My Reason - Meu Motivo escrita por Letícia Silveira


Capítulo 10
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Oie, amoras! ÚLTIMO CAPÍTULO DA FIC É ESSE! Nunca mais vamos nos ver :'( A não ser que vocês queiram uma segunda temporada ;P Mas eu não poderia aprontá-la para já, mesmo tendo muitas ideias em mente. Seria quatro anos depois, e a Mel teria 20 anos já. (:
OBSERVAÇÃO: Contém cenas de drogas lícitas (álcool) e algumas cenas um pouco quentes, mas nada de mais.
P.s.: o texto deu várias complicações, por isso decidi retirar todos os itálicos e pá. Desculpem se ficou confuso alguma parte. ME AVISEM PELOS REVIEWS CASO ISSO ACONTEÇA. Enrolei o cap por duas semanas tentando arrumar isso :P



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Já havia se passado algumas semanas desde que ele se fora, e a sua ida não estava me fazendo bem.

Caitlin parecia estar muito, muito nervosa e estranha durante esse tempo. Enfim, ela tratou de me ligar, dizendo que poderia ser um pouco estranho o que ela tinha para perguntar.

- Quando foi a última vez que você menstruou? - Ela perguntou do outro lado da linha, parecendo tensa.

Não pude deixar de unir as sobrancelhas, confusa com tal pergunta. Por que ela estava me perguntando aquilo? Eu estava ansiosa, perturbada, com diversos pensamentos em minha mente. Notei que a minha menstruação esse mês, realmente, estava atrasada. Relembrei que eu e o Justin não usamos camisinha, que pensávamos que a nossa primeira vez deveria ser marcante e memorável. Eu sabia que seria de qualquer jeito, mas não podíamos ter dispensado o seu uso.

- Ca-Caith... Será que...? - Não completei a minha pergunta, movimentando a mão que estava livre, não segurando o telefone, para tocar a minha barriga em seguida.

- Não sei, Mel. O único jeito é fazer um teste de gravidez...

- Te-Teste? Teste de gravidez? - Perguntei hesitante. Nunca pensei que passaria por uma situação dessas.

- É, Mel. Como se você não soubesse o que é... - Ela parecia revirar os olhos. - Amiga, boa sorte, mas agora eu tenho que desligar, a minha mãe está chegando. E você sabe como ela é: se me vê fazendo qualquer coisa, já me enche de perguntas. Beijos, Mel. Pode me chamar para te amparar no teste.

- Beijos, Caith. - Minha voz não passou de um sussurro.

Parei um pouco, após desligar o telefone. Como eu contaria? Como eu diria ao Justin que tinha grandes possibilidades de eu estar... Grávida?

A palavra era até difícil de se pensar, que dirá falar. Não que isso fosse ruim, claro que não – dependendo do ângulo que você olha. Mas é estranho tudo isso e, ao mesmo tempo, confuso. Nós estávamos separados há um mês, tínhamos uma vida inteira pela frente... Afinal, eu havia recém feito dezesseis anos!

Eu vi a minha mãe cuidar de mim, após uma gravidez na adolescência. Nunca pensei que eu estaria na mesma situação, ainda mais no meu caso: quando o possível pai da criança, por mais estranho que isso soe, está recém construindo uma carreira...

- Aqui diz que você precisa fazer xixi o bastonete. - Caitlin disse, lendo a bula do teste, após eu ter comprado-o. Preciso confessar que quase morri de vergonha ao pedir um à farmacêutica. - Depois esperar um pouco. Se tiver a carinha feliz, tem um bebezinho, se for ao contrário...

- Ok. Já entendi. - Falei, tirando o bastonete da mão dela e seguindo para o meu banheiro. - Vou fazer o teste e, depois, eu volto.

Respirei fundo trancando a porta do banheiro. Em cinco minutos, eu saberia se eu iria ser mãe ou não. Deixei que minha mente vagasse por um futuro que até hoje nunca havia imaginado para mim. Me imaginei com uma barriga enorme, comendo chocolate adoidada. Entrando em sites com nomes de bebê para escolher o melhor para meu filho.

