O Peso da Profecia escrita por Melody Holy


Capítulo 4
;capítulo 4




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(eu vou começar a colocar as notas aqui, por motivos de: aparece no +fiction)

oi rs alguém ainda lembra disso aqui?

OLÁÁÁÁ eu não sei nem com que cara eu tenho coragem de aparecer aqui depois de tanto tempo, mas veja pelo lado bom, eu voltei!
Pra ser bem sincera, eu gostaria de ter voltado muito mais cedo, ainda mais levando em consideração que esse capítulo está pronto desde setembro :) MAS a faculdade tava muito puxada e alguns problemas pessoais (que ainda não se resolveram, mas eu já consigo lidar melhor com eles) me deixaram totalmente desmotivada de escrever e abrir o arquivo pra revisar ou escrever essa fic me fazia ter um ataque de pânico, então eu decidi que seria melhor priorizar minha saúde mental e voltar quando me sentisse melhor. E cá estou eu!

Esse capítulo foi betado pela @HikariMinami, que é simplesmente um anjo na terra e sempre é super compreensiva comigo. Te amo ♥

ah, temos o debut do Sieghat nesse capítulo! Quero saber o que vocês vão achar dele heheh

Boa leitura!!

☽☾

[ARME]

— Arquimago? Vocês podem entrar.

Fechei os olhos para respirar fundo antes de seguir meu vovô para a Sala do Trono de Serdin, sendo acompanhada por Mari e por mais algum empregado do castelo. 

Não era minha primeira vez no Castelo de Serdin, mas era a primeira vez que me encontraria com a Rainha Ennaruv. Vovô estava sereno como sempre ficava todas as vezes que precisávamos vir, e vê-lo com aquele semblante ajudava a me acalmar. Não tinha motivos pra ter medo... era só a Rainha de Serdin, uma das maiores magas da atualidade e descendente da maior arquimaga da antiguidade.

...

Okay, talvez eu precisasse de um calmante. 

Quando vovô disse que não seria tão trabalhoso arrumar uma audiência com a Rainha, em especial porque ele era O arquimago do reino e Ennaruv foi aluna dele, eu tinha imaginado que demoraria umas duas, ou três semanas. Mas, aparentemente, a Rainha realmente gostava dele, porque, em menos de uma semana, lá estávamos nós, indo nos encontrar com a pessoa mais importante do reino.

Mari andava calmamente ao meu lado, e não dava pra dizer se ela estava animada, nervosa ou ansiosa. Eu realmente não fazia ideia se algum dia seria capaz de entender suas expressões ou linguagem corporal, mas esperava que sim.

A Rainha Ennaruv já estava nos esperando quando chegamos à Sala do Trono, onde ela costumava receber pessoas importantes. Estar ali era quase um sonho, mesmo sabendo que vovô era alguém super importante pro reino.

— Bem vindo, Serre. — Ennaruv nos recepcionou com um sorriso, indicando que nos sentássemos. Ela lançou um olhar curioso para Mari e ergueu uma sobrancelha para mim, sorrindo. 

— Obrigado, Alteza. — Vovô sorriu, e eu me perdi por alguns momentos, pensando sobre como ele deve ter visto a rainha Ennaruv crescer e assumir o trono antes da Guerra dos Reinos. Não era surpresa que ela tivesse facilitado aquela audiência para ele.

— E então? No seu pedido, você disse que tinha algo que precisava da minha ajuda para resolver. — Ennaruv ajeitou o cabelo e rodopiou o cajado real que levava consigo, quase como uma criança faria com um galho de árvore.

Era estranho como ela conseguia parecer majestosa e exalar respeito e poder mesmo fazendo algo do tipo.

— Antes. — Vovô me fez um gesto me indicando. — Esta é minha neta, Arme. Acho que você já deve ter ouvido falar dela; os outros magos concordam que ela é genial.

Meu ego ronronou e eu fiz uma reverência para a Rainha, que retribuiu.

— Ah, sim. Eu me lembro de você cuidando dela quando eu era criança. — Ela sorriu para mim. — Não a vi muitas vezes, mas Serre está certo; todos falam muito sobre como você é excepcional e vai fazer maravilhas por Serdin. Fico grata por tê-la em meu reino, Arme.

