Shingeki no Kyojin — A Grande Guerra Titã. escrita por Sevenhj777


Capítulo 42
O rei dos reis.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800951/chapter/42

"Por quê?!"

 

O rei desabou no chão com a garganta cortada profundamente, fazendo o sangue se espalhar pelo solo cristalizado.

 

"Por que, Ymir?!"

 

A visão voltava a embaçar, e Ymir parecia cada vez mais distante.

 

"Ymir!"

 

Não tinha mais solução. O rei se engasgava no próprio sangue, e com dificuldade, tentava puxar todo ar que podia – fracassando.

 

"Por que me abandonou, Ymir?!"

 

Seu corpo velho e desgastado tentava suprimir a própria morte como podia. Todo seu esforço era direcionado numa possível transformação, sem sucesso. Não podia mais usar os poderes do Titã Fundador, e os poucos resquícios que lhe restaram eram usados numa fracassada regeneração.

 

"Por quê...?"

 

A vista foi ficando pesada, e o último suspiro do rei foi olhando o titã de seu próprio filho se aproximando, enquanto sua família olhava horrorizada. E tudo ficou em silêncio.

 

O rei acordou ofegante, como se viesse de um sonho distante, um pesadelo profundo. Estava deitado num solo um tanto quanto aconchegante, macio como espuma; quando olhou: um cadáver, ou melhor, inúmeros cadáveres, de todas etnias, nacionalidades, cores. Eram vítimas da guerra, vítimas de Eldia. O rei se ergueu, olhou para baixo e notou que estava vários metros, talvez quilômetros, do chão, sobre uma montanha de corpos.

 

— Acho que até você pode ver, não pode? — indagou o até então príncipe, Karl Fritz II, dando uma golada em sua xícara. — Por favor, sente-se.

 

Sobre a montanha de cadáveres, havia uma mesa longa, longuíssima. Todos reis e rainhas de épocas anteriores bebiam e comiam, ignorando os corpos e o caos ao redor deles. Karl Fritz via, ao fundo, construções em chamas, estátuas despedaçadas e deuses crucificados. Eram todas as culturas, todas cidades e todas religiões massacradas por uma dinastia de terror e morte.

 

Entendeu tudo, estava morto. Se sentou no canto da mesa, ao lado de Karl e também do seu antecessor, seu tio. Na mesa, o banquete era degustado sem remorso pelos descendentes Fritz, o cadáver de três crianças: Maria, Rose e Sina.

 

Os olhos de Karl se arregalaram assim que viu os cadáveres sendo degustados assim como um dia o trio de crianças fizeram com a própria mãe.

 

Falando nela, Ymir surgiu. Uma criança pequena, frágil, com uma pele tão branca quanto a de um cadáver, com olhos fundos e vazios. A loira carregava uma chaleira, servindo um pouco também na xícara de Karl Fritz.

 

— Chega. — disse o rei, subitamente. Todos continuaram a comer, mas seu filho parou tudo para ouvi-lo atenciosamente. — O que você quer com isso, meu filho? Você já venceu.

 

— Eu não quero que sinta raiva de mim, meu pai. — O príncipe finalmente quebrou o silêncio. — Eu tomei decisões muito frias e isso me custou muito. Eu matei pessoas, pai. Eu matei você.

 

Karl Fritz se lembrou imediatamente de quando tentou aproximar o príncipe dos deveres de Eldia. Ingrid tinha a cabeça de uma líder, mas o garoto passou mal só de ouvir como a reprodução em massa acontecia nos cativeiros de Eldia. Karl II sempre foi fraco, hesitante, então como chegou tão longe?

 

— Eu transformei minha repulsa em força, força para continuar avançando. Eu não consigo, entretanto, mentir. Eu me sinto um lixo quando penso nas pessoas que morreram durante esse golpe de estado, no final eu só estive alimentando essa montanha de corpos como você, como todos vocês. — O pai ficou em silêncio, enquanto o príncipe desabafava cabisbaixo. — Eu acho que consegui finalmente o que você disse que faltava em mim, pai. Eu consegui. A morte dessas pessoas, a sua morte... foram necessárias para criarmos um mundo melhor, certo?

