A Farsa escrita por Linesahh


Capítulo 5
Beijo?


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!

Antes de descerem a tela e mergulhar no texto, quero dizer uma coisa... lembram que eu disse que o capítulo anterior estava no top 2 da lista de "capítulos mais polêmicos de A Farsa"?

Pois bem: esse capítulo é top 1

Boa Leitura ♥



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“A BOMBÁSTICA INFIDELIDADE DE KAGEYAMA TOBIO”

— Mas, o que… o que é isso? — com o celular em mãos, Kageyama não compreendeu absolutamente nada do que via.

Aquela manhã de segunda-feira estava sendo completamente normal até o momento em que Kageyama — que arrumava-se para ir à escola — decidiu ligar o celular e olhar se tinha alguma novidade.

Qual não foi a surpresa ao deparar com uma enxurrada de mensagens recebidas na noite anterior e, praticamente, todas elas contendo o mesmo compartilhamento de um vídeo?

Mais especificamente esse que ele assistia agora.

— Mas… isso foi anteontem. — franziu o cenho, observando cada detalhe da gravação. Percebeu que, na ocasião de sua estranha conversa com Hinata, alguém havia filmado os dois de longe na praça. O vídeo não possuía som, e Tobio se surpreendeu com o quão bem a pessoa editou-o, conseguindo alterar totalmente a interpretação dos fatos.

Pois o que antes havia sido uma conversa destrambelhada e sem sentido algum, havia se tornado o cenário perfeito da demonstração de um “amor-proibido” ou “infidelidade-descarada”, e diversas outras denominações que as pessoas dos comentários estavam utilizando.

Kageyama assistiu ao vídeo mais uma vez, vendo que a sorte realmente não estava a seu favor. A bola que havia lhe atingido no meio da conversa tinha sido apagada na edição, dando a entender, pelo ângulo, que Kageyama nitidamente havia avançado para cima de Hinata. Além disso, a parte em que os dois pirralhos tinham vindo se desculpar e recolher a bola que haviam chutado em Kageyama foi totalmente cortada, pulando direto para a cena em que Iwaizumi chegava. Para piorar, a estatura tensa e nervosa que Hinata demonstrou durante todo o vídeo dava a impressão de que a conversa entre ele e Kageyama tratava-se de uma particularmente séria e intensa, e o jeito como o pequeno garoto praticamente evaporou no instante em que Iwaizumi apareceu, deu muito a entender que haviam sido “pegos-no-flagra”.

De fato, parecia que ele e Hinata tinham um caso — e o pior é que todo mundo estava achando isso, também.

Com isso, Tobio não perdeu mais tempo. Ignorando os comentários em massa que o criticavam e o julgavam por sua “infidelidade”, já buscou o contato de Iwaizumi Hajime. No entanto, antes de sequer iniciar a ligação, a tela brilhou, mostrando que o próprio Iwaizumi já estava ligando.

Atendeu na mesma hora.

— Iwaizumi-san…

— Você já viu o vídeo? — a voz de Hajime calou-o instantaneamente. Estava óbvio que, naquele momento em particular, “felicidade” e “paciência” não eram as emoções mais predominantes no atacante da Seijoh.

— Hum, sim. Vi agora a pouco. — Tobio informou. — O que está acontecendo?

Kageyama conseguia imaginar perfeitamente Iwaizumi cerrando os dentes após sua pergunta, e agradeceu o fato de o mais velho estar do outro lado da linha, e não à sua frente; afinal, lembrava-se como Iwaizumi dava medo quando estava com raiva de verdade.

— O que está acontecendo é que todo mundo de Miyaji tá sabendo desse vídeo. — Iwaizumi apresentou um estresse descomunal.  Já perdi as contas de quantas mensagens de “corno” recebi de ontem pra hoje.

Kageyama arqueou as sobrancelhas. Isso realmente não era bom.

— Hã, e você tem alguma ideia de quem poderia ter feito tudo isso? — perguntou, um tanto sem-graça. Era melhor ir direto aos finalmentes, ou Iwaizumi poderia acabar explodindo.

Infelizmente, a indagação só pareceu enfurecer ainda mais o atacante.

