My Reason - Meu Motivo escrita por Letícia Silveira


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

EU DEMOREI 6 MESES ESCREVENDO TUDO ISSO, então eu espero que tenham a consideração de ler e comentar.
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– Er, mãe, a gente não fez nada. Eu juro! - O Justin murmurou, com os olhos esbugalhados de medo. Até parecia uma pequena criança pega em flagrante.

Ri baixinho, enquanto corava ao mesmo tempo. Era muito embaraçosa a cena; mas, ao mesmo tempo, engraçada. Eu queria ter um ataque histérico de riso, mas a Pattie reprimiria-me com o olhar.

Aliás, ela já estava assim, ao ver que estávamos em trajes íntimos e cobertos por geléia. Mordi o lábio para não cair no riso; porém a cara dela também estava, realmente, hilária. Ela havia recém acordado, e o seu cabelo não deveria estar penteado ainda. Bem, notava-se isso.

– Justin, conversa séria na cozinha... Agora! - Ralhou ela. Eu sabia que a Pattie era super legal, mas acordar e ver o seu filho aos amassos no meio da sala, apenas em trajes íntimos e com geléia por toda parte do ambiente, não deveria ser muito agradável. A minha mãe, por exemplo, surtaria se visse eu assim, para começar; porém a Pattie já aparentava estar acostumada em vê-lo acompanhado. A partir de agora, esperava eu, que eu fosse a única.

Eu queria subir as escadas, para poder colocar uma roupa decente. Não pude, porém, totalmente domada pela curiosidade e, mesmo sentindo certa vergonha, queria ficar ali e ouvir sobre o que eles falariam. Eu não queria que o Justin fosse acusado injustamente também. Eu tinha certa porcentagem de culpa, porque eu havia iniciada a lambaça de geléia sob a casa.

– Justin Drew Bieber, o que você estava fazendo ali com a Melissa?! - Pattie perguntou com um tom de voz sério. Tremi enquanto sentava-me no sofá, nervosa com a tal conversa.

– Nada demais, mãe. Olha, ontem, quando você não estava em casa, a gente poderia ter feito de tudo. - O Justin começou a falar. Provavelmente, ele diria que eu não quis fazê-lo.

– Você transou com a Mel? Ela fora a única com a qual eu simpatizei, porque veio com aquele papinho de virgem. Agora, você vem me falar que... - Antes que ela pudesse continuar o seu discursinho, o Justin a interrompeu, como ela havia feito com ele.

– Não, mãe!!! Eu queria transar com ela, mas também não ia ser apenas mais uma. Eu a amo e faria, pela primeira vez, amor. Porém ela me impediu, alegando não estar preparada e que não queria estragar a sua vida com imprevistos agora. Tá feliz agora, dona Pattie Mallette? - Ele perguntou, e pude destinguir uma certa irritação. Eu não sabia se era por minha causa, ou por causa de sua mãe.

Ouvi um suspiro e, em seguida, outro. Notei que o segundo havia sido eu, mesmo que isso tivesse surpreendido-me. Mas eu estava aliviada - o Justin não meteria-se em encrenca, pelo menos. Esperava eu.

– Então o que foi aquilo ali, na sala? - Ela perguntou, confusa. Nem eu sabia direito. Eu havia deixado-me levar pelo fervor, pelos desejos; porém eu não devia ter feito tal.

– A gente estava só brincando, mãe. Como duas crianças felizes. - Ele comparou, arrancando uma risada irônica de Pattie.

– Sei... Eu sei muito bem o tipo de brincadeira que você pratica por aí, meu filho.

Engoli seco. Parecia que, pela manhã, a Pattie não tinha o melhor humor possível; ou, apenas, a noite havia sido ruim. Também, durante todas as manhãs que a via, eu tinha alguma adversidade com ela. Refleti sobre as últimas coisas que eu e o Justin andamos fazendo. Não havia motivo para tanto drama.

Resolvi entrar na cozinha, até porque eu sabia como convencer a minha querida sogrinha. A minha vontade, ao pensar nisto, fora de piscar o olho; porém seria, extremamente, retardado fazer este gesto ao estar sozinha na sala.

Adentrei à cozinha com os braços cruzados sobre o corpo, a fim de que não mostrasse nada impróprio; Pattie, porém, estava a servir-se de Vodka.

– Er, Pattie, eu tinha que me defender também. Desculpa, mas eu só queria deixar claro que ontem fomos ao restaurante conhecer o meu pai. Entretanto, como não tínhamos dinheiro para ambos irem para a mesma casa, resolvi ficar aqui, de intrusa mesmo. Pensei que não haveria problema. Então nós apenas dormimos; porque, como o Justin dissera, eu não quis avançar em nada. Agora, eu havia acabado de dormir e dei por receber um café da manhã na cama. Só que, como tinha geléia, eu não sei por quê, começei a jogar no Justin. Ele, em resposta, revidou. Desculpa ter feito essa bagunça, mas eu arrumo, Pattie. - Murmurei, corando. Não pude deixar de notar o sorriso no rosto do Justin, mas não entendi por quê.

– E que trajes íntimos são esses? - Pattie perguntou, furiosa. Corei mais ainda, por estar tão exposta. Agora eu havia entendido o sorriso do Justin: ele estava fitando o meu corpo. Eu não podia reclamar, porque era bom sentir-se desejada, mas era impróprio para fazer-se em frente à sogra.

– A gente dormiu assim, porque eu não tinha pijama para emprestar e eu sempre durmo de cueca. - O Justin resmungou, dando de ombros. Aproveitou que estávamos ainda na cozinha e acabou por mordiscar uma maçã de leve.

Pattie arqueou a sobrancelha, meio que suspeitando de nós ainda. Eu não sabia o que ela iria falar, nem imaginava o quê ela diria. Então resolvi apenas dar a desculpa que eu precisava trocar-me e que tinha que ligar para a minha mãe ainda. Assim que disse isso, disparei escada acima, procurando pelas benditas roupas que eu usava ontem e que provocaram todo esse assédio.

Achei-as e vesti-as; mesmo sabendo que, se o Justin continuasse desse jeito, elas estimulariam ele a continuar com as carícias mais... Ousadas.

Hesitante, desci as escadas com os saltos nas mãos. Mesmo sabendo que era errado, eu queria ouvir a conversa que eles estavam tendo assim que eu deixei o local. Encostei-me ao lado da parede, onde dava-se para escutar cada respiração deles, inclusive.

– Mas, mãe, eu juro que eu não estou forçando ela a nada. - Justin revidou à pergunta da Pattie, a qual eu não havia escutado.

– Jus, você sabe que, como mãe, eu te conheço mais do que ninguém. Essa menina não te merece, Justin. Sei também que você, como meu filho, vai "pegar geral", como vocês dizem, assim que se mudar para os Estados Unidos. - A voz de Pattie era um tanto irônica, assim como eu podia presentir que ela dizia isso revirando os olhos.

As minhas pernas bambearam diante de tal afirmação. Eu não havia parado para refletir direito sobre isso. Além da distância, o Justin não seria fiel a mim; se, nem quando eu estava próxima a ele, ele havia sido.

Meus olhos inundaram-se, com um marejo mais forte do que o normal. Segurei as lágrimas nos meus olhos, esperando pela resposta que estava por vir. Porém apenas escutei o silêncio manifestando-se, o que deixou-me mais nervosa ainda. Ele não havia revidado, se quer com a maldita desculpa que ele sempre dava: "eu te amo". Nem isso ele havia prestado-se a dizer.

Resolvi sair logo daquele lugar. Eu não iria contar para ele que havia escutado a conversa e, muito menos, procuraria respostas. Eu apenas ficaria na minha, sem tocar naquele assunto. Aliás, eu fingiria que nada havia acontecido. Eu não queria discutir, brigar ou, principalmente, mostrar o quão frágil eu era. Não mais.

Sai da casa dele e, depois, alegaria que iria perder o ônibus. Mas este ainda demoraria uns quinze minutos para chegar. Dane-se, pensei, dando de ombros. Eu só precisava distrair os meus pensamentos da ideia dele com outras garotas enquanto eu, provavelmente, estaria lamuriando a perda dele.

O Justin não deve ter notado a minha ausência na casa dele, pois não havia vindo atrás de mim. Mesmo com aquelas vestes um pouco ousadas, acabei por ir a pé mesmo. Eu não tinha dinheiro para um mísero ônibus... Claro que o Justin trocaria-me por uma outra estado-unidense mais rica do que eu. Mesmo eu tendo vindo de Nova York, não era sinônimo de rica.

Caminhando, ainda com os olhos marejados, nem dei-me conta quando um garoto começou a seguir-me. Após ter andado duas quadras, notei que ele continuava atrás de mim, então suspeitei.

Começei a caminhar mais rápido; porém a minha casa, mesmo sendo uma cidade pequena, era longe da do Justin. Acabei por ver o Hotel do Oliver há uma quadra de distância e decidi que passaria ali. Ele, provavelmente, logo voltaria para os Estados Unidos, então teria que despedir-me. Mesmo eu tendo combinado de fazer isso com o Justin, eu tinha que parar.

Não apenas por causa do homem seguindo-me, mas também por causa dos meus pés que reclamavam daquele maldito salto alto.

Logo cheguei no Hotel e entrei, sem hesitar. A recepcionista fitou-me com uma cara arrogante, porém não importei-me. Eu tinha coisas muito mais importantes para preocupar-me agora.

– Olá, você poderia ligar para o quarto de Oliver Lewis, por favor? - Perguntei. Ri baixinho de um pensamento que eu tive: como, sempre, Oliver salvava-me dos perigos das ruas.

A moça, sem dizer nada, pegou o telefone e discou alguns números. Pediu para que eu aguardasse em um dos sofás da recepção e assim eu o fiz. Logo, o Olly desceu e encontrou-me, corando.

– Melly, se você ficou brava comigo por causa do beijo, me desculpa. Eu estava cego de amores por você e não me dei conta no quanto aquilo podia te prejudicar. - Oliver disse, rapidamente, procurando por fôlego assim que concluiu.

Não respondi às suas afirmações, apenas levantei e abraçei-o em meio aos diversos olhares dos funcionários. Acho que eles haviam notado que eu não dormira em casa, porém eu não tinha por quê preocupar-me com os outros.

Chorei com a cabeça apoiada em seu ombro, enquanto os seus braços fortes puxavam-me contra ele. Eu queria desabafar com alguém de confiança, como Oliver, sobre o meu relacionamento. Eu apenas queria poder amar alguém tão incrível como o Justin, mas que, ao mesmo tempo, fosse mais fiel. Isso era pedir muito? Não deveria ser tão difícil, mas então o amor entra em cena, complicando as nossas ações.

– Mel, se acalma. Não chora. Mas me diz, o que aquela criatura fez dessa vez? Você não pode continuar se comportando como o capacho dele, fazendo o que ele bem quiser. - Oliver murmurou irritado, afegando os meus cabelos.

Tentando fazer o choro parar, murmurei algumas palavras desconexas; porém, por fim, desisti. Não adiantava dizer nada mesmo, pois eu não iria mudar. Eu sempre permaneceria sendo a idiota que apaixonou-se por um garoto que abandonaria-a. O pior: eu não podia sofrer na frente dele, caso contrário, a nossa relação podia acabar.

Mas, por causa do estúpido amor que corria pelas minhas veias, eu não queria que isso acontecesse. Não antes que o tempo corrompesse-nos.

Oliver, preocupado com o meu estado, decidiu que ele tinha que repousar. Assim levou-me para o seu quarto, a fim de que eu deitasse um pouco e descansasse. Ele disse que eu deveria parar de chorar por aqueles que não merecem ver eu derramar uma simples e preciosa lágrima. Isso fez-me esboçar um sorriso, que logo desfez-se.

Ele abriu a porta do seu quarto, que era a suíte presindencial do Hotel - o quarto mais chique de todos. Ele disse que eu podia sentar aonde eu quisesse, que ele já voltava. O vi entrar no banheiro e sentei-me sobre a cama dele, já que parecia ser o lugar mais confortável.

Dispersei-me da Terra, procurando algum assunto que não incluisse os três nomes que eu mais odiava amar naquele planeta: Justin Drew Bieber.

Oliver logo voltou, com algo diferente comparado à antes. Porém eu não soube dizer o quê, já que eu estava tão dispersa.

– Melly, tem alguma coisa que eu possa fazer por você? - Ele perguntou, tocando delicadamente o meu rosto, enquanto sentava-se ao meu lado na cama.

Movendo as mãos lentamente, de tão inconformada, não respondi. Eu fitava as minhas mãos, enquanto o seu dedo tentava mover a minha cabeça.

– Olly, por favor, eu não quero falar sobre ele. - Pedi, sabendo o quanto isso magoaria-me.

– Tudo bem então. Não quer nem saber como está tudo lá em Nova York? - Ele murmurou, procurando distrair-me. Assenti com a cabeça e, então, ele começou a tagarelar novamente.

Eu não prestava muita atenção, mas esforçava-me para prestar. Não queria deixar a minha mente viajar pelo Canadá, mas sim pela minha antiga casa: os Estados Unidos.

Não notei muito os gestos que ele fazia, porém eram diversos. Ele parecia estar um pouco nervoso, ou talvez hesitante. Não parei para pensar nisso na hora, apenas tratei de ouvir uma coisa que ele dissera:

– Se lembra do Paul? Era aquele menino que você gostava. - Ele murmurou, e eu assenti em resposta. Eu, praticamente, não havia aberto a boca. - Então, depois que eu mostrei uma foto sua e minha na piscina lá de casa, ele espalhou para todo o colégio que estava apaixonado por você. Olha que ele é super popular, e eu nunca espararia por uma declaração pública. Mas parece que você e o seu corpo conquistaram ele. - Irônico, Oliver concluiu.

Dei de ombros. Aquilo não afetava-me nem um pouco. Mesmo eu tendo saído de Nova York, justamente para vir para o Canadá, e o Justin viajando do Canadá para os Estados Unidos, para Georgia, eu não voltaria para a minha cidade natal. Aqui eu havia descoberto a minha verdadeira origem.

– O Paul é um otário. Só porque joga no time principal da liga de futebol, pensa que qualquer guria dá trela para ele. - Murmurei, com uma face impassiva.

– Nossa! Aonde é que está aquela Melissa McCartney que morria de amores pelo Paul? - Ele perguntou, irônico.

– Como você disse, ela morreu. Agora ela só está cega de amores, porém ainda não está morta. - Murmurei, semicerrando os olhos ao sentir o meu coração apertar-se.

– Mel, você nunca, sequer, deixou eu te fazer feliz. Eu te conheço desde pequena e sei o que é melhor para você. - Oliver murmurou repentinamente, surpreendendo-me com o seu toque gélido em minha face. Ele tentou virar o meu rosto de encontro ao seu, porém o freiei.

– Nunca poderá existir um 'nós', Olly. Eu só consigo me ver com uma pessoa.

Minha cabeça estava baixa, encostando o queixo sobre o meu peito, enquanto algumas lágrimas ameaçavam cair.

– Você está louca, isso sim! Nunca vi alguém ser tão doente por outro alguém! - Oliver murmurou, irritado. Não deixei que aquilo afetasse-me, apenas peguei a sua mão e levantei-o.

– Eu vou te mostrar o que é alguém doente de amor. - Murmurei, puxando-o até a porta do quarto. Pedi para ele pegar a chave do carro e, dessa vez, eu dirigiria, já preparando-me para a prova para tirar carteira de motorista. Na verdade, eu só não queria que Oliver visse aonde estávamos indo.

Claro que ele negou, ainda bravo comigo, porém roubei a sua chave, antes que ele dissesse qualquer outra coisa. Chegamos na garagem do Hotel, dispensando o choffer que havia oferecido-se para pegar o carro.

Entramos rapidamente, enquanto eu lembrava as cordenadas que a minha mãe havia dado-me certa vez. Coloquei o cinto, girei a chave na direção e ouvi o barulho do motor soar. Sorri, parecendo alguma obcecada ou algo do gênero.

Acelerei o carro, sentindo certa liberdade ao fazê-lo. Logo saímos do Hotel, em torno dos quarenta quilômetros por hora. É, eu tinha medo de correr muito, ainda mais dentro de um local privado, onde poderia ter pedestres.

– Aonde estamos indo, Mel? - Ele perguntou, com certo tremor na voz.

– Vou te mostrar uma pessoa doente de amor. - Respondi, despreocupada.

– Troque para a segunda marcha agora. - Ele murmurou, auxiliando-me.

Como eu sabia que era um pouco longe a única clínica de reabilitação de Stratford, demoramos um pouco até chegar lá. Quando nos aproximamos do prédio branco, não pude evitar de destrair-me com a imensa construção que havia lá. Quase desviei da estrada, porém Oliver gritou para eu voltar. Agradeci com um sorriso amarelo, enquanto estacionava.

– Aqui tem uma pessoa doente de amor? Não! Aqui só tem loucos mesmo! - Oliver murmurou, franzindo o nariz, em sinal de nojo.

– O lugar de onde menos se espera, é a chave para aquilo que procuramos. - Ditei, num murmúrio, lembrando um velho ditado que a minha bisavó, já falecida, dizia para mim.

Adentramos naquele local totalmentre claro, que usava cores deprimentes e não vívidas. Vimos uma moça, na recepção, que parecia um pouco assustada. Reparei, a seguir, que suas mãos estavam atadas, assim como as de Justin estavam algemadas certa vez.

Aquele lugar não era nada atraente, mas eu estava lá por um motivo: Kate. O meu celular, antes que pudéssemos nos identificar, vibrou no meu bolso. Então pedi para o Oliver perguntar sobre a Katheryn, enquanto eu fosse atendê-lo.

Dessa vez, diferente das outras, verifiquei o número que chamava. Eu não conhecia-o, então resolvi atender. Esperava eu que não fosse trote, porque odeio-os.

– Alô. - Perguntei com a voz meio rouca de frio, pois a sala possuía um ar condicionado; e, em Stratford, sempre era um pouco frio.

– Oi, Melissa. Graças a Deus você apareceu! O Justin estava preocupado a sua procura. - Uma voz feminina pronunciou na outra linha. Pus um dedo sobre um ouvido, para poder ouvir melhor.

– Afinal, quem é? - Perguntei.

– A vizinha do Justin, Lydia. Prazer, acho que não nos conhecemos ainda. Desculpa, vou passar para o Justin que está do meu lado. - Ela pronunciou, sem deixar eu nem perguntar nada.

De soslaio, vi Oliver encarando-me curioso, pela minha expressão confusa.

– Oi, amor. Onde você se meteu? Fiquei tão preocupado com você, que... - O interrompi.

– Preocupado comigo e foi falar com a vizinha? - Demonstrei o meu ciúmes, algo que eu odiava fazer.

– Eu só fui perguntar para ela se você tinha passado por aqui; e adivinha! Ela te viu caminhando por aqui hoje, mais cedo. Onde você está? - Ele perguntou, parecendo um pouco nervoso.

– Na clínica da Kate. - Respondi simplesmente, desligando o aparelho em seguida.

Suspirei. Do jeito que eu conhecia-o, eu sabia da discussão que teríamos, mas eu não queria continuar com isso. Eu não queria perder tempo. Por isso, eu não iria perguntar pela tal vizinha. Se ele quisesse me explicar, tudo bem. Aliás, maravilhoso. Assim eu poderia confiar, fielmente, nele.

– A paciente que vocês estão procurando por, está em ótimas condições, de acordo com os nossos especialistas. Por isso levaremos vocês a uma sala que não haverá proteção, porém ela estará imponente. - A secretária informou, indicando o caminho com o dedo indicador.

– Quem era no telefone? - Oliver sussurrou, caminhando atrás de mim e murmurando ao pé da minha orelha, enquanto caminhávamos até a sala, que era um pouco isolada.

– A Lydia. - Murmurei simplesmente, sem expressões à amostra.

Finalmente, chegamos naquele lugar. A moça nos informou que teríamos apenas trinta minutos de visita e que, qualquer coisa, era só apertar o botão que estaria em cima de uma mesa.

Assim que ela abriu a porta da sala, não pude conter as lágrimas que caíram repetitivamente dos meus olhos, além de serem em abudância.

Kate, com uma camisa de força, tinha a cabeça abaixada, assim como os seus cabelos escuros e bagunçados não deixavam que eu enxergasse a beleza do seu rosto. Sua pálida e triste face transparencia toda e total infelicidade que ela poderia estar sentindo. A roupa branca contrastava com o tom negro das suas madeixas, porém o contraste preto e branco apenas entristeceu-me ainda mais. O pior era que tudo aquilo era minha culpa.

Não quis saber de preucações e corri de encontro à Kate. Abraçei-a fortemente, enquanto ela, com os braços imóveis pela faixa que continha na frente do seu peito, impediu-a de corresponder - isso caso ela quisesse. Não era por nada que ela estava ali.

Senti algo úmido cair sobre o meu olho: era o seu choro. Isso apenas me fez aumentar o ritmo das lágrimas que caiam freneticamente dos meus olhos. Os fechei e respirei profundamente. Eu sabia que sentiria muita culpa ao estar ali, porém eu não sentia apenas aquilo naquele certo momento. A compaixão também estava presente, além de eu perceber o quanto eu adorava aquela pessoa. Lembrei do meu primeiro dia de aula, onde ela havia sofrido tanto por causa de quem ela amava. Eu sabia como era aquela dor e, por isso mesmo, não podia simplesmente abandoná-la nesses momentos difíceis.

