Tom não sabia o que estava fazendo ali. Pensando bem, sabia sim. Ele e seu irmão Bill estavam falidos, e deviam para gente da pesada. Andreas, melhor amigo dos dois, havia comentado alguma vez, em um passado nem tão distante, que a Eagles88, precisava de mais membros, já que tinham perdido muito de seu pessoal para outras gangues.

Tom sabia que não era uma boa ideia. Eagles88 era uma das maiores e mais poderosas gangues de Berlin, se não, uma das mais poderosas de toda a Alemanha. O chefe, Robert Hanshire, controlava cerca de 42% de todo o contrabando da Alemanha, o que era uma estatística absurda, já que outras gangues não conseguiam chegar aos 6% . Mas ele não podia fazer nada, estava em uma péssima situação e era sua única opção.

E era por isso que estava na frente de um casarão monstruosamente grande, com um frio na espinha. A casa ficava em cima de uma colina, mais afastada de Berlin. O frio fazia Tom se encolher um pouco, mesmo com suas roupas largas e quentes. Talvez, ele estivesse se encolhendo de medo.

- Tem certeza de quer fazer isso Bill? – ele perguntou ao seu irmão mais novo, que também observava a construção com medo e impaciência, seus olhos eram mais fáceis de ler, e Tom percebeu o sim silencioso. O Sim que decidiria sua vida a partir de agora. Suspirou e tocou a campainha, podendo ouvir o eco que o barulho fez dentro da casa. Um burburinho foi se transformando em vozes e a porta se abriu.

Era Andreas. Ele tinha um sorriso no rosto, satisfeito.

- Bill, Tom! Que bom que estão aqui! Vejo que aceitaram minha proposta – ele falou com um sorriso presunçoso. Abriu a porta o suficiente para que Bill e Tom pudessem entrar. Os dois deram de cara com um grande salão, com poltronas, pufes e sofás espalhados, em um forte tom escarlate. Homens e mulheres olhavam para os dois com curiosidade. Andreas ignorou os olhares e foi caminhando até o elevador, que se localizava em um canto do grande salão. Quando este chegou, levou-os para o 5º e ultimo andar.

A musiquinha que tocava no elevador irritou um pouco Tom, que já não estava com a paciência muito boa no momento. Ao chegarem ao ultimo andar, se depararam com uma grande porta, com dois homens vestidos de negro em cada lado. Cada um possuía um revolver, com calibre 9mm. Tom ouviu seu irmão engolir em seco, e piscou, em sinal de apoio. As portas de abriram, manifestando um escritório de proporções exageradas. Uma mesa oval ocupava parte do local. O mais importante se encontrava atrás desta mesa, onde se localizava um homem. O Homem que mandava em tudo aquilo.

Robert Hanshire era um homem magro, alto e de feições rígidas. A barba por fazer o dava a impressão de mafioso, exatamente o que era. Parecia ter 50 e poucos ou 40 e tantos anos.

- Andreas, quem são eles? – perguntou Robert, fechando ainda mais a cara. Não gostava de visitas repentinas.

- Estes são os garotos de quem lhe falei Chefe, Bill e Tom Kaulitz – A expressão de Robert assumiu uma expressão serena, ficando estranhamente amigável.

- A sim! Os garotos que pretendem se juntar a nós! Pois bem! Vou explicar como as coisas funcionam. Aqui na Eagles88 temos algumas regras, que gosto que sejam cumpridas rigorosamente. Regra nº1: Nunca poderá sair daqui. Caso tente, será caçado por todos nós até o ultimo dia de sua vida medíocre. Regra nº2: Uma vez que entrar aqui, nunca poderá me desobedecer. Controlo essa espelunca e gosto de respeito. Nº3: Não manchem o nome da organização. Vocês fazem isso se ajudarem um inimigo, serem covardes e não matarem quem ordenei. Nº4: Brigas entre membros são proibidas. Se quiserem se matar, se matem, mas não dentro de meu território. E ultima e mais importante... – Robert citava cada regra com uma cara meio sinistra, deixando os gêmeos com medo. Quando o chefe ia terminar de falar a ultima regra, o cômodo é invadido por uma garota, sendo seguida por outra, que tinha uma cara apavorada.

- Não se metam com a filha do chefe. Caso contrário, serão torturados da maneira mais perversa existente. Papai, todos já sabem disso, e você ainda faz questão de lembrar a todo novo membro. Deste jeito vai assusta-los – a menina tinha um sorriso inocente no rosto, enquanto tentava imitar a voz de seu pai. Tom e Bill arregalaram os olhos. Andreas riu internamente. A princesa Eagles chegara.

- Demetria, não vê que estou ocupado? – perguntou Robert com o rosto relaxado. Sua filha fazia questão de invadir todas suas reuniões.

- Sinto muito papi, não tenho culpa se o senhor é um homem ocupado que não tem tempo sequer de ver sua filha. – a garota falou com desdém, desafiando o homem a sua frente.

- Srta. Hanshire!! Já é suficiente!! – uma voz diferente foi ouvida no recinto. Era Mikaella. A mocinha quase estava tendo um enfarto no meio da sala.