— Quem mais seria? — ouviu o suspiro enfezado do mais velho. — Oikawa, é claro! Apenas ele seria tão ridículo e maquiavélico a esse ponto. Ele quer nos ferrar de qualquer maneira, de modo a fazer a gente “terminar”. — frustração pura perpassou em sua voz. — Eu já esperava que ele não fosse ficar quieto com tudo isso, mas nunca imaginei que ele tomaria uma atitude tão absurda.

— E o que vamos fazer? — Kageyama já estava se sentindo incomodado, a boca moldada numa linha torta. Essa história de farsa estava tomando um rumo mais imprevisível e complicado do que inicialmente achou que seria, e, para piorar, Oikawa havia armado uma dessas para si.

Pela primeira vez, realmente se arrependeu de permitir-se ser comprado por míseros iogurtes.

Logo, a voz de Iwaizumi voltou a adentrar seu ouvido:

— Hoje, após as aulas, vamos nos encontrar para desfazer essa farsa de uma vez por todas. — Iwaizumi decretou, curto e sério.

“Isso não passa de hoje”.

Após isso, a única coisa que restou foi Kageyama e o som da outra linha, muda. O fato de Iwaizumi ter desligado sem sequer deixá-lo dizer alguma coisa significava que ele, definitivamente, estava uma fera.

Tobio, então, tirou o celular da orelha, pousando-o acima do criado-mudo. Perdeu-se em breves lembranças.

No fatídico dia da praça — cujo acontecimento havia dado vida àquele vídeo infeliz —, após Hinata se retirar, ele e Iwaizumi não haviam tido tempo de conversar sobre o que fariam em relação àquele namoro falso, principalmente depois da conversa desconexa com o ruivo (a qual havia fritado o cérebro de Tobio) e a posterior bolada que havia recebido.

Kageyama levou a mão distraidamente ao curativo sob o queixo, imaginando se, talvez, Hinata estaria usando um igual na testa.

O motivo para tal questionamento era pelo fato de Shouyou, pela primeira vez, não ter aparecido no treino do dia anterior, fazendo Kageyama se perguntar se o baixinho havia realmente se machucado com a queda sofrida. Yamaguchi, porém, informou-os que Hinata tinha avisado sobre ter que ajudar a mãe com alguma coisa, mas ainda assim o moreno não sentia-se totalmente convencido.

“E aquela conversa…”, relembrou, azedando a expressão. Isso se podia chamar aquilo de conversa.

Hinata, pura e simplesmente, não havia dito nada com nada além de demonstrar um excepcional nervosismo e estranhamento. Aquele papo de Kageyama ser “alguém importante” e “sentimentos desconhecidos” não havia feito o menor sentido para o moreno, levando-o a teorizar se tudo aquilo simplesmente não passou de uma brincadeira esdrúxula por parte do ruivo.

E — admitia — a sensação de que Hinata tinha apenas tentado tirar uma com sua cara desconfortava e decepcionava Kageyama mais do que gostaria.

Livrando-se, por hora, de tais pensamentos incômodos, Kageyama somente terminou de pegar suas coisas e saiu, sem ao menos tomar café. Afinal, toda aquela história do vídeo do Oikawa e sua conversa com Iwaizumi havia-o atrasado consideravelmente, e não podia chegar tarde na escola.

É claro que Tobio tinha ciência de que, com aquela nova “bomba estourada'', ele seria, mais uma vez, alvo de olhares e comentários impertinentes. Mas não podia-se dizer que o levantador dava muita atenção a isso.

Kageyama, afinal, sempre havia sido bom em lidar com fofocas sobre sua pessoa, fossem positivas ou negativas. O “Rei da Quadra” estava aí para provar.

E não seria um vídeo mentiroso que o abalaria dessa vez.

 

◾◾◾

 

Após um dia cheio no colégio Karasuno, que, carregado de tremendas “novidades”, havia sido mais agitado que o normal, o ginásio de vôlei estava ocupado por três figuras do terceiro ano, sendo esses os veteranos dos mais novos. Haviam chegado cedo e, por isso, ocupavam-se em organizar o local enquanto o restante dos colegas não chegava e o treino não tinha seu início.