Ambas chorávamos, porém o choro dela era mais silencioso, como se ela sofresse em silêncio. Deveria ser horrível ficar sozinha, sem ver ninguém, por dias a fio. Pensar, pensar e apenas pensar, enquanto mirava uma parede branca. Ninguém merecia tal crueldade, porque ninguém pedira para nascer com tal problema ou desenvolvê-lo depois.

Ficamos ali, abraçadas e chorando, sentindo a dor uma da outra, em silêncio. Depois de algum tempo, Oliver resolveu adentrar ainda mais no cômodo e resolvera falar:

– Então... O que exatamente vocês fazem aqui? Jogam xadrez e baralho? - Ele sabia ser insensível quando queria.

Kate não respondeu, apenas se afastou, limpando as lágrimas que restavam nos seus olhos. Sentou-se na cadeira, fitando os pés, sem nos encarar.

– Desculpa. - Ela murmurou, com a voz fraca devido ao choro e devido a inutilidade dela ultimamente. Eu queria abraçá-la novamente, porque, durante aquele gesto, eu havia sentindo as suas verdadeiras intenções - paz. Porém ela parecia estar muito envergonhada para fazê-lo.

– Desculpas aceitas. Não importa o que você fez para mim, porque não foi você que agiu na hora; você apenas ouviu o seu coração. Eu sei como é amar alguém compulsivamente, então não precisa se desculpar. Todas nós somos bobas de nos apaixonarmos. - Eu disse, calmamente, limpando as minhas lágrimas e dando um belo sorriso em seguida, esperando que ela se reconfortasse.

– O que aquela biba tem que eu não tenho? - Oliver quase gritou ao abrir os braços e fitar o teto branco, como se estivesse em busa do céu e procurasse a resposta com Deus.

– Ignore ele. - Murmurei, sorrindo. O meu sorriso era singelo, como se dissesse para ela que eu sempre estaria ali, apoiando-a. Eu não queria que ela se sentisse culpada... Jamais.

– Mas... Melissa, você não ficou braba que eu transei com o Justin em meio ao colégio justamente quando vocês davam um tempo? - De soslaio, percebi a boca de Oliver se entreabrir de surpresa. Talvez ele ainda não soubesse de todos os detalhes.

– Kate, amizade não é algo que acontece a primeira vista. Se conquista. E você conquistou a minha; e, por isso, eu sempre apoiarei você. Nesse momento, você está me vendo triste? Eu e o Justin já nos entendemos, e agora não há porquê discutirmos. Eu espero... Mas, nesse momento, você está precisando de ajuda, apoio, suporte. Eu estou aqui para isso e espero, do fundo do coração, que você melhore.

Nós conversamos apenas por mais alguns minutos, antes de uma senhora entrar na sala e dizer que o tempo tinha acabado. Eu nem havia visto tempo passar com tantos sentimentos que senti. Procurei distrair a Kate, depois daquele assunto melancólio. Por isso, logo procurei o assunto da sua família, cuja ela sentia muita falta. Percebi que não havia sido o melhor assunto, visto que os pais dela não haviam visitado-na de vergonha por ter uma filha como ela., num manicônio.

Saímos de lá em silêncio, visto que o Oliver não dera o 'prazer' de abrir aquela matraca mais uma vez. Enquanto entrávamos no carro, que Oliver implorou para dirigir (o que eu entendi que fora um insulto), avistei o carro da Pattie entrando no estacionamento. Resolvi que seria melhor ir com ele, se não poderia surgir mais uma discussão - já que éramos tão ciumentos.

Saí do carro, fitando os meus pés, enquanto caminhava em direção à porta da clínica, já que o Justin estava estacionando ali. Eu apenas fitava os meus pés porquê o sol estava batendo nos meus olhos, o que os irritava.

Porém me assustei, assim que um motoqueiro passou próximo a mim e freiou. Assustada, não reagi; até porque ele não faria nada em um local público. Então ele retirou o capacete, mostrando a sua pele branca e as suas madeixas negras. Os seus olhos eram de um lindo tom azul, e ele não aparentava ser mais velho. Era um menino com mais ou menos dezesseis anos, só que tinha um físico de dezoito. Deveria ser de alguma liga de futebol.

– Oi, gatinha. - Ele murmurou, com uma voz suave e, ao mesmo tempo, confortadora.

Não respondi, apenas dei a volta na moto que estava na minha frente e andei em direção ao carro do Justin. Ninguém merecia cantada naquela hora da manhã.

– Ei, volta aqui. Ninguém me deixa falando sozinho! Volta aqui! - Ele começou gritado e, como um adolescente revoltado, jogou o seu capacete no chão. Deduzi pelo barulho, porém não parei para olhar. Talvez fosse a minha roupa que havia chamado a atenção dele, já que eu não me considerava bonita.

Entrei no carro, sem fitá-lo. Eu sabia que ele estaria me encarando com uma face que expressasse raiva, ao mesmo tempo que não diria nada. Então resolvi que não falaria nada, nem olharia-o. Fechei os olhos, escorando-me no banco de carona. Assim, repentinamente e surpreendentemente, senti uma boca encontrar a minha, ferozmente. Sua língua tentava, a qualquer custo, encontrar a minha; mas eu não cederia. Eu não era uma daquelas vadias que ele estava acostumado a transar no carro. Se é que ele fazia isso.

– Pára, Justin. - Murmurei, afastando-o com os braços.

– É só pra você não esquecer que tem dono. - Ele disse, possessivamente.

Não respondi a sua grosseria, mas nós éramos assim quando sentíamos inveja: cabeças-duras. Nós dois éramos tão parecidos em alguns aspectos... Mas eram os piores aspectos possíveis.

– Então, por que você saiu lá de casa? - Ele perguntou; e, mesmo eu não encarando-o, percebi que a sua mão apertou o volante mais fortemente.

– Porque eu queria vir visitar a Kate. - Menti, tentando parecer desinteressada.

– E por que você não pôde me esperar e já foi saindo com o Olly? - Ele perguntou com raiva e ironia ao pronunciar o nome do meu amigo.

– Simplesmente porquê a Kate ficaria mal se nos visse juntos. Mesmo eu tendo dito para ela que voltamos, seria diferente a imagem disso na mente dela. - Murmurei a verdade, mesmo que eu apenas tivesse pensado sobre aquilo naquele momento.

Ele não respondeu a minha resposta, talvez procurando um meio de retrucar. No final, ele apenas suspirou e me fitou, perguntando:

– Aonde você quer ir?

– Para casa, tomar um banho. Às vezes, é bom; não é? - Perguntei, rindo.

A minha casa não era muito longe da clínica de reabilitação, então chegamos logo ali. Eu estava com um sorriso no rosto, enquanto relembrava a conversa que tive com a Kate. Ela não parecia estar com raiva de mim, por causa do meu namoro com o Justin. Ela até havia se desculpado, e eu não podia estar mais contente.

– Como o seu sorriso pode ser tão lindo? - Justin perguntou, talvez para si mesmo, mas não pude deixar de corar. Vi ele sorrindo enquanto olhava para mim e resolvi sair logo do carro, porque aquele namoro já estava se tornando bipolar.

– E como eu posso ter um namorado tão bipolar? É, são duas perguntas sem resposta. Tchau, agora eu preciso ir. - Murmurei sorrindo, dando um selinho nele e já abrindo a porta.

– Ei, volta aqui. Eu mereço um beijo de verdade pra matar a verdade. - Ele murmurou, falando como um bebê e fazendo um beiço.

Eu sorri mais uma vez, deixando o cabelo cair sobre o mesmo rosto. Aproximei o próprio do rosto dele, e ele retirou as minhas madeixas da minha face. Olhando profundamente nos meus olhos, eu não esperava que ele dissesse:

– Nunca esqueça que eu te amo.

O seu tom fora tão sério que me preocupou, porém logo esqueci, já que a sua boca encontrou a minha. Num beijo tão delicado como eu nunca havia sentido, nos despedimos. Não pude deixar de comemorar internamente devido a normalidade que ele havia dito que me amava. Antes era tão difícil, porque ele ainda se sentia culpado por ter visto as duas únicas pessoas que ele amava brigarem 'por sua culpa'. Mas eu não achava que o pai do Justin, o tal de Jeremy, era muito inocente em toda essa história. Porém a Pattie havia sofrido muito já, e eu desejava apenas o melhor para ela.

– Eu também te amo! Para sempre! - Exclamei sorrindo, dando um selinho de leve e saindo do carro.

Dessa vez, ele não me impediu; e, logo, entrei em casa. Eu teria que explicar para a minha mãe o ocorrido, mesmo sabendo que não seria fácil. Ela já havia aceitado que o meu pai repentinamente voltasse para as nossas vidas, porém, do jeito protetor que a dona Mellany era, não perdoaria eu ter dormido em casa.

Assim que contei a ela, foram muitas discussões que vieram. Mesmo eu alegando que dormi na casa do meu namorado e não aconteceu nada, ela não acreditava em mim. Apenas não narro todos os seus argumentos, porque o horário é inapropriado para tal. Foi desde "Você é muito pequena para fazer essas coisas" até "Lembro-me daquela vez, quando você era criança, que...". Então eu simplesmente bloqueiei os meus ouvidos.

Minha mãe sempre fora a melhor, a mais divertida e liberal. Porém a minha idade às vezes fazia-a recear-se ao pensar que eu faria coisas inapropriadas, como na história das drogas. Ela queria apenas o meu bem-estar, e eu a entedia; porém ela podia me escutar dessa vez.

Depois de um tempo de um discurso que parecia inacabável, falei que estava com fome. Fui pegar uma laranja no cesto de frutas que havia na cozinha; quando o telefone tocou.

– Alô?! - Falei, em seguida mastigando um pedaço da fruta.

– Oi, quem é? - Alguém perguntou.

– Oras, não foi você quem ligou? Então deveria saber. - Murmurei, indiferente.

– Nossa, o Justin tem razão. É melhor não te mostrarmos para a imprensa. - Tal pessoa disse.

– Hã? - Foi tudo que consegui murmurar, antes da voz masculina desligar o telefone.

O Justin? O que ele havia aprontado dessa vez? E como assim 'imprensa'? Eu realmente não havia entendido sobre o que se tratava, mas resolvi relevar tal conclusão tão absurda que eu chegara. Tão absurda que preferi nem documentá-la.

Resolvi tomar um banho relaxante, com sais mineirais espalhados pela banheira da minha mãe. Não era sempre que eu tinha o direito de usar a sua banheira, porém ela dissera que tinha que sair para algum compromisso social que não iria demorar muito. Eu desconfiei desse "compromisso social" dela, já que as suas atitudes andavam mudando ultimamente.

Ela já não chorava mais às noites. Não que eu tivesse notado isso, já que eu ainda não havia dormido em casa desda minha volta do hospital. Porém eu havia percebido que a sua maquiagem estava mais caprichada e não havia tantas olheras abaixo dos seus olhos; e eles não estavam mais vermelhos como costumavam. Além do mais, mesmo com toda a discussão, pude notar que a sua face estava mais rejuvenescida, e o seu ânimo inabalável.

Eu sentia isso quando estava com uma certa pessoa, então apenas poderia ser o amor. Será que a minha mãe estaria finalmente se acertando? Se não fosse um canalha, eu estaria contente por ela, de qualquer jeito.

Deitei na banheira coberta por sais e senti, automaticamente, os meus músculos relaxarem. Era tão boa a sensação que, ali, perdida em pensamentos, perdi a noção do tempo. Cheguei a fechar os olhos apenas "ouvindo" o silêncio e absorvendo-o; entretanto, como sempre, algo tinha que interromper os meus pensamentos. Peguei o telefone sobre a mesa, imaginando que fosse o Justin querendo ver se a minha mãe não tinha brigado muito comigo, ou algo assim. E fora bem o que acontece.

– Não, Justin, ela não me agrediu fisicamente. - Respondi, revirando os olhos, enquanto movimentava a espuma com a outra mão, a que não segurava o aparelho celular.

– Mas, amor, você não ficou chateada de ter brigado com ela? Porque eu sei como você é apegada a ela e... - O interrompi, mesmo que eu quisesse escutar aquela voz rouca mais vezes.

– Não, Jus. Para de tanta frescura. Eu não briguei com a minha mãe, apenas discutimos. E isso não foi por sua culpa, foi apenas minha culpa, que não aceitei a carona do meu pai. Aliás, por minha causa, você brigou com a Pattie hoje, ainda mais cedo. Então você não pode dizer nada sobre mim! - Murmurei convencida, colocando sobre a mão um pouco de espuma e assoprando-a, como uma pequena criança feliz.

– Tudo bem, namorada convencida. Você ganhou dessa vez. Fiquei sem argumentos agora... Mas quer ir comigo no parque mais tarde? Eu acabei de ter essa ideia meio incoerente, mas seria um passeio romântico para se fazer... Não é? Desculpa, é que eu sou novato nesse assunto de namorar. - Ele murmurou envergonhado. Eu podia até imaginá-lo corando. Se bem que eu sabia que, mesmo envergonhado, por nada nesse mundo ele demonstrava a sua vergonha.

– Sim, o pegador ainda não está acostumado a ser apenas de uma menina só. - Murmurei, um pouco possessiva, mas mostrando senso de humor. Mesmo que eu estivesse, internamente, receosa dele não se acostumar a isso.

– Ok, então eu te pego em casa daqui à duas horas. Beijos, shawty.

Em seguida, ele desligou; fazendo com que eu fizesse o mesmo. Antes que a minha pele murchasse, resolvi sair da banheira e me arrumar logo. Tratei de ficar bem arrumada e muito cherosa, porém cuidando para não ficar vulgar. Eu queria mostrar que eu poderia ser a garota imperfeita, que podia ser perfeita. Um pouco confuso, entendo; porém eu queria mostrar para o Justin que ele não tinha do que se arrepender de me namorar.

Coloquei um vestido leve, mas muito bonito. Possuía um decote simples e era decotado, além de aparentar ser de jeans, porém era rosa. Também havia um laço no decote. Para combinar, pus uma rasteirinha branca simples, para não ficar nada exagerado.* (Link da roupa nas notas lá em cima)

Escovei os dentes, pentiei os cabelos e não pude deixar de fitar o relógio. Já se passava das seis horas, a hora que eu havia combinado com o Justin. Desci as escadas e esperei, até que a campainha tocou. Atendi-a com um sorriso exposto no rosto, acabando por me surpreender com flores trazidas por ele.

Envergonhado pelo tamanho do meu sorriso surpreso, ele lançou o seu cabelo para trás, me fitando sem jeito. Por fim, resolvi falar para ele entrar; e, em resposta, ele disse:

– Achei que eu deveria trazer algo para a minha namorada. Achei que seria romântico. - Em resposta, dei um selinho nele, sorrindo.

– E conseguiu o que você estava querendo.

Ele me puxou contra o seu corpo, rapidamente. Com um sorriso matreiro, ele não pode deixar de sorrir de lado, me fazendo repensar se ele era realmente real. Sua boca fogosa se aproximou da minha, porém não a tocou.

– Não, agora sim eu consegui o que eu queria: te deixar querendo um beijo meu. - Ele murmurou, rindo e se desaproximando de mim. Aproveitou para caminhar em direção ao seu carro, abrindo a porta do banco de carona.

– Primeiro as damas. - Cavalheiramente, murmurou.

Sorri, enquanto entrava no carro, sem falar nada a minha mãe. Ela não parecia estar muito à vontade com o meu namoro naquelas circunstâncias, mas eu não ia brigar com ela por causa de um motivo tão infantil.

Assim que ele começou a dirigir, o fitei. Eu não sabia explicar os diversos sentimentos que eu sentia naquele momento. Ele me fazia esquecer as coisas, como se a minha preocupação com a Kate e com os problemas da minha mãe sumissem. O seu cabelo estava sempre penteado, assim como as suas roupas - que não eram de marca nem nada, por causa do dinheiro - sempre combinavam. Ele tinha apenas um tênis, então resolvi perguntar:

– Jus, no seu guarda roupa, o que você gostaria de ter em outros modelos? - Eu deduzira uma certa paixão por tênis, mas não sabia se era verdade.

– Por mim, eu teria mais de vinte tênis diferentes. Eu acho eles, simplesmente, incríveis. - Ele murmurou, me fazendo sorrir em resposta.

Me recostei no assento e apreciei a vista, enquanto ele dirigia até o parque. Eu adorava o verde que havia lá, mesmo estando no outono. Logo, seria inverno; e eu, finalmente, veria o Canadá sobre neve. As nossas estações eram as mesmas dos Estados Unidos e de todo o norte apartir da linha do Equador. Em Dezembro, Janeiro e Fevereiro era inverno e em Junho, Julho e Agosto verão. Eu adorava as férias de verão... Mas isso não vem ao caso agora.

Até porquê havíamos chegado no parque que o Justin dissera. Pela minha mãe ser muito ocupado, nós não havíamos ainda feito um "tour turístico" por Stratford. Acho que o Justin dava conta do recado.

– Chegamos, senhorita McCartney. - Disse, rindo baixinho.

Fiquei encantada com as árvores de tons amarelos e vermelhos, além do céu que, já que começava a escurescer às seis e meia da noite, estava de um cintilante azul. Não possuia muitas nuvens no céu, o que significava que, naquela noite, veríamos estrelas.

Notei que o Justin colocara uma toalha para podermos sentarmos em cima, logo embaixo de uma árvore para podermos nos apoiar no tronco. Sorri para ele, mesmo ainda estando parada ao lado do carro, enquanto ele estava em um canto do parque. É, acho que apreciei até demais a vista.

Caminhei até ele, porém algo tinha que estragar o meu "desfile" até ele. Uma rajada de vento passou rapidamente, levantando o meu vestido. Não pude deixar de corar que nem um pimentão, ao mesmo tempo que eu tentava segurá-lo. A sua saia leve havia levantado totalmente praticamente, e eu não pude deixar de me almadiçoar mentalmente por ter escolhido aquela roupa. O Justin ria da minha cara e chegou a caminhar até mim. Puxando-me pela cintura ao estar bem próximo de mim, o seu sorriso era gigantesco.

– Eu gostei da vista. - Disse safadamente.

Dei um tapa de brincadeira no seu ombro, porém ele limitou-se a rir.

– Sua fraca. - Murmurou convencido. Como vingança, levei a minha cabeça para trás, recusando o seu beijo.

– Agora sou eu quem te deixarei com vontade dos meus beijos. - Dessa vez, eu era a convencida. Eu adorava me vingar, principalmente quando era de brincadeira.

Ele choramingou baixinho, enquanto eu corria para longe dele. Agora ele teria que me capturar. Vi ele vindo atrás de mim, em alta velocidade. Apertei o passo, mas isso não foi suficiente. Logo os seus braços me cercaram; e, com o impacto, caímos juntos sobre a grama verde do parque.

Começei a rir histericamente, me divertindo com a cena de dele sem fôlego transpirando no meu pescoço, enquanto parecíamos dois retardados deitados no meio do bosque. Eu ria como uma hiena, enquanto ele sofria como um alejado. Bela dupla de country.

Repentinamente, - mesmo que seja previsivamente, - seu corpo ficou sobre o meu, selando os nossos lábios e ele realizando o que ele queria: um beijo meu. Claro, eu não podia negar que estava mais do que realizada sentindo os seus mais intensos desejos através daquele beijo, porém não pude deixar de sentir o seu volume entre as pernas. Sendo que estávamos em um local público!

Eu já tinha vergonha de beijar em um local público, então imagina rolar igual a dois animais no cio? Sem condições.

Sem demonstrar a minha vergonha, - ou, pelo menos, tentando fazer isso, - encerrei o beijo, tentando afastá-lo delicamente, como se eu ainda estivesse despreparada. E eu estava.

– Tudo bem, tudo bem. Eu estou apresando as coisas, acertei? Mas eu vou te esperar, Mel. Por você, eu esperaria a reencarnação para tê-la ao meu lado novamente. - Justin disse, me encabulando mais ainda.

– Então você acredita mesmo nisso de reencarnação? - Perguntei cética, querendo distraí-lo daquele assunto.

– Não, porque a minha religião não permite. - Falou francamente.

Murmurou um sonoro "Ah", trazendo o bendito silêncio que me perseguia à tona. Eu havia deitado ao seu lado, enquanto ambos fitávamos as estrelas que tinham no céu, já que a noite havia se estabelicido em plena seis e meia da "noite". Não pude crer como as estrelas eram tão linda, já que em Nova York mal dáva-se para enxergá-las. Verbalizei o meu pensamento, com outras palavras:

– Nunca pensei que estrelas fossem tão bonitas e se estabelecessem tão próximas a nós.

– É verdade que elas são bonitas, mas elas permanecem longe de nós. Apenas por causa da poluição que você tem essa impressão. - Ele sussurou, fitando a lua que nos encarava também.

Era noite de lua cheia, e esta irradiava brilhantemente no céu. Era uma vista tão bonita, que eu não pude acreditar no que via. A lua parecia iluminar a noite estrelada, sendo assim, como o Sol, que ilumina o dia. Porém o ar noturno no parque dava uma sensação refrescante no ambiente, o que apenas aumentava o clima romântico. Aposto que, se eu fosse qualquer uma, o Justin já estaria pensando que se daria bem naquela noite.