— Obrigada, Majestade. Espero ser útil para o reino quando for necessário. 

— Enna — Vovô chamou, e eu segurei uma risada ao observar um dos guardas se alarmar diante do apelido. Devia ser alguém novo, já que os outros continuaram inabaláveis, provavelmente acostumados com aquele tipo de comportamento do meu avô para com a realeza. — Essa outra garota é Mari. Arme a encontrou.

A rainha franziu o cenho e segurou o cajado com as duas mãos, olhando para mim com curiosidade palpável. Ela sondou Mari por alguns segundos antes de voltar a atenção para mim mais uma vez.

— Como assim “encontrou”?

Eu não fazia ideia de qual era a personalidade dela e nem como uma Rainha lidaria com alguém que passou séculos em suspensão sob os tetos de um castelo — embora eu ainda não tivesse nenhuma teoria sobre como Mari tinha ido para lá.

Vovô começou a responder, mas a Rainha ergueu uma mão para silenciá-lo, o olhar curioso fixo no meu.

— Eu agradeço a disposição, Serre, mas gostaria de ouvir dela. Arme, por favor.

Engoli em seco e concordei, repassando rapidamente o que tinha acontecido naquela aula de Arqueologia Mágica. Parte de mim queria esconder alguns detalhes (como eu ter deliberadamente ignorado instruções e ter passado do horário estabelecido pelo professor), mas meu avô com certeza já sabia daqueles pormenores e não seria de bom tom escondê-los de uma rainha.

Depois que terminei de relatar, Ennaruv olhou fixamente para Mari. Ninguém falou nada por alguns minutos enquanto esperávamos que ela digerisse todas as informações e se pronunciasse.

— Como você disse se chamar? — ela perguntou para Mari, que observava os detalhes da sala com pouca curiosidade; devia achar coisas não-tecnológicas entediantes.

— Mari.

A ausência de algum pronome de tratamento não me assustou e muito menos ao vovô ou à Rainha. Os dois pareciam já esperar por aquilo.

Os olhos de Ennaruv brilharam e ela trocou um olhar rápido com vovô. Ergui uma sobrancelha quando ele concordou, respondendo a alguma pergunta silenciosa que ela parecia ter feito e que eu não entendi.

— E você disse ser a princesa de Calnat, certo? — Mari aquiesceu. A rainha riu. — Bem, você de fato se parece com a descrição dadas pelos registros antigos, mas isso é um pouco difícil de acreditar, até para mim. 

— E tem algum jeito para que ela possa provar sua identidade? — Vovô perguntou, e me surpreendi quando a vi ponderar, como se tivesse uma ideia.

Enna se virou para os empregados que aguardavam na porta por ordens e pediu que lhe trouxessem o necessário para que pudesse escrever algumas cartas.

Enquanto esperávamos, ela se virou novamente para mim e para Mari.

— Posso fazer algumas perguntas? — No que Mari concordou, ela prosseguiu. — Qual era o nome do rei, não sei se era seu pai ou seu tio, que você iria suceder?

— Arsad.

— Quem eram os três magos do reino?

— Scard Vi Serdin, Caxias Grandiel e… —  Mari hesitou e seus olhos se desviaram para uma parte aleatória do recinto. — Não me lembro.

A Rainha concordou, sorrindo de forma terna. Eu havia comentado que Mari parecia estar com as memórias comprometidas, então não me surpreendi por aquilo. Parecia ser a mesma pessoa de quem ela não se lembrara anteriormente.

— Quem era o general do exército?

— A general Isnnar Dir Canaban.

— Calnat tinha algum tipo de grupo de elite?

Vovô riu diante da pergunta, o que me fez franzir as sobrancelhas. Não era uma pergunta idiota, até porque Mari respondeu com a mesma monotonia de antes.

— Os Highlanders, guerreiros Imortais.

— E quem era o líder desses guerreiros?

Mari olhou para Ennaruv.

— Graham.