E, é claro; o assunto que os três rapazes discutiam não podia ser nada diferente do “ilustre-vídeo-sensação-do-momento”.

— Todo mundo está falando disso. — Azumane Asahi mostrou-se um tanto inseguro, olhando para os amigos. — Até mesmo os professores já devem ter visto.

— Kageyama, como sempre, parece não estar ligando muito, o que é um bom sinal. — Sawamura Daichi comentou, ocupado em montar a rede-de-vôlei enquanto tinha o apoio de Sugawara Koushi do outro lado. Este, estranhamente, estava mais calado que o normal.

— Mas com Hinata já é outra história, não? — Asahi voltou a expor suas preocupações. — Vi ele mais cedo, e ele me pareceu bem triste.

— E quem não ficaria, não é mesmo? — o capitão do time de vôlei do Karasuno terminou seu trabalho. Levou as mãos a cintura, voltando-se para o Azumane. — Todos estão o julgando, dizendo que Hinata é o “amante” do Kageyama…

— Mas… isso não é verdade, é?

— Dúvido muito, Asahi. — Daichi levou a mão ao queixo, concentrado. — Conhecendo aqueles dois como conheço, eles não são pessoas que fariam algo assim. Além de que, se olhar bem, dá pra perceber que o vídeo passou por algumas edições. — informou, voltando-se para a imagem do platinado ainda fora da discussão. — E você, Sugawara? O que acha?

O belo rapaz de cabelos claros e feições refinadas ficou um tanto surpreso ao ser tirado de seus pensamentos. Encarou os dois amigos, digerindo a pergunta que lhe foi feita.

— Eu acho… — após refletir bem, Sugawara tirou a mão do queixo, olhando-os fixamente. — Já faz um tempo que Hinata está estranho; desde antes desse vídeo vir à tona, na verdade. — falou, revelando aos outros dois o verdadeiro foco de sua meditação anterior: Shouyou. — Não sei, mas… Hinata me parece diferente desde o início do namoro do Kageyama e Iwaizumi, e algo nisso tem me incomodado bastante. — deu uma pausa. — Acho que já está na hora de alguém ir falar com ele.

Asahi encolheu os ombros.

— Isso é bom, pois toda essa confusão que o vídeo trouxe pode atrapalhar o ânimo do time. — fez expressão incerta. — Como iremos chegar aos nacionais com o clima ruim que vai ficar?

— Por isso mesmo que irei deixar isso em suas mãos. — Daichi foi até o rapaz de cabelos claros, pousando a palma da mão direita em seu ombro. — Sugawara — seus olhos transmitiam plena confiança. —, estou contando com você.

O platinado, então, somente abriu um sorriso satisfeito.

— Pode deixar.

 

◾◾◾

 

O vestiário nunca antes havia carregado um ar tão desanimado e tristonho. Para qualquer um que adentrasse o recinto naquele momento, perceberia, na mesma hora, a grande carga de tristeza e melancolia pregada em cada canto dali.

E foi exatamente essas sensações negativas que a figura esguia de Sugawara Koushi sentiu após adentrar o vestiário que, supostamente, estaria vazio — não fosse uma alma quieta e solitária sentada no banco que ocupava o fundo do cômodo.

Na mesma hora, o rapaz de cabelos cinzentos se compadeceu. Após o time perceber que Hinata era o único que faltava para começar o treino, estando, assim, atrasado, Koushi aproveitou a oportunidade para procurá-lo e, assim como havia dito para Daichi e Asahi, ter uma conversa com o pobre baixinho. Não ficou surpreso ao encontrá-lo ali, o que foi bastante conveniente, na verdade.

Prensou os lábios, respirando fundo. Precisava focar, unicamente, em ajudar Hinata.

— Hinata. — se anunciou, o costumeiro sorriso gentil pregado no rosto do mais velho enquanto se aproximava.

— Sugawara-san… — o alaranjado pareceu ficar surpreso, como se só agora houvesse notado a presença do veterano. Remexeu-se no banco, os braços, que rodeavam os joelhos, prensando-os mais significativamente. Em sua testa, havia um curativo meio coberto pelas mechas ruivas. — Eu…

Ao ver que o mais novo estava temendo que Sugawara interpretasse sua permanência ali como quem “mata” os treinos ou algo assim, o platinado somente fez um simples gesto com as mãos, tranquilizador.

