Filhos da Noite escrita por Scar Lynus


Capítulo 9
Capitulo 9 - Memórias


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pelo super hiato. Foi necessário.
Espero que gostem.



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[Adrienne – Residência dos Belmont]

Não era fácil guardar um segredo gigante como aquele de Alexander, uma vampira milenar, poderosa o suficiente para se esconder em plena vista, a frente de um negócio multimilionário internacional...

— As chances realmente não estão a meu favor. – Comentei ainda deitada, estava coberta até o pescoço e encarava o teto repleto de estrelinhas. Há quantos anos elas estavam ali? Até onde sei aquilo foi colocado quando Alexander ainda era um bebe e após voltarmos pra essa casa o quarto acabou vindo pra mim.

...

Nosso pai segurava minha mão enquanto caminhava apressadamente, o recém-nascido Archibald estava em seu colo, Alexander corria sozinho para acompanhar os passos do nosso pai. Já faziam ou pelo menos pareciam horas para mim, crianças não deveriam passar por esse tipo de evento, mesmo essas crianças. A chuva fazia meu cabelo grudar no rosto, estava gelada e andar naquele ritmo não estava ajudando.
Subitamente meu pai parou diante de uma casa bege e usou o batente, uma sequência direta de três batidas e então mais duas com pausas de 2 segundos. Não muito depois disso um homem moreno com um olhar gentil abriu a porta, escondida atrás dele estava uma menina com cabelos castanhos claros ondulados perfeitos sobre os ombros, ela não dizia nada, apenas nos encarava com seus olhos curiosos.

— Preciso da sua ajuda. – Pediu meu pai ofegante.

— É claro! – O homem foi rápido na resposta e em nos colocar para dentro, auxiliando meu pai. – Belle. Pegue umas toalhas para eles por favor. – Assim que ele pediu a garota partiu em disparada pela casa. – Coloque o Archie no sofá. Vou pegar uns cobertores e umas roupas pra vocês.

— Não! – Respondeu meu pai levemente alterado. – Só pra eles. Cuidem do seu irmão um momento certo?! – Ele se dirigiu a mim e Alexander que ficamos ao lado do pequeno Archie. – Podemos falar em particular? – O homem assentiu positivamente e a dupla seguiu para a sala ao lado, fechando a porta em seguida.

 Não passou muito tempo até que a garota Belle retornasse, jogando uma tolha na minha cabeça e uma na do Alexander. Ela também deixou uns cobertores e roupões do nosso lado.

 — Precisam se secar. Eu vou secar o bebe! – Ela parecia saber o que estava fazendo, apesar de eu achar que éramos da mesma idade. Ela ergueu o Archibald, colocando a tolha embaixo dele e então tirou o body molhado que ele estava usando. Devagar ela o secou completamente antes de colocar uma camisa bem grande e fofa, aparentemente agora ele iria ficar aquecido. – Agora temos que esperar que ele durma. – Concluiu ela enquanto brincava um pouco com ele, ele não era um bebe normal, ele não tinha chorado nenhuma vez, essa noite foi estranha, fria, desesperante e molhada e logo ele, o bebe da família, estava completamente silencioso.

 — Obrigado. – Alexander a agradeceu, ele já estava com o cabelo seco e com uma coberta enrolada sobre os ombros.

 Eu ainda estava interpretando a situação, Alexander era mais velho, ele era o “maior” na sala e parecia muito curioso sobre o que os adultos estavam falando na sala ao lado, mesmo que nenhum de nós conseguisse ouvir nada.

 — O que aconteceu com vocês? – Perguntou Belle agora sentada com Archie em seu colo.

 — Nós... – Eu não sabia bem o que sabia acontecido. – Eu... não sei. Nosso pai... Nós só saímos de casa e viemos correndo.

 — Nosso pai foi atacado. – Alexander respondeu. Ela não esboçou surpresa, apenas assentiu e continuou a cuidar do Archie.

 — Alexander! – Nosso pai chamou com a porta finalmente aberta. O outro homem saiu da sala.

 — Seu pai precisa conversar com você jovem. – Ele se dirigiu a Alexander que levantou e entrou na sala. Nosso pai fechou a porta depois disso.

— Está com fome? – Ele me perguntou e não precisou de muito para que eu confirmasse.

