A Farsa escrita por Linesahh


Capítulo 6
"Sr. Fresco"


Notas iniciais do capítulo

Ohayo!! Chegamos oficialmente na metade da fanfic, pessoal!!! Mas calma que ainda tem muuuuita coisa pra ser resolvida nesse amontoado de desastres kkkkk Eu e a Sahh agradecemos a todo apoio recebido até agora, cada presença aqui é super especial para nós ♥

Só pelo título já dá pra ver que nesse capítulo teremos nossa "mamãe-Suga" em ação! Oikawa estará correndo perigo?... HUEHEUHEU

Boa Leitura ♥



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Em uma tarde em particular, um clima ameno e um pouco mais morno banhava a Província de Miyagi, um verdadeiro contraste com o resto da semana, a qual havia apresentado condições mais “friorentas”. Em uma casa situada nas colinas e longe do centro comercial, um menino se encontrava sozinho na sala de estar; sua mãe e irmã mais nova iriam chegar a qualquer momento, visto que a noite logo cairia. A casa estava aconchegante e tranquila, o que tornava a única conversa que ocorria ali, mais segura e privativa.

— … Parece que você está passando por muitos problemas, Shouyou. — a voz de Kenma Kozume adentrou o ouvido de Hinata através do telefone fixo da casa. Normalmente, o tom do loiro sairia parcialmente contido e discreto, isso se a pessoa com quem conversava não se tratasse do amigo alaranjado.

Hinata, numa atitude rara e que, aos poucos, ia surpreendendo mais e mais o levantador do Nekoma, suspirou. Estava acomodado/esparramado no sofá da sala de estar, e fazia uns bons minutos que ele e Kenma estavam conversando.

Shouyou achou que falar com Kenma sobre tudo que estava acontecendo foi a melhor ideia que teve nas últimas semanas. Ele e o Kozume haviam criado um laço de amizade rápido e um tanto curioso, visto que o garoto de cabelos bicolores era alguém calado e reservado. No entanto, Hinata nunca havia tido problemas em se aproximar e fazer amizade com pessoas mais “na delas”; e, no fim, saía da história com um novo e ótimo amigo.

Havia mandado mensagens para Kenma mais cedo, e se surpreendeu com a iniciativa do outro em perguntar se podiam se falar por ligação. O esperto e analítico levantador do Nekoma certamente tinha percebido que aquele não era um assunto para se trocar por mensagens, e, uma vez que não podiam se encontrar cara a cara por conta da distância em que se encontravam — Tóquio não era um lugar para onde Hinata poderia ir de bicicleta, afinal —, ligações, por hora, teriam que servir.

De toda forma, o pequeno “corvo” de Karasuno havia se surpreendido positivamente com a atitude do outro; Kenma realmente tinha ficado um pouco preocupado consigo.

— Nem me fale… — os dedos do pé do ruivo moviam-se numa dança confusa, revelando seu nervosismo ao relembrar da atual situação em que se encontrava. — Quando acho que não pode ficar pior, algo muito maior acontece e me deixa mais… desanimado. — fechou os olhos em martírio. — Principalmente depois do que vi no mercado, ontem…

— O beijo do Iwaizumi e do Kageyama?

— … É. — o alaranjado desviou para a mão livre sobre o colo, como se, mesmo pelo telefone, pudesse se esconder dos olhos-amarelos e sensitivos de Kenma. — O problema é que eu não sei mais o que fazer. — se frustrou. — Me sinto tão estranho, tão… cabisbaixo. Tenho até mesmo deixado o vôlei de lado, o que está me enlouquecendo.

Conseguiu sentir a surpresa do Kozume do outro lado.

— Isso… parece grave. — ele observou, um tanto desnorteado.

Hinata acenou.

— Sim. Até o ânimo que Sugawara-san me passou em nossa última conversa parece ter evaporado. Está tudo péssimo. — esmoreceu.