— Ei, ei, acalme-se. — falou, humorado. — Eu já estava pensando em procurar você, de toda forma. Por que não conversamos um pouco?

O semblante de Hinata continuou um tanto inseguro, no entanto, ele acenou enquanto observava Koushi sentar-se ao seu lado.

— Hum… tá.

Sugawara sentiu-se mais aliviado. Dessa forma, suspirou languidamente, se preparando; sabia que teria que ir direto ao ponto.

— Você já deve saber sobre o que vim falar, não é? — olhou o pequeno com mais seriedade, no entanto, a calma em suas feições impediu Shouyou de atemorizar-se com o assunto. — O vídeo que foi postado ontem… como está se sentindo em relação a ele?

Hinata engoliu em seco. Voltou a cabeça para frente, afundando o rosto nos joelhos dobrados, como quem deseja se esconder.

— Eu… — sua voz estava baixa e esmorecida, mas, ainda assim, transpassando uma particular confusão. — Eu não sabia… que ele seria usado dessa forma. O Daiō-sama não me contou nada…

Sugawara arqueou a sobrancelha.

— … “Daiō-sama”? — questionou, não compreendendo. Era do Oikawa que ele estava falando? — Mas… o que ele tem a ver com isso?

Hinata se encolheu ainda mais.

— Isso tem acontecido há um tempo… — falou, hesitante. — Daiō-sama tem me pressionado, e... tem esse relacionamento entre o Kageyama e o Iwaizumi-san, e agora esse vídeo… Não sei o que pensar. — soltou.

Sentindo-se desnorteado, antes que Sugawara pudesse pedir que Hinata lhe explicasse melhor todas aquelas coisas desconexas que estava dizendo, de repente, o ruivo pôs-se, enfim, a revelar tudo de uma vez: o alaranjado, então, contou como vinha se sentindo estranho desde que Kageyama e Iwaizumi começaram a namorar, e que não estava sabendo como lidar com isso. Hinata informou, também, que tudo começou a piorar ainda mais no instante em que Oikawa o puxou para seus planos de separar o mais novo casal; o vídeo gravado na praça, por exemplo, havia sido uma das tentativas do capitão da Seijoh. No entanto, Shouyou só havia se dado conta das reais intenções de Oikawa — que, desde o início, planejou passar a imagem dele e de Kageyama como sendo “amantes” — quando, totalmente surpreso, assistiu ao vídeo.

— Se eu soubesse que era isso o que ele queria fazer naquele dia, jamais teria concordado em ajudar o Daiō-sama. — Hinata parecia desolado enquanto terminava de expor todos os problemas e torturas que seu jovem espírito vinha passando impiedosamente nas últimas semanas; o vídeo, evidentemente, sendo a peça final para abalar de vez suas estruturas. — Estou sem coragem de encarar o Kageyama e os outros, nunca achei que passaria por esse tipo de coisa. — seus olhos estavam brilhantes, mas não sabia-se se era por conta do acúmulo de água se formando ou pela fraca claridade que vinha da janela ao lado, a qual batia sob suas íris castanhas.

Após revelar tudo, Hinata, com sua estatura desolada, resolveu olhar para o veterano, querendo saber sua opinião sobre tudo aquilo.

Até que, imediatamente, se arrepiou.

O rosto de Sugawara, pela primeira vez, mostrava raiva absoluta. O platinado estava furioso como Hinata nunca tinha visto antes, despertando um grande medo em seu interior.

O pequeno assustou-se após Koushi erguer-se repentinamente. O mais velho andou por alguns segundos, com a mão sob a testa enquanto tentava não perder o controle pela irritação que sentia. Finalmente, ele parou, virando-se para Hinata; entretanto, seu semblante não era, nem de longe, o dos melhores.

— Aquele cara não tinha o direito de ter te usado assim, Hinata! — exclamou, transpassando toda a gravidade da situação em seu timbre indignado. Parecia não acreditar. — E pior: expondo a sua imagem e a de Kageyama desse jeito! Foi um ato totalmente desumano e nojento!