A Rainha pareceu achar o suficiente e deu um sorriso satisfeito, tendo uma conversa silenciosa com meu avô mais uma vez.

— Bom, me parece o bastante.

Os servos entraram com papéis e canetas para que os recados pudessem ser escritos, seja lá o que ela quisesse escrever.

Quando eu era menor, cheguei a perguntar o porquê de ter coisas oficiais (principalmente no reinado) que ainda eram escritas à mão e entregues por mensageiros quando podia ser bem mais rápido mandar um email para o outro reino e resolver em menos da metade do tempo.

Vovô não tinha me explicado de uma forma muito clara — ou eu apenas era muito nova para entender completamente —, mas eu entendia que alguns costumes eram mantidos por questão de segurança e confiança. Ennaruv e Anyumena, por exemplo, as respectivas rainhas de Serdin e Canaban, se conheciam desde sempre e eram muito amigas. A troca de cartas entre elas era algo comum eram mais novas, depois, conforme a tecnologia foi avançando, se tornou um jeito único delas se comunicarem. Mensagens instantâneas existiam entre elas, mas apenas para resolver o estritamente urgente.

Eu já tinha ficado sabendo de rumores (fofocas) sobre como as duas chegavam até a usar alguns códigos para, caso a carta fosse interceptada, as pessoas não pudessem entender nada do que estivesse escrito.

 — Infelizmente, eu não tenho registros profundos sobre Calnat aqui — a Rainha comentou enquanto escrevia calmamente — Mas a biblioteca real de Canaban tem uma ala somente para essa parte da história. Existem milhares de livros que podem ajudar Mari a se lembrar de alguma coisa.

— Então… você acredita que ela seja a princesa de Calnat? — perguntei, em dúvida. As perguntas feitas à Mari não eram realmente difíceis de se obter a resposta; um pouco de estudo focado em Calnat e se saberia daquelas coisas. Mas Ennaruv apenas sorriu e concordou.

— Vou mandá-las para Canaban. Com sua permissão, Serre. Uma pessoa acompanhará vocês até lá e cuidará de que Anyu as recebam.

— Vai mandar duas crianças para Canaban? — Vovô perguntou e, apesar de parecer cordial, eu podia sentir um leve tom de reclamação em sua voz, o que me fez rir. Ele estava apenas sendo super protetor comigo. 

— Anyumena pode ajudá-las mais do que eu, Serre. Pensei que já soubesse disso quando marcou essa audiência. — Vovô consentiu, o que me deixou animada. Ele quase não me deixava sair do Colégio, e agora eu iria para outro reino! 

Franzi as sobrancelhas diante da frase. O que os dois sabiam que não podia ser dito na nossa frente? Tentei reclamar, mas vovô me lançou aquele clássico olhar de “conversamos em casa” e me calei. 

— Tudo bem — ele cedeu — Mas quem irá levá-las?

— Não precisa ser superprotetor com sua neta, Serre. — Ennaruv riu. — Vocês têm sorte de que a pessoa perfeita para acompanhá-las está no reino. Ele chegou esses dias e eu ainda não tinha nenhum trabalho para designar para ele.

Aquela conversa estava ficando estranha.

— Arme — a Rainha me chamou, e olhei atentamente enquanto ela selava as duas cartas que tinha escrito e me entregava uma delas. — Sei que não sai muito do Colégio, mas vou pedir que vá encontrar o homem que vai levá-las até Canaban e entregue esta carta para ele.

— Hã? — deixei escapar, confusa, enquanto segurava a carta e tentava não amassá-la de nervosismo. — Como assim… quem?

Vovô soltou um resmungo enquanto Ennaruv ria. 

— Mari comentou sobre os Highlanders, então imagino que seja bom que vocês sejam acompanhadas por um deles. O representante deles tem um acordo comigo e com Anyu, com livre passagem pelos reinos em troca de prestar alguns serviços para nós duas.

— Faz muito tempo desde que o vi, ele ainda sai para viajar por meses e aparece do nada sem aviso? — Vovô perguntou, e algo sobre a informalidade da reclamação me deixou confusa.