Suspirei. Eu sempre pensava no passado, mesmo querendo viver o presente e pensar apenas no futuro. Era um tanto inoportúnio que eu não tivera estado no Canadá anteriormente, já que assim ele não teria um passado tão... Tão comprometedor. Às vezes é difícil acharmos as palavras em que estamos em busca.

Entretanto, eu não podia evitar tudo aquilo. Se era para ser, foi.

– Em que você está pensando, meu amor? - Justin perguntou, ambos ainda fitando o céu.

– No futuro. - Respondi simplesmente. Não era mentira; já que, a todo momento, a minha mente fazia a infelicidade de me lembrar que um dia, muito breve, ele iria viajar. E eu nem sabia se ele iria voltar.

– Ah. - Fora a interjeição que saíra de sua boca, já que ele se limitara a falar apenas isso.

Acabei por lembrar a estranha ligação que eu recebera, onde citaram o nome do Justin e disseram algo sobre a emprensa. Talvez fosse melhor perguntar, já que eu era muito curiosa.

– Sabe, Jus... Eu recebi uma ligação muito estranha essa tarde. - Percebi ele engolir secamente. Não comentei nada, apenas continuei. - Havia um homem na outra linha, e disse que eu seria um problema para emprensa... Depois ele disse que você tinha dito isso.

Do jeito que eu havia falado, tudo havia se encaixado. Emprensa só podia ser ligada à fama, a o que ele conquistaria. O seu silêncio apenas contribuiu a minha desconfiança.

– Er... - Fora a única palavra (se é que podemos chamar de palavra) que ele pronunciara. A sua vergonha parecia ser tamanha, porém eu deveria estar envergonhada. Eu dera motivos para ele ter vergonha de mim. Quais eram eu não sei.

Eu não queria me abalar com aquilo, uma coisa tão... Sem propósito, inútil. Porém querer não é poder, por isso não pude evitar de sentir um pouco de nojo de mim mesma. Nós permanecíamos deitados até aquele estante, quando eu leventei e me sentei na grama, abraçando as minhas pernas. Não murmurei nada, nem ele.

Eu odiava quando nós não falávamos nada, o silêncio se estabelecia, e os meus sentimentos se atordoavam à medida que isso acontecia. Não era confortável o sentimento de repugnação pelo seu próprio namorado. Sim, eu estava praticamente com nojo dele, por ele ter vergonha de mim.

– Mel, eu sei o que você deve estar pensando, mas... - Ele tentou falar, mas o interrompi, mesmo que o meu tom de voz ainda não estivesse alterado.

– Não, Justin. Esse é o problema. Você nunca sabe o que eu estou pensando, você mal me conhece. Se me conhecesse, saberia que nunca poderia ter sentido vergonha de mim. Isso foi como um tapa na cara! Daqueles que tem direito a uma caída de bunda no chão devido à força. - Desabafei, encostando o rosto sobre os joelhos, enquanto fitava o horizonte e sentia o vento esvoaçar os meus cabelos. Aquela posição parecia me fazer voar.

– Nunca diga nunca! Eu sei que, provavelmente, você comeu uma maçã hoje, já que é a nossa fruta favorita. Eu sei que você tem um poster do Backstreet boys atrás da porta do seu quarto e sei que você usa shampoo de morango. E olha que eu nunca fui no seu quarto ou no banheiro! Além de que eu sei que você sempre está certa, e nem adianta discutir! - Ele exclamou, com um sorriso convencido no seu rosto, provavelmente. Já que eu não me prestei a fitá-lo.

Não pude deixar de concordar com ele. Tudo o que ele dissera era verdade. Não havia como contrariar. Porém achei uma desculpa rápida para tantas informações.

– Letícia! Claro, a Letícia abriu aquela boca grande dela! Só pode ser! Caso contrário, como você saberia tanto sobre mim? - Perguntei, ainda duvidosa, depois de um breve momento de euforia.

Ouvi ele se arrastar até mim, se aproximando. A grama fazia um pequeno barulho sonora, como o da água tocando o chão. Quando em grande quantidade, faz muito barulho. Mas o Justin era magrinho, até porque a Pattie ganhava um salário muito baixo. Talvez por isso ele tivesse virado mulherengo, para não sofrer bullying por ser pobre em uma escola particular. Até que fazia sentido. Mas ainda não era correto.

– Eu faria de tudo para estar mais próximo de você quando estou longe. - Ele disse, com o seu hálito batendo sobre o lado esquerdo do meu rosto. Ele me encarava, porém o gesto não era recíproco. - Mesmo que estivermos na mesma cidade, eu sinto falta de estar nos seus braços. Eu sinto falta do soave cheiro de maçã dos seus cabelos. Do cheiro de pêssego da sua pele. Dos seus cabelos castanhos que sempre esvoaçam no vento. Eu sinto falta daquilo que você é e não do que eu "quero" que você seja.

Droga. Ele, sussurando próximo a minha boca palavras tão verdadeiras, era irressistível. Porém eu não estava literalmente brava com ele, mas queria uma explicação - o que ele não dera.


O seu toque sobre o meu ombro desnudo causou um certo arrepio pelo meu corpo, porém eu não poderia apenas partir para os beijos se ele tinha tanta vergonha assim de mim.


– Justin, por favor, não faz. - Murmurei, quase gemendo. - Afinal, se você me ama tanto assim, - infelizmente havia uma grande ironia no meu tom de voz, - por que você teria vergonha de mim e me esconderia do seu passado?

Não o fitei, mas pude perceber o quão tenso ele ficara. A sua resposta parecia estar sendo calculada, como se ele tivesse cuidado o que iria dizer.

– Mel, a verdade é que eu conversei com o Scooter, o meu empresário. Ele disse que a emprensa descobrirá tudo sobre o meu passado, e as vidas das pessoas ao meu redor irão mudar radicalmente. De acordo com ele, se eu fizer sucesso nos Estados Unidos (o que ele aposta que eu farei, mas eu acho loucura esperar tanto), os paparazzis não me deixarão em paz. Esse é até um motivo pelo qual eu morarei em Atlanta, na Georgia, e não em Los Angeles, na Califórnia. O Scooter ainda me alertou que, caso eu quisesse proteger qualquer pessoa que eu amasse, eu não poderia contar dela para ninguém, nem citá-la como outro alguém. Eu não poderia ter nenhuma foto próxima a mim, ou qualquer contato com ela no meu celular. Eu não poderia respondê-la nas redes sociais, como facebook ou twitter. Eu não poderia lembrá-la... Apenas para protegê-la. E eu escolhi você, Mel. Eu te amo demais para te expor dessa maneira. Mas eu sou um estúpido, por isso não te contei antes... E nem te perguntei se era isso que você queria. Me desculpa.

E eu tive alguma reação depois disso? Eu não conseguia nem ler os meus pensamentos, de tão atordoados que eles estavam. Minha boca entreabriu-se, surpresa. Seria assim tão cruscificante para um famoso - mesmo que ele ainda não fosse um famoso - a fama? Ter que esquecer aqueles qute te fizeram felizes, ou talvez apenas abandoná-los. Eu pensei que não fosse tão ruim assim, afinal agora o Justin poderia comprar os tênis que ele tanto queria, além do carro que ele era viciado - mas isso poderia demorar ainda. Dependia do destino, então talvez eu só pudesse aceitar.

– Tudo bem, Jus. Pode me esquecer, me ignorar, me abandonar e tudo mais que você quiser. Desde que você seja feliz. - Eu murmurei, sorrindo tortamente e de modo amarelo. Fitando as minhas mãos, não vi como ele reagiu.

Eu as mexia rapidamente, porém era claro o meu desespero por perdê-lo. O meu cabelo acabou por cair sobre o meu rosto, e pude sentir uma lágrima percorrer o caminho da minha bochecha. Era o inevitável vindo.

Ergui um pouco a cabeça, acabando por fitar uma grande lua cheia que preenchia os céus escuros e com poucas estrelas. Ela era linda, e eu até sorriria caso não me sentisse tão idiota por dentro. Por que eu tinha que me apaixonar pelo o garoto errado? Não podia ter sido um normalzinho e fiel? Um que não tivesse a voz apaixonante e que escrevesse músicas incrivelmente românticas? Simplesmente porquê eu adoro um desafio.

Fitando a lua como uma idiota, retardada e me sentindo mal por ter desejado um momento que o Justin não tivesse talento algum para que pudesse ficar ao meu lado, não pude me impedir de dizer:

– Eu te amo. Eu sempre irei te amar, não importa caso você me esqueça. Afinal, eu sou uma idiota mesmo, com "I" maiúsculo. - Eu estava apenas falando a verdade, por mais que aquilo fosse ridículo. Mas eu não tinha vergonha de me abrir com ele. Quando se ama, a gente aceita como a pessoa é.



– Sua boba, idiotice não é amar; mas é esconder os verdadeiros sentimentos. - Retrucou ele, brincalhão. Mudando a sua expressão para algo mais sério, ele retirou o cabelo e a fraja que restavam em minha face. Eu ainda não o fitava, porém ele logo se pôs à minha frente, fitando-me intensamente. - Eu te amo eternamente.– Ele sussurou sob a luz do luar.

– Eu nunca te esquecerei. - Sussurei, sabendo que era a mais dolorosa verdade, pois ele poderia me esquecer.

– Eu prometo que nunca lhe esquecerei também. - Disse ele olhando em meus olhos, com um olhar intenso que brilhava sobre a luz do luar.

– Queria que isso fosse verdade. - Sussurei abaixando a cabeça. Ele levantou o meu queixo com a mão e me encarou.

– Prometer não é suficiente? - Perguntou ele e logo beijou-me. Transmitindo todos os seus sentimentos mais intensos e profundos, através daquele ato de amor. Era assim que eu pensava...

Me perdi em meio aos seus afegos, perdendo o ar, perdendo o ritmo normal do coração e perdendo o meu mundo. Agora o meu mundo poderia ser dele, desde que nós nunca nos abandonássemos. Infelizmente a vida não é tão perfeita. Há obstáculos ruins e bons; e este, da chance única da vida dele, com certeza era algo maravilhoso. Poucas pessoas conseguem isso na vida delas; todavia, para alguns, o fato pode arrecadar perdas.

Nossas bocas ainda estavam coladas, como se necessitássemos daquilo para viver. Sucumbirmos a nossa vontade era oficialmente impossível. Nós nunca nos satisfaríamos um do outro. Pelo menos era o que eu sentia.

Sem fôlego, totalmente ofegantes, nos separamos, ainda atordoados. Nunca perderíamos a necessidade de termos um ao outro ao nosso lado. O sorriso no rosto dele, enquanto um grande sorriso estava estampado no meu rosto.

– Quando você sorri, eu sorrio. Eu não sei qual é a mágica que você sobre mim, mas realmente a senhorita Melissa McCartney conseguiu dominar o meu coração.

Aquela noite foi tão romântica que não há palavras para descrevê-la. Nós trocamos confessões, descobrimos um pouco mais um do outro, namoramos - é claro -, jantamos sobre a luz do luar um incrível jantar que o Justin tinha preparado (formado por torrada e bolacha empacotada) e deitamos juntos, sobre a noite fria do Canadá, sobre a toalha que ele expusera anteriormente. Não dormirmos, mas descobrimos um pouco mais sobre nós, coisas que eu nunca imaginaria. Uma delas, por exemplo, era sobre a caustrofobia do Justin. Ele ficara preso em um baú quando era pequen;o e, por isso, o Chaz brincava que ele não poderia ficar embaixo das cobertas com uma menina. Não pude deixar de rir, mas então ele passou dos limites, perguntando se eu queria que eu provasse que ele podia. Claro que era brincadeira, porém eu fiquei bastante hesitante.

Logo depois, voltamos para casa; e, dessa vez, eu fui para a minha própria. Minha mãe não me xingara, e eu nem vira ela em casa. Talvez ela já estivesse dormindo quando eu chegara, pensando que eu não iria voltar novamente. Assim que deitei, capotei em meio a pensamentos incoerentes.

A semana passara rapidamente, infelizmente. Eu e o Justin namorávamos sempre que dava, porém a distância de apenas estarmos em colégio diferentes já era suficiente para impedir uma grande convivência. Nos víamos quando a minha mãe deixava, após as aulas, durante duas horas. Depois, segundo ela, eu tinha que estudar. A minha mãe sempre fora muito liberal, porém estávamos próximos às provas trimestrais; e, por isso, ela ficava tão autórita.

Agora havia apenas três semanas antes da viagem que o Justin faria para os Estados Unidos. Ou seja, havia apenas três semanas vendo-o, sentindo-o, conversando com ele. Não era tempo suficiente, mas eu tinha prometido a mim mesma não tocar mais no assunto. Era desconfortável para nós dois falarmos sobre uma despedida, por isso não pensávamos no futuro, apenas no presente.



No colégio, muitas pessoas me encaravam; mas, para isso, existia o nariz empinado. Eu havia decidido que não tomaria nenhuma imprudência, que eu não me importaria com que os outros pensariam por eu continuar namorando um "drogado". Claro que eu não teria como passar por isso sem os meus amigos, que continuavam a me apoiar e ao Justin também. Todos sabiam sobre a verdadeira versão das drogas. Todos sabiam que a Kate, que "por motivos pessoais" faltava às aulas, era a culpada.

O clima entre eu e o Chaz era normal. Eu namorava o melhor amigo dele, enquanto ele namorava uma das minhas melhores amigas. Eu não via nenhum momento em que nos estranhássemos, apenas uma vez foi muito estranha.

Nós estávamos na educação física, com a professora lésbica, quando ela se aproximou de mim. Para me afastar, dei algumas passadas para o lado esquerdo, enquanto ela vinha pelo direito. Fui caminhar até o Chaz, já que ele estava muito próximo de mim, só que de costas. A cara da professora era muito engraçada, mas também deveria ser censurada por tamanha safadeza. Era como se ela estivesse em orgasmos, o que era muito tenso.

Por este motivo, eu estava tão desesperada. Segurei a mão do Chaz, apenas para livrá-la do meu pé. Claro que parecíamos amigos para quem vê, porém ele me olhou surpreso, como se fosse inesperado - e era, mas nada que pudesse se maliciar. Isso durou questões de segundos, mas bastou para a Caitlin sair correndo do ginásio. Eu já havia sentido o que ela sentia - porém com cenas mais traumatizantes - e não queria vê-la assim, sofrendo.

Conversei com ela, tentando acalmá-la, dizendo o quanto eu amava o Justin e que os meus sentimentos pelo Chaz eram as melhores intenções de amizade. Ela confessou ter pensado se eu não havia me arrependido de ter "terminado" com o Chaz (não sei como, já que nunca tivemos algo). Afinal, "ele era maravilhoso, e qualquer menina se arrependeria de ter feito o que eu fizera" - dito com as palavras dela! Claro que ela estava apaixonada, e isso bastava para temermos uma simples traição. Quando nos apaixonamos, aprendemos com o que vivemos. Nós erramos, está certo. Mas para que termos medo de erramos se crescemos com os nossos erros?

Acertamos tudo, assim como ela explicou para o Chaz sobre o seu ciúmes e inclusive acrescentou que não era muito ciumenta... Ele, porém, não acreditou muito nessa história, acabando por receber um leve tapa no seu antebraço.

Eu resolvi contar para o Justin, e acabamos rindo sem parar. A professora sapatona realmente fazia caretas muito engraçadas e me surpreendi com que animação Justin encarou tudo.

Depois de termos conversado, já era sexta-feira, prester a completar apenas duas semanas para com ele. Por isso, ou talvez por qualquer outro motivo aleatório, ele convidou-me para ir até um lugar secreto. Quando ouvi as suas primeiras palavras, logo suspeitei sobre o que ele estava falando. Falei que não, com um tom brincalhão, mas falando seriamente na verdade. Eu não sabia exatamente o que ele queria dizer com lugar secreto, mas pensamentos pecaminosos cruzaram a minha mente.

Ele pareceu relevar a minha negação, acabando por combinar a hora e, já que havíamos nos encontrado depois da aula, apenas pudemos nos despedir e ir para as nossas respectivas casas.

Pensei durante a tarde inteira, sem sossegar. A minha mãe estava trabalhando, então resolvi convidar a Caitlin para ir para lá, já que o Justin me buscaria apenas amanhã de manhã para fazermos um programa durante todo o dia.

A minha amiga, amavelmente, aceitou, sem nem pensar direito na proposta. Até a convidei para dormir lá em casa, e assim ela o faria. Logo, ela chegou, trazendo a sua alegria de sempre.

Como ela conhecia muito mais o Justin do que a Letícia; e, apenas por isso, eu não a convidara.

A nossa tarde iniciou-se com a tentativa frustrada de tentarmos fazer um bolo. Era um simples bolo de cenora, que faríamos no liquidificador, isso se a Caitlin tivesse fechado a tampa direito e o liquidificador não tivesse jorrado uma massa nojenta em nós. Por sorte, eu fui tentar fechar a tempo, o que fez que quase tudo fosse em mim. Por que sorte? Caso contrário, a dona Mellany teria feito um escândalo. Até porquê ela ama dar uma de cozinheira - mas não que isso dê muito certo.

Depois de rirmos muito da cena, nós duas resolvemos tomar um banho de mangueira no quintal. Eu até agradeci pela idéia geniosa da Caitlin, porque eu não queria sujar o meu box de bolo - eu tenho alguns transtornos, sim.

O nosso banho gelado não era muito propício para o clima frio do Canadá, então quase congelamos com a "brilhante" idéia. Entrando, nos aquecemos próximas a lareira, e eu emprestei mais um casaco para a Cath, se não ela congelaria. O inverno estava chegando, e, se fosse como o de Nova York, nevaria bastante. Eu queria até fazer um típico chocolate quente, porém eu não sabia fazê-lo.

Sentadas à beira da lareira, Caitlin encarava-me interrogativamente, como se estivesse observando-me.

– O que foi? - Perguntei, esfregando as mãos.

A noite estava por aparecer; e, assim, o frio aumentou também. Com os lábios gélidos, ela disse sarcasticamente:

– Como se você não soubesse! Me conte o que está acontecendo. O motivo para tanta insegurança! Mel, eu consigo ver em todos os seus atos, quando você está com a cabeça em outro lugar.

– Eu sou tão transparente assim? - Indignada, perguntei. Acabei por relatar o que o Justin havia dito hoje à tarde, além de tudo o que já havíamos passado. Não pude deixar de me sentir um pouco incomodada, até porquê ela conhecia o Justin de um jeito muito mais íntimo. Mas, mesmo assim, eu não podia partir sem explicações.

– Mel, você tem que entender que o Justin te ama; e ele não vai apressar nada se você não quiser. Esse programa que ele quer fazer deve ser algo a ver com um motel sim, mas eu já ouvi vezes que ele levou garotas para lá e as paquerou.

Aquilo não havia me ajudado nem um pouquinho. Saber que ele faria a mesma coisa que ele fizera com milhares. Claro que a pobre da Caitlin sofria por ter sido de modo menos romântico, todavia ela não podia voltar no passado - por mais que todos nós queiramos ter esse poder impossível de se conseguir.

– Eu sei que eu faço drama demais para um pessoa normal; mas quem disse que a minha vida é normal? Por que eu tinha um namorado ninfomaníaco, e por que eu tinha que ser tão medrosa? Sabe de uma coisa?! Eu deveria transar com ele logo! Assim eu acabo com todos os meus problemas momentâneos. - Resmunguei, colocando o rosto entre as minhas mãos geladas.

A Caitlin levantou-se e caminhou até mim. Tocando no meu cabelo, não pude deixar de reparar a advertência no seu tom de voz:

– Mel, olha pra mim. Nunca mais repita isso! Olha pra mim! - Implorou. A fitei, com o olhar triste. - O Justin te ama, você ama ele. Você é valiosa, Mel! Olha quantas meninas por aí, com dezesseis e dezessete anos que já perderam o que elas tinham de mais valioso! Se você está se sentindo pressionada, o certo é sair da relação. Você só deve fazer sexo quando realmente estiver preparada, e não apenas por causa de um escrúpulo da sociedade, ou por causa da pressão do seu próprio namorado. Mas eu, realmente, acho que o Justin não irá jogar tudo a perder, aquilo que ele tem de mais valioso (você) por causa de um desejo dele. Mesmo que ele viaje, eu acho que ele te esperará. - Caitlin disse, sem desviar o olhar intenso que me fitava.

Não retruquei, apenas refleti. Talvez Caitlin estivesse certa; por um lado, eu queria que ela estivesse. Se ele realmente me esperasse, eu poderia ter esperanças, ter motivos para não me entregar ainda. Porém as outras coisas que ela havia dito não me emocionaram. Eu não estava preocupada com o que a sociadade iria pensar se eu transasse com alguém ou não. Está certo que algumas pessoas com a minha idade, normalmente, sentem certa pressão social. Todavia eu acho e sempre achei que uma idiotice era se importar com o que os outros pensam. As pessoas que te odeiam estão aqui apenas para irritá-la, então não dê ouvidos, porque elas não mandam em você - que nem diz a Miley Cyrus.

– Mel?! Por favor, diz que você não vai transar com o Justin! - Ela pediu, colocando as mãos sobre os meus ombros e os chacalhando.