O silêncio na outra linha denunciou que o levantador estava pensando um pouco. Logo, não demorou para a voz plácida e, dessa vez, mais segura de Kenma voltar a soar:

— Sabe, Shouyou… eu também passei por uns problemas recentemente, como já tinha mencionado para você…

— Ah, aquela história de todo mundo ter achado que você e o Akaashi-san estavam namorando? — se interessou.

Conseguiu imaginar perfeitamente o loiro engolindo em desgosto e amargura.

— … Isso. Bem… as coisas foram bastante complicadas, e muita confusão aconteceu até que o mal-entendido fosse desfeito. — informou. — Mas acho que, acima de tudo, o que agravou toda a situação foi a falta de comunicação. Com ela, as coisas teriam se resolvido antes mesmo de começarem, e eu e o Akaashi não teríamos tido problemas com Kuroo e o Bokuto-san.

Hinata se esforçou para acompanhar, ouvindo atentamente.

— O que você quer dizer?

Kenma suspirou.

— Acho que você devia falar com o Kageyama.

Hinata fez uma careta confusa; em parte por não ter entendido muito bem, em outra pelo peso que surgiu imediatamente em seu estômago após o nome do moreno ser citado.

Inclinou a cabeça para trás, afundando-a no estofamento fofo do sofá e encarando o teto.

— Oras, mas… falar o quê? — perguntou, perdido.

— Hum, bem… — se estivesse frente a frente com Kenma, Hinata perceberia que sua pergunta havia-o desarmado, assim como, em seguida, veria o loiro piscar e tentar raciocinar, enrolando o cabelo médio algumas vezes até falar, num forçado tom natural: — Hum… Olha, Shouyou, eu… eu acho que você gosta dele.

Num movimento originado pelo choque e surrealismo, Hinata endireitou a postura tão rápido que quase caiu e bateu a cabeça contra a mesinha à frente.

Em sua mente, havia — pura e simplesmente — uma explosão de “O QUÊÊÊ!!??”, “COMO!!??” e “QUANDO??!!”.

— Eu?? Gostar do Bakageyama?? — Shouyou sentia o coração batendo tão forte pela adrenalina que perguntava-se se era apenas por conta da emoção ou algum tipo de infarto. Sentiu o corpo em brasas por tamanha vergonha. — De onde tirou essa ideia? T-talvez… sei lá, eu tenha sentido sim um pouco a falta dele nos últimos tempos, já que ele está ocupado com seu namoro, mas… — apertou os olhos, engolindo em seco. — Não é isso o que as pessoas falam? Que quando se namora, acaba se afastando dos amigos? Então, deve ser apenas isso. — afirmou exasperado, a voz mais ambígua que qualquer outra que o Kozume já tinha escutado na vida.

Todavia, Hinata estava certo, não? Afinal, onde Kenma estava com a cabeça? Aquela era a coisa mais sem sentido, mais absurda, mais escandalosa que Hinata já tinha escutado na vida! Então… então…

Por que, afinal, estava tão nervoso assim?

Enquanto um Hinata agitado e destrambelhado lutava para compreender a si mesmo e suas emoções, Kenma pôs-se a suspirar novamente do outro lado. Havia percebido que o alaranjado estava mais enrolado que o especulado, sendo assim, já não dava mais para tratar do assunto de maneira rasa ou com o uso de eufemismos.

Tinha que ser firme. Direto. Iniludível.

— Vou te dar apenas um conselho, Shouyou. — o ruivo silenciou-se na mesma hora. Não precisava ser um gênio para saber que as próximas palavras de Kenma seriam sérias. — A pior coisa que você pode fazer agora é alimentar falsas-verdades para si mesmo. Você precisa, o mais cedo possível, encarar seus sentimentos. — deu uma pausa.

“Por mais difíceis e complicados que eles sejam”.

 

◾◾◾

 

— Então, quer dizer que tudo não passou de uma farsa?!

Kageyama Tobio, mergulhado numa atmosfera taciturna e exausta, apenas assentiu lamentosamente com a cabeça, estimulando ainda mais os “bugs” no cérebro de Sugawara Koushi.