Imaginei qual seria a reação do Justin, ou como eu contaria-lhe. Não pude deixar de imaginá-lo como um pai babão, que mimaria muito a criança. Mas será que ele receberia a notícia bem, caso fosse positiva? Ou será que a sua reação seria negativa? Ele não iria aceitar o bebê, devido a sua fama?

Sem mais delongas, fiz o que o teste pedia, esperando a coloração do teste mudar. Roí as minhas unhas, com uma preocupação e ansiedade perceptíveis.

Quando o resultado saiu, peguei o bastonete um pouco assustada para levar para Caitlin ver. Será que este resultado estaria certo? Não podia, era simplesmente impossível. Não poderia ser.

- E aí? - Caith perguntou sorrindo. Mas, assim que me aproximei, ela pareceu observá-lo por um momento.

Abraçou-me com ímpeto; porém, antes, vi os seus lábios caírem para baixo, assim como estava a carinha do teste. Negativo, negativo.

Não pude deixar de me sentir incapaz. Eu já havia me acostumado com a ideia de ser a mãe, e esta era a melhor sensação do mundo. Pensar que alguém crescia dentro de você, que você será a casa dele durante nove longos meses... Mas não, tudo não se passara de ilusões.

Senti uma lágrima solitária descer pelo canto do meu rosto. Eu não podia negar, já havia criado esperanças o sufiente – e inventado um futuro – para não aguentar a dor de uma perda, que nunca existiu.

Caitlin pareceu me compreender, apenas permanecendo em silêncio, absorvendo a minha dor. Permanecemos abraçadas, apenas as duas, sem dizer nada uma a outra. Aquele simples gesto já era reconfortante.

Sem reparar, adormeci em seus braços e percebi o quão confortável poderia ser o estado de sonolência, onde você apenas sonha, não vive. Talvez sonhar fosse melhor do que viver...

(...)

Comecei a me sentir, frequentemente, enjoada. Era como se eu estivesse em um estado depressivo internamente, por mais que eu ainda saísse e conversasse com os outros, para não demonstrar o meu sofrimento. Havia ânsias que pareciam que nunca iam deixar o meu corpo, sendo extremamente desconfortável. Tonturas também começaram a se apossar do meu corpo.

- Feliz aniversário, Mel! - Ouvi um ser agonizante gritar, ligando a luz do meu quarto.

Me revirei na cama, sentindo os meus olhos pesarem e os meus braços, fracos, custarem a se mover. Colocando um travesseiro sobre os olhos, me recusei a acordar. Eu preferia ficar dormindo, onde o meu conto de fadas podia se realizar. Diversas vezes eu já havia sonhado com o meu reencontro, entre eu e o Justin. Não pensava que um mês fosse passar tão lentamente como aconteceu; já estava, afinal, no meu aniversário! Uma data tão esperada antigamente, quando eu, finalmente, poderia dirigir com dezesseis anos... Agora era só uma cicatriz do passado, que me remetia tristeza e desconforto. Ter que fingir que você é feliz todos os dias cansa, sabia?

- Acorda, dorminhoca! Os seus amigos estão lá embaixo lhe esperando! Falaram que tem uma surpresa para você! - O seu tom misterioso me despertou a curiosidade.

Através de uma fresta do meu olho, espiei a minha mãe que, ouvindo o meu choro, envelhecera rapidamente nesse mês. Antes, o seu cabelo era jovial e, agora, estava levemente grisalho no couro cabeludo. As rugas, em sua testa, de preocupação davam-na um ar de cinquentona, quando estava, a recém, na flor da idade. A culpa pesava nas minhas costas todos os dias.

Eu já estivera naquela situação, aliás. Quando ela lembrava do meu pai, chorava todas as noites, inconformando-me como ela ainda poderia sentir falta dele. Agora eu entendia-a, e a sensação da possibilidade desse sofrimento nunca ter fim assombrava-me.

- Tudo bem, dona Mellany. Eu vou levantar, mas vou precisar tomar um banho antes. - Murmurei, pensando que, mesmo tomando banho, seria impossível retirar as visíveis olheiras dos meus olhos, que formaram-se devido ao choro.

Lentamente, espreguiçando-me, fui levantando. Quando fiquei de pé, porém, senti uma certa fraqueza, que fez com que eu tivesse que me apoiar na parede para recuperar as forças.

