria reclamou, extremamente incomodada com a ideia de passar 15 minutos em um carro com o loiro esnobe.

— Eu insisto — ele se manifestou mais uma vez, já se levantando da mesa e se despedindo, deixando assim Astoria sem muita escolha. Já havia estourado sua cota de falta de educação naquela noite.

Ela respirou fundo. Olhou para sua irmã que praticamente suplicava que ela não fizesse uma cena ou tornasse aquela situação mais desagradável.

— Okay então. — Ela se rendeu enquanto vestia o casaco.

Caminharam juntos até a porta principal em silêncio. Astoria nem ousava olhar para ele, fingindo estar muito ocupada em seu celular.

— Você pode me explicar o que foi isso? — ele perguntou, assim que saíram da mansão e o vento gelado da noite tocou seus rostos.

— Isso o que? — Astoria se fez de desentendida, enquanto apressava o passo rua afora tentando aumentar a distância entre eles. — Eu constatando verdades na mesa de jantar?

Draco percebendo o que ela estava tentando fazer apertou o passo também.

— O que eu fiz para você, Greengrass?

— A. Greengrass não te lembra nada? — ela perguntou, com a voz carregada de sarcasmo, se virando para fitar ele. — Fake It?!

Draco quase engasgou com a própria risada, quando parou abruptamente de andar também.

— Sério? — ele perguntou. — Isso é ridículo.

— Ridículo?! — Astoria achava que era impossível ficar mais amargurada com a situação. — Esse é o meu trabalho, é um medidor para minha editora, isso não é simplesmente previsível para você?!

— E o que você queria que eu fizesse?! Te pedisse um autógrafo?

— Não seu idiota! Eu esperava o mínimo uma resposta, um porque você me deu uma estrela no goodreads — ela exclamou irritada, apontando um dedo para o peito de Draco — Para de rir!

— O que tem meu goodreads? Eu não te segui lá?

Ela olhou para ele incrédula. Aparentemente seu livro tinha sido tão insignificante que ele nem se quer havia se lembrado da pontuação que ele havia lhe dado

— Você não vai em lugar nenhum, prometi seus pais que te levaria para casa. — Draco se aproximou e Astoria pode ver a excitação dele ao ponderar se deveria puxa-la pela mão ou não.

Parte dela ficou feliz de ele não ter feito isso, mas não o suficiente para evitar em gritar:

— Eu prefiro ir pra França a pé do que pegar carona com você!

Após isso, Astoria entrou no primeiro taxi que passou para ela.

 

 

Demorou uma semana para que eles tivessem que se encontrar novamente. Daphne estava desesperada, pois tinha que resolver questões do fechamento do financeiro da empresa, e os convites da gráfica tinham dado problema.

E Draco havia trocado a review do livro e a pontuação dada. Astoria queria mata-lo ao ler:

“Ótimo livro, pena que a autora é uma mimada”, seguido de três estrelas.

Então ele sabia, Astoria pensou ainda mais indignada.

Por um segundo havia pensado que ele havia esquecido do que tinha feito e se sentiu ainda mais ridícula. Porém, vendo aquilo, sabia que ele estava tirando uma com a sua cara e ela odiava isso.

Odiava ainda mais o fato que estava na porta de seu prédio esperando que ele chegasse com seu estúpido carro, vestindo seu estúpido terno Armani e seu estúpido cabelo impecável. Enquanto ela se sentia uma velha rabugenta de leggings e um suéter felpudo, seu uniforme oficial de escrever o dia inteiro.

— Achei que você tinha dito que preferia ir a pé para a França do que pegar carona comigo — foi a primeira coisa que ele falou, assim que Astoria se sentou no banco de couro de seu carro.

Ela se poupou e não o respondeu, apenas mostrou para ele o caminho no GPS de seu celular. Quanto antes acabassem aquela tarefa melhor para ela.

A segunda vez que tiveram que se reunir foi depois de dois dias. Astoria teve que ir atrás da banda e o DJ responsável para as músicas da festa, pois Daphne estava hiperventilando com a ideia de tocarem as faixas antigas da Taylor Swift e não as “Taylor’s Version”.

Astoria então ligou para Draco e eles foram juntos até o salão de festas, juntamente de toda a equipe de som. Alinharam as playlists que seriam tocadas antes, depois e durante o cerimônia. Discutiram sobre o melhor lugar para colocar a banda no salão e que versão de A Thousand Years seria melhor para a valsa dos noivos.

Nesse dia ela descobriu que Draco tocava piano e que sabia mais de arranjos musicais do que ela esperava.

Mesmo depois de 2 meses lidando com ele, Astoria ainda não havia se acostumado com a presença do homem ao seu redor. As coisas entre eles não melhoraram, ele continuava provocando-a até que seu rosto ficasse vermelho — de raiva obviamente. Ela continuava bufando e recusando todas as vezes que ele oferecia para pagar a conta dos dois quando eles iam jantar após os seus afazeres.

Aquela ele era o normal deles, o máximo de paz que encontravam na companhia um do outro.

E no vigésimo segundo encontro (para resolver as coisas do casamento, é claro) foi quando tudo desandou. Daphne havia tido problemas com o fornecedor de flores e agora não conseguia encontrar arranjos de Lavanda em lugar algum, restando apenas correr atrás delas em Mayfield Lavender.

O campo de lavanda ficava há mais ou menos 15 quilômetros de Londres, a princípio não levaria muito tempo para conseguir resolver isso. Era só esperar Draco estar liberado de uma audiência e antes das 17h da tarde já estariam de volta em casa.

Porém, Astoria mal sabia como estava enganada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!