O acinzentado estava transtornado. Completamente. Ao mesmo tempo que — com a revelação de Kageyama — várias peças iam se encaixando naquele enorme problema que vinha se arrastando há semanas, outras ficavam ainda mais embaralhadas, fazendo o mais velho ter de parar e raciocinar.

Quando viu que Kageyama se deu ao trabalho de procurá-lo no prédio dos terceiranistas, Sugawara havia imaginado que coisa séria viria pela frente; no entanto, aquela loucura toda que o levantador mais novo havia acabado de narrar era a coisa mais inesperada que Koushi poderia ter esperado.

Sugawara levou a mão à face, esforçando-se para pensar devidamente. Ainda bem que a sala de aula em que se encontravam estava vazia, assim, qualquer surto que pudesse acontecer ali seria facilmente despercebido.

Entretanto, surto algum aconteceria ali. A notícia bombástica podia ter pegado o platinado de surpresa, no entanto, “desvairado” não constava na lista de personalidade de Sugawara Koushi.

Observando a imagem do mais velho, Kageyama — que estava acomodado em uma das carteiras — mostrava-se um tanto inseguro e desconfortável. Para alguém que apresentava sempre uma expressão fechada e ignorante com vários atos alheios, era evidente que o subconsciente de Tobio estava mais que cansado e estressado com tudo aquilo.

— Eu… já não podia mais guardar tudo isso para mim, estava sufocante. — Kageyama encarou os dedos entrelaçados sobre a mesa, como que constrangido de demonstrar fraqueza na frente de alguém mais velho e que admirava. — E... depois do vídeo e do beijo do Iwaizumi-san, como tinha te falado antes, tudo parece ter ficado ainda pior.

— Mas… — Sugawara suspirou pesado, ainda batalhando para compreender toda a história. — Que loucura é essa que você foi se meter, Kageyama? — o semblante do platinado era o de alguém inacreditado. — Todo mundo tá achando que vocês estão namorando de verdade! — frisou, logo se perturbando por uma das partes mais absurdas do relato. — E que história de beijo é essa, por Deus! E eu achando que o atacante da Seijoh fosse alguém mais centrado que o Oikawa. Tudo farinha do mesmo saco, pelo visto.

— Ele me pediu desculpas várias vezes. — Kageyama comunicou, baixo e sem entusiasmo. — Até me pagou um lanche.

— Kageyama, não vê que é esse o seu problema? — o mais velho tinha uma expressão inverossímil. Olhava Tobio como quem tenta compreender um desenho feito por uma criança. — Você nunca vê a verdadeira gravidade da situação, e é comprado facilmente por coisas pequenas. Não pode ser assim! — censurou.

Kageyama voltou a mirar as próprias mãos.

— Sinto muito.

Sugawara sabia que Kageyama estava realmente arrependido e abalado, mas, ainda assim, não encontrava forças o suficiente para consolá-lo. Aquela farsa havia crescido a graus preocupantes, muita coisa tinha sido envolvida.

— Minha nossa... enquanto tem uma mentira dessas para lidar de um lado, do outro temos Oikawa e seus planos malucos, como aquele vídeo sem cabimento. — soltou, estressado. — Aquele cara não tem o menor bom-senso, não se importa com os sentimentos de ninguém, principalmente com os do Hinata…

Kageyama ergueu a cabeça, encarando Sugawara com particular desentendimento.

— Hinata? — perguntou, evidenciando sua confusão pelo nome do alaranjado ter sido citado na conversa. — O que ele tem a ver com isso? E, aliás, Sugawara-san, como você sabe que foi o Oikawa-san quem postou aquele vídeo?

Sugawara travou.

Agora que refletia... não achava que era uma boa ideia contar para Kageyama que Hinata — por menos culpa que tivesse no cartório — havia “participado” do plano de Oikawa. Ele poderia acabar se enfurecendo com o pequeno, e isso definitivamente era a última coisa da qual Shouyou estava precisando.

Assim, tentou disfarçar.

— Bem… — coçou a nuca, pigarreando e pensando rápido. — Hinata acabou sendo exposto também, afinal. — explicou. — Ele estava apenas passando por lá e acabou sendo alvo. Quanto ao fato de eu saber sobre o Oikawa e o vídeo, isso não é importante.