Será que ela estaria com ciúmes? Ou se sentindo inferior? Faria sentido caso a Caitlin não quisesse que eu "fizesse" com o Justin, já que ela o fez. Desviei tal pensamento, me sentindo uma estúpida por pensar tal coisa. Acabei por bufar, sem saber o que fazer.

– Ai, eu me odeio. Por que eu tinha que ter vindo logo pra essa minúscula cidade aonde eu conheci o meu primeiro amor recíproco e tantos amigos divertidos? Por que eu estou reclamando ao invés de aproveitar? Por que eu sou tão dramática e chata? Arg, eu não sei como vocês me aguentam. - Desabafei.

Caitlin me abraçou. Não reclamou, nem negou - o que eu não sei se não era para eu ter me zangado. Ficamos ali, em frente à lareira, aproveitando o calor que recebíamos.

Trocamos algumas palavras, mas nada muito comprometedor. Não falávamos mais sobre a escola, para não tocar no assunto. Eu temia falar alguma bobagem e começar o meu drama adolescente novamente. Se eu mesma não me aguentava, como ela me aguentaria?

– Mel, eu andei pensando... - Ela murmurou, depois de um certo tempo.

– Que bom que você pensa! - Murmurei alegre, com ironia, sorrindo. Ela deu um sorriso torto e um olhar mortal em troca.

– Bem... Eu o Chaz estamos comemorando três semanas de namoro. Então o que você acha que eu deveria dar pra ele? E você acha que ele vai querer comemorar?

– Calma! São muitas perguntas. Primeiramente, eu acho que ele deve te dar alguma coisa; e você até deveria se mostrar um pouco indiferente! Se você ficar muito melosa, ele pode enjoar da dose. - A cara dela foi tão engraçada, que começei a rir. - Brincadeira, brincadeira. Calma. Mas, seriamente falando, acho que você não deveria dar nada, porque menino não gosta muito de receber presentes... Às vezes eles pensam que estão aos custos da namorada e odeiam isso, então finge que você nem viu o aniversário de namoro passar.

Ela concordou comigo e logo começou a estipular o que o Chaz poderia dar a ela. Eu apenas assentia, meio que sem ouvir claramente o que ela tinha para falar para mim. Eu començava a pensar no quão bom fora a minha vinda para o Canadá, em relação de como eu fui bem recebida aqui. Tudo bem que, no início, não fora tão bom; mas acabou por melhorar. Talvez, se o lance entre a Kate, a Caitlin e o Justin não tivesse acontecido, eu nunca teria namorado ele...

– Não acha?

– Quê? - Perguntei, após a pergunta da Caith, a qual eu não escutara por estar despersa.


Ela me olhou com cara feia, mas logo riu.


– Eu sabia que você não estava me ouvindo, por isso eu só quis te testar. Mas eu te perdoo. A minha voz consegue ser irritante quando eu falo demais.

Em resposta, eu mostrei a língua para ela, enquanto recebia um abraço amigável em troca. Em meio a risos e conversas paralelas, não paramos de conversar até a chegada da minha mãe, que parou próxima à porta e nos observou. Ela disse que havia tempos que não me via tão alegre como naquele momento. Talvez ela nunca tivesse me visto com o Justin; caso contrário, teria pensado duas vezes antes de dizer. A pessoa que me fazia sorrir era ele, mas os meus amigos também me faziam rir.

Caitlin cumprimentou a minha mãe, dizendo o quão bonita ela era - e jovem também, o que fez a dona Miranda quase babar pela minha amiga, que era muito puxa-saco pelo visto. Conversa vai, conversa vem, e a hora passou rapidamente. Logo jantamos e fomos dormir... Tudo bem, nós fizemos uma festa - à duas - de pijamas. Fomos dormir apenas às cinco da manhã, após tirarmos fotos, fazermos um experimento (no qual nós tentávamos pular mais alto na cama depois de termos bebido Red Bull para vermos se ele nos dava asas) e entrarmos na internet. A Caitlin me mostrou uma nova rede social daquela época, que se chamava twitter. Eu nunca fui muito "blogueira", por isso nunca estive por dentro das novidades. Ela tinha a sua própria conta e começamos a "twitar" bobagens, além dela mandar um "twíte" do qual eu me arrependeria depois.

– "@JustinBieber," - ela disse enquanto escrevia, colocando o endereço dele, - "eu sequestrei a sua namorada e descobri que ela está muito triste que você vai embora sem levá-la. Por favor, leva essa mala?" Queria escrever mais, mas tem um limite desgraçado de caracteres. - Resmungou.

Aquilo ocorrera em torno das três da manhã, e descobri, um tempo depois, que ele estava acordado. Ele não entrara no twitter– já que Caitlin fizera questão de olhar -, mas me enviara uma mensagem pelo meu e-mail depois de uma meia hora. Eis o que continha:

Eu queria muito te levar junto comigo, mas não posso destruir o seu futuro. Eu sei o quanto você e a sua mãe são próximas e, assim como com a volta do seu pai, sei que você sofreria caso tivesse que abandoná-los. Não quero que você tenha uma vida perturbada por causa de mim também, como já te expliquei. Eu não vou falar para os outros sobre você, mas não quer dizer que não irei pensar em você. Eu posso não te levar junto comigo para os Estados Unidos, mas você sempre estará nos meus pensamentos, junto ao meu paraíso onde se encontram os sonhos. Desculpa por te fazer tão infeliz, mas o que recompensa é ter conhecido o sentimento maravilhoso do amor. Mel, eu, com certeza, ainda irei voltar para a minha cidade natal. Não é definitivo. Então me espere; pois, no meu coração, não há espaço para mais ninguém, apenas você. Espero que você sinta e pense o mesmo. Eu não quero um namoro à distância para não te comprometer, porém quero que você não me esqueça. Eu sei o quão egoísta isso é, todavia não conseguirei te esquecer e me dói saber que você poderia. Os melhores momentos da minha vida continuarão na minha memória; e, em todos, você estava presente. Essa noite só fiquei acordado pensando nas horas que passei com você, nos momentos que perderei com você e os quais ainda estão por vir. A insônia tomou conta de mim porquê a força que você exerce sobre o meu corpo é muito maior do que eu imaginara. Sinceramente, eu não sei como viverei sem te ver por minutos... Imagine horas, dias ou meses! Será que sobreviverei? Essa é uma questão sem resposta, que só o tempo poderá nos dar. Apenas espero que você sobreviva, siga em frente e seja feliz como eu nunca serei. O amor me "fisgou" de modo tão intenso que não tenho palavras para descrevê-lo. Eu sei que, à


s vezes, faço coisas sem pensar, falo coisas que não deveria... Todavia acho que isso é só a minha maneira de dizer que tenho medo de te perder. Sei que meu orgulho brilha à flor da pele, mas, quando peço desculpas, são realmente verdadeiras. Jamais tive, tenho e terei a intenção de te magoar. A única coisa que quero é te proteger do sofrimento que me amar te trás. Te quero perto de mim, te quero me abraçando, me beijando. Te quero sempre, e tudo que eu quero é o seu bem. O amor é muito mais do que o querer. O amor é querer a sua felicidade independentemente de quem for te fazer feliz. Porque o seu sorriso faz a minha felicidade. Nunca deixarei de te amar e de te querer junto a mim, essa é a minha unica e verdadeira vontade. Só quero que saiba disso, pois um sentimento desses eu não sou capaz de esconder, porque, mesmo que eu esconda, o meu olhar acaba me dedurando. Eu te amo. Não tenho mais palavras ou desculpas para tudo o que eu já fiz. Apenas quero que leve a sério tudo o que eu escrevi, inclusive o que está em negrito. Nos vemos amanhã? OK, eu estou parecendo um louco apaixonado... O que eu não posso negar que é verdade. Dependo de você para sobreviver como o mar depende da lua... Tudo bem, eu estou perdendo o meu romantismo. Acho que o sono está batendo porquê estou mais aliviado de ter te dito tudo isso. Mil vezes te amo, do seu namorado, Justin Drew Bieber.

Os meus olhos se arregalaram à medida que eu lia a carta. Fiquei sem palavras sobre o que pensar ou fazer, só sei que a Caitlin começou a chorar ao meu lado.

– Ai meu Deus! Eu nunca vi tanto romantismo em um único garoto só. E pensar que você mudou tanto ele! Quem me dera ter um namorado assim! - E olha que ela nem era uma "forever alone" (para sempre sozinha). - Por que o Chaz não aprende com o Justin? MEU DEUS, POR QUÊ?

– Caith, você está chorando de emoção ou de raiva do Chaz? - Perguntei, quando finalmente consegui pronunciar algo.

– Dos dois! Ai, amiga! Você é tão sortuda!


Eu ri dela, mas acabei me arrependendo de ter enviado a primeira mensagem no twitter. Estaria ele se sentindo culpado? Acabei caindo no sono depois de assistirmos um filme de terror juntas, que se chamava "Trolls 2", mas mal prestei atenção com tantas perguntas na minha mente. Só ouvi a Caitlin comentar que, por mais que o filme se chamasse "Trolls 2", não eram trolls que atacavam a cidade e sim goblins. Aliás, os trolls nem apareciam no filme, mas vai entender...

Na manhã seguinte, a mãe da Caitlin, a senhorita Beadles, chegou; e, no banco de carona, estava o irmão mais novo da minha amiga. Vi ele morder o lábio para mim, após se apresentar como Christian.

– Mas você pode me chamar de Chris. - Ele completou, frizando o "você". Eu encarei a Caitlin assustada, e ela apenas riu em resposta.

Para o meu alívio, e tristeza do pequeno Chris, logo eles saíram; já que a mãe deles estava apressada para algum compromisso. Me despedi deles e entrei em casa, quase arrastando os pés de tanto cansaço devido à noite mal dormida.

Outrora, eu iria comer alguma coisa; mas, como estava muito cansada, resolvi ir dormir um pouco de manhã. Meus olhos se fecharam logo no caminho até a cama, e logo adormeci.

Eu sabia que eu estava sonhando, mas eu podia prolongar o acordar. Lembro-me que estava em uma praça, caminhando. Repentinamente, ouvi o meu nom e, em um lento giro, me virei: era o Justin. Não era para menos que o meu coração disparou assim que vi ele com um skate sobre os pés e uma rosa na mão. Por mais que não parecesse romântico um garoto no skate, ele fazia parecer. Até porquê o que mais me importava era a rosa. Assim que ele fez uma curva para descer, sorri largamente, enquanto o fitava intensamente.

Entregando-me a rosa, dera um beijo sobre essa. Não era por um motivo fútil, pelo menos, que eu desmaiaria. Com os seus olhos me fitando intensamente, sem dizer nenhuma palavra, me beijara longamente e profundamente, em praça pública. Eu nunca gostei de demonstrar carícias ofegantes em público, já que parece que estou querendo aparecer ou algo do gênero. Com tal motivo, o meu sonho fora apenas um sonho, fora da realidade.

Porém ainda não havia acabado. De repente, alguns paparazzis começaram a tirar fotos do nosso beijo; mesmo eu não sabendo de onde eles haviam saído. A cara de susto do Justin fora inesquecível, ao mesmo tempo que ele pegou o seu skate e me colocou sobre. Eu não tinha a mínima ideia de como andar sobre aquilo, mas logo ele colocou um pé e o empurrou, fazendo com que os paparazzis nos seguissem.

Eles apenas corriam, enquanto nós tínhamos uma vantagem. O Justin, porém, ficara todo o caminho calado, enquanto algumas fãs e paparazzis continuavam a nos perseguirem. Ele nem era famoso, e eu estava tendo um sonho desses! Muito estranho. Eu lembro que agarrei a cintura do Jus, mas ele não queria que eu o segurasse.

– Esse não é o mundo que eu quero para você. - O seu tom melancólico era notável.

A sua voz ecoou na minha mente - não apenas uma vez, milhares.

O preto preencheu os meus pensamentos, enquanto eu lembrava cada singela cena que ocorrera naquele estranho sonho. Até eu despertar com o toque do meu celular, que começou a vibrar no meio dos meus peitos, onde eu havia deixado-o. É, um momento tenso.

Meio tensa, por não saber qual o motivo de eu ter sonhado aquela loucurada, abri a tela, sem ler quem era. Eu tinha essa mania, por mais irritante que fosse não saber quem me ligava.

– Alô. - A voz embargada de sono fora nítida.

– Oi, amor. Estava dormindo? - Aquela voz irreconhecível dissera.

O meu coração disparara freneticamente, ao mesmo tempo que aquela frase ecoara no meu pensamento. Não, eu não queria não pertencer ao mundo dele; mas eu tinha um certo egoísmo que não me fazia recusar o fato de que ele me queria ao seu lado. Isso mudava os fatos... E muito!

– Sim, Bieb. - Disse, sorrindo como sempre.

Bieb? Achei que só o gay do Ryan me chamasse assim. - Resmungou ele.

Aye, não desrespeita a minha amiga Letícia, hein? O Ryan é macho a ponto de namorar com ela. - Murmurei, fazendo birra.

Por mais que eu quisesse ouvir o que ele tinha para dizer, uma outra ligação interrompeu. Falei para o meu namorado que desligaria, enquanto eu atendia a outra ligação. Depois eu ligava de volta para ele.

Alguém ofegante se encontrava nela, e depois um grito se seguiu. Assustada, perguntei o que está acontecendo, até que a pessoa me explicou:

– O RYAN ACABOU DE ME DIZER AQUELAS TRÊS PALAVRINHAS! - Uma pessoa tão hestérica assim, que grita por causa do Ryan, só podia ser a Letícia. Rolei os olhos.

– Que demais, amiga! Me conta tudo! Como foi? - Perguntei animada. Pude ouvir um suspiro do outro lado da linha.

– Primeiro, ele foi super gentil. Nós estávamos na cachoeira... Ah, esqueci de te contar, mas tomamos um banho de cachoeira juntos! - A animação era extrema em seu tom.

– Cachoeira? Espero que ela tenha água gelada, para ter baixado esse fogo de vocês dois. - Murmurei, brincando e abanfando um riso.

– O Ryan? Aquele lá não tem jeito. É muito assanhado mesmo! - Ela confessou, rindo e lamentando ao mesmo tempo. - Enfim, - prosseguiu após as minhas risadas, - nós pulamos rio adentro, nos divertimos "pra caramba" e depois ficamos sentados em algumas pedras... Claro, depois de muito beijos. - Ela até frisou o "muitos".

A minha risada preencheu o ambiente vazio da sala. Eu não tinha a mínima ideia de que horas eram e, muito menos, de onde a minha mãe estava.

– E então? - Perguntei ansiosa pelo final da história.

– Ele me abraçou ali, na beira do riacho, e nós começamos a namorar um pouquinho. O básico, você sabe. Entre um beijo e o outro, eu acabei falando que o amava. Porque eu o amo sim... Amo muito! Ele é atencioso, protetor... Ai, se eu pudesse explicar porquê eu o amo, não seria amar, mas sim gostar. - Refleti por um instante sobre essa frase. - Você deve entender o que eu estou falando, não é? Você e o Justin já namoram há muito mais tempo, então já devem ter se dito "eu te amo". - Murmurou como se fosse óbvio.

Eu não havia contado a ela sobre como fora difícil fazê-lo acreditar em mim, que eu sempre o amaria, que nunca nos separaríamos como os pais deles - e os meus. Porém tudo isso poderia mudar com tal viagem. Ele teria que passar anos longe de mim, fazendo viagens alternadas até a sua cidade natal. Todavia eu não estava preparada para isso, nem ele na minha opinião.

– Mas ele ficou assustado com a minha declaração, - Letícia prosseguiu. - Então eu logo resolvi me explicar, dizendo que eu estava muito envolvida com ele, o que fez os seus olhos brilharem. Eu me senti tão aliviada quando ele sorriu lindamente, acabando por dizer que me amava também. Eu nunca vou esquecer aquele momento, pois, para sempre, ficará marcado na minha memória.

– Amiga, eu estou sem palavras. Vocês dois são muito fofos mesmo e se merecem! No bom sentido, é claro. - Rimos juntos assim que eu finalizei a frase.

– Obrigada, Mel. Eu contei primeiro para você porquê logo pensei que a Caitlin estaria na casa do Chaz, e seria um pouco tenso se eu ligasse para lá, já que ela não atende ao celular. É muito raro quando ela o faz.

– Ah, quer dizer então que eu era a segunda opção? - Fingi que eu chorava como brincadeira.

– Claro que não, Melly. Eu apenas pensei que você não estaria com o Justin, já que ele tinha comentado com o Ryan que visitaria a Kate hoje... - Um silêncio incômodo se estabeleceu, enquanto ela se dava conta do que dissera.

– Hm, a Kate? - Eu não sabia como me sentir, mas a minha voz soou estranhamente calma.

Eu não queria impedir que ele a visitasse, mas eu não queria que ele fosse lá sozinho. Afinal, ela o amava, mesmo tentando impedir isso.

– É... Ai, foi mal, amiga. Eu sou uma anta mesmo. Eu falo cada coisa! Que saco.

– Não foi nada. Mas eu acho que a sua afirmação demonstrou como a minha relação com o Justin é fria, não é? Pode responder com sinceridade. - Pedi.

Eu notava isso, mas eu não sabia que os outros percebiam tal coisa. Não que nós não nos gostássemos, não nesse sentido. Mas referente ao tempo - nós não éramos grudados. Eu pensei que ele gostasse disso, porque eu detestava ficar longe dele e só queria dar tempo a ele.

– Não que seja fria, mas vocês não são de muitos afegos em público, entende? Eu sei que vocês se amam. Dá para perceber isso nos seus olhos, nas suas maneiras, nos seus toques. Mas não diríamos que namoram há apenas pouco tempo, mas sim que são aqueles casais de longa data, que já perderam aquele fogo. Desculpa, amiga, só estou sendo sincera, como pediu. - Disse com tristeza, como se se sentisse sincera.

– Não, amiga, não fica triste! Eu te respeito, Letícia, justamente por você ser tão honesta. Eu sei que eu e o Justin não aparentamos ter aquele apelo sexual, porém é apenas por causa da minha hesitação.

Comecei a confessar muitas coisas para ela que eu apenas guardava comigo. Afinal, amiga é para essas coisas - fofocar. Não era bem uma fofoca, já que eu estava falando de mim mesma, mas de qualquer jeito...

Ficamos horas no telefone, até que a mãe dela a chamou para almoçar, e ela desligou. Vegetei por alguns minutos, imaginando como a Kate teria se portado perante ao Justin. Eu não estava "grilada", como algumas pessoas dizem, por causa daquilo; todavia eu não estava muito tranquila. De qualquer jeito, pelo meu respeito por ambos, eu teria que pensar duas vezes antes de dizer qualquer coisa sobre o assunto.

Depois, lembrei de algumas dicas que a Letícia me dissera, além de conselhos sábios... Outros nem tanto ao meu ver. De acordo com ela, eu teria que me insinuar ao Justin, a fim de atraí-lo e aumentar a sua tesão. Era um tanto inadequada para uma garota de quinze anos, afinal eu me considerava muito nova. Porém Letícia disse que ele poderia estar inseguro de si mesmo, já que eu supostamente fui a única menina que não quis transar com ele, o que poderia deixá-lo um pouco hesitante a relação. Ou a opção que eu mais torcia que fosse, por mais que não fosse positiva: talvez o Justin apenas não se demonstrasse tão fogoso em público por causa do seu histórico. Ou seja, pelo fato dele nunca ter tido uma namorada antes, apenas ficantes.

Começei a ouvir uma pequena melodia, que começava lenta, mas tinha um certo ritmo. Logo sorri pensando em quem poderia ser, e me dirigi à janela do meu quarto, no segundo andar, fitando o primeiro. A minha casa não tinha portão, pois era seguro morar em Stratford, então apenas o vi no meu jardim, em meio as flores, tocando o seu violão, com aquele belo sorriso, que fora o motivo do meu também se projetar, no rosto.

– Eu vim aqui ver se você cumpria a sua promessa... E depois, também, para te levar para almoçar. - Justin profanou, com a sua suave voz no ambiente.

– Que promessa? - Perguntei, realmente confusa.

– Não, não é aquela de você me ligar de volta depois de receber a ligação misteriosa. - Ele disse, rindo. Nossa, eu tinha esquecido completamente dele! Que vergonha. Mas ele prosseguiu: - A promessa que você me ajudaria a escrever uma música sobre os meus pais. Eu realmente preciso desabafar sobre tudo isso. - Ele pediu, com os seus olhos pedintes brilhando mais do que os raios de Sol.

– Promessa é promessa. - Sorri, já pensando no momento em que teríamos à sós.

– Então abre aqui embaixo para mim. - Ele reclamou, apontando para a porta.

Eu ri constrangida e o fiz. Ele entrou e perguntou onde iríamos tocar, e eu indiquei que o melhor lugar seria a copa, também conhecida como sala de jantar.

Nos cumprimentamos com um beijo, depois de eu abraçá-lo longamente. Talvez eu estivesse um pouquinho carente. Até porquê eu chegara a cheirar as suas madeixas cor de bronze. Era renovador aquele sentimento de sentir-se completa, como se a gravidade tivesse voltado à Terra, mas sem que eu dependesse dela ainda.