Hinata piscava, ainda surpreendido. Não imaginou que, com seus relatos, despertaria a cólera de Sugawara; havia sido, na verdade, a última coisa que achou que aconteceria.

O pequeno só foi se acalmar ao notar que o veterano havia começado a forçar tal sentimento a adentrar-lhe o peito, respirando profundamente.

Sugawara abriu os olhos. Seu rosto, mesmo não mais enfurecido como antes, demonstrava nítida impetuosidade e firmeza.

— Isso não vai ficar assim. — ele falou, como uma promessa feita para si próprio. — Não mesmo.

Shouyou se impressionou.

— O que você vai fazer, Sugawara-san?

A pergunta de Hinata pareceu despertar Sugawara de repente, o qual apresentou certa surpresa em suas feições. Encarando o mais novo — deparando-se com seu rosto de traços inocentes e instáveis —, percebeu que perder a cabeça nos minutos anteriores não havia sido uma das melhores ideias.

Sabendo disso, forçou toda a impaciência e estresse que sentia a desaparecer de vez de seu exterior, assumindo uma postura controlada e amena. Abriu, então, um pequeno sorriso.

— Não se preocupe com isso, Hinata. — tranquilizou-o. — Olhe, você não está bem para treinar. Volte para casa e descanse por hoje, está bem?

Hinata arqueou os olhos, vacilante.

— Não, Sugawara-san, eu posso treinar!

— Hinata, me escute. — Koushi continuou com seu tom suave e afetuoso, aproximando-se do alaranjado e pousando o punho em sua cabeça, numa censura amigável. — Esfrie a mente e descanse. Faça isso por você, sim? — pediu.

O silêncio atingiu o alaranjado por um tempo. Hinata abaixou a cabeça outra vez, parecendo repensar o pedido do veterano. Sugawara estava com toda razão, com certeza, mas a ideia de perder outro treino…

Suspirou. Não podia se forçar a nada, de toda forma, não é?

— Tudo bem… — cedeu. — Eu ainda tinha que passar no mercado para comprar umas coisas que minha mãe mandou, de toda forma...

— Sim, faça isso. — Sugawara acenou, sorrindo com satisfação. — Nos vemos amanhã.

Assim, enquanto o platinado se punha a ir embora — os pensamentos retornando à seriedade a qual havia abandonado na frente de Hinata —, parou ao chamado do ruivo:

— Sugawara-san. — o pequeno tinha um sorriso agradecido na face, essa ainda um pouco abalada. Tinha se levantado, curvando-se levemente em respeito. — Obrigado por me escutar.

Pego desprevenido, Koushi acabou sentindo um amargo peso no peito. Hinata, definitivamente, era a última pessoa do mundo que devia estar passando por uma situação como aquela.

No entanto, ainda tinha que mostrar tranquilidade e confiança; afinal, era disso que o mais novo estava precisando.

— Não é preciso agradecer. — garantiu, acenando com uma das mãos. — Descanse, viu?

Sugawara, então, retirou-se do vestiário escuro, agora, carregando a sombra de uma firmeza consolidada.

Não deixaria essa história para lá. Peremptoriamente, não deixaria.

 

◾◾◾

 

— Shittykawa, que droga foi aquela?!

Iwaizumi praticamente bradava ao celular, furioso. Depois de ter tentado ligar umas cinquenta vezes para Oikawa, finalmente o maldito resolveu oferecer a graça de atender. Sabendo que o outro poderia desligar a qualquer momento, não perdeu tempo em expressar sua cólera:

— Como você teve coragem de fazer aquele vídeo idiota, hein? — parou num cruzamento, observando os carros passando um atrás do outro. Havia acabado de deixar a Seijoh, e estava no meio de uma rua movimentada, indo encontrar-se com Kageyama como haviam combinado mais cedo. Para sua sorte, o time tirava folga às segundas-feiras.

A voz irritante de Oikawa soou do outro lado, despertando ainda mais a irritação de Hajime:

 Ora, não sei do que você está falando, Iwa-chan. — fez voz inocente. — Estou, na verdade, tão surpreso quanto você com aquele vídeo. Parece que o seu namoro com o Tobio-chan não está indo muito bem…

Uma veia saltou da testa de Iwaizumi. É sério que ele estava tendo a audácia de tratar o assunto com ironia depois de tudo que fez?