 

— Não. — Karl interrompeu. — Eu menti pra você. As mortes causadas por Eldia serviram unicamente para nossa nação, as ferrovias, as estradas, o hiper-desenvolvimento às custas de outros povos apenas nos favoreceram. As mortes foram feitas unicamente favoráveis à nós, eldianos. É mais fácil doutrinar distorcendo os fatos, é um processo que as nove casas submetem seus descendentes.

 

— Pensei que ia me convencer de que vivemos num paraíso. É bom vê-lo sendo sincero uma vez, pai.

 

— É o contrário. Vivemos num inferno. — Karl Fritz cortou um pedaço da costela de Rose com um garfo e faca, e com força, jogou no prato de seu filho. — A questão é: isso nunca vai mudar, meu filho. Talvez perceba isso quando for mais velho.

 

— Se Eldia deixar de existir-...

 

— Um bilhão de eldianos serão submetidos a fúria acumulada de um milênio e nove séculos. — o rei interrompeu o próprio filho. — O poder do Titã Fundador é de criar uma redoma ao redor de Eldia. Sim, a vida de outras nações fora do continente e, claro, com exceção à Hizuru, será um inferno. Pessoas serão mortas, estupradas, saqueadas e submetidas a uma vida sem sentido, vazia. Nós não temos como mudar isso, independente de termos Ymir ou não. — Karl semicerrou os olhos, encarando o próprio filho firmemente. — O poder de um rei é de proteger seu próprio povo. Nós não podemos tornar o mundo uma maravilha, mas podemos proteger aqueles que assim como nós descendem de Ymir. Olhe pelas janelas do castelo, príncipe Karl: as pessoas vivem, a tecnologia evolui e as crianças brincam. Com exceção à nossa aliada, Hizuru, que outro país tem esse privilégio?

 

— Nenhum, pois tiramos esse poder deles. Quantos marleyanos foram mortos e obrigados a viveram em comunidades, sendo extorquidos por impostos abusivos, sem nenhuma proteção ou lei que os proteja?

 

— Você é tolo, filho. — Karl interrompeu de novo. — Marley é podre, tão podre quanto nós. Vivíamos em guerra até o início da Era dos Titãs. Um marleyano assassinou Ymir! O oprimido se torna o opressor assim que tem poder suficiente para tal. O mundo vive num ciclo vicioso, mas eu não espero que você entenda isso agora, garoto. Se você quer subjugar uma nação inteira porque não tem estômago para lidar com o fardo da coroa, cogite em entregar o Titã Fundador à sua irmã e poupe todas as famílias eldianas do seu descaso.

 

— Eu farei as coisas do meu jeito, pai. — O príncipe segurou firme a faca e o garfo, cortando pedaços da costela servida em seu prato, devorando a carne de Rose. — O mundo é um lugar muito melhor sem ter que servir a uma só nação. Devemos dar espaço para que eles plantem, cultivem e proliferem. Devemos compartilhar a redoma de Eldia com o mundo, é nisso que acredito. Eu serei um rei diferente de vocês, eu serei um rei pro planeta, e não para um povo só.

 

— O destino dirá o futuro de Eldia e do mundo, eu só rezo pra ser melhor do que imagino que vá ser. Mas... — Apontou para a comida — Vendo daqui, você parece como eles, Karl. 

 

— Eu sei. Eu preciso engolir. — disse o garoto, com lágrimas nos olhos. Não gostava daquela comida...

 

No grande salão, lordes, barões e donos de terras já estavam confusos e a gritaria se espalhava pelo lugar. O caos da cidade já era notada, e restava aos funcionários conter a multidão.

 

De repente, as trombetas começaram a tocar. Todos olharam para a porta, e Karl Fritz II surgiu. Se entre-olhavam com estranheza, por que o príncipe usava a coroa? Onde estava a verdadeira rainha?

 

— Todos saúdem Karl Fritz II, o rei dos reis! 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shingeki no Kyojin — A Grande Guerra Titã." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.