Vovô não era de tratar mal ou ser nada além de cordial com qualquer pessoa. Ouvi-lo falar com tanta tranquilidade sobre a atitude de alguém, sem demonstrar respeito zeloso, era, no mínimo, bizarro.

— De vez em quando — a Rainha respondeu, rindo de forma divertida da reclamação — Ele faz isso apenas quando não está resolvendo algo urgente. Creio que a presença de Mari seja do interesse dele.

— Quem? — insisti na pergunta, nervosa por não fazer ideia de quem eles estavam falando e muito menos por que pareciam falar de um velho amigo.

Highlander ou não, eu esperava um pouco mais de reverência ao se falar dele.

— Vá visitar a área Leste do reino, Arme. Entregue essa carta e converse com Elenius Sieghart.

☽☾

O Colégio Violeta ficava na área Oeste de Serdin. Como vovô não permitia com muita frequência que eu saísse e me aventurasse pelo reino, eu nunca tinha visitado a zona Leste; só conhecia coisas que escutava os professores falando nos corredores.

Não era uma área considerada perigosa (não mais do que qualquer outra área do reino, pelo menos). Eu sabia que não precisava me preocupar com ser atacada ou algo do tipo; minha magia era mais que suficiente para me proteger, e a capa com o logo do Colégio também ajudava as pessoas a não me intimidarem.

O dia de feira não me ajudava a encontrar o endereço dado pela Rainha Ennaruv. Muitas pessoas na rua falando alto, correndo e carregando sacolas e carrinhos de feira me confundiam, mas me faziam querer participar daquilo mais vezes. 

Será que vovô me deixaria vir comprar frutas algumas vezes?

Uma criança me parou assim que me certifiquei de estar na rua certa e começava a procurar pelo número da casa ou prédio específico.

— Moça! Seu cabelo é tão brilhante! Você é tãããão bonita! 

Sorri enquanto encarava a criança, pensando no que podia fazer para deixá-la feliz e estalei os dedos quando tive uma ideia. Assoprei o ar em sua direção discretamente, criando pequenos pontinhos de luzes coloridas brilhantes que circularam em volta dela, fazendo-a rir e soltar um “uaaaau” admirado.

Continuei andando pela rua quando uma mulher apareceu e arrastou a criança pelo braço, sorrindo quando as luzinhas rodaram em volta dos dois antes de voltarem para mim e desaparecerem.

Não precisei me embrenhar muito mais no meio do mar de pessoas antes de encontrar o prédio onde Elenius morava.

Me identifiquei na portaria e não tive pressa em subir até o andar certo. Parei em frente a porta número 57 e respirei fundo antes de bater, sem fazer a mínima ideia do que esperar daquele encontro.

A porta foi aberta e eu pisquei em surpresa.

Quando falavam “highlander” ou “guerreiro imortal”, minha mente automaticamente me trazia a imagem de uma pessoa com aparência mais velha, talvez por volta dos 40 anos. Alguém que exalasse experiência, impiedade e seriedade.

Eu não estava esperando encontrar um garoto aparentemente pouco mais velho do que eu, com o cabelo escuro bagunçado e usando um conjunto de moletom cinza surrado. E alto, muito alto.

Ele sorriu e ergueu as sobrancelhas, se apoiando no batente da porta e cruzando os braços.

— Pois não? 

Parte de mim queria se virar e sair correndo de volta para o Colégio e deixar que a equipe da Rainha resolvesse aquela parte por mim. A outra parte estava animada demais por estar saindo sozinha e não queria desperdiçar o momento.

— Estou procurando por Elenius Sieghart. É aqui? — Perguntei, educada, segurando a bolsa transversal com as duas mãos, pronta para pegar a carta da Rainha. Ele apertou os lábios.

— Sou eu. — Ele pigarreou uma vez e manteve o sorriso simpático. — Como posso ajudar?

Abri a bolsa e estendi a carta com o selo da Rainha para ele. Elenius franziu as sobrancelhas antes de pegar e abrir, passando os olhos prateados pelas letras rapidamente antes de desencostar do batente e dar um passo para trás.

— Entre, vamos conversar. 