— Maldito, não se faça de desentendido! — praticamente rosnou. — Já sei que foi você, nem adianta tentar me dobrar.

Oikawa estalou a língua.

— Acusar alguém sem provas é uma atitude muito séria, Iwa-chan…

— Takeru me contou tudo. — disse na lata.

— O quê? — o outro exclamou, sendo pego desprevenido. — C-Como assim?...

Um meio sorriso de vingança pintou-se nos lábios do ás.

— Só prometi o dobro do valor que você deu a ele por gravar aquele vídeo pra você. O moleque abriu a boca na hora. — em seguida, acrescentou em tom ácido: — De fato, a ambição deve ser de família…

Oikawa ficou em silêncio na outra linha, e Iwaizumi sabia que ele estava sem reação por ter sido totalmente colocado contra a parede. Ao fundo, conseguia escutar o som de vozes e buzinas, o que indicava que Tooru também estava na rua.

Com isso, aproveitou para continuar:

— Como você pôde fazer isso, Oikawa? Você não tinha o direito de expor as pessoas desse jeito, seu imbecil! — ralhou. — O que você fez com o Kageyama e com o baixinho foi crueldade. — balançou a cabeça negativamente, baixando os olhos e respirando fundo. Baixou a voz por um momento. — Eu… sinto que não conheço você.

A voz de Oikawa, então, soou cheia de raiva e mágoa:

— Eu não vou ficar escutando broncas suas. — disse firme e em um tom pouco embargado. Parecia prestes a chorar. — Lembre-se que o primeiro que me magoou e estragou tudo foi você, Iwa-chan, somente você.

— Oikawa, não se faça de víti… — a linha ficou muda de repente. Olhou para o aparelho, soltando um praguejo alto em seguida. — Merda, ele desligou.

Ainda buscou tentar ligar mais algumas vezes, mas só dava na caixa postal. Vendo que seria uma perda de tempo, desistiu. Guardou o telefone, sentindo o estresse e o mau-humor triplicar enquanto atravessava a rua. Ainda tinha tanta coisa pra falar para aquele idiota… Oikawa tinha que saber que, dessa vez, havia ido longe demais.

Massageou o pescoço tensionado, suspirando. Sentiu sua cabeça pesar. Se soubesse que as coisas acabariam saindo completamente do controle, jamais teria aceitado essa ideia absurda de Hanamaki. O objetivo principal daquela farsa, desde o começo, era fazer Oikawa correr atrás e reatar o relacionamento deles, apenas isso.

Nos primeiros dias, após a notícia de seu “namoro” com Kageyama ser anunciada, Iwaizumi notou que Oikawa tentou sim correr atrás, buscando conversar consigo nos treinos e nos intervalos entre as aulas, mas Iwaizumi, na época, não quis saber muito. Ainda achava que era cedo demais para Oikawa deixar de “sofrer”, principalmente depois de tudo que estava fazendo Hajime passar após o fim do relacionamento dos dois; contudo, algo dentro de si dizia que estava tomando a decisão errada.

E, de fato, estava.

Há alguns dias, a atitude de Oikawa mudou repentinamente. Ele parou de procurá-lo e nem parecia mais interessado em conversar, o que fez Iwaizumi suspeitar que ele estava tramando alguma coisa.

Bem, aquele vídeo foi uma verdadeira prova que confirmava suas desconfianças.

No dia em que foi encontrar Kageyama naquela praça, Iwaizumi tinha esperanças de que desfizessem toda aquela farsa, refletindo que nunca deveria ter aceitado fazer parte de uma coisa daquelas. Estava até mesmo planejando falar com Oikawa posteriormente e se acertar com ele, contudo, aquele vídeo havia terminado de arruinar o que já estava praticamente arruinado.

Ainda não conseguia acreditar que Oikawa havia feito aquilo. Ter chegado ao ponto de subornar o próprio sobrinho e expor antieticamente Kageyama e o baixinho de Karasuno, sem se importar se iria destruir as imagens deles… Não eram atitudes do Oikawa que conhecia. Saber que ele fora autor de algo tão hediondo, o decepcionou severamente.