Felizmente para o platinado, Kageyama pareceu desconsiderar sua “rasa” explicação sobre Oikawa, atendo-se particularmente nas informações sobre Hinata.

— Ah, é verdade. — suas mãos se prensaram mais significativamente uma na outra. Tobio parecia incomodado. — Estou preocupado com Hinata…

Sugawara suspirou, mais aliviado.

— Não se preocupe com ele; Hinata é mais forte do que a gente pensa. — tentou tranquilizá-lo. Em seguida, massageou a nuca. — Olhe, Kageyama, isso não pode continuar. — retomou o problema central. — Essa história está deixando consequências ruins para muitas pessoas.

O mais novo endireitou-se, prestando atenção.

— Eu e o Iwaizumi-san não sabemos bem o que fazer. Não conseguimos decidir se nós apenas terminamos, sem mais nem menos, ou se revelamos, de uma vez, que tudo não passou de uma farsa.

Com a informação, Koushi pensou um pouco.

— … Não façam nada por enquanto. — suas palavras surpreenderam Kageyama, mas, ainda assim, continuou: — Essa história toda vai terminar logo.

Os olhos azuis-escuros do moreno piscavam, não compreendendo muito bem. Estava hesitante.

— Mas… o que você vai fazer? — perguntou, e o questionamento divertiu levemente o interior de Sugawara.

Ele e Hinata, às vezes, realmente eram mais parecidos do que pensavam.

— Nada demais. — sorriu, gesticulando em descaso. — Apenas não se preocupe tanto, ok?

Sem saber o que responder, Kageyama apenas assentiu, um tanto confuso, e, assim, Sugawara deixou a sala, pensativo e decidido.

Aquilo não iria se prolongar mais. Desde sua conversa com Hinata, ainda estava duvidoso do que devia fazer, mas, agora que Kageyama havia jogado uma luz na estrada escura por onde Sugawara, até então, caminhava perdido, sabia qual atitude tomar.

Aquela história de farsa estava mexendo com a saúde e sanidade de várias pessoas a ponto de fazerem-nas cometer atos que normalmente não fariam. Havia levado Kageyama, por exemplo, a procurar Koushi para desabafar e pedir sua ajuda, e Iwaizumi a tomar um impulso grave que, definitivamente, em condições normais, não tomaria. Oikawa certamente estava pirando, e, pior do que qualquer outra coisa, Hinata encontrava-se triste e abalado; justamente a pessoa que menos merecia sofrer e ser prejudicada nisso tudo.

Sugawara cerrou os punhos, firme. Iria acabar com aquilo. Com certeza iria.

 

◾◾◾

 

— Oikawa, podemos conversar?

As aulas no colégio Aoba Johsai haviam terminado há pouco e, após adentrar a escola, não foi difícil para Sugawara abordar Oikawa Tooru enquanto este se dirigia ao ginásio de vôlei.

À primeira vista, Oikawa encarou-o em leve surpresa, mas logo seus delicados traços mudaram para um misto de superioridade e impaciência.

— Ah, é você, “Sr. Fresco”. — Koushi arqueou uma sobrancelha ante o apelido curioso, no entanto, não teve tempo para questionamentos, pois Oikawa logo continuou: — Estou indo para o treino agora, portanto, sinto muito, mas não poss…

— Só preciso de alguns minutos. — o platinado mentiu. Sabia muito bem que a conversa duraria mais que isso.

Oikawa pareceu considerar por alguns momentos. Sugawara não deixou de notar o quanto a aparência do levantador da Seijoh parecia um tanto abatida, mas não era hora de demonstrar pena.

Um suspiro escapou dos lábios de Tooru, denunciando que ele havia cedido. Assim, eles se acomodaram em um banco próximo aos bebedouros, onde, felizmente, estava bem vazio.

Sugawara, então, virou-se para Oikawa, que aguardava com insatisfação muda em suas feições. Já havia avisado Daichi e Asahi que chegaria atrasado ao treino, então podia focar cem por cento no que tinha que fazer.