Elenius se virou e andou para dentro do apartamento, e fiquei um pouco confusa enquanto fechava a porta e tentava não soar grosseira ao observar os detalhes da casa.

Não havia muita decoração além de alguns quadros de paisagens que também eram usadas em cartões postais e uma ou outra planta de plástico. A impressão era de que alguém tinha acabado de se mudar, porém sem caixas de papelão. Era um lugar minimalista, quase se parecia com a sala de espera de algum consultório psiquiátrico, porém com mais tons de preto e roxo escuro. 

Elenius indicou o sofá da sala para me sentar enquanto ele ia até a cozinha, que também não era muito grande. O apartamento em si era pequeno e isso me fazia duvidar sobre o jeito como Ennaruv e o vovô se referiram à ele.

— Você quer beber alguma coisa? Vinho, champa- espera. — Ele apareceu na porta da sala com as mãos na cintura e um olhar curioso. — Quantos anos você tem mesmo?

Ri um pouco e balancei a cabeça, achando engraçado o jeito como ele me analisava.

 — Dezessete. — Ele fez uma careta e assentiu, voltando para a cozinha.

— Nada de álcool, então. Tenho suco de… maracujá, uva verde e jabuticaba. Quer algum? — Torci o nariz diante das opções e aceitei o de maracujá. Elenius voltou para a sala com o copo de suco e uma taça de vinho para si. — Muito bem, então…. Arme, certo? A neta do Arquimago.

— Isso.

Geralmente eu me incomodava um pouco quando se referiam a mim como “neta do arquimago” ou “a garota que Serre cria” (como já ouvi pessoas do Colégio falando), mas eu estava surpresa demais por ele saber meu nome para reagir de forma negativa. A Rainha tinha falado como se ele não passasse muito tempo em Serdin, então eu estava esperando que ele mal soubesse que o Arquimago tinha uma neta, que dirá o meu nome.

Elenius tomou alguns momentos para reler a carta da Rainha com calma antes de voltar a me dar atenção. 

— Aqui diz que você encontrou alguém que diz ser Mari, de Calnat… — ele ponderou, pegando a taça de vinho e brincando com o líquido, sem realmente beber — Se você está aqui, então Enna deve acreditar que isso é verdade. Ela conversou com Mari?

Eu não devia, mas o fato dele chamar a Rainha pelo apelido me surpreendeu. Vovô e Ennaruv tinham deixado claro que o conheciam há bastante tempo, mas eu não esperava tanta intimidade. Não conhecia ninguém além do vovô e da Rainha de Canaban que podiam chamá-la daquele jeito.

Concordei com um aceno, e ele franziu as sobrancelhas como se estivesse incomodado com algo antes de prosseguir.

— Muito bem. Arme, a garota prodígio da Academia Violeta…. ou Colégio, não sei como vocês estão chamando atualmente; Enna não me escreveu com detalhes como você “encontrou” Mari. Pode me explicar?

Soltei um suspiro e repeti, pela terceira ou quarta vez, o que aconteceu no dia em que a encontrei. Elenius escutou com uma expressão pensativa, sem me interromper, e não parecia surpreso ou ansioso quando finalmente terminei o relato. Ele suspirou, levou a mão direita até a orelha e brincou com os brincos de argola prateada que tinha ali, enquanto encarava a mesa.

— Muito bem, então Mari acordou e está sem memórias? 

— Ela se lembra de algumas coisas, como alguns nomes, mas bem poucas. Parece não lembrar de nada da época da Explosão e não sabe como sobreviveu a ela.

— Nomes…. Ela citou algum?

— Arsad, Scard Vi Serdin, Isnnar Din Canaban, Caxias Grandiel… acho que só. 

— Entendi. — Ele suspirou e voltou a pegar a taça, bebendo dessa vez. — Muito bem. Se a Rainha Enna acreditou que essa garota é realmente a princesa Mari, não serei eu a contestar essa decisão. Vocês precisam de escolta até Canaban, é isso?

Eu não tinha certeza do que exatamente estava escrito naquela carta, mas vendo a naturalidade com que Elenius comentara, a Rainha devia ter citado a biblioteca de Canaban. Concordei com um aceno e o vi soltar mais um suspiro.