Minha mãe, rapidamente, segurou a minha cintura, olhando-me com aquele pesar tão acusador nos seus olhos. Não era por mal que ela me olhava assim; eu entendia-a. Eu sentira a mesma apreensão do que ela e não teria por que culpá-la.

Com a ajuda de minha mãe, me dirigi à banheira, enchendo a água rapidamente, devido a temperatura que estava razoável, como um outono normal. (Estávamos no final de outubro; e, no Hemisfério Norte, é inverno - dezembro, janeiro, fevereiro e março-, primavera - abril, maio e junho -, verão - julho, agosto - e outono - setembro, outubro e novembro)

Coloquei o meu iPod em um volume relativamente baixo. Apenas o som dela já me acalmava. A música era melhor do que uma melhor amiga, que sempre me olhava com um medo de, em qualquer momento, eu chorar; porque a música ouvia o meu silêncio e ainda o traduzia, sem que eu precisasse me explicar.

A carreira dele estava crescendo cada vez mais. Ele já havia gravado o seu primeiro single naquele um mês, mas nós não nos comunicávamos mais. Eu não entrava no computador, e ele não possuía o meu número para ligar, já que não podia ter nada que me pertencesse - inclusive o número de celular - com ele. Eu procurava não pensar muito nisso; mas, na solidão, as mágoas se rompiam.

- Mel, os seus amigos têm compromissos. Vê se se apressa, menina! - Minha mãe gritou do outro lado da porta.

Na verdade, eu havia perdido a noção do tempo; mas eu já estava pronta. Apenas coloquei uma blusa larga e uma calça pantalona, que já havia saído de moda fazia um tempo, por sinal.

- Ah, não! - Foi a primeira coisa que a minha mãe exclamou ao ver a minha roupa, logo que eu abri a porta. Bufei; lá vinha: - Você não pode sair assim! É o seu aniversário, Mel! Eu até deixei, no início, você se vestir como você queria; mas olhe isso! É como se você quisesse se esconder, ou evitar qualquer olhar, qualquer coisa! Mel, vamos; eu escolho uma roupa para você! - Ela sorriu, buscando um sorriso jovial, que fez com que, por um segundo, a sua expressão parecesse tranquila. Quase sorri como resposta.

Não argumentei. Tudo bem, eu sabia que eu não me vestia bem; todavia, como a minha mãe dissera, eu queria evitar toda essa atenção. Eu não queria que as pessoas lembrassem sobre mim e o Justin e perguntassem sobre nós. Aliás, todas as pessoas da escola, incluindo professores e o diretor, assinaram um acordo não comentando nada à imprensa sobre nós. Eu não sei como, se o dinheiro foi envolvido ou não, mas, que fora um golpe de mestre, fora.

Minha mãe escolheu um vestido florido acinturado com um casaquinho branco combinando. Agradeci, não querendo ser mal agradecida.

Desci as escadas, hesitante. Será que ele...? Não, óbvio que não. Mas então qual seria essa surpresa tão misteriosa?

- SURPRESA! - Gritaram Caitlin, Chaz, Letícia e Ryan. - A Kate não pôde vir por que tinha consulta a essa hora, às dez, mas vai nos encontrar mais tarde!

- Obrigada, galera. - Agradeci, com um sorriso. Acho que ninguém se animou com tal gesto, pois eles sabiam que não era verdadeiro, mesmo as palavras sendo. - Mas não foi tão surpresa assim. A minha mãe tinha me dito que vocês estariam aqui. - Completei.

- Aquela... - Letícia disse com a sua bipolaridade acompanhando-a sempre; pois, em seguida, sorriu. - Nós temos uma outra surpresa! Essa eu aposto que, nem nos seus sonhos, você adivinharia qual é.

- Então me contem! - Pedi, com um pouco de animação.

- Olha, nós vamos te deixar sozinha, para não atrapalhar. É um vídeo. Eu vou colocar no computador que está conectado na televisão, tudo bem? - Assenti, sem entender o que era tudo aquilo. Ela desligou as luzes e fechou as janelas, pedindo para os outros se retirarem.

- Mas eu quero ver a reação dela! - Reclamou Ryan, inconformado.

