Carroças cheias invadiam as ruas da comunidade, despertando olhares curiosos de inúmeros estrangeiros, que com seus filhos, corriam para acompanhá-las. Liderando uma delas, Leopold Gestova batia levemente no cavalo, que agitado, acelerou mais um pouco. Estava visivelmente diferente, o cabelo estava maior e o olhar mais maduro; apesar disso não parecia tão contente assim. Parou de frente a uma rua movimentada, com sua carroça, assim como todas as outras, cercadas por centenas de pessoas.

De repente se levantou, pulou no chão e com força, puxou o pano que cobria a mercadoria. Era comida, muita comida. Traziam farinha para pães, maçãs, frutas e até carne – coisa que aquelas pessoas mal sabiam o sabor depois de tanto tempo.

— Em fila.

Leopold disse, e imediatamente a população gritou contente. Alguns ousados tentavam desrespeitar a fila para pegar um item ou outro, mas os soldados eldianos sabiam como controlá-los.

Ao fundo, um homem encapuzado observava a baderna, sempre quieto e frio. Abaixou a cabeça e aos poucos se afastou, adentrando uma das casas que quase caia aos pedaços.

— Eu consegui tanta coisa! — exclamava Freydis. A mulata carregava sacos de farinha, carne, maçãs e outras frutas que nunca viu na vida. — Está vendo, Helos?

— Sim. — O encapuzado tirou o manto, e caminhou vagarosamente até uma das cadeiras. Helos estava visivelmente cansado, com olhos fundos e uma barba mal feita, junto a um cabelo que sequer se importava em cuidar. Fisicamente falando, estava completamente recuperado, sequer mancava mais.

Subitamente um ruído veio da porta, e Helos segurou firme na sua boa e velha lança, que sempre está por perto.

— Ei, calma...

Helos abaixou a guarda assim que notou de quem se tratava, deixando um suspiro escapar. Era Emma. A loira estava com o cabelo um pouco mais longo, chegando à altura do queixo e com uma face muito mais radiante do que naquela época.

Atrás da loira, um homem: Aldrich Tybur. O irmão de Garric não tinha mudado tanto, estava apenas um pouco maior, mais forte.

— Há quanto tempo. — disse Freydis, indo cumprimentá-los. Helos voltou a se sentar.

— Sim. — respondeu Emma, retribuindo. O sorriso se desfez aos poucos ao notar o semblante de Helos, estava diferente de suas épocas de glória. Abatido. — Já passou da hora de vocês saírem daqui, não acha? O distrito de Aveiro é seguro agora, os Tybur...

— Não, não é seguro. — interrompeu Helos, frio e direto. Seus olhos semicerrados eram direcionados à dupla. — Eu prefiro aqui.

— Você sempre foi tão teimoso? — indagou Emma. Com passos lentos, se aproximou do homem. — Está tudo bem. Finalmente temos como conviver em paz, mesmo que com algumas adversidades.

— Eu confio em vocês, não me entendam mal. Mas sem Garric, estão os dois sem segurança, expostos à morte iminente.

Emma ficou em silêncio. Lembrou-se da época em que Garric mudou, ajudou todas aquelas mulheres e contribuiu financeiramente aos civis da até então depredada Marley. Garric ganhou a confiança de todos, e com a ajuda de Emma, também pôde encontrar Helos e salvá-lo com suporte médico.

— O rei está conosco. Ele disse que Garric está vivo...

— Eu imagino que nem você consiga confiar num Fritz, Emma. É muita inocência. — disse Helos novamente, e estava certo em desconfiar depois de milênios de sofrimento. — Independente do que faça, ele ainda é um Fritz.

Mais silêncio. Não importa quanto tempo passe, as épocas das trevas parece atrelada ao mundo.

Em um lugar distante, na capital de Rasdo, Temestra, olhares curiosos dos feirantes eram direcionados à duas pessoaa, que desfilavam entre as barracas com cavalos brancos, acompanhadas de mais soldados do que se pode contar.

Do pólo oposto, uma trilha de pessoas saiam da grande cidade em direção àquelas pessoas.

Ellie estava junto a eles, completamente diferente de antes. Seu cabelo estava preso num coque, e duas mechas escapavam lateralmente. Seu rosto e corpo estavam mais maduros, mas os brilhantes olhos azuis nunca mudariam nem se quisesse.

De um lado, seu pai, sem mudanças. Do outro, Akira Ackerman, já recuperado completamente; estava com o cabelo cortado, raspado nas laterais e crescendo em cima, sem contar com um físico levemente superior – assim como a altura.

A multidão abria espaço dos dois lados, na medida que os cavalos aos poucos estavam prestes a se encontrar. Ellie deixou os olhos arregalarem assim que notou de quem se tratava, já Akira deixou um sorriso de canto escapar.

Ysabel Gestova estava ali, sempre com uma imponente postura sobre o cavalo. O corpo estava coberto por uma armadura, e o rosto, sempre frio, parecia um pouco mais... expressivo. Os cabelos continuavam crescendo, chegando quase na altura dos de Lisa.

E falando na ruiva, ela também estava ali. Sempre com um sorriso de canto, usando um sofisticado vestido branco. Não mudou quase nada, ainda tinha aqueles belos olhos e a trança exagerada que já estava quase alcançando o quadril. No entanto, o sorriso parecia mais fraco.

— Olá. — disse a Manifield. — Já faz quase um ano, Ellie.