— Senhor Elenius… você vai nos levar?

Ele fez uma careta. 

— Pode me chamar só de Sieghart. — Ele abriu um sorriso jovial, como se aquele nome fosse muito melhor para ele do que seu primeiro nome. Não seria eu a questionar. — E, sim, Ennaruv me pediu que acompanhe vocês. Anyumena deve ser informada de que vocês estão a caminho.

Ele parou de falar por um momento quando uma pulseira branca que ele usava enrolada no pulso esquerdo brilhou em azul e piscou três vezes antes de parar. Ele fez uma expressão desanimada e andou pela sala pequena enquanto parecia procurar por alguma coisa.  

— A biblioteca de Canaban tem muitas informações sobre Calnat e outros reinos e civilizações antigas. — Sieghart comentou enquanto revirava as gavetas do hack da televisão e sorria ao encontrar um caderno de couro verde musgo. — Alguns séculos atrás, os Reinos decidiram que era melhor que todo o acervo ficasse em um só lugar, e aparentemente os Cavaleiros têm mais interesse por história antiga do que os Magos. Então, foi escolhido Canaban.

Concordei, vendo-o resmungar sobre perder alguma coisa, e ele enfim se sentou de volta na minha frente, bebendo mais do vinho na taça. 

— Tenho uma coisa para resolver aqui em Serdin essa semana, e acredito que Serre vá querer ter uma conversa séria sobre essa viagem com você ainda. Vou dar um jeito de conversar com ele, hm… — Sieghart folheou o caderno que tinha em mãos e apertou os lábios. — Viajaremos em cinco dias. Encontrem-me após a hora do almoço no portão do Castelo. Peça que Serre apareça também, por favor. 

Pisquei, confusa com as informações e surpresa por ele preferir apenas falar ao invés de escrever. Ia acenar quando ele me interrompeu com um resmungo bem humorado.

— Fale alguma coisa, eu quero ouvir sua voz, Arme. Responda quando as pessoas falam com você, não fique só acenando. Que graça tem conversar sozinho?

Arregalei os olhos. Não estava esperando aquilo. Geralmente pessoas importantes não gostavam que eu respondesse as coisas, mas Elenius Sieghart parecia ter ficado profundamente incomodado com as minhas faltas de respostas. Ele ergueu as sobrancelhas, me incitando a responder.

Seria muito mais fácil agir informalmente se ele não fosse alguém importante até para a Rainha Ennaruv.

— Vamos, diga algo.

— Sim, senhor.

— Sieghart. Me chame por Sieghart. E sim, o quê? 

— Vou pedir pro vov— para Serre nos acompanhar ao portão do Castelo, Sieghart.

Ele abriu um sorriso satisfeito, os olhos prateados brilhando, e aquilo só me fez pensar em como ele definitivamente não se parecia em nada com a imagem de um Imortal que eu tinha em mente. Sieghart agia muito como um jovem adulto agiria, incluindo o jeito despojado como se sentava e como estava confortável em ter uma completa estranha na própria casa.

— Muito bem. — Ele riu e acabou com o vinho na taça. — Eu tenho que sair pra resolver um problema agora, então acabamos por aqui. — Ele se levantou e me acompanhou até a porta, parecendo cordial e, ao mesmo tempo, casual. — Não se esqueça, daqui a cinco dias. Ah, estejam preparadas para acampar. Até breve.

— Até, e… obrigada por me receber. — Fiz uma reverência, que ele negou com um aceno.

— Obrigado por vir até mim, mande um abraço para Serre!  

☽☾

E esse foi o capítulo! O que acharam? E esse "Elenius", huh? O que será que vai acontecer?

Eu gostei bastante desse capítulo, já tem coisa acontecendo e tô animada pra tudo o que vem pela frente.

Vou tentar voltar mais cedo (vulgo: não demorar 5 meses) com o capítulo 5, ele já tá até que encaminhado!

E foi isso por hoje! Desculpa mesmo pela demora de voltar aqui, mas pelo menos eu voltei, né kkkkkk

Beijnhos, Mel♥


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