- Depois a gente vai ver. Esqueceu que eu vou botar uma câmera na escada? - Retrucou a sua namorada.

- Como assim? - Perguntei assustada.

- Nada. Só assiste ao vídeo.

Ela colocou play e saiu correndo, deixando-me um pouco assustada. Fitei o vídeo, que havia sido feito no Movie Maker, e aparecia escrito em um fundo azul com as letras brancas "Sweet Sixteen Mel" (é como se fosse uma festa de quinze anos, mas nos dezesseis). Sorri, imaginando o que os meus amigos tinham aprontado. Porém, a imagem que apareceu a seguir, surpreendeu-me.

- Dá oi, Jazz, dá oi. - JUSTIN estava no vídeo, com uma menina, aparentemente a "Jazz", muito fofa e gordinha. E ele, bem, continuava melhor do que nunca.

Segurei as minhas lágrimas para não chorar. Eu havia prometido e, se eu tinha entendido, estava sendo filmada.

- Essa daqui é a minha irmã, Jazmyn. - Ele disse, fazendo o seu hairflip. Segurando a mão da irmã, abanou para a câmera.

- Oi. - A menininha murmurou, envergonhada.

- Ela é minha meia-irmã por parte de pai, mas não é linda? E esse aqui é o Jaxon. - Apareceu um menino mais velho, com as expressões não tão suaves com as do Justin. - Vamos cantar "happy birthday"? Vamos? - A sua voz era mansa para pronunciar as palavras com a Jazmyn no colo. Ele era tão fofo com crianças. Não pude deixar de imaginá-lo carregando o nosso filho, que não existia. Ri, deixando uma lágrima cair junto.

- "Happy birthday to you, happy birthday to you, happy birthday my dear, happy birthday to you"! - Todos eles cantaram, inclusive a Pattie que estava no fundo, um pouco incomodada talvez por estar, achava eu, na casa do Jeremy.

- Agora a outra que nós tínhamos combinado. - Ele decretou.

- "I love you, you love me. We're best friends like friends should be! With a great big hug and a kiss from me to you, won't you say you love me too?" (Eu amo você, você me ama, nós somos melhores amigos como amigos deveriam ser. Com um grande abraço e um beijo meu para você, você não vai dizer que também me ama?)

- Eu não acredito que ele apelou para o Barney! - Gritou Ryan lá de cima. Ri com isso, mas ri de verdade, não falsamente. Eu estava feliz novamente como se, estranhamente, ele estivesse entre nós... Nossa, assim parecia até alma penada.

Já que era um vídeo caseiro, ele mesmo desligou a câmera e, então, filmou outra parte. Ele estava sozinho, em uma espécime de quarto/gabinete. Não possuía camas, mas havia um armário grande no fundo. Com o seu violão sobre o colo, ele começou a falar coisas, primeiramente, com aquela doce voz que eu ouvia apenas nos meus pensamentos

- Eu não te esqueci, viu? Eu prometi, assim como eu soube que você anda cumprindo a sua promessa! - Ele sorriu torto. - Eu estou tendo uma ótima fase da minha vida, Mel, e eu queria que você estivesse aqui comigo. Mas eu não quero, nunca, que você fique triste ou que eu fique. Só porque eu não estou por perto agora, não pense que eu não me importo. Bem, essa é uma data muito especial! Dezesseis anos. Eu não acredito que a Caitlin não me deixou ir te ver nesse dia.

- AQUELE BIEBER! - Ela gritou. Era claro que eles estavam ouvindo da escada.

- Era melhor a gente ter editado esse vídeo antes. - Alguém disse.

- Imagino que você deve estar mais linda do que nunca... Eu me sinto pateticamente patético falando com uma câmera os meus sentimentos. Mas esse é o único meio ultimamente. - Continuou ele, com um sorriso amarelo. - Bem, eu compus uma música nova para você.

(Overboard - sem a Jessica, no caso -

Ele começou a cantar, com o som do violão calmo, a sua voz seguindo os tons e o meu coração não tendo uma pauta a seguir. Ele acelerou consideravelmente, perdendo o rumo que deveria seguir. A letra da música falava da necessidade de ser amado, da saudade que sentia e de como podíamos ser salvos através do amor.