 — Então venha jantar. – Ele respondeu gentilmente pegando Archie no colo e guiando a mim e Belle até a cozinha.

 

...

 

Abri meus olhos devagar. Era raro eu “piscar e dormir”. Como eu queria que aquilo fosse apenas um sonho, ou até mesmo um pesadelo. Poderia ser qualquer um deles, mas, a realidade é que era uma memória, uma memória distante da família que um dia fomos, de como tentaríamos ser novamente, mas, cujas chances de sucesso eram realmente baixas.
Cansada de esperar que algo acontecesse nesse dia, resolvi levantar e reagir. Nada de bom pode vir de tanto ócio.

 

[Adam – Cobertura do Neftis]

 

Para um vampiro o período diurno é o pior de todos, não só pelo fato do nosso maior inimigo estar brilhando no céu, pronto para nos transformar em poeira, mas, pela mais simples e pequena questão do tédio. Quando não se precisa de sono regular e o mundo parece se mover em câmera lenta para você... Encontrar formas de matar tempo são essenciais e isso fica ainda mais necessário quando se está no meio de uma cidade grande. Isolado dentro do prédio, era assim que passava meus dias, a leitura se fazia uma das maiores companheiras em minha vida desde que havia “retornado” para o mundo. Porém, havia algo mais importante agora, algo muito maior e mais interessante, consumindo meus pensamentos durante o dia e a noite. Finalmente estava ao meu alcance o momento que tanto esperei.

— Eu finalmente vou ter você de volta. – Sussurrei olhando pelos vidros enegrecidos da janela que impediam a entrada do sol.

— O que? – Esteno perguntou tocando meu rosto. Eu gostava da companhia dela, desde a reunião com os lordes ela havia se convidado a ficar.

— Estou apenas pensando alto. – Respondi ao me virar para olhar a mesma, ela era linda no maior sentido da palavra, belos cachos loiros, olhos roxos que pareciam pulsar energia, um rosto delicado, sem dúvidas eu poderia descreve-la como “uma bela estatua esculpida pelos mestres da arte”. As vezes minha mente era tomada pelo pensamento de que Nefertari seria muito parecida com ela, caso o destino tivesse sido mais gentil.

— Você sempre está pensando demais, meu príncipe. – Foi a sua resposta. – Aproveite o momento, descanse a mente e relaxe como antigamente.

— Seria necessário um belo castelo pra isso. – Minha mente foi até a época em que nos conhecemos, nem todas as memorias após a invasão no castelo eram ruins. Esteno era claramente uma lembrança que eu gostava.

— Está pensando em quando nos conhecemos?

— Exatamente. – Falei sorrindo. – Lilith trouxe para o castelo uma bela jovem que em segundos já andava pelo local como se fosse a dona.

— Bom... Vocês me deram essa liberdade. – Defendeu-se – Me lembro bem do quanto gostou da minha companhia.

— Não posso fazer nada se fui ensinado a ter bom gosto. – Tentei parecer indiferente com este comentário.

— Bom, ainda temos algumas horas juntos... Seu bar está abastecido? – Ela perguntou se levantando, eu não fazia ideia de quando ela pegou ou comprou aquela camisola, mas, favorecia cada curva do seu corpo com maestria.

— Sempre. – Respondi e ela saiu saltitante pela porta. Era uma pena saber que em breve ela retornaria para a casa. Eu possuía o poder para impedir isso, com apenas algumas palavras ela ficaria aqui para sempre, mas, eu não posso ter distrações agora, estou perto demais pra desistir. – Em breve...

 

[Adamas – Romenia 1457]

 

— TEM QUE TER ALGUMA FORMA!! – Gritou o príncipe contra o grupo de feiticeiros.

 — É impossível para nós, meu príncipe. – O líder estava dando seu melhor para tentar explicar a situação ao vampiro. – Apenas os vivos podem trazer alguém de volta. E mesmo eles teriam dificuldade. A magia nesta estaca é forte, levou anos para ser preparada e tinha apenas uma finalidade.

 

— Não quero suas desculpas! – Respondeu Adamas pegando o mais velho pelo pescoço, em seguida apertando-o contra a parede. – Eu sei a finalidade dela. O que eu quero é a MINHA IRMÃ DE VOLTA! 