Oikawa estava realmente tão desequilibrado com aquela história de namoro?

Sentia-se bravo e culpado. Não devia ter aceitado aquela ideia desde o início. Tudo ter dado errado naquela história era responsabilidade sua. O pior é que sempre se considerou uma pessoa firme e cuidadosa, e agora havia se metido nisso com sua própria burrice e insensatez.

Na verdade, era melhor se nunca tivesse gostado de alguém como Oikawa. Onde estava com a cabeça para se apaixonar por uma pessoa que fazia esse tipo de coisa? Tudo bem que Iwaizumi foi o grande culpado que originou essas atitudes radicais do levantador, mas, mesmo assim, não era saudável.

Lembrou-se da voz falha de Oikawa antes de desligar. Ainda que uma parte de seu peito se condoesse com a situação dele, a maior não deixava-se penar por suas atitudes desequilibradas e desprovidas de bom-senso.

Oikawa não era uma criança. Tinha que estar ciente dos erros que cometia e que haveriam consequências por tê-los praticado.

“Ele ainda vai pagar pelo que fez”, prometeu a si mesmo, cerrando os dentes. “Essa atitude dele não irá sair impune, ou não será justo com os dois moleques envolvidos”, pensou em Kageyama e no tampinha ruivo, os mais afetados daquela história toda.

Eles não tinham culpa de nada e não mereciam estar passando por tudo aquilo. Eles apenas tiveram a má sorte de terem sido pegos no fogo-cruzado de Oikawa e Iwaizumi, e Hajime lamentava profundamente por isso.

Como num timing perfeito, recebeu uma mensagem de Kageyama, que disse já estar esperando por ele numa loja de nome “Shimada Mart”. Iwaizumi respondeu que já estava chegando, e apressou o passo. Se resolveria com Oikawa depois. Por agora, o quanto antes resolvessem toda aquela história de farsa, melhor.

Chegou na loja dez minutos depois, e entrou direto, encontrando Kageyama num dos corredores perto da entrada. Reparou que havia uma televisão ligada acima dos caixas de pagamento, num volume alto e exibindo um canal de esportes.

Tobio estava comprando alguns salgadinhos quando o viu se aproximando, e, sem saber como encará-lo, Iwaizumi já foi se desculpando, sentindo a cabeça doer.

— Sinto muito pelo constrangimento, Kageyama. Já confirmei que foi o Oikawa mesmo quem fez quele vídeo idiota, mas infelizmente está difícil tirar ele do ar, pois sempre tem gente repostando. — massageou a nuca, tentando controlar seu estresse crescente. Aquele inferno não parecia acabar nunca.

Kageyama o observava um pouco receoso, talvez com certo temor de ser atingido por seu mau-humor incandescente.

— Não, tudo bem. Não se desculpe. — o levantador disse, sem jeito.

— Como está o baixinho? Ele tá bem?

Kageyama desviou os olhos. Não parecia querer falar sobre o assunto.

— Eu não sei bem. — disse incerto. — Acho que ele passou a maior parte das aulas no banheiro, e não apareceu no treino de ontem e nem de hoje. — revelou.

Iwaizumi praguejou baixo.

 Maldito Oikawa. — cerrou os dentes. — Ele vai se ver comigo, pode apostar que vai. — prometeu em tom de vingança. Respirou fundo, voltando os olhos para Kageyama. Gesticulou, apontando para os salgadinhos dele: — Vamos para o caixa pagar essas coisas — falou, já pondo-se a sair daquele corredor. — É melhor termos nossa conversa lá fora, e…

De repente, Iwaizumi parou de andar e falar.

… Pois, em seus ouvidos, adentrou-se um som nítido e claro perto dali, com um timbre único que reconheceria em qualquer lugar do mundo:

A voz de Oikawa.

“O desgraçado me seguiu até aqui?”, questionou em nítido choque. Numa fração de segundo, mil coisas passaram por sua mente, lembrando-se vagamente de ter reparado que Oikawa parecia estar na rua enquanto conversavam minutos atrás.