O acinzentado iria direto ao ponto, ou seja: revelaria a farsa de Iwaizumi e Kageyama a ele. Todavia, antes disso, era sua obrigação dar uma bela bronca em Oikawa.

Assim, se preparou:

— Olha, Oikawa, eu já sei de tudo. Sei que foi você o responsável por aquele vídeo e sei que você usou Hinata propositalmente em seus planos.

Aquilo definitivamente tinha pegado Oikawa de surpresa. O belo rapaz piscou, um tanto perdido.

— O quê? Mas… como você sabe? — questionou, confuso.

A expressão de Sugawara tornou-se ainda mais severa.

— Hinata me contou. E ele também disse que não fazia ideia de que aquele seu “plano” seria usado para fins tão sujos. — frisou.

— Mas… — Oikawa parecia verdadeiramente desorientado na conversa, entretanto, ainda assim, procurou uma forma de se defender. — Chibi-chan aceitou me ajudar desde o início. Eu não o forcei a nada.

— Não vem com essa, Oikawa! — o platinado o cortou, curto e grosso, e nisso, ambos os rapazes souberam: Sugawara tinha perdido a paciência. — Você sabe muito bem que Hinata não falou um mísero “sim” para absolutamente nada do que você planejou. Você é assim; já vai puxando as pessoas para que elas façam o que você quer, não dando chance para que elas digam nada. — após metralhá-lo com todas essas palavras engasgadas, Sugawara continuou, sério: — Você usou o Hinata. Pior; expôs a imagem dele, como, também, expôs a do Kageyama e a do seu próprio ex-namorado. E, agora, todos os três estão sendo alvo de fofocas e ridicularizações. Que tipo de pessoa faz isso? — indignou-se.

As palavras sérias e carregadas de raiva e aborrecimento de Koushi pareceram atingir a cabeça de Oikawa como dezenas de tijolos de concreto. O capitão da Seijoh estava desnorteado.

— O-oras, mas… eu achei que o Chibi-chan gostasse do Tobio, achei… achei que estava ajudando quando fiz parecer que eles estavam juntos. — as palavras de Oikawa saíam agitadas, atônito com todas aquelas acusações. — Eu até pensei que, com essa ideia, Chibi-chan teria… sei lá, coragem para se declarar de uma vez. Foi por isso que, desde o começo, achei que queríamos a mesma coisa. — tentou explicar seu ponto de vista, mas via-se que o semblante de Tooru estava num misto de abalo e preocupação.

Sugawara se impacientou ainda mais.

— Hinata, gostando, ou não, do Kageyama, é um assunto que não lhe diz o menor respeito. Você não tinha o direito de interferir e brincar com os sentimentos alheios, é tão difícil entender isso? O que você fez foi muito errado, e isso está causando estresse e dor-de-cabeça para muitas pessoas!

Um curto silêncio iniciou-se. Sugawara sabia que Tooru precisava digerir tudo o que havia dito; só assim para ele compreender os erros, burradas e injustiças que cometeu.

E, felizmente, parecia ter tomado o rumo certo. O rosto de Oikawa mostrava aturdimento e contrição, suas atitudes nas semanas anteriores certamente transformando-se num grande peso em sua consciência.

— Eu… — ele inclinou-se para frente, a mão pousada nas mechas castanhas. — Não tinha pensado por esse ângulo. — revelou, baixo. Os olhos vidrados encaravam o piso sem realmente enxergá-lo. — Não achei que minhas atitudes fossem causar o mal de alguém.

— É porque você só pensa em si mesmo. — o acinzentado não se apiedou.

— Mas — Oikawa olhou-lhe, abalado. —, eu só queria que o Iwa-chan largasse esse namoro e voltasse para mim, só isso. Eu não…

— Você devia ter tentado resolver tudo isso com o seu ex-namorado, ao invés de envolver outras pessoas no problema entre vocês. — censurou. — Você estava com raiva de Iwaizumi, e isso é normal, mas direcionar seu ódio para Kageyama não fez o menor sentido, pois é Iwaizumi o único que realmente tem alguma relação com você. Sobre Hinata, por outro lado — encarou-o rigorosamente. —, acho que nem preciso dizer nada, não é?