Sentamo-nos na sala de jantar em silêncio, trocando algumas carícias através das mãos, e ele começou a tocar, novamente, aquela bela melodia. O som do violão parecia penetrar no meu cérebro e ter o poder de me fazer tudo e qualquer coisa.

– Como você acha que podia ser a letra? Eu queria fazer algo no qual eu pudesse desabafar enquanto cantasse. Algo que me fizesse esquecer que eu sou o culpado. Algo que me fizesse esquecer essa culpa.

– Acho que podia falar sobre o seu afastamento do seu pai, de como você se sente diante a isso. Não achas? - Perguntei, em dúvida; porque, realmente, eu não sabia se estava procedendo certo.

– Boa ideia. Bem, às vezes, eu sinto saudades, eu sinto uma certa solidão. Sinto falta dos meus irmãos por parte de pai, o Jaxon e a Jazmyn. Sinto falta do carinho e das brincadeiras que eu fazia com o meu pai quando pequeno... Sabia que ele que me ensinou a jogar basquete? - Balançei negativamente a cabeça, preocupada com a infância que ele podia ter tido. Talvez isso tivesse decorrido na sua infidelidade, e em tantas outras questões que eu me questionava sobre as suas ações que descordavam com a sua palavra. - Às vezes, eu me sinto como uma aberração por mal conviver com os meus pais ou com os meus irmãos. Eu amo a Jazzy, muito, muito; mas eu mal a vejo! Talvez uma vez mensalmente. A questão é: como eu posso expressar essa distância, essa saudade que eu sinto da minha família paterna, inclusive do meu pai?

– Como você sofreu muito na sua infância, podíamos retratar com uma linguagem mais infantil, como usando "mommy" e "daddy". O que você acha?

Ele aceitou, e logo começamos a trabalhar na música. A sua melodia era muito bonita, mas estava dificil demais de encaixarmos na letra, então a modificamos um pouco. Fizemos uma série de alterações no que eu tinha em mente, inicialmente, e acabou se tornando uma música triste, mas com muito significado por trás da letra.

[http://letras.terra.com.br/justin-bieber/1584201/traducao.html

]

Nós não havíamos juntado tudo ainda, então estava na hora de testar. Justin pegou o violão e tocou aquela bela melodia. Seus olhos marejaram, sua boca tremeu ao concluir, as suas mãos fraquejaram.

– Obrigada, meu amor. - Sua voz fragilizada e trêmula não podia ter pronunciado as palavras com maior sinceridade.

Colocando o violão ao seu lado, abrindo os braços e me encaixando entre eles, senti o seu hálito na minha orelha. Nunca havia sido abraçado por ele daquele modo tão... Tão agradecido e mostrando toda a sua fragilidade.

Não pude deixar de sorrir minimamente, de modo torto e descontraído, quase gaguejando devido à música que tocara o meu coração. Ela era tão sincera e conseguia transmitir tudo aquilo que palavras soltam nunca iriam conseguir.

– Eu que agradeço aos seus pais pela sua existência. - Retruquei.

Um dia. Esse era o prazo que tínhamos juntos. Justin e eu estávamos tentando aproveitar ao máximo, já que o nosso destino era incerto. Eu não sabia se ele gostaria de tentar namoro à distância, ou terminar definitivamente. Porém, entre as duas opções, talvez fosse melhor terminar. Eu não gostaria de tê-lo livre para se dedicar a sua música. Não seria bom caso ele ficasse preocupado em me mandar uma mensagem aqui ou ali, por mais que eu fosse preferir. Seria egoísmo de mais, o que eu não aguentaria. Eu poderia até ser ciumenta, mas egoísta não.

Acordei com o meu cabelo muito enrolado, então resolvi que o deixaria natural - com uma penteada, claro. Coloquei um vestido florido, que lembrava o estilo da Taylor Swift em suas vestimentas e acessórios. Escovei os dentes, tomei o café da manhã, dizendo a mim mesma que eu não poderia me aborrecer em nenhum momento do dia ao lembrar do que aconteceria no próximo. Eu só tinha que aproveitar e fazer com que o Justin também o fizesse. Magoá-lo estava fora de assunto e, muito menos, fazê-lo se sentir culpado.

Minha mãe estaria muito ocupada, durante todo o dia, concentrada em um projeto; então eu teria que ir, mais uma vez, de ônibus para a escola. Quando eu iria trancar a porta de casa, acabei sentindo algo no meu bolso vibrar e logo vi: era uma mensagem.

"Te pego em casa. O que você acha de faltar a aula?

Com muito ♥, JB."

Sorri instantaneamente, seguindo de uma pequena risada de euforia. Não pude deixar de digitar rapidamente a resposta.

"Vou economizar money! Yay! \õ E acho que a única que se opõe ao seu plano é a minha mãe.

Com muito mais amor, MM."

Sentei sobre os degrais que haviam na varanda da frente da minha casa e o esperei em êxtase. Para a minha surpresa, um carro esportivo estacionou na frente da minha casa. Era uma Audi TT cinza, o que me fez abrir a boca, surpresa.

O que me fez quase babar, literalmente, foi quem saira do carro: o Justin. O seu cabelo estava posto, calculadamente, para o lado; a sua roupa estava impecavelmente combinada; os tênis eram novos de uma coloração vermelha e branca, e o seu boné tinhas as mesmas caracteristicas.

– Como no primeiro dia. - Ele murmurou ao caminhar até mim que estava, como no primeiro dia de aula, de boca aberta o encarando.

Corei levemente, me lembrando do quão babaca eu era, e ele pareceu nem reparar. Selando os nossos lábios, os seus braços se cercaram ao meu arredor, me aconchegando. Como ele era um pouco mais alto do que eu, a sua cabeça se aconchegou sobre a minha.

– Então, será que eu teria como convencer a senhora Mellany a deixar você faltar a aula? - Perguntou. Pena que eu perdi a sua expressão naquela hora.

Me afastando, dei um riso irônico e resmunguei:

– Eu adoro tomar riscos. Vamos logo antes que eu mude de ideia.

Gentilmente, assim que chegamos próximos ao carro, ele abriu a porta para mim. Sorri encabulada, como uma criança que acabara de ganhar o seu doce favorito de um estranho, e percebi que parecíamos estar como no nosso primeiro encontro.

Todavia, com esse passar do tempo, - que passara como minutos, - nós acabamos por conhecermos os nossos próprios defeitos; eu, os dele. Descobri que a sua cor favorita era roxo, que o seu travesseiro se chamava Beyoncé, e assim ele podia dizer que dormia com a Beyoncé, e descobri que o seu maior defeito era me amar.

Não tinha a pretensão de que todas as pessoas que eu gostava, gostem de mim, nem que eu faça a falta que elas me faziam. O importante era saber que eu, em algum momento, fui insubstituível; e que esse momento será inesquecível. Mas eu também não merecia tais complementos dele. Talvez eu apenas estivesse sendo patética por implicar com o simples fato dele me amar, como dissera a Caitlin certo dia.

Entramos no carro, e o Justin disse que eu teria uma surpresa. O simples fato de eu não ir para a escola já se era motivo para comemoração, por mais que eu fosse uma aluna dedicada.

No caminho, ele resolveu tocar naquele assunto delicado, no qual sempre se estabelicia um silêncio incômodo.

– Mel, o meu vôo é amanhã de manhã; então eu queria aproveitar ao máximo cada segundo do dia. Eu vou te contar uma coisa: eu fui visitar a Kate outro dia. Eu achei que eu deveria me despedir adequadamente dela, por mais que eu devesse ter te contado antes. Com a história do vôo decolando às nove e meia da manhã, eu resolvi que eu deveria me desculpar com todo mundo que eu nunca tinha tido coragem até agora. Eu me desculpei com o Chaz (por causa do lança de eu ter "roubado" você dele), a Caitlin (por causa da traição), o Chris (porque a Caitlin me contou sobre ele ter dado em cima de você, e eu fiquei irado; logo pedi desculpas e nos tornamos camaradas), a minha mãe (por eu ter feito ela sofrer ao decorrer dos anos por mais que ela só tenha se sacrificado por mim e por mais que ela vá junto comigo para Atlanta) e só falta a pessoa mais importante para mim, nesse momento.

Repentinamente ele estacionou, e notei que estávamos na casa de Kateryn, lugar cuja não me trazia tão boas lembranças.

– Por mais que a Kate tenha te drogada, acho que no nosso primeiro "encontro", se é assim que podemos chamar aquela festa, ambos fomos verdadeiros, e este foi nesse lugarzinho aqui. Essa sua confiança em mim me deu segurança para seguir em frente, para eu não temer os meus piores pesadelos e para eu enfrentar todos aqueles a quem eu devia desculpas por episódios vergonhosos da minha vida. Obrigada, Mel, por existir e por ter me transformado em uma pessoa melhor. Se não fosse por você, eu ainda estaria procurando a minha outra metade pelo mundo, sem achá-la e me sentindo um completo idiota por ter esperado tanto.

Os meus olhos, pateticamente, arderam em lágrimas pelas palavras que ele havia profanado. Eram tão profundas que a única reação que eu tive, no momento, fora abraçá-lo e chorar de felicidade por tê-lo conhecido. Eu estava chorando de felicidade, não de tristeza. Talvez uma mistura, por perdê-lo no dia seguinte, mas sabendo que ele, um dia, me amara - isso bastava.



– O nosso primeiro encontro foi nos fundos dessa casa, então eu pedi aos pais da Kate para que pudéssemos invadir o pátio deles enquanto nos resta tempo. - Ele murmurou baixinho, próximo ao meu ouvido.

Sorri enormemente, limpando as lágrimas dos meus olhos com o dedo indicador, e não pude deixar de dizer:

– Esse lugar me traz, realmente, ótimas lembranças. Mas então vamos logo, ou você quer que eu comece a ficar sentimental aqui? - Indaguei rindo sem humor.

Ele nem ousou rir de tal setença, apenas deu um beijo na minha testa e disse:

– Eu iria continuar te amando de qualquer jeito.

O meu coração acelerou os seus batimentos, enquanto a minha respiração imitara tal reação. Não pude deixar de perceber, mais uma vez, a sua sinceridade nas palavras; o que causou uma certa bambeação nas minhas pernas.

Ignorando os meus sentimentos atordoados, seguimos para os fundos da casa. Reparamos que aquele mesmo morrinho, em que ficamos sentados, na festa, era mais alto do que pensávamos. De mãos dadas, seguimos até lá, apenas relembrando aqueles pequenos e marcantes momentos que ocorreram próximo àquela mansão.

Uma brisa balançou os meus cabelos, fazendo-os se esvoaçarem. Corei já que ele deveria ter enrolado por inteiro. Tentei arrumá-lo de forma que não fosse notável, porém fora em vão. Ele olhou para o lado e arrumou para mim, segurando o riso e disfarçando-o com um sorriso.

Não me importei, apenas fitei o Sol, que raiava no alto do céu, o que indicava que era, mais ou menos, dez horas da manhã. Sentamos naquela parte de terra coberta por grama e começamos a conversar, relembrar e dizer algumas bobagens. Rimos muito assim que, ainda na subida, sujei o meu sapato ao pisar nas fezes de algum animal local. O bom era que eu estava bem relaxada e descontraído, se não eu iria caçar o bicho ainda.

Acabamos trocando pequenas carícias, como o modo que sentamos, com ele de pernas abertas e esticadas, enquanto eu sentava entre as próprias, com a cabeça recostada no peitoral dele. Combinamos que veríamos o pôr-do-sol daquele lugar; pois, de acordo com ele, o nosso amor era que nem o pôr-do-sol: ele poderia se ausentar por alguns instantes em um certo lugar, mas ele sempre estaria presente em algum lugar do mundo.

Fora uma indireta muito bonita, porém isso me fez lembrar que aqueles momentos de felicidades acabariam assim que o sol se pôsse.

– GRRR. - Não, não era o monstro do lago Ness ou qualquer outra espécime. Era o estômago dele fazendo alguns barulhos, indicando fome.

– Então como ficaremos aqui até de tarde se você já está morrendo de fome? - Perguntei, rindo.

– Porque eu faria qualquer coisa para poder ficar com você, Mel. - Sua voz soou tão suavemente que até me arrepiei. - Até morrer da forma mais primativa possível. - Riu ao concluir, descontraído.

– Por incrível que pareça, tem milhões de pessoas que morrem por essa causa todos os anos. - Murmurei, abatida. O horizonte era tudo o que eu avistava, mas a minha mente estava direcionada à África, Ásia, alguns países da América Central e todos os outros que tinham um alto risco de população pobre, que passava fome. Infelizmente, era um fato que não poderia ser mudado do dia para a noite.

– Se eu conseguir ganhar algum dinheiro, eu vou querer ajudar os necessitados. Infelizmente, eu ainda não tenho o necessário.

– Mas um dia terá. - Falei confiante, virando a minha cabeça e dando um selinho.

Apenas se ouvira a ventania e o barulho das folhas se chocando. Os nossos corações se mantiam no mesmo ritmo, enquanto o silêncio e os pensamentos se estendiam. Para quebrar este, ele perguntou:

– Sabe por que eu sinto tanto ciúmes quando alguém te abraça assim como eu estou nesse momento?

– Não. - Respondi sorrindo ao mesmo tempo que franzia o cenho.



Eu sinto ciúmes quando alguém te abraça; porque, por um segundo, essa pessoa está segurando o meu mundo inteiro. - Disse, me apertando contra o peito ao cruzar os braços sobre o meu busto.

– Ai, seu bobo. Como se um dia eu fosse deixar de te amar! Não sei como você já sentiu ciúmes de mim... Afinal, olha para mim! - Resmunguei, apontando para o meu corpo e as roupas nem um pouco chiques.

– E depois eu que sou o bobo. Mel, desde o primeiro dia de aula, eu me apoixonei por você, bobinha. Não pelas roupas que você usa, ou pelo corpo (super lindo, tenho que admitir) que você tem. A atitude que você teve comigo... No momento, eu odeiei a forma como você agiu comigo. Afinal, você nem me conhecia. Mas depois eu notei como eu fiquei balançado com você, como você me disse coisas que ninguém nunca havia tido coragem, como foi o nosso encontro no corredor... Tudo o que eu escrevi na música que eu cantei para você, One Time, é verdade. Eu senti tudo aquilo por você, amor. Eu senti borboletas no meu estômago, o meu coração acelerou, mas eu tive que fingir que não, nada acontecera. Logo depois, o Chaz começou a gostar de você; e a aula de Educação Física foi a oportunidade perfeita para ele. Eu me remoí de ciúmes, eu admito, mas tudo por que eu já te amava. E, Mel, você foi a única pessoa a qual eu nunca menti na vida.

Para descontrair - e aproveitar que ele não conseguia ver a minha expressão emocionada -, perguntei:

– Só eu? E a dona Pattie Mallette?

– É claro que eu já menti para a minha mãe, por exemplo, que eu estava doente para não ir à escola quando pequeno. - Murmurou ele, rindo. Essa era uma desculpa típica de criança mesmo. Porém, ele tornou a sua feição para uma mais séria e prosseguiu: - Mas, Mel, eu quero que você siga a sua vida normal, sem que eu interfira nada nela quando eu não estiver aqui. Tudo bem, amor? - Ele perguntou, espalhando beijinhos sobre a extenção das minhas maçãs do rosto.

– Claro, eu vou continuar indo para a escola, comandante. - Respondi, imitando uma marcha com as mãos.

Ouvi um suspiro, e o meu coração acelerou, como se ele tivesse entendido o recado e o meu cerébro apenas se recusasse a entendê-lo.

– Eu quero que você namore com outros, viva novas aventuras, siga em frente. Eu já vi muitas mulheres sofrerem após o abandono do marido/namorado, como a minha mãe. Uma parte dela praticamente morreu quando se viu obrigada a se divorciar dele por causa do vício dele em drogas. Ela fez o certo, mas sofreu para fazê-lo. Até agora, eu não sei o que é certo ou errado, mas, se for errado amar você, eu quero estar errado. - Me virei para ele, para fitá-lo naqueles olhos castanhos profundos.

Me exaltei. Tentei argumentar com as mãos, enquanto as palavras se recusavam a serem pronunciadas. Pensamentos irracionais a cercaram, enquanto a vista se embaçava com as lágrimas que se formavam.

Era como se ele estivesse pedindo para que eu simplesmente esqueçesse a sua existência. Era impossível. Por maiores esforços que eu pudesse fazer, a expressão de horror do meu rosto era inevitável.

Por mais que ele tivesse acabado de dizer que me amava, eu estava chocada demais com a primeira parte de sua fala do que o término desta.

– Mel?! Mel? Me responde, Mel! - Ele pediu, se virando de frente para mim e me chacoalhando rapidamente.

Uma genial ideia - ao meu ver - passara pela minha mente. Resolvi colocá-la em prática, já que necessitava apenas de ações, sem fala.

Avançei, literalmente, para cima dele, pulando em seu colo e cruzando as pernas sobre a sua cintura, feito uma fêmea no cio. Espalmei uma mão em seu peitoral, enquanto a outra agarrava loucamente as suas madeixas. Um beijo feroz fora enlaçado através da minha iniciativa, por mais tenso que ele estivesse. Parecia confuso, magoado e, ao mesmo tempo, com raiva. Não entendi tal interpretação de minha parte, porém permaneci a beijá-lo de forma ardente, sentindo o seu sexo erguer-se.

Justamente, quando tal alerta fora emitido, ele me afastou, colocando-me sobre a grama e levantando-se em seguida, perturbado.

– Mel, que diabos foi isso? - Justin perguntou, caminhando rapidamente de um lado para o outro, apenas fitando os próprios pés e franzindo o cenho em sinal de confusão.

Por incrível que parecesse, eu não corei como nas outras vezes. Eu simplesmente me envergonhei de tal atitude baixa, que nem uma vadia se prestaria a fazer. Seduzir o seu namorado apenas para distraí-lo de tais conclusões?

Eu me sentia um verdadeiro lixo, uma inútil.

– De-Desculpa. - Murmurei, gaguejando devido ao choro que ameaçava se pronunciar.

– Mel, não. Você é quem deveria me desculpar. Eu acho que você se sente na obrigação de transar comigo agora, não é?

– Eu não sei mais, Justin! - Me exaltei, jogando as mãos para o alto, enquanto as lágrimas jorravam dos meus olhos, levando o meu leve lápis preto consigo. - Talvez eu estivesse apenas recusando a ideia de abandoná-lo sem uma lembrança mais forte, talvez eu quisesse apenas distraí-lo de tal assunto... De qualquer jeito, eu seria uma vagabunda fazendo qualquer um dos dois! Me perdoe, me perdoe. - Murmurei de forma bipolar, tal que levantei e abraçei-o. Em seguida, beijei-o por toda a face, em forma de carinho, de perdão, de consideração.

Ele segurou os meus braços brutalmente, ainda sério.

– Mel, justamente por isso que eu quero que você siga em frente. Eu já notei o quão triste você fica ao pensar na nossa separação, mas você teve um mês para se acustumar com a ideia, e amanhã mesmo eu já estarei embarcando naquele avião. Eu quero ir com o coração leve, sem ter o peso na conciência que você estará sofrendo aqui por minha causa. O.K., isso está parecendo um pouco egocêntrico; todavia eu apenas estou remediando. Eu quero o melhor para você, meu amor. Não importa se você terá outros que te farão feliz, apenas quero vê-la feliz... Por mais que isso me doa também. - Ele murmurou, limpando os vestígios de lágrimas e maquiagem que restavam no meu rosto.

Não respondi, visando não arruinar mais nada. Eu teria que ser uma ótima atriz para enganá-lo que, supostamente, eu estaria bem; por mais que eu soubesse o quanto eu sofreria.

Amaldiçoei a mim mesma por ter passado um leve lápis embaixo do olho, porém fora apenas devido ao longo sono, que me deixaria algumas orelhas.

Entretanto todos os problemas já haviam sumido enquanto eu abraçava aquele peitoral másculo. Ele me aquecia, ao mesmo tempo que me dava segurança. Os braços do Jus cercavam a minha cintura; e ali ficamos um bom tempo abraçados, em pé, com fome, frio, sem nos importar o que ocorria à nossa volta.

Um suspiro me distraiu de um raciocínio um tanto irracional, como os que tenho na prova de Química, por exemplo.

– O que houve? - Perguntei, finalmente me afastando e fitando o seu rosto de feições suaves.

– Eu acabei de lembrar que nós temos um jantar com o Scooter hoje. Ele queria te conhecer pessoalmente e pedir desculpas pela ligação inoportuna. O Scooter me contou sobre o ocorrido na ligação; e, depois que eu contei o que deveria ter ocorrido realmente, ele ficou super culpado por ter agido à grosso modo.

– Então nós teremos que voltar para casa e nos arrumarmos, comermos alguma coisinha também. Imagina se chegássemos lá desse jeito, no meio do restaurante, e atacássemos a comida! Vão pensar que nós somos loucos desse jeito! - Disse constrangida com a minha roupa. Caminhei para a frente dele, na beira daquele morrinho, fitando o Sol que já se encontrava na metade do céu.

– E não somos loucos de sermos o casal mais estranho que já se viu? Uma ciumenta e um traíra! - Brincou, correndo e me abraçando por trás, com um sorriso sapeca no rosto e me dando um beijo na bochecha.