— Precisaria... Da pessoa que. – O senhor lutava para responder. – Lançou o feitiço.

 — Ela está morta! – Respondeu Adamas jogando o velho no chão. – E essa não dá pra trazer de volta. Não sobrou nada dela.

 — Sinto muito meu príncipe, mas, estamos de mãos atadas. – O senhor ainda estava ajoelhado enquanto falava e mantinha uma mão no próprio pescoço.

 — Eu não solicitei que viessem dos seus países pra isso! – Adamas estava furioso e agora escamas negras apareciam em seu rosto. – Eu solicitei porque vocês se auto intitularam os melhores em seus ofícios!

 — Nós somos meu senhor! – Um deles se intrometeu. – Mas, é impossível trazer ela de volta dessa maneira. Se fosse possível, não concorda que já teriam até mesmo revivido o vosso pai!?

 — Você... – Adamas ficou à frente dele. – Você não pode me dizer o que é ou não é impossível! – Foram as últimas palavras que o homem ouviu, antes do braço do vampiro atravessar seu peito. – Eu voltarei em três dias e quero resultados! Ou a história se lembrará de vocês como uma pilha de cinzas!

 

[1583]

 

— Conseguiu? – Adamas questionava novamente a bruxa que lhe assegurou sucesso em resgatar Nefertari do Submundo.

 — Ainda não consegui encontra-la, mas, posso lhe garantir que conseguiremos, meu príncipe. – Respondeu a mulher enquanto desenhava runas nas paredes.

 — Você vem me dizendo isso a dez anos! Dez anos seguidos Amithiel! Minha paciência já está no limite! – Inquieto o príncipe não parava de andar pelo local.

 — Acha que o submundo é pequeno? – Questionou ela irônica – Não é fácil achar alguém morto lá, há muitos... E você...

 — Só me diga se conseguiu ou não e eu vou embora. – Ele disse se aproximando dela de uma maneira pouco amigável.

 — Já pensou na possibilidade de ela estar em paz e não querer reviver? – A bruxa questionou-o sem medo.

 — Ela não teve nem como viver a própria vida. Tiraram isso dela! Eu a quero de volta e você vai me ajudar!

 — Volte pro castelo da sua mãe e esqueça que eu existo principezinho. Volte quando tiver amadurecido o suficiente!

 Adamas não pode responder a bruxa, pois, foi transportado para o castelo antes de ter a oportunidade.
Dias depois retornou a fim de tirar satisfações com a mulher, porém, tudo que havia no local incluindo a própria bruxa, havia sumido.

 

[1703]

 

— MÃE EU ENCONTREI! – Adamas entrou na sala do trono eufórico, interrompendo a discussão de Katrien com outros lordes e Lilith.

 — Senhores... – Katrien suspirou antes de continuar. – Continuaremos isso depois. Por favor nos deixem. – Assim que o grupo saiu, o mais jovem se aproximou.

 — Eu sei onde estão os Meyer e há uma feiticeira entre eles! – Adamas respondeu sem conter a própria euforia.

 — O que você fez? – Katrien perguntou temendo a atitude do filho.

 — Ainda nada. – Respondeu despreocupado. – Mas, eu quero que vá comigo. Vamos até lá e vamos obriga-los a trazer Nefertari de volta! – Ele realmente acreditava nesse plano. – Já que a sua maldição tornou a caça a essa família difícil, agora que temos a oportunidade...

 — Eu te proíbo de fazer isso. – Katrien cortou a explicação dele. – Chegamos ao limite Adamas e não temos por que causar mais desgraça a essa família.

 — Eles são responsáveis pela morte dela. – Lilith se intrometeu. – O garoto os encontrou e finalmente teríamos uma chance! Ele está certo Katrien!

 — Filhos não devem pagar os erros dos pais! Foi por essa mentalidade ridícula que mataram Nefertari e eu me recuso a permitir que algum de nós desça a esse nível.

 — Você já os amaldiçoou. – Adamas começou. – Que diferença faz? Não quer ter sua filha de volta?

 — Pare com isso. – Katrien não estava com paciência para essa discussão. – Eu me arrependo disso, mas, eu aprendi com o tempo. Agora deixe sua irmã descansar!