Koushi deu mais uma pausa, e Oikawa voltou a refletir. Logo, Sugawara soltou um suspiro de exaustão.

— Puxa, essa história já está deixando todo mundo louco… — o platinado massageou o pescoço, fatigado. — De um lado é o Hinata, triste e desanimado; do outro, Kageyama, que não sabe o que fazer, e até mesmo Iwaizumi perdeu o controle com aquele beijo absurdo.

Por um momento, Sugawara pensou que um raio violentíssimo havia atingido a cabeça de Oikawa, até perceber que o céu estava claro, limpo e bonito.

— O quê? — a incredulidade e choque estavam estampados no rosto perfeito do capitão da Seijoh. Oikawa ficou, de um segundo para o outro, branco feito papel. — Beijo? Que beijo?

“Ah, essa não…”

— Hã… — Sugawara ficou perdido, já possuindo ciência da burrada que havia feito. — Você... ficou sabendo do beijo que o Iwaizumi deu no Kageyama, não ficou? — a incerteza estava explícita na pergunta cautelosa.

Oikawa, ainda parecendo alguém que viu um fantasma, somente acenou negativamente com a cabeça, voltando a olhar para o chão. Estava mais paralisado que uma estátua, seus olhos envoltos por pura perplexidade.

“Droga, eu não devia ter comentado isso”, Sugawara censurou a si mesmo, já apressando-se para consertar o mal-entendido:

— Mas não se preocupe, pois tudo não passou de uma…

— Não acredito… — Oikawa murmurava, sem escutar uma única palavra. — Eu não acredito…

Sugawara entrou em estado de alerta.

— Oikawa, espera, eu preciso te contar sobre…

Sem tempo para impedir, Oikawa ergueu-se do banco. Os olhos de um castanho-vinho desbotado miraram Koushi com seriedade e amargura.

— Eu não quero saber de mais nada. — decretou, imperecível. As mãos tremiam ao lado do corpo. — Você só veio aqui para me deixar pior.

— E-espere, eu ainda não te contei o principal!… — o platinado levantou-se também, já temendo o resultado que certamente aquela conversa teria. — Escute, Iwaizumi e Kageyama não...

— Aqui é um colégio privado. — Oikawa interrompeu, arqueando uma sobrancelha em sobreaviso. — É melhor sair agora, antes que eu chame alguém para fazer isso por você. — ameaçou.

Com isso, após dizer palavras tão frias, Oikawa deu-lhe as costas e saiu, uma aura soturna e desgostosa acompanhando seus passos. Sugawara, por sua vez, viu que não tinha mais o que fazer ali. Entre a culpa e a frustração, foi com muita amargura que retirou-se da Seijoh.

“Idiota, por que foi falar do beijo? Mas que gafe…”, recriminava-se, suspirando languidamente. "Achei que todo mundo já tava sabendo, afinal, foi em um local público, não?”.

Se bem que, considerando que esse “namoro” de Kageyama e Iwaizumi já durava semanas, era de se esperar que, na teoria, eles já tivessem trocado alguns beijos, né?

Todavia, já não importava o que tinha achado ou deixado de achar. O erro havia sido seu; não tinha desculpas ou uma forma de voltar atrás. A principal questão que devia tratar com Oikawa era sobre a farsa de Iwaizumi e Kageyama, mas nem isso foi capaz de resolver.

E foi ali que Sugawara soube: talvez, e só talvez, houvesse piorado “um pouco" as coisas.

 

◾◾◾

 

Em uma cafeteria confortável e que possuía um movimento tranquilo e moderado, estavam Sugawara, Kageyama e Iwaizumi acomodados em uma mesa. Sugawara acabava de contar sobre sua conversa com Oikawa, ocorrida mais cedo. Relatou, também, sobre como as coisas haviam dado errado no instante que citou o beijo, até então, desconhecido para Tooru, e no quanto sua violenta mudança de espírito não permitiu tempo algum para que Koushi revelasse sobre a farsa.