– Ai, eu nem sou tão ciumenta assim! Só tenho ciúmes, porque tenho medo de te perder. - Murmurei, girando e fitando-o intensamente nos olhos, enquanto uma mão se direcionava ao coração dele.

– Saiba, Mel, que, independente de onde eu estiver, eu sempre estarei pensando em você e as batidas do meu coração dependerão do seu viver. - Ele murmurou, assim que colocou a sua mão sobre a minha, ambas repousadas em cima daquele enorme coração, conotativamente falando.

– Então prova! Grita para o mundo que você me ama! - Pedi, manhosa, ao mesmo tempo desafiadora.

Para a minha surpresa, com o seu olhar penetrante, ele se aproximou, encostando os nossos corpos e posicionando a sua boca sobre a minha orelha.

– Eu te amo. - Sussurou nesta, fazendo-me estremecer ao contato do seu hálito quente em minha orelha.

Joguei a cabeça para trás, a fim de encará-lo. Com a sobrancelha arqueada, perguntei porquê ele fizera aquilo.

– Porque você é o meu mundo, boba. - Sussurou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e tocando suavemente a minha bochecha, como se eu fosse uma pedra rara que merecia ter muito cuidado.

– Acho que, se eu te escolhi no meio de tantas pessoas, é porque você deve ser realmente especial. - Brinquei, mesmo sabendo o quanto ele era especial realmente.

O meu sorriso aumentou incrivelmente, enquanto o meu riso também soou pelo ambiente. Eu não podia acreditar o quanto eu fora abençoada por Deus por ter estes momentos incríveis na minha vida. Eu sabia que seria algo inesquecível.

– Não existe felicidade maior no mundo do que ver um sorriso no rosto da pessoa que você ama, e saber que o motivo dele é você! - Setenciou ele, passando o dedo sobre os meus lábios, enquanto eu o encarava fixamente, apenas resistindo à tentação de sorrir.

– E o meu sorriso verdadeiro sempre será ao seu lado - Murmurei, cruxando os braços no seu pescoço e aproximando-me dele.

Tentando seduzi-lo com o olhar, o que eu não sabia nem como fazê-lo. Apenas o encarei até provocá-lo, pedindo um beijo que me deixasse ofegante. Mordendo os lábios, encarei os dele, que logo avançaram até mim. Entretanto, me soltei dos seus braços e dei dois passos para trás, a fim de deixá-lo querendo um beijo meu.

Entendendo o meu joguinho, começou a correr atrás de mim, e eu fiz o mesmo, só que fugindo dele. Com a cabeça virado para o lado oposto ao qual eu estava correndo, o vi com um enorme sorriso no rosto, o que me fez sorrir automaticamente. Continuei correndo morrinho abaixo, até que ele me agarrou pela cintura, me desequilibrando e fazendo com que nós caíssemos na grama. Acabou que rolamos algumas voltinhas, até chegarmos aonde era totalmente plano e ficarmos em uma posição um tanto quanto... Bom, cada um pode julgar do jeito que quiser. Eu estava por cima dele, com a boca a pequenos centímetros da dele, com o meu corpo totalmente colado ao seu, enquanto estávamos a fitar os olhos um do outro.

Não pudemos evitar o beijo que se sucedeu, devido a tanta química. Quando os nossos olhares se encontravam, era impossível impedir os nossos sentimentos de libertarem-se. Esqueci de tudo à minha volta, apenas me concentrando ali, no nosso momento.

Minhas mãos seguravam as suas madeixas que se misturavam à terra batida. Uma das mãos dele estava posta na minha cintura, e a outra sob a minha nuca, movendo-a para o sentido contrário do seu beijo.

Nosso beijo se esquentou, assim que ele rolou comigo por cima, me deixando por baixo dele. Ofegantes, nos separamos, mas eu não abri os olhos. Com o dedo sobre os meus lábios, ele delimitou os limites deste. Gemi de prazer pelo simples toque de sua mão e, em seguida, corei de vergonha por tal gemido. Abri um olho, verificando como estava o seu rosto. Ele estava com o peso do seu corpo sobre as mãos agora, para não ficar com o peso sobre mim.

– Parecemos estarmos vivendo um sonho, não é? Parece que a realidade não existe, que os contos de fadas se realizam e que, com você, qualquer coisa é possível. Você parece um sonho o qual eu tive a honra de presenciar ele se realizar. - Ele murmurou, proximando a boca do meu lóbulo, mordendo-o em seguida.

– E não seria um sonho sem você nele. - Contradisse, sorrindo e abrindo os olhos, encarando os dele. Era a mais pura verdade - nós tínhamos a honra de termos um ao outro, de nos completarmos, de sermos tão perfeitamente contrários. Ele com o seu gênio difícil, seu passado duro, a sua paciência curta quando bebe. Eu com o meu coração mole, com o meu passado indecifrado, sem medir as consequências quando bebo. Éramos estranhamente perfeitos juntos. - Quer saber? Eu estou preparada. - Fitei o longamente após essa fala, cuja ele pareceu não compreender.

Sua boca entreabriu-se assim que ele entendeu. O ritmo do meu coração acelerou, por mais que a minha convicção não tivesse mudado. Eu não precisava de um lugar adequado, que fosse de noite e não de tardizinha, que estivéssemos conscientes do que faríamos, nem nada. Eu apenas precisava dele e de mais ninguém.

Vendo que ele não havia acreditado, expliquei de forma mais explícita, mas mesmo assim não era algo tão claro, senão soaria de forma pervertida.

– Eu estou preparada para me entregar para você, Justin. Não é por pressão que você "coloca" em mim, nem nada. Eu apenas me sinto pronta e quero que você seja o primeiro a me ter.

Ele me beijou longamente e profundamente, selando os nosso lábios de forma selvagem, como se fosse necessário para a sua sobrevivência. Bem, talvez fosse para a minha. Será que eu sobreviveria sem ele? Espantei tais pensamentos e resolvi me entregar ao beijo, que já começava a me deixar sem fôlego.

Começei a desabotar a sua blusa, vendo se eu estava indo pelo lugar certo, já que eu não tinha experiência naquilo. Nos separamos para tomar fôlego, e percebi que eu sorria. Eu iria me entregar a alguém que eu amava. Não importava se seria com apenas dezesseis anos, ou quarenta. Eu estaria ali, ele também, em um lugar especial, com o risco de nunca voltarmos a nos ver novamente.

Ainda movidos pelo calor do beijo, ele desabotoou lentamente os botões do vestido, como se quisesse ver a minha reação. Hesitou por um instante, assim que a sua mão posicionada nas minhas costas, tocou o meu sutiã.

O beijei com um ávido desejo, mostrando para ele que eu o queria, eu queria ter essa lembrança. O ritmo acelerado dos nossos corações nos guiou durante aquele ato. Apenas me entreguei a ele, confiando tudo o que eu tinha a ele - o meu coração, a minha alma, o meu corpo. Eu não precisava de prova maior de amor do que a fidelidade de nos entregarmos naquele momento. A prova de que ele fora o meu primeiro amor estava concretizada, assim que chegamos ao ápice. Eu nunca o esqueceria, e era justamente o que eu queria.

Assim que nos abraçamos, com a noite já posta no céu, algumas lágrimas despencaram dos meus olhos. Aquelas que eu havia prometido não mostrar, o sofrimento que prometi esconder, não se aguentou e liberou-se em forma de lágrimas.

Delicadamente, ele tocou com o seu polegar nelas e limpou-as. Pela sua expressão, o Justin parecia preocupado, até que perguntou:

– Mel, eu te machuquei?

Balançei minimamente a cabeça de forma negativa, pois eu sabia que qualquer dor na primeira vez era normal. Não era esse tipo de dor, mas era outro, um que doía mais ainda - no coração.

Ele começou a cantar uma pequena melodia no meu ouvido, para que me acalmasse. Ela era bonita, serena. O meu ouvido se arrepiou assim que o seu hálito quente tocou a minha pele e se chocou com a temperatura baixa do meu corpo, já que a noite se pusera e estava fria... Aliás, ele estava apenas com a sua camiseta no corpo; e eu apenas com o casaco dele no corpo. Ficamos bem à vontade. Sem malícia.

– Por que você estava chorando, amor?

– Jus, eu te amo. - Murmurei simplesmente, não respondendo a sua pergunta.

– Eu também te amo, Mel. - Retrucou sem entender. Resolvi explicar:

– Amanhã não nos veremos mais. Eu não quero torcer para você não fazer sucesso nos Estados Unidos, até porquê seria muito estúpido da minha parte. Ao mesmo tempo que eu quero que você faça sucesso, eu também desejo que a sua vida não mude como você disse que mudaria. Eu nunca mais poderei vê-lo se assim se tornar. Nunca mais poderei beijá-lo, abraçá-lo, senti-lo... Você não sabe há quanto tempo eu me torturo por causa disso. Eu não aguento mais essa angústia de pensar que você vai ir embora. Imagine só quando você for! O pior é que eu não tenho como fazer nada para reverter essa situação. - Murmurei chorando mais ainda, com lágrimas invadindo os meus olhos sem permissão.

Escondi o rosto entre os joelhos, enquanto eu abraçava esses que estavam flexionados, em uma posição fetal, que parecia esconder a dor.

Senti a mão dele sobre as minhas madeixas morenas, massageando-as. Sem olhar para a expressão dele, ouvi ele dizer:

– Mel, não importa aonde eu estarei. Você sempre estará no meu coração. Sempre carregarei as nossas lembranças, os nossos momentos, as nossas brigas...

– E as suas idiotices. - Completei, levantando a cabeça e dando um sorriso amarelo.

– Que assim seja. E, se a saudade apertar, procure no céu a estrela que mais brilhar; ela será o meu olhar. - Murmurou, aproximando os seus lábios dos meus e juntando-os em apenas um selar dos lábios.

Sorri enormemente assim que nos separamos, pois ele apontou para o céu e mostrou a estrela que mais brilhava naquele momento - e ela parecia estar bem acima de nós, nos iluminando.

– Jus, posso lhe pedir uma coisa? - Ele assentiu, e prossegui: - Me abraça. Me deixa sentir você junto comigo, como se nós fôssemos ficar assim pra sempre.

E assim ficamos por alguns instantes, ouvindo o canto dos pássaros, o zunir dos insetos e a calma do vento. Tudo parecia perfeito naquele lugar, como se tivesse uma magia enigmática lá. Fora ali onde tudo começou. E, com esse pensamento, suspirei, atraindo a atenção dele.

– O quê foi?

– Esse lugar. Aqui, foi aonde tudo começou. - Pensei em voz alta.

– Sabe o que eu pensei naquela noite em que peguei o meu violão e lhe segui? - Perguntou, com um sorriso maroto no rosto. Balançei negativamente a cabeça. - Ninguém, naquela festa, estava mais bonita do que você...

– Nem o Ryan? - Brinquei, interrompendo-o, com a minha bipolaridade se mostrando mais uma vez.

– Boba! Mas eu queria desabafar com alguém sobre os meus problemas e, além de você ter sido uma ótima ouvinte, ainda consegui lhe roubar um beijo! - Disse rindo.

Indignada, bati no seu peito, repreendendo-o.

– Mas sério, Mel. Em você, eu achei uma conselheira, uma acolhedora dos meus maiores temores, uma pessoa engraçada, harmônica, feliz, bipolar e que beija muito bem! - Brincou. Mostrei a língua para ele, rindo.

O beijei de modo selvagem, feroz, interagindo com a natureza ao redor. Segurei as suas madeixas claras com uma mão e, com a outra, toquei no seu peitoral. Assim que nos separamos, me levantei e dei alguns passos para longe, indo em direção ao carro. Porém ele me lembrou de uma coisa:

Hey, espertinha! Você esqueceu o seu vestido e os seus sapatos!

Tudo bem, a minha saída deslumbrante não dera muito certo. Voltei, fingindo zanga. Estiquei o braço para pegar os meus pertences que estavam nas suas mãos, porém ele os desviou.

– E quem disse que eu quero que você os pegue?

"Morri!", foi o primeiro pensamento que pensei conotativamente. Eu merecia alguém tão sedutor assim? O seu sorriso safado no rosto me fizera perder o fôlego, e nem comento sobre a sua frase. Ele jogou o cabelo para o lado, fazendo aquele hairflip que eu amava, ao mesmo tempo que eu fingia não ter me afetado com aquela frase.

– Se você não me der esse vestido e esse sapato, considere-se um homem morto! - Afirmei, brincando.

Ele levantou apenas com a sua camisa, mostrando a sua cueca preta e pegando os seus pertences. Vestiou-os e, então, pegou os meus que estavam próximos a ele, já que eu permanecia parada, com o braço esticado. Entregou apenas os sapatos, sem devolver o vestido, e saiu caminhando. Franzindo a testa devido à confusão, caminhei à passos rápidos para igualar aos dele e perguntei:

– Se eu não posso desfrutar da sua imagem só de cueca, por que você deveria desfrutar da minha só de casaco, que ainda é seu, e calcinha?

– Você não tinha dito que iria me matar caso não devolvesse? - Assenti. - Pelo menos, eu já morreria no Paraíso.

O Justin me levou à minha casa para que eu me arrumasse para a janta com o Scooter. Aliás, eu ainda precisava de um banho depois de tudo. Ele iria para a casa dele e, depois, voltaria para me buscar.

Chegando em casa, a minha mãe nem desconfiou de nada; afinal, ela sabia que eu iria passar a tarde com o Justin e apoiava isso totalmente. A senhora McCartney sabia que eu amava-o e sofreria com a nossa separação, mas não comentara nada sobre o assunto, como se evitasse-o.

Tomei um banho de banheira rápido, explorando o meu corpo já amado e vendo as diversas mudanças nele. Não pude deixar de notar uma certa dor nos quadris, entretanto talvez isso fosse normal. Se eu contasse o que ocorrera para a minha mãe, ela faria questão de consultarmos uma ginecologista. Era o correto a fazer, porém eu tinha vergonha de contar.

Enrolei a toalha em volta do meu corpo, notando como a noite estava fria, pois eu chegava a tremer em pé. Deparei-me com o meu armário e não soube o que vestir. Mais uma típica crise de adolescente. Eu poderia vestir outro vestido, ou uma calça e uma blusa social.

– Talvez poderia ser até uma saia e uma blusa. - Pensei alto comigo mesma, sem notar que a minha mãe estava encostada no parapeito da porta.

– Aonde você vai, querida, que precisa ter tanto luxo? - Perguntou, fazendo-me pular, já que antes eu não havia notado-a.

– Que susto, mãe! Não sabes que é feio escutar por de trás da porta?

– Eu não estava escutando, apenas observando. - Uma mãe não deveria ensinar tal frase.

– Mas você tem alguma sugestão do que eu posso usar? É para um jantar com um famoso empresário do nosso país... Aliás, dos Estados Unidos, afinal, eu já me sinto uma canadense. Fui tão bem acolhida aqui!

– Talvez aquela saia preta de cintura alta, com a meia-calça com rendas pretas na diagonal que formam uma estampa xadrez nas pernas, e aquela blusa de um tom rosa claro, que tem escrito "Love without limits, dream without fear". - Tal frase significava "Ame sem limites, sonhe sem medo". Seria perfeito tal junção!

– Claro, mãe! Obrigado, obrigado! - Exclamei, caminhando até ela e beijando toda a extensão da sua bochecha.

– Filha, eu despenso melação. - Ui, esse "corte" doeu.

– Desculpa, mãe! - Disse e saí correndo em direção ao armário para pegar as roupas e vestí-las, pois eu já estava atrasada.

Deixei o meu cabelo ao natural, o qual ele era um pouco cacheado no final do corte, e apenas coloquei a minha franja para o lado, para dar um tom ousado. Coloquei um sapato de salto preto e escovei os dentes. Desci radiante, apostando que eu faria o Justin suspirar, mas não tão cedo.

Logo que desci, ele estava me esperando no final da escada. Com um sorriso que mostrava toda a sua fileira de dentes perfeitos; com o seu cabelo perfeitamente arrumado para o lado; com as suas roupas novas e, agora, de marca; ele me esperava.

Ele pegou a minha mão, antes encostada no corrimão, e beijou-a delicadamente.

– Parece que vão ao baile, não a um jantar. - Minha mãe comentou, para estragar o clima.

Olhei de soslaio e a vi próxima à porta. Mostrei a língua - já que eu era matura o suficiente para fazer isso umas dez vezes por dia - e puxei o Justin para fora de casa.

Fechei a porta assim que saímos e dei um selinho nele. Me desculpei pela minha mãe que, a cada dia, ficava mais melosa. Ele riu e disse que sabia como era, já que a Pattie melhorava a cada dia a sua conduta. Fiquei feliz em saber disso e, logo, me dei conta que também não a veria mais, que ela se mudaria para Atlanta com ele. O meu sorriso se desmanchou quando pensei nisso, mas ele nem notou. Entramos no carro, e ele se mostrou um verdadeiro cavalheiro quando abriu a porta para mim.

No caminho, trocamos algumas carícias com as mãos, como quando ele ia trocar a marcha e eu o acariciava. Eu queria aproveitar todos os minutos que tínhamos juntos, inclusive em bobagens como um meio de transporte.

Assim que chegamos no restaurante que eu não conhecia, pois era longe da cidade, Stratford, desci do carro apreensiva. O meu namorado segurou a minha mão e viu que eu estava suando frio de nervoso. Disse que eu precisava ser apenas eu, que era para o Scooter saber o que ele ia esconder e que eu precisava confiar nele. Assenti, sem dizer nada, repreendendo a mim mesma por ser tão tola a ponto de ficar nervosa com aquilo.

Entramos no restaurante, e um atendente retirou o meu casaco de couro preto e pendurou-o em um cabide. Agradeci e, em seguida, percebi que o humor do Justin mudou repentinamente.

– O que houve? - Perguntei, curiosa.

– Não finge que você não viu o cara te secando, Mel. - Resmungou.

Apertei a sua bochecha e murmurei como ele era fofo com ciúmes. Perguntei aonde estava o tal de Scooter e, surpreendendo-me, apontou para um moço jovem, que aparentava ter menos de quarenta anos, com certeza. DESCRIÇÃO!

Caminhamos até a mesa; e, só então, o moço pareceu nos notar. Levantou com a boca entreaberta, estendendo a mão trêmula para mim, ao mesmo tempo que dava uma piscadela para o Justin.

– Belo gosto! - Exclamou, fazendo-me corar. - Prazer, sou Scooter Braun; mas pode me chamar de Scooter. É triste, mas eu nunca tive um apelido decente, além de cabeça-de-lâmpada ou garoto-do-boné. É. - Disse por fim, com a emoção morrendo no final.

– Hmm, Melissa McCartney. Prazer. - Murmurei timidamente, intercalando as pontas dos pés e o pisar sólido demonstrando o nervosismo.

– Acho que você já me conhece, não é? - Perguntou o Justin, largando a minha mão e dando um meio abraço no Scooter, aqueles os quais se dão dois socos nas costas do outro. Eu achava um pouco bruto aquele gesto; porém era engraça a diferença de altura entre os dois. Inicialmente, a altura do Justin regulava à boca do Scooter.

– E aí, dude? Pronto para virar o novo fênomeno de Hollywood?

– Sempre! - Exclamou o meu namorado, puxando a cadeira para eu me sentar e assim o fiz.

Logo, os dois se sentaram e começaram a comentar sobre o jogo de basquete que dera outro dia. Eu não sabia que o Justin era tão viciado assim nesse esporte, mas fiquei feliz em descobrir mais coisas ainda sobre ele.

Depois deles terem pedido a nossa janta, pareceram lembrar da minha existência. Não é por nada, todavia eles pareciam ter esquecido que eu existia.

– Mas então, Melissa... Quantos anos você tem? - Scooter perguntou. Legal, agora começaria o interrogatório.

– Quase dezesseis. Vou fazer aqui a três meses. - Limitei em sorrir amarelo, afinal, a pessoa que eu mais queria que estivesse lá, não estaria.

– E em que cidade você nasceu?

– Nova York, Estados Unidos. Sou a típica garota que nasceu na cidade grande, mas se identificou com a cidade do interior. - Mordi o lábio. Não havia nada de típico nisso. Eu era quase uma aberração para a sociedade.

– Mas por que você não volta para os EUA já que o Biebs vai estar lá? - Biebs? Eu havia gostado do apelido.

– Porque a minha mãe tem um emprego fixo aqui e ela acabou de ser transferida. Não temos condições de nos mudarmos novamente... E, bem, o meu pai... É delicado. Eu acabei de conhecê-lo, depois de anos de angústia.

– Eu poderia ter os telefones deles? Precisarei conversar com eles, se não se importa.

– Claro. Quer que eu coloque no seu celular?

Ele concordou e, logo, fui teclar o número. Para isso, eu precisava entrar em contatos, para logo clicar em adicionar contato. Entretanto, cliquei no botão o qual subia na lista de contatos e acabei selecionando o nome "Usher Raymond V". Minha boca entreabriu-se em um enorme "O" de surpresa, o que tirou algumas risadas da boca do Scooter.

– O que foi? - O meu namorado perguntou.

– USHER?! Está de sacanagem! - Murmurei, cética. Os meus dedos tremiam ao segurar o celular.

– Não é brincadeira. E eu pretendo mostrar o talento do seu namorado para ele. - O empresário do Justin disse lentamente, totalmente calmo, enquanto eu estava prestes a ter um ataque cardíaco. O Usher era o meu muso! - Quer ligar para ele? Ele adora receber trotes. - Falou, dando de ombros.