- My lifesaver... - Quando ele cantou o primeiro refrão, seu fôlego diminuiu, como se ele prendesse o choro. - Você deve estar pensando como eu sou um molenga, chorando desse jeito. - Ele disse, soltando o violão e limpando as primeiras lágrimas que caiam de seus olhos. - Homem não foi feito para chorar. Mas o ser humano é imperfeito, lembra? Só você é perfeita, Mel. - Então, ao invés dele continuar falando, ele desligou a câmera, ao ver que choraria mais.

Nem havia reparado que os meus olhos também derramavam lágrimas. Entretanto um sorriso estava estampado na minha face. Era como se estivéssemos a uma curta distância, o que já diminuía a dor e fazia-me sorrir, deixando-me ser enganada como uma pequena criança. Estendi a mão, querendo tocá-lo, abraçá-lo, senti-lo. Porém, com a decepção da desilusão, chorei repetidamente, com um vazio impermeável em meu peito, cuja abracei, cruzando os braços sobre.

Notei que, em seguida, a imagem do vídeo continuou, mostrando que, recomposto, ele havia religado a câmera e gravado mais uma parte.

- Mel, eu vou ler uma carta que escrevi para você. Era para ela estar chegando aí, na sua casa, hoje; acho que, entretanto, ela demorará alguns dias com essa crise nos correios. - Ele deu um sorriso amarelo, e eu apenas sorri em troca. Afinal, era a única imagem que eu veria, tão cedo, dele sorrindo.

- Shh, Ryan. Não começa a chorar agora! - Ouvi alguém, provavelmente a Letícia, dizer.

- "Querida Mel,

você já se sentiu como um trem? Que, mesmo vazio, tem que seguir em frente? Essa é uma frase que eu li e que descreveu exatamente como eu me sinto: vazio, como se uma parte de mim estivesse ficado com você. Meu pai diz sentir falta do 'velho' Justin... E sabe de uma coisa? Eu também sinto; porque o velho Justin tinha você. Melissa McCartney era o motivo dos seus sorrisos, do seu ciúmes, até mesmo da sua raiva, que acabou virando uma traição. O seu perdão ensinou a ele, e a mim, que nós somos uma dádiva de Deus; Ele nos presenteou com a capacidade de perdoar."

- "Dádiva"? Justin culto. - Chaz disse, rindo alto em seguida. Eles não sabiam nem ser discretos.

- "Mas você deve estar se perguntando:" - prosseguiu ele, - "'por que o Justin está dizendo essas coisas?'. A resposta é inexistente, nem ele sabe. Eu estava muito nervoso a escrever essa carta. Faz dois dias que eu tenho sonhado com uma viagem até Stratford, onde eu te vejo namorando com outro cara. Não que eu te proíbe de fazer isso, só que essa imagem me perturba. Me pergunto, às vezes, se conseguirei seguir em frente. O Chaz deve estar me achando uma 'bicha' por estar dizendo essas coisas, mas eu queria ver ele se separar da Caitlin, sabendo que nem podia falar com ela, ou ter uma foto, ou o celular dela. Ninguém sabe a saudade que eu sinto dos seus beijos, das suas carícias, do seu sorriso, da sua alegria, dos seus medos. Ninguém sabe o quão feliz eu fui no meu último e penúltimo, principalmente o penúltimo, dia em Stratford. Quando pensei em desistir de continuar lutando contra essa dor, lembrei do meu motivo para seguir em frente: você, Mel. Você é a única razão do meu coração continuar batendo; do meu pulmão continuar respirando; do meu sorriso continuar existindo; da minha razão ter se esvaído... Viu que profético que eu estou hoje? Por sua causa, já escrevi umas cinco músicas novas, mas nenhuma é muito animada. Amanhã, eu e o Scooter vamos ao estúdio modificá-las para 'dar uma agitada' nelas, como ele mesmo disse. Com amanhã, eu quero dizer depois do dia do seu aniversário, porque eu fiz esse vídeo um tempinho antes. Enfim, o meu presente de aniversário é que eu vou entrar no Skype (o Ryan te conectará) e lá eu posso conversar um pouco com você, trocar as novidades. Eu não quero