Tooru era inacreditável.

Sem que pudesse conter, a raiva em seu peito pareceu se multiplicar por cem, deixando-o a ponto de explodir. Só de pensar em ver aquele sorriso debochado e nada arrependido pincelado no rosto perfeito de Oikawa, quase deixou sua visão turva de puro ódio.

E o único desejo que Iwaizumi teve naquele momento foi claro e objetivo:

Fazê-lo pagar na mesma moeda.

Sem prévias e sem ao menos dar um mísero aviso, puxou o rosto de Kageyama bruscamente em sua direção, firmando seus lábios num beijo agressivo e sem delicadeza alguma. Seu movimento foi tão repentino e descomedido, que seus dentes chocaram-se com força, fazendo um choque doloroso percorrer seus músculos faciais, mas isso não o impediu de frear ou parar o contato.

Iwaizumi não pensou nas consequências de seu ato. Não pensou que o que estava fazendo naquele momento poderia causar um irreversível efeito borboleta num futuro próximo. Não pensou em nada que se relacionasse à razão.

A única coisa em que pensou foi em se vingar de Oikawa.

De imediato, Kageyama ofegou, derrubando todas as suas compras, tendo seus lábios esmagados pelos do outro. Num reflexo, tentou se desvencilhar do mais velho, mas Iwaizumi não permitiu, segurando seu rosto com força e dominação, obrigando-o a continuar com o beijo. Ainda que fosse mais alto, Kageyama não se comparava em níveis de força com Iwaizumi.

Um pouco depois, a voz de um funcionário da loja soou uns metros dali, fora do corredor onde estavam, mas Iwaizumi sequer deu atenção a isso, pressionando o corpo de Tobio contra as prateleiras e suportando as investidas dolorosas que as mãos dele faziam em seus braços, socando-os e arranhando-os por cima da blusa, buscando afastá-lo.

— … Ei, menino, por que tá deixando suas coisas aí?... Não vai levar nada? Ei, espera, não saia assim!... — o funcionário chamou ao longe, dirigindo-se a alguém.

Enfim, num movimento brusco, Kageyama o empurrou violentamente, libertando-se de seu agarre firme. Seu rosto estava vermelho, e ele ofegava eletricamente.

 Que droga é essa, Iwaizumi-san?! — exclamou, atônito.

Tendo igualmente a respiração acelerada, Iwaizumi olhou para os lados, tentando raciocinar e procurar. Não o viu em canto algum. Onde ele estava?...

Em seguida, a voz de Oikawa voltou a soar pela loja, mas, dessa vez, levando Iwaizumi a erguer os olhos na direção em que ela estava vindo…

E constatou, perplexo, que a voz vinha…

… Da televisão.

“... E você está animado para o próximo jogo?” — a entrevistadora perguntava.

“Com certeza! Estamos ansiosos para avançar e chegar aos nacionais futuramente”, a imagem angelical e risonha de Oikawa aparecia na tela, acenando.

Hajime piscou. Era apenas uma entrevista de Oikawa. Feita na época do último intercolegial.

Ele não estava ali.

Enquanto escutava a voz indignada e chocada de Kageyama logo ao lado, perguntando-lhe repetidas vezes por que diabos fez uma coisa daquelas, Iwaizumi tentava assimilar, sem sucesso, a burrada colossal que havia acabado de fazer.

Há apenas alguns minutos, estava julgando Oikawa por ter usado Hinata e Kageyama para atender a seus próprios interesses hediondos, e, agora, havia acabado de fazer exatamente a mesma coisa com Tobio.

De fato, a hipocrisia era uma merda.


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Notas finais do capítulo

Com licença, pessoal, eu preciso ir ali rapidinho pra me matar *rip*
Nem sei o que dizer, tô com vergonha demais ksksksksksks só parabenizo as pessoas que acertaram as teorias no cap passado: SIM, TEVE BEIJO IWAKAGE, NÃO FOI ILUSÃO, FOI REAL!

Depois dessa, só me resta ir pra cama e dormir. Espero que não tenham tido um ataque cardíaco, pois ainda preciso de vocês vivos para o resto da fic kkkkk
Até o próximo!



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