 — Não! – Ele respondeu alterado. – Eu vou e trarei Nefertari de volta. E se você não quiser me ajudar. Não me atrapalhe mãe! – Ele deu as costas a sua mãe, contudo, foi impedido de prosseguir por dois homens de pedra que sua mãe invocou.

 — Eu disse para não ir! – Katrien falou incisiva.

 — Acha que isso vai me parar? – Ele questionou. Agora de frente para a própria mãe. – Não me faça lutar com você mãe.

 — Me obedeça e não terá de sofrer as consequências. – Ela alertou.

 — Eu matei os últimos Belmont! Eu enfrentei meio milhão de soldados! Eu sou o herdeiro dos poderes do meu pai! Vocês duas me ensinaram tudo que sabiam... Então sabem que não vão conseguir me parar! – Ele se vangloriava enquanto caminhava de volta ao centro do salão. – Você vai escolher mãe. Vamos juntos ou vai lutar comigo?

 — É seu último aviso meu filho... Não tente!

 —  Então você escolheu lutar! – Foram as últimas palavras do príncipe antes de rugir e começar a se transformar. Infelizmente a transformação nunca se completou já que Lilith interveio, colocando-o em um sono pesado.

 — Me desculpe querido. – Falou Lilith próxima ao corpo desacordado dele. – Ele está certo Katrien.

 — No passado Lilith. No momento nós precisamos fazer com que os humanos nos esqueçam! – Katrien se aproximou e tomou o filho nos braços. – Por que decidiu isso?

 — Não quero perder nenhum de vocês dois. – Respondeu a vampira com asas. – Eu prefiro irritá-lo e garantir sua sobrevivência, do que perder mais uma criança ou você.

 — Obrigada. – Katrien agradeceu-a tocando suas testas. – Me ajude a colocá-lo na câmara inferior. Ele vai dormir por alguns séculos e talvez possamos conversar depois desse período, quando os humanos se lembrarem de nós apenas em lendas.

 

[Archie – Romênia - Presente]

 

— Sério Archie – Theo estava reclamando. – Você consegue ser muito chato.

— Elas perguntaram se éramos maiores de dezoito. Obviamente nós não somos, fora o fato de que vamos fazer o check-in no hotel em alguns minutos dependendo dessa fila. – Eu tentava inutilmente colocar noção na cabeça dele enquanto esperávamos os alunos na nossa frente terminarem o processo.

— Qual seria o grande mal em sair com uma mulher mais velha enquanto estamos aqui? – Ele iria reclamar pra sempre. – Seriamos heróis!

— É assim que começa o tráfico de pessoas. Um bocó que jurou que ia se dar bem... – Ironizei. – Estamos viajando Theo, aproveita a viagem.

— Tem sorte que gosto de andar contigo. – Ele me respondeu emburrado.

— Me sinto tão sortudo... – Debochei.

Era um hotel muito bonito, a decoração tinha estilo, ele tentava mesclar o clássico com o moderno, havia grandes cortinas vermelhas que me faziam lembrar de salões de opera ou teatro, ao mesmo tempo inúmeros caixas, esteiras, monitores, câmeras, tudo da mais alta tecnologia que dava para se ver. As cores do local remetiam fortemente a realeza em sua combinação de dourado com vermelho e em alguns pontos estratégicos algumas cores mais claras. A parte ruim era não conseguir relaxar completamente nem em um lugar assim, o treinamento do Alexander é efetivo, em instantes eu já havia avaliado completamente o local, encontrado bons pontos de fuga, constatado que haviam itens de prata espalhados, assim como muitos espelhos. Se há algum vampiro aqui, ele com certeza está tentando fazer parecer que não.

— Bom dia jovens! – Falou a senhora na recepção, ela tinha um sorriso reconfortante de tia fofa. – Nomes?

— Archie Belmont e Theo Cadence. – Respondi.

— Encontrei! Quarto 227, senhor Belmont e Cadence. Aproveitem a estadia e estejam prontos para a excursão de amanhã ao Castelo Dracula.

— Obrigado Senhora. – Agradeci enquanto pegávamos nossas chaves digitais, eu posso não ter dito, mas, tinha uma mulher loira me encarando depois de ouvir meu nome, deve ter uns vinte e poucos, ou talvez só pareça ter essa idade. “vou manter a cautela”. Pensei assim que começamos a subir com o elevador.


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Notas finais do capítulo

eai?



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