Apenas balançei a cabeça freneticamente para cima e para baixo, agarrando o celular com mais força e clicando na tecla para chamar.

– Essa eu quero ver. - Disse o Justin se acomandando na cadeira.

– Eu não tenho coragem, - exclamei, desligando. - Eu não tenho coragem de interrompê-lo, coitado. Aposto que você, Jus, não vai gostar de receber ligações anônimas que apenas o façam perder tempo.

– Então você aposta errado, moçinha. Eu amo receber trotes, porque as minhas revanches são ainda melhores. - Ele sorriu maleficamente ao concluir.

Com tal descontração, Scooter logo voltou para as perguntas sobre mim, o que me deixava muito desconfortável. Ele até perguntou se eu e o Justin já tínhamos... Ido um passo à diante. Se eu corei? Corar era um verbo muito humilde para a minha ação. Talvez eu pudesse dizer "eu pimentei"... Mas isso seria muito estranho.

"Aleluia!", foi a primeira coisa que pensei quando as nossas refeições chegaram. Era uma pizzaria muito refinidade, e imaginei que o Scooter fosse pagar. Afinal, eu e o Justin nunca ousaríamos gastar tanto dinheiro em um jantar. Nós não cagávamos dinheiro infelizmente.

Comi da forma mais lenta possível, a fim de que ele respeitasse o meu silêncio... Mas isso não aconteceu. O Scooter continuou a perguntar, e eu a responder. Eu não seria insensível a ponto de não retrucar as suas questões. E isso era para o meu bem também, por mais que eu não quisesse admitir.

– Como vocês dois se conheceram? - Ele perguntou, fazendo-me sorrir verdadeiramente naquela noite. Segurei a mão do Justin, fazendo pequenos círculos com o meu polegar nas costas de sua mão.

– Era o meu primeiro dia de escola aqui, em Ontário; e eu havia recém conhecido uma amiga minha, a Letícia. Nós derrubamos algum tipo de material, não sei se era meu ou dela, e então fomos pegar do chão. Assim que levantamos, a vi fitar algo atrás de mim e me virei também. Era ele. - Olhei para o motivo dos meus suspiros, dos meus sorrisos e do meu viver.

– É, ela quase babou quando me viu. - Gabou-se.

– Bobo!

– Mas é verdade! - Esbugalhou os olhos, como se eu estivesse culpando-o de mentir.

– Eu não contestei o que você disse. - Murmurei, dando de ombros e resultando em um lindo sorriso torto no rosto dele. Dei um pequeno selinho naquela boca deliciosa, que me fazia querer mais. Porém tínhamos que ser discretos, por mais que o desejo estivesse presente naquele momento.

– Vocês são adoráveis juntos. Pena que você, Melissa, não está disposta a jogar tudo para o alto para ficar com ele. - Scooter lamentou, deixando-me atônita.

Não, não era bem assim. Por mim, eu faria qualquer coisa por ele. Entretanto, eu não poderia abandonar os meus amigos aqui, nem a minha família. Afinal, eu recém tinha conhecido o meu pai. Agora, finalmente, eu poderia me aproximar dele. Não seria possível um afastamento justamente agora. Também tinha a minha educação...

Meus olhos marejaram com a fala do Scooter. Ele parecia entender como se eu não amasse o Justin suficientemente para fazer qualquer coisa por ele. Parecia como se eu quisesse que ele viajasse. Eu parecia ser uma cretina, isso sim.

– Eu preciso tomar um ar, com licença. - Pedi, levantando-me e retirando-me rapidamente da mesa.

Aquele mesmo atendente abriu a porta, e fitei-o quando o fez. Ele percebeu os meus olhos marejados, mas não disse nada. Saí e sentei nos primeiros degraus que levavam até à entrada. Tentei me aquecer ao esfregar freneticamente as mãos nos meus braços, todavia não teve muito efeito.

– Talvez a senhorita queria o seu casaco. - Aquela voz pronunciara tal sentença.

O Justin pôs o casaco sob os meus ombros e me abraçou ao sentar ao meu lado. Os meus dentes, que antes tremiam, normalizaram. Os braços dele sobre os meus ombros ajudaram para aumentar o meu conforto. Estava melhor ali fora do que lá dentro.


– O Scooter queria pedir desculpas. - O Justin falou sem jeito, coçando a nuca, desconfortavelmente.

Assenti, sem dizer nada, querendo apenas paz um pouco na minha vida, pelo menos naquela noite. Demo-nos as mãos; e, antes de entrar no restaurante, respirei fundo, estampei um pequeno sorriso no rosto e, constrangida pela minha ceninha, voltei para a mesa.

– Melissa, me desculpa! Eu não sei onde eu estava com a cabeça. - Ele disse, notavelmente constrangido.

– Ah, não foi nada. Você que me perdoe. Eu me senti um pouco indisposta e precisei sair sem dar explicações.

O assunto não foi tocado novamente. Ninguém dissera nada sobre aquele assunto apartir de então. Fora notável o desconforto do Justin diante da situação. Ele parecia hesitante diante das pergutnas, que se sucederam, do Scooter. Era como se ele tivesse medo da minha reação a elas; na verdade, porém, eu estava preocupada com ele para que ele não se aborrecesse mais naquela noite.

Finalmente, comemos a sobremesa, também ordenada pelo Scooter, e fomos nos despedir.

– Melissa, acho que o mundo vai lamentar não ter te conhecido. Você é realmente muito querida. Alguma vez na sua vida, você já quis ser famosa? - Ele perguntou.

Arqueei a sobrancelha e apontei para mim mesma.

– Eu? Famosa? Não, nunca pretencionei algo tão grande assim. - Murmurei, indigna.

– Porque, caso soubesse do seu namoro com o Biebs, você se tornaria famosa. Poderia ser atriz, modelo ou, até mesmo, cantora, caso cante bem. Afinal, você é muito bonita e tem um corpo e tanto para a modelagem. Mas, se você quer permanecer apenas como a ex-namorada que ninguém menciona, tudo bem. - Scooter disse, de um forma que, para mim, pareceu até arrogante.

Não falei nada, mordendo a minha língua para me conter. Era como se eu fosse me aproveitar da fama dele, como se eu fosse uma qualquer. Apenas morder a língua não fora o suficiente, então mordi o lábio. Fizemos as saudações de despedida, nos demos as mãos, ele foi amigável o suficiente para dizer que ia cuidar do Justin no tempo em que eu estivesse ausente, e eu apenas respondi com um "obrigada". Não sei se ele soou muito falso, porém não fora de propósito. Eu estava grata; mas, ao mesmo tempo, "P" da vida com o Scooter. Ele não tinha que dizer algumas coisinhas que aquela boca grande falava.

Quando fomos sair do restaurante, o mesmo menino que guardara o meu casaco, abrira a porta. Agradeci, o que não nem pareceu preocupar o Justin, que já estava tenso, franzindo a testa.

O Scooter foi para um lado do estacionamento; e nós, para o outro. Respirei fundo, prestes pelo discurso que ele daria, imaginando que eu tivesse aquerado aquele cara.

Ele abriu a porta do carona para mim, por cavalheirismo. Entrei um pouco hesitante, mas tentando parecer o mais segura o possível. Logo que ele sentou, ele começou:

– Mel...

– Eu sei, eu sei. Eu não deveria ter agradecido para aquele cara. Mas não foi nada de mais, não! - O interrompi, apreensiva.

– Que nada, sua boba! - Ele murmurou, rindo. Franzi a testa, e ele tratou de explicar: - Eu não ia começar uma "DR" bem agora, na nossa última noite. - Justin riu mais uma vez, como se fosse uma piada interna ou alguma coisa. - Mas, sério, eu queria lhe pedir desculpas, Mel. O Scooter foi muito infantil em algumas coisas, sendo que ele é bem mais velho do que a gente. O meu empresário não deveria ter dito aquilo sobre você não me amar o suficiente, o que eu sei (e espero) que seja mentira.

Bagunçei o seu cabelo, rindo em seguida. Vi que estávamos parados em um sinal, então aproveitei para selar os nossos lábios ferozmente. Nossas línguas batalhavam, mas os nossos corações estavam harmoniosamente rápidos. Mordendo o seu lábio inferior, me afastei dele, mostrando que o sinal já estava aberto.

– É claro que é mentira. Eu já tive um pequeno histórico de namorados, isso significa um ou dois. Mas eu não os amava. Eles nem se comparavam a você em torno de bom humor e beleza. Eram desprovidos de beleza e não tinham o mínimo senso de humor. Odiavam piadas e eram nerds da computação.

A cara do Justin estava muito engraçada: a sua boca estava aberta e os seus olhos, esbugalhados.

Dude, você é tão legal, engraçada, meiga... e tem um corpaço. Como você tinha uns namorados assim? Meu Deus, os garotos na sua escola eram cegos ou o quê? - Perguntou a si mesmo, indignado.

– Talvez o motivo tenha sido a minha invisibilidade por ter amigos que não eram populares, mas eu nunca deixei de apoiá-los... Sabe, eu sinto falta deles. - Dei um sorriso triste.

– Eles eram, tipo.... Nerds? - O Justin perguntou, hesitante.

– Sim, algo contra? A Nati (Natália) foi uma das minhas amigas que me ajudou quando a minha avó materna morreu. Eu amava muito a minha nona... Se bem que ela tinha origem mexicana, e não italiana, mas tudo bem.

– Hmm, mexicana, hein? - Perguntou, mordendo o lábio e me fitando.

– Olha para a frente e dirige, por favor! - Mandei.

Resolvi fitar a paisagem no caminho de volta para a casa. Era a mesma paisagem que eu vira quando estava prestes a chegar em Stratford, quando eu estava prestes a conhecer o meu verdadeiro destino. Ao ver o quanto nós perdemos tempo fazendo outras coisas, percebemos o quão maravilhosas e valiosas são aquelas que adiamos.

Já que a sua mão estava sobre a marcha, mesmo sem mover, apenas pisando fundo no acelerador na estrada, coloquei a minha mão sobre a mão do Justin. Era tão bom ter esse contato com a sua pele, com a sua mão tão quente e macia.

– Obrigado. - Ele disse de repente, com a sua voz rouca e macia ao mesmo tempo quebrando o silêncio.

– Pelo o quê? - Perguntei, um pouco confusa pelo modo repentino que ele falara.

– Por existir. - Respondeu, sorrindo.

– Então, obrigada a você também. Por existir, por ter iluminado os meus dias, por ter me ajudado quando eu precisei, por ter me auxiliado quando implorei, por ter me aguentado quando me enciumei... Obrigado. - Murmurei, sorrindo. Toquei nos meus lábios e, já que ele não podia virar o rosto em plena estrada, coloquei a essência sobre os seus lábios.

– Eu amo você, Mel. Amo a sua felicidade, o fato de você ser alto-astral, o seu ciúmes, a sua possessão sobre as coisas, a sua mania de mostrar a língua para tudo, apenas para não decepcionar as pessoas com possíveis palavras duras. Ao invés disso, você é apenas fofa, tentando não retrucar o que uma pessoa dissera com setenças duras. Mas, eu preciso confessar, o que eu mais amo em você é o seu sorriso. É o fato de você estar sempre alegre, com ele estampado. Mesmo naqueles momentos difíceis, você tenta sorrir para não decepcionar as pessoas ao seu redor. Você sempre tenta fazer os outros ficarem mais felizes, como se um sorriso pudesse fazer uma mudança no mundo.

– E não pode? - Perguntei, em dúvida.

– O seu pode. Basta acreditar para acontecer. A prova é a minha viagem, a qual almejei por muito tempo.


– Um sorriso é a manifestação dos lábios quando os olhos encontram o que o coração procura; e o meu coração lhe procura, Justin. Ele sabe que eu não vou sobreviver sem você. - Murmurei a última frase quase para mim mesma, bem baixinho; não pude evitar, porém, que ele escutasse.


Bruscamente, ele virou a direção até o acostamento, freiando repentinamente. Com as suas mãos firmes, pegou o meu rosto entre elas e balançou a minha cabeça grosseiramente, por mais que as suas mãos fossem delicadas.

– Mel, nunca mais repita isso! Você nunca poderá deixar viver! Eu não sou nem metade do que você merece e não quero lhe deixar sabendo que eu sou culpado pela sua infilicidade. Vamos seguir em frente depois dessa nossa experiência incrível. Vamos conhecer pessoas novas, abrir os nossos corações e não vamos nos fechar para o mundo. - Ele disse sério, como se prometesse algo para si mesmo, me olhando nos olhos, enquanto as suas mãos, lentamente, soltavam a minha cabeça.

Virei para o outro lado a cabeça, fitando a paisagem e sentindo o pequeno soluço se expandir pela minha garganta, enquanto o Justin encostava a cabeça sobre o volante, escondendo a sua expressão.

– É impossível lhe esquecer. - Murmurei, com o choro entrecortado. - O primeiro beijo que me roubaram foi com você; a primeira vez que roubaram o meu coração foi com você. Meu bandido tentador, não peça para eu lhe esquecer. No máximo, eu conseguirei seguir em frente; não posso prometer em ser feliz. - Disse, com a cabeça baixa.

Ele levantou o meu queixo com um dedo, delicamente, fazendo-me olhar naquelas enormes amêndoas, vulgo, o meu paraíso... Tudo bem, os seus olhos.

– Mel, eu não disse que eu iria lhe esquecer. Você me fez amar, você me ensinou o que era fazer amor, e não sexo. O amor sempre deixa uma marca significativa. O amor deu um significado para a minha vida, que eu também nunca deixarei de lado. Eu descobri o meu motivo de viver: é você. Eu também tenho um motivo de cantar: para fazer as pessoas sorrirem. E, todas as vezes que elas sorrirem, eu lembrarei de você. - Ele murmurou, dando um leve beijo na minha testa. Em seguida, ele retomou a direção.

Em silêncio, refleti sobre as suas palavras. Fiquei feliz em pensar na possibilidade dele não me esquecer, mas eu sabia que, no meio de tanta gente famosa e bonita, ele me trocaria por outra. Agora, eu queria dizer algo que expressasse o que eu sentia e nada melhor do que a música para fazê-lo. Então, antes que ele desse a partida, resolvi tomar a palavra:

– Jus, as pessoas são como músicas. Algumas, nós gostamos desde o início; outras gostamos depois de um tempo. São feitas para serem ouvidas e compreendidas. Algumas tocam a nossa vida; mas tem uma, aquela mais especial, que é a nossa trilha sonora, e eu sei que é você a trilha sonora da minha vida.

Depois daquela frase, ele me beijou ardentemente e começamos a avançar um pouquinho, movidos pelo desejo. Até que eu me dei conta que estávamos no carro, no meio de uma estrada deserta, à noite. Então disse, entre gemidos, que precisávamos ir para casa. Só que o Justin tinha conseguido permissão com a minha mãe para irmos para a sua casa; e, assim, eu dormiria lá. Imaginei como ele convenceu-a, mas esqueci de tudo quando vi o seu sorriso irresistível, e senti um desejo avassalador de tê-lo comigo mais um momento, para nunca esquecermos.

Quando chegamos lá, a casa com todas as luzes apagadas, então a Pattie já deveria ter deitado. Ele estacionou o carro na garagem e pediu para eu usar uma venda preta que ele continha em sua mão. Franzindo a testa, pus a tal da venda; e ele me guiou até a entrada que, pelas minhas orientações, chegava até à sala.

Puxando-a delicadamente, ele retirou a venda dos meus olhos, causando uma grande surpresa na minha expressão. Meu queixo entreabriu-se, ao mesmo tempo que os meus olhos inundaram-se de água. Eu não merecia um namorado tão romântico assim.

Puxou-me contra ele, fazendo com que os nossos corpos se colassem, com que as minhas costas encostassem no seu peitoral. Assim que o fez, sussurou no meu ouvido:

– A sua voz é a minha canção favorita. - Me arrepiei por inteira, assim que o seu hálito tocou na minha orelha.

Eu não podia acreditar na minha visão: as paredes estavam enfeitadas com alguns lençóis pendurados nas paredes, e também velas iluminavam o ambiente. No chão, rosas trilhavam o caminho até o centro da sala, onde havia um violão. Não havia móveis lá, afinal, eles iam se mudar amanhã; e isso só pareceu aumentar o espaço. Mesmo a sala não sendo tão grande, os lençóis brancos a ampliavam, não dando perspectitiva alguma de que havia paredes lá. Parecia o céu ou algo assim. De qualquer jeito, eu estando com ele, já era o Paraíso. Nossa, eu ficava muito cafona perto dele.

Ele pegou a minha mão com uma certa delicadeza, como se eu pudesse quebrar e fosse feita de vidro. Me encaminhou até o coração de rosas vermelhas que havia no centro e pegou o violão. Uma melodia mais rápida, mais elaborada começou a ser tocada.

[Video:http://www.youtube.com/watch?v=qdDVtFvJwUc]


Ele cantou me olhando nos olhos, falando as palavras diretamente do seu coração para mim. Me arrepiei logo que ele começou e me lembrei que, na noite da festa, quando eu ainda estava no carro, escutei aquela mesma música no rádio. Era Love Me.

A letra falava de amor que iria além de tudo, mas será que esse amor iria? Eu sabia que eu pertencia a ele, e um sorriso enorme se estampou na minha face ao saber que ele também se sentia assim.

"Não se preocupe, eu sentirei muito a sua falta", pensei comigo mesma.

– Eu te amo. - Assoprei e mandei um beijo em seguida.

Sorri envergonhada por ele pensar assim; apenas agora, pois, eu havia me dado conta do quanto ele mudara quando estava comigo e como ele mudou as suas amizades, atitudes e pensamentos. Talvez não fosse só ele que iria deixar uma marcar no meu coração. Novamente, sorri com tais conclusões.

Nós pensávamos do mesmo jeito. Assim que eu o abraçava, eu nunca que gostaria de ter que largá-lo; porém era preciso. O meu coração também estava cego, não enxergava mais ninguém, não se importava com as enganações, não precisava de desculpas quando o machucavam. Ele apenas queria aquele acolhimento que era o seu abraço.

– Como disseram em Titanic, você me salvou de todas as maneiras que alguém poderia ter sido salvo. Eu nunca havia me apaixonado assim por alguém, Jus. Nunca encontrei uma pessoa tão alegre, engraçada, talentosa como você... Ainda mais que fosse se apaixonar por mim!


Je voulais je l'avais su avant que je tombe pour la plus jolie fille que j'ai jamais vu. - Ele murmurou calmamente, afagando a minha bochecha corada. Eu não entendi lhufas e, provavelmente, a minha expressão era a mais tapada possível. - Isso é francês! - Ele riu da minha cara. - Esqueceu que estamos no Canadá? Eu tenho uma parte da família que fala francês, até porquê o meu avô não sabe falar inglês, e eu sou o intermédio dele e do meu pai. Resumindo, o que aquilo significa é "eu queria ter descoberto antes que eu me apaixonaria pela garota mais linda que eu já vi". – Ele murmurou, fitando-me intensamente com os seus olhos castanhos profundos, que pareciam me enfeitiçar.

O puxei para um beijo, já que ele já havia largado o violão. Pus as minhas mãos na sua nuca e o trouxe para perto de mim. Ofegante, falei:

– Você não sabe como francês soa sexy! - Murmurei entre os seus lábios, sentindo o desejo entre as minhas pernas, além da notável animação dele.

Ele me pegou no colo, fazendo-me cruzar as pernas ao redor de sua cintura, e subiu comigo pelas escadas. Ri perversamente sobre o que estávamos prestes a fazer. Ele me jogou na cama assim que chegamos e, dali em diante, a noite se seguiu.

Dessa vez, ele não fora tão cuidadoso como antes, afinal, era a minha primeira vez. Eu estava dolorida, mas esqueci toda e qualquer dor durante o ato. Até me intimidei pela possível presença da Pattie na casa, mas ele me acalmou dizendo que ela chegaria mais tarde, que estava se despedindo das suas amigas da cidade.

Descobri o que era amar, o que era amor, o que era ser amada com o Justin. Eu nunca o esqueceria e precisava aproveitar ao máximo aquela última noite. Nos amamos e, depois, ficamos abraçados, ouvindo as respirações um do outro, o ritmo acelerado dos nossos corações e as nossas falas silenciosas.

Não precisávamos falar, pois o nossos silêncio falava por si. Sabiámos a que estávamos submetidos, porém, ao mesmo tempo, não queríamos ficar causando dor um ao outro enquanto lembrávamos essas coisas.

Com a minha cabeça sobre o seu peitoral desnudo naquela cama não muito espaçosa, senti uma lágrima do Justin atingir os meus cabelos. Virei a minha barriga contra a cama e o encarei, encostando o meu queixo sobre o seu peito.

– Não chores por que um dia acabou, mas sorrias por que um dia aconteceu. - Murmurei, me lembrando de uma frase que eu havia lido em algum lugar.

Ele deu um leve beijo no meu nariz, logo afegando os meus cabelos morenos e murmurando uma leve melodia. Me dei conta que era a melodia da música que ele cantara no nosso primeiro encontro, a mesma que ele cantara no colégio quando fora expulso. Aliás, o Scooter havia conversado com a diretora do colégio e pedido que não ficasse registrado no corrículo dele a sua exclusão, afinal, não ficaria muito adequado e não ajudaria na sua imagem.