Kageyama e Iwaizumi escutavam a tudo atentamente, e enquanto o atacante da Seijoh pôs-se a suspirar, Kageyama mostrou-se parcialmente admirado.

— Então era isso que você foi fazer, Sugawara-san?

O platinado respirou fundo, a cabeça bastante cheia.

— Sim. Sinto muito por não ter comunicado nada a vocês, pois achei que poderia resolver as coisas sozinho e de uma forma mais tranquila. — Koushi tirou a mão da têmpora, cruzando os braços acima da mesa. — Infelizmente, acho que só piorei tudo.

Iwaizumi, que tinha o cenho franzido enquanto pensava, negou com a cabeça.

— Não se preocupe. — tranquilizou, ainda que sua expressão não denunciasse sinal algum de “sossego”. — Oikawa ficaria sabendo sobre o beijo mais cedo ou mais tarde. Agora, tudo o que temos que fazer é revelar essa farsa de uma vez por todas. — decretou.

Sugawara assentiu.

— É a melhor escolha. Mas… — encarou os dois “namorados” de maneira mais significativa. — Acho que, em primeiro lugar, vocês precisam revelar tudo para Hinata e Oikawa.

Iwaizumi confundiu-se.

— Oras, mas por que o baixinho também precisa saber de antemão? — questionou.

Sugawara suspirou. Assim como fizera anteriormente com Kageyama, iria omitir a ligação entre Tooru e Shouyou.

— O direito de Oikawa em saber de tudo é óbvio. — elucidou. — No entanto, Hinata também saiu como um dos maiores prejudicados por conta do vídeo. — após a compreensão de Hajime, Koushi continuou, firme: — Olha, faremos assim: você fala com Hinata — olhou para Kageyama. —, e você, com Oikawa. — dirigiu-se a Iwaizumi.

— Tudo bem. Acho que será melhor assim. — Hajime aceitou, massageando a nunca. Respirou fundo. — Prevejo muita dor-de-cabeça para mim, é claro, mas é o esperado.

Com o silêncio de Kageyama, os dois encararam-no em atenção. Antes que pudessem questioná-lo, porém, o mais novo abriu a boca para falar:

— Acho... acho que não consigo encarar o Hinata agora. — revelou a santa preocupação que fez-lo hesitar em concordar com o plano. Levantou a cabeça, encarando os mais velhos. — Sinto muito.

Iwaizumi franziu o cenho.

— O que sugere, então? — fez um gesto impaciente com a mão. — Estamos sem tempo.

Kageyama fez expressão incerta. Não parecia ter a resposta para tal pergunta. Sugawara, por sua vez, encarou-o fixamente por alguns segundos, os pensamentos longe. Por algum motivo, lembrou das palavras de Oikawa, e sobre sua crença em achar que Hinata era interessado em Kageyama.

Se isso, talvez, fosse verdade, será que o contrário também acontecia? Ou...

— Trocaremos, então. — pego pela ideia repentina, Tobio propôs, de repente. Sugawara e Iwaizumi encararam-no em grande surpresa.

Ele continuou:

“Eu falo com Oikawa-san, e você, Iwaizumi-san, fala com Hinata”.


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Notas finais do capítulo

E aí? Oikawa mereceu receber aquelas duras do Suga? Sim ou CLARO? KKKKK
E quem notou a referência ao "O Engano" na conversa entre o Kenma e o Hina? Ahhh, bateu até sdds ♥
Hoje fiquei meio deprê nessa tarde, finalmente vi o filme de Kimetsu e nossa... ao mesmo tempo que é bom pra CARAMBA, é triste pra dedéu ;-;
Eu já tava quase esquecendo! Dá última vez, pedi recomendações de Given (que eu e a Sahh AMAMOS, só pra constar, ô povo de bom gosto vocês são ^-^) e agora queria saber se vale à pena ver Banana Fish. Tô vendo direto coisas desse anime no face, e tô cogitando ver... É bom como dizem?



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