- Hahh Miki, não seja chata!! Só quero brincar um pouco... – respondeu manhosa a voz de Demetria. Voz que nesta vez, causou um efeito em Tom. Seu coração deu um pulo de repente se sentiu abafado. – Hey papi, essa é a carne nova do bando? – ela perguntou, divertida. Robert suspirou e assentiu. – Que legal!! Qual o nome de vocês? – a pequena exclamou, aproximando-se de Bill e Tom.

- Esses são Tom e Bill Kaulitz Srta. Hanshire. – Andreas respondeu. Demetria fez um beicinho, emburrada.

- Não perguntei para você Andrei (Lê-se Andréiii) – ela mostrou língua, usando o apelido de Andreas. – Eu perguntei para eles! Qual é a de vocês dois? Meu papi comeu a língua de vocês? – ela aproximou-se ainda mais deles, especificamente de Tom.

- Eu sou Tom. Tom Kaulitz. – Tom falou meio bobo. A pequena garota usava um vestido azul-bebê, com um decote V no colo, deixando os seios fartos da moça meio visíveis, e como Tom era bem mais alto que ela, teve uma visão privilegiada.  Demetria sorriu e foi até Bill.

- E eu sou Bill Kaulitz – Bill sussurrou, com o rosto meio vermelho. Parece que ele também tinha reparado no mesmo ponto que Tom.

- Assim está melhor!! Tenho certeza que vocês dois serão as novas joias da organização!! – Demetria afirmou, quase dando pulinhos de animação, indo até seu pai, depositando um beijinho em sua bochecha e arrastando Mikaella por uma passagem ao lado de uma estante de livros.

- Er... Desculpem a interrupção de minha filha. Como ela já falou a ultima regra, não será necessário uma repetição. – Robert apoiou-se na mesa e gritou – Andreas! Chame Georg e Gustav. Mande-os levar os Kaulitz até seus respectivos quartos. – Andreas fez uma reverencia e saiu. Um silêncio desconfortável foi se instalando pelo quarto, quando Robert pigarreou. – Georg e Gustav mostrarão seus quartos. Descansem bem, pois amanhã cedo terão um teste, para ver em qual grupo ficarão. – depois de dizer isso, Andreas entrou novamente no cômodo, sendo acompanhado por dois homens que Tom e Bill imaginaram ser Georg e Gustav. Andreas ficou na sala.

Eles levaram os gêmeos até o terceiro andar, que era coberto de portas dos dois lados do amplo corredor. Tinha uma espécie de mini sala no meio.

- Este é o corredor masculino – Georg se pronunciou pela primeira vez, apontando para o corredor que ficava no lado direito do elevador. – O outro é o feminino. Relações sexuais são proibidas, mas ninguém aqui respeita essa regra. E o chefe nem liga mais. Se quiserem uma presa mais fácil, as vadias ficam nas ultimas portas. – ele deu um sorriso irônico, e acrescentou – Uma coisa, a puta ruiva do quarto 1229 é minha, OK?

Bill e Tom apenas assentiram. Georg se despediu deles e foi em direção a seu quarto. Gustav os guiou para o lugar em que eles passariam a viver a partir de agora. Quarto 483. O quarto era grande, com as paredes em um forte tom de carmim. 3 camas estavam despostas em cada canto do quarto e Gustav indicou as mais afastadas.

- Dividirão o quarto com Andreas. Creio que vocês já o conhecem. – ele falou, saindo em seguida e batendo a porta. Bill e Tom se entreolharam, para suspirarem de alivio em uníssimo.

- Foi mais fácil do que eu imaginava – declarou Tom, sentando em uma cama.

- Concordo. Esperava algo mais difícil. – ele concordou, deitando-se na outra cama.

- Se eu fosse vocês, reconsiderariam – eles foram surpreendidos por Andreas, que estava apoiado na porta – Se não passarem no teste de amanhã, serão mortos – neste momento, Tom e Bill engoliram, em seco – Mas não se preocupem, os testes são fáceis – Andreas tentou amenizar a situação, sem sucesso aparente. – Vão dormir. Amanhã a vida aqui começa cedo. – Ele sorriu, apagando a luz, obrigando os meninos a se deitarem.

- Bill... tá acordado? – chamou Tom depois de meia hora.

- Sim.

- Você está arrependido?

- Não.

- Por quê?

- Pelo simples fato de que não estou sozinho nessa. Começamos isso e agora teremos de terminar, mesmo que signifique morrer dentro deste lugar. – ele respondeu dando um sorriso para o irmão, que não o viu, mas sabia que estava ali. – Agora, vá dormir. Não quero ficar com olheiras. Elas são horríveis e tenho que passar muita sombra para poder esconde-la – quando Bill terminou de falar, percebeu uma coisa – TOM!! Não trouxemos nossas coisas! Minha maquiagem ficou toda no ap. O que eu vou fazer?? Eu fico horrível de manhã e preciso da minha maquiagem! E do meu Laque! O que eu vou fazer sem o meu precioso laque – Bill quase gritava e Tom, às vezes duvidava da masculinidade de seu irmão mais novo. Suspirou.

- Fique calmo Bill. Andreas, antes de virmos aqui, disse que mandaria nossas malas com nossas coisas para cá. Elas devem aparecer aqui amanhã. Agora, Boa Noite – Tom fechou os olhos, encerrando o assunto. Bill revirou os olhos no escuro, dormindo em seguida. Precisava estar pronto...