Acabei por dormir com tal cantoria tão suave aos meus ouvidos. Dormi abraçado ali mesmo, sentindo o perfume dele contra a minha pele, com a sua pele lançando faíscas a todo toque que ocorria, assim como tais faíscas eram inexplicavelmente confortáveis.

Os meus sonhos foram confunsos, nada muito claro. Eu apenas via o sofrimento de diversas formas, mas a que mais me assustara fora a de um caminhão batendo no meu corpo, enquanto eu andava perdida e vagamente na estrada. Com o choque do meu sonho, acordei assustada, suando frio e pulando involuntariamente na cama.

Olhei ao redor, percebi que apenas um fino lençol me cobria, assim como o quarto se aparentava vazio. Mesmo tensa devido ao sonho, sorri ao pensar que eu estava no quarto dele, prestes a ver o Justin. Apenas de imaginar ver aquele sorriso de novo, a minha expressão se alegrava.

Apoei a cabeça no travesseiro, pensando no dia louco e inesquecível que eu tivera ontem. Fungando o travesseiro dele, sentindo o seu cheiro e me sentindo completa. Percebi que, ao lado da almofada, possuía um bilhete escrito por uma letra particularmente relaxada. Ri do meu pensamento e, em seguida, li:

"Bom dia, princesa!"

Mel, espero que tenha dormido com os anjos; até por que eu durmi com uma anja.

Estou preparando o café da manhã, na cozinha. Se quiser tomar banho, tudo bem. Eu te espero.

Vamos sair de casa às nove horas da manhã, porque o vôo é às onze horas. Confira a hora quando acordar.

Beijos do seu eterno enamorado,

Justin Drew Bieber

Sorrindo feito uma boba, sem parar, fui tomar uma ducha no seu banheiro. Pensei em diversas coisas, inclusive na minha alegria que só poderia ser abalada quando fosse a hora da despedida. Enquanto isso, eu não podia fazê-lo sofrer, era egoísmo demais.

Coloquei um roupão que estava pendurado no cabide, mesmo sem ser meu; mas eu não queria colocar a mesma roupa de ontem, que até rasgara um pouco na blusa.

Desci hesitante as escadas, tentando não fazer barulho algum. O fitei na cozinha, que mal possuía peças, apenas o que seria vendido junto a casa. Entrei, agarrando-o por trás e sussurando no seu ouvido:

– Bom dia, anjo! - E tasquei um leve beijo na sua bochecha.

Ele sorriu, ainda concentrado na omelete que estava por fritar.

– O dia se torna ainda melhor quando eu vejo esse sorriso seu. - Murmurei, desfazendo o laço dos meus braços na sua cintura.

Ele não resistiu e soltou a omelete, virando e me puxando contra ele, tascando um beijo de tirar o folêgo. Senti até certa umidade na minha intimidade, porém nós não podíamos fazer amor agora, que estávamos atrasados para ir até o aeroporto. Já eram oito e vinte, afinal.

– Hey, foco no omelete, vai queimar! - Murmurei, entre beijos, que, após a minha fala, foram diminuindo o ritmo, até selinhos por toda a extensão do meu rosto. - Cadê a sua mãe, afinal? Seria muito constrangedor caso ela entrasse por aquela porta e me visse assim... Aliás, eu não cumpri a minha promessa. - Dei um sorriso tristonho, me sentindo uma inúltil.

– Que promessa, amor? - Ele perguntou, de costas para mim cozinhando a omelete, porém pude perceber o tom de preocupação na sua voz.

– Que eu não faria aquilo que eu fiz com você.

– Ah. - Foi a única coisa que eu ouvi ele pronunciar.

O silêncio tomou conta do ambiente. Apenas o omelete assando o preenchia. Finalmente, isso ficou pronto; e o Justin o pôs em um prato.

Por um momento, passou-me pela mente que ele tivesse interpretado errado a minha frase. Ele poderia ter entendido o sentido, mas poderia também ter pensado que eu me arrependera.

– Jus, você não acha que eu estou arrependida, acha? - Perguntei com um certo tom cético na minha voz.

Ele não respondeu, mas colocou o prato do omelete na mesa e pegou os pratos para compôr a mesa. O Justin parecia irritado, todavia queria se acalmar. Respirou fundo e me encarou:

– É claro que você se arrependeu, Mel; mas eu não a culpo. Eu que sou um idiota mesmo e acabei forçando tudo.

– Não, Jus. - Sussurrei aflita. Peguei o seu rosto entre as minhas mãos, fazendo-o me encarar. - Você não sentiu? Foi a esperiência mais incrível e inesquecível que eu já senti na vida. E você sabe por quê? Porque eu estava com você, nos seus braços, junto ao seu corpo, sentindo o seu calor. Não há nada que me faça mudar de ideia sobre o quão maravilhoso aquilo foi. Jus, eu nunca me arrependeria. Nem sequer pense nisso. Eu só me arrependo de ter prometido algo que eu não pude cumprir. - Murmurei, dando um leve beijo na sua boca. - Agora vamos comer? - Logo percebi o seu sorriso safado. - Ai, meu Deus! Homem é tudo tarado mesmo. A omelete, a omelete.

– Oi, Caith. - Murmurei ao atender o celular, enquanto o Justin terminava de arrumar a sua mala, e eu o esperava no andar de baixo.

– Bom dia, flor do dia! Tudo bem? Ontem eu te liguei de noite, e você nem atendeu. - Resmungou a minha amiga.

– Você achou mesmo que eu ia ligar para o meu celular? Eu tinha uma companhia muito melhor do que a sua! - Brinquei.

– Sorte sua que a minha auto-estima é muito alta. - Ri assim que ela pronunciou tal fala. - De qualquer jeito, eu queria te oferecer uma carona para o aeroporto...

– Eu também, Mel, eu também! - Pude ouvir o Chaz gritar no fundo.

– Tudo bem, eu e o Chaz queríamos te oferecer uma carona.

– Não precisa. Eu vou ir com o Justin. - Murmurei e, em seguida, ouvi ele gritar o meu nome.

Abaixei o telefone e gritei de volta, perguntando o que ele queria.

– Você sabe onde eu deixei a minha cueca?

– Acho que ficou no corredor. - Respondi através de um grito, para que ele pudesse ouvir no segundo andar.

Retomei o telefone ao ouvido e não pude deixar de estranhar as risadas que se seguiam do outro lado da linha.

– O que foi? - Perguntei.

– "Sabe onde eu deixei a minha cueca?" - Chaz imitou a voz do Justin, ou pelo menos tentou.

– Como vocês conseguiram escutar? - Perguntei, corando. Graças a Deus eles não conseguiam me ver.

– Sabe, você gritou, e isso facilita as coisas. - Caith falou, dando de ombros. - Mas, pelo jeito, a noite foi boa. - Pude ouvir a malícia em seu tom de voz.

Logo, o Justin desceu as escadas, com uma grande mala em seus braços. Ele sorriu de lado, assim que reparou nos meus olhos esbugalhados, em direção à sua mala.

– Mudança! - Exclamou, sorrindo sem jeito.

– Caith, - disse ao telefone, - tire as suas próprias conclusões; mas nós tínhamos que aproveitar o tempo perdido. - Murmurei, mirando fixamente o meu namorado.

– O Chaz está aí? - Justin perguntou, apontando para o telefone.

Assenti e passei o telefone para ele, assim como a Caith passou para o Chaz.

Dude, desliga esse telefone e dirige logo para o aeroporto que eu vou perder o vôo. Beijo, me liga. - Ele terminou com uma vozinha afinada, feminina, uma brincadeira.

– O que foi isso? - Eu estava repetindo demais essa frase.

– Ah, eu quero você só para mim, por um momento. - Ele reclamou, colocando a mão na minha cintura e me puxando para perto do seu corpo.

– Talvez seja melhor você entrar na fila. Olha, que ela está virando à esquina.

– Como o meu amor é modesto!

Após essa fala, ele me tascou um beijo sufocante, que parecia sugar a minha alma, mas que deixava rastros de amor pelo caminho. Minha mão se dirigiu às suas madeixas, assim como as dele puxaram-me mais para perto dele, como se fosse possível. O fevor de nossas línguas mostrava o quão insaciáveis estávamos e, pelo menos eu, para sempre, seria.

– Nós precisamos... - Murmurei entre beijos, ofegantemente.

Shhh, e daí se eu perder um avião? É melhor do que perder você, Mel. - Seu murmúrio foi pronunciado abafadamente, com os nossos lábios separados, mas com as testas juntas, apoiadas.

– Jus, não me lembre do que está para acontecer. - Pedi, quase inaudivelmente.

– Mas, Mel, você não pode se esconder daquilo que está por vir.

– Nem se eu fechar os olhos? - Perguntei, sussurando e cerrando-os, assim como segurando as lágrimas.

– Toda vez que você fechá-los e tentar se esconder da realidade, imagine que eu estou ao seu lado, lhe abraçando e lhe protegendo daquilo que lhe aflige. - Pediu, dando um leve beijo nos meus lábios e se afastando em seguida.

– Jus... - Disse, dengosa.


– Que foi? - Perguntou já pegando o seu casaco e indo em direção à porta.


– E se o motivo for você? E se a angústia me fazer sofrer? E se você estiver namorando outra garota? E se...

Ele pôs o dedo sobre o meu lábio, me proibindo de dizer outra qualquer palavra.

– Mel, eu te amo! Será que um dia você irá entender isso? O meu coração não estará livre para alguma garota vir domá-lo. Ele já tem uma dona, que, mesmo que ela não esteja no meu terreno, ela cuidará dele. - Disse, dando-me um leve beijo. Antes que ele recuasse novamente, segurei a sua cabeça e fitei os seus olhos:

– Mas nós não estaremos mais namorando à distância, não é? - O engasgo final me entregou.

– McCartney, eu quero que você seja feliz, e não presa a mim. Eu decidi lhe proteger da mídia, então não poderemos nos encontrar, sequer, quando eu vier visitar Stratford.

Sem resposta, olhei para o relógio e, sem emoção, disse que estávamos atrasados.

Ele abriu a porta para mim no carro, sorrindo, como se pedisse desculpas. Talvez desculpa por estar indo viajar, seguindo os seus sonhos. O meu problema não era o drama, a tristeza, nem nada. Era a falta de objetivos que eu tinha na minha vida, de sonhos, de expectativas. Eu me sentia tão vazia por ele estar indo embora; porque, sem ele, a minha vida estaria incompleta, sem rumo.

Durante todo o caminho, encarei as suas feições. O nariz alongado, o queixo delineado, a boca carnuda... Eram os elementos que faziam o meu coração bater. Nem notei quando ele estacionou, apenas quando abriu a porta e me encarou:

– Plantou raiz e não quer sair? Nossa, pára de ser tão "vegetativa"!

– Estou apenas pensando longe.

– Não seria "pensando alto"? - Ele perguntou, enquanto eu saia do seu carro vermelho.

– Tanto faz. - Dei de ombros.

Entramos dentro do aeroporto de mãos dadas; mas, sabendo que eu não o veria por muito tempo, não aguentei e segurei a sua cintura, e andamos assim, como se fôssemos caranguejos andando tortamente. Fomos para o andar de embarque e, logo, encontramos os nossos amigos: Chaz, Caitlin, Letícia, Ryan... E a Kate, para a surpresa de todo mundo. Ela estava com um vestido branco, acompanhada de dois homens estranhos, provavelmente da clínica.

Justin abraçou Chaz e disse que era melhor que ele cuidasse bem da Caitlin, senão ele voltava só para "dar uns cascudos" nele. Caitlin, por sua vez abrançando-lhe, agradeceu por ter um protetor e, sem se importar com a exposição, disse que Chaz era muito bruto, inclusive naquelas horas. O seu namorado fez uma cara que demonstrava vergonha, e que eu deveria ter tirado uma foto. Era um momento único aquele em que o Chaz ficara com vergonha.

Depois, o Justin abraçou a Letícia, sussurando algo no ouvido dela que ninguém entendera; nem o Ryan, que fora o próximo. Com os braços abertos, querendo receber um abraço, tudo que ele recebera fora um tapa na cabeça, o qual ele alegou ter doído. Nesse momento, Chaz começou a chorar, e todos presentes o encararam com espanto.

– Chaz, você está chorando? - Caitlin parecia a mais chocada.

– Não, foi só uma sujeira que entrou no meu olho. - Murmurou, encabulado.

– Ai, que pena, senhora delicadeza. E a famosa desculpa do cisco foi descartada? - O Ryan brincou, rindo, enquanto a sua parceira, a única que parecia dispersa, tinha as feições tristes. Parecendo sair do transe, me encarou, com pesar. Eu sorri amarelo, entendendo o que ela queria dizer.

Então, finalmente, Justin se dirigiu à Kate. Ele estava realmente surpreso de vê-la, mas talvez aliviado, pois a sua presença indicava certa melhora.

– Justin! - Ela gritou, correndo em sua direção, como uma pequena criança em dia do Natal, que corre em busca do seu presente. O abraçou, com ímpeto, fazendo com que os seus acompanhantes médicos hesitassem. - Eu pedi que eles me deixassem sair; eu não podia dispensar essa despedida. Você foi uma pessoa muito importante na minha vida; nunca lhe esquecerei. - Assoprou no seu ouvido, escondendo, em seguida, o rosto em seu peito.

Por mais que ele quisesse ser simpático, pude notar a sua hesitação. Não era por medo, mas talvez por não saber o que dizer.

– Sentirei a sua falta. - Ela disse, encarando-o em seguida.

– Eu também, Kate. - Fora tudo que ele conseguira dizer.

– Jus, a Pattie já está chegando. Ela acabou de me ligar. - A Caitlin disse, procurando mudar de assunto.

– Já está na hora de fazer o check-in. Já volto. - Ele disse, delicadamente, afastando Kate do seu corpo.

Ele se dirigiu a fila, que era pequena, já que estávamos em Stratford, onde o aeroporto mal tinha dois andares. O andar de cima era apenas para o check-in, mas nem lojas tinham. O Justin pegaria um vôo até Nova York e, depois, chegaria em Atlanta.

Letícia, imediatamente, me abraçou, vendo que eu estava preste a chorar. Escondi-me com os meus cabelos, procurando evitar o choro, engoli-lo. Todos os meus amigos se juntaram e nos abraçaram, formando um abraço em grupo. Sorri, envergonhada por fazer tal drama, e sussurei um obrigada. Nisso, Kate veio me abraçar; e, sem hesitar, correspondi ao gesto.

– Você sabe que eu não falei aquilo de modo apaixonada, não sabe? - Sussurrou no meu ouvido, buscando que apenas eu ouvisse.

– Sei sim, amiga. E eu fico muito feliz que você esteja melhor. O Jus me contou que já tinha ido na clínica se despedir, então eu só fiquei surpresa de lhe ver aqui.

– Não pude resistir de abraçá-lo mais uma vez... - Ela murmurou, corando.

– Você ainda o ama, não o ama? - Perguntei, afastando-me dela, mas não para recuar, mas sim para encará-la nos olhos.

– O amo, mas do mesmo jeito que se ama um amigo. Eu acho que até estou apaixonada por um outro garoto, mas eu só vi uma vez... Quando ele estava com você! - Ela murmurou, sorrindo. Era tão bom ouví-la assim, comunicativa e contente.

– O OLIVER? - Perguntei, gritando. Começei a rir sem parar, até que a Letícia e a Caitlin, futriqueiras como sempre, perguntaram o que tinha acontecido.

– Acho que eu estou tendo uma queda por um tal de Oliver... Isso é ruim? - Perguntou Kate, encarando as meninas.

– O OLIVER?! - Perguntaram as duas juntas, rindo.

– Sim, ele é muito bonito, por mais que não seja muito gentil... Se bem que eu nunca gostei de homem gentil. - Deu de ombros.

Lembrei do início das aulas, de quando ele era realmente rude, idiota, mesquinho... Ou melhor, que eu achava que ele era, até eu conhecê-lo melhor.

A Pattie chegou, com as suas malas e explicando que dormira em um hotel próximo ao aeroporto, porque queria dar privacidade para mim e para o Jus. Os outros riram, inclusive Kate, o que me fez sorrir por ela estar tão alegre e bem como nunca.

Foi logo fazer o check-in; e, então, o Justin voltou de lá. Dando tapinhas nas costas do Chaz, perguntou se as desculpas pelo ciúmes dele quando o Chaz me beijara estavam aceitas. Ele murmurou um sim, sorrindo.

A Pattie fez o check-in mais rapidamente e disse uma frase que fez com que o meu coração descompensasse uma batida:

– Está na hora de irmos.

O Justin abraçou todos os outros novamente, deixando-me por último. Ele olhou para os amigos e pediu que cuidassem bem do que eles tinham em mãos, ou seja, das minhas amigas. A Letícia e o Ryan, assim como o Chaz e a Caith, estavam com um braço enlaçado na cintura do outro, mostrando o quão perfeito eles eram juntos.

Lentamente, o Justin se aproximou de mim, cruzando os braços na minha cintura. Nesse momento, não havia força maior que contesse as minhas lágrimas. Elas caíam lentamente, como se eu estivesse custando para chorar, como se eu nem tivesse forças para derramá-las... Ou como se eu não quisesse derramá-las, pois assim eu não me daria conta da realidade.

Nos olhando nos olhos um do outro, mesmo com ambas as visões embaçadas devido às lágrimas, ele não pôde deixar de brincar:

– Eu vou sentir saudades do seu ciúmes doentio.

– E eu vou sentir saudades da sua traição compulsiva. - Retruquei, rindo levemente, parecendo uma louca bipolar.

– Se lembra do que você me falou? "Mesmo com os olhos cheios de lágrimas, nunca te negarei um sorriso"? - Assenti com a cabeça, sem conseguir pronunciar mais palavras. - Então não pense que, só porque eu não estou por perto, eu não me importo, OK? – Novamente, assenti.

– Jus, eu não quero que você vá sem ter me amado como eu te amei. Eu nunca senti algo tão forte por alguém. É inexplicável. Não me deixe só aqui. Não me abandone! - Eu sussurei, beijando com leves selinhos toda a extensão de seu rosto, enquanto minhas lágrimas se misturavam aos meus beijos.

– Se lembra do que eu prometi naquela noite de lua cheia? - Assenti. "Eu prometo que nunca lhe esquecerei também." Ele cumpriria? Era essa a questão.

Eu não tinha medo de que ele arranjasse outra. Eu tinha medo de que ele me esquecesse, pois eu sabia que o esforço que eu faria para seguir em frente seria imenso, mas eu não sabia o que ele sentiria. Eu era insegura demais para pensar algo positivo.

– Jus, nunca se esqueça do quanto eu te amei.

– Me promete uma coisa, Mel? Toda a vez que falarem sobre mim, eu quero que você sorrie, mesmo com vontade de chorar. Eu não quero que você fique triste caminhando pelos cantos. Por favor, eu quero que a antiga Mel permaneça aqui. Pela mesma viva e alegre a qual eu me apaixonei. Me promete? - Ele perguntou com aquela voz pela qual eu me apaixonara; aquela voz que cantara músicas maravilhosas para mim; aquela voz que me disse "eu te amo"; aquela voz que acelerava o meu coração.

– Eu não posso prometer algo que eu não saiba se conseguirei cumprir.

– Mas, pelo menos, tente. - Ele pediu, com os olhos apenas marejados, tentando engolir o choro. Não pude dizer nada contrariando-o, eu devia isso a ele.

Não resisti e o beijei com fervor. As lágrimas se misturavam ao nosso beijo, ao mesmo tempo em que o aperto no meu coração dificultava a minha respiração já fôlega. Não pude evitar de puxar o seu cabelo mais para mim, mesmo envergonhada da demonstração de amor pública, o que o Justin sabia que eu odiava. Mas, naquele momento, eu não me importava. O movimento frenético das nossas línguas acelerou o meu coração, fazendo com que ele não parasse, pelo menos. Aquele podia ter sido o último beijo entre nós na nossa vida. Tal pensamento fez com que eu me arrepiasse.

– Adeus, Mel... - Sua voz, quase sem força, disse.

– Shh... - Coloquei o meu dedo sobre os seus lábios. -

Nunca diga adeus, porque dizer adeus significa ir embora. E ir embora significa esquecer. - Peter Pan me ensinara tal lição, e eu nunca pensei antes que um dia eu diria essa frase.


– Quando nós nos veremos novamente? - Murmurei em seu ouvido, enquanto o abraçava fortemente, querendo poder ficar naqueles braços aconchegantes para sempre.



– Eu preciso ir para Atlanta agora. Não sei quando será possível. - Sua voz rouca penetrou em meu ouvido, causando arrepios em minha nuca. - Lembre-se das minhas músicas. - Dito isso, a aeromoça teve a infelicidade de proferir as palavras "O vôo 2048 está partindo. Atenção, o vôo 2048 com ida a Nova York está partindo".

Lágrimas caíam repetidamente de meus olhos, enquanto o meu primeiro - e talvez único - amor partia. A última imagem que eu gravei dele foi um leve aceno, em um rosto em meio as lágrimas, se pronunciar. Infelizmente, com o tempo, esqueci até o seu belo sorriso.






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Notas finais do capítulo

*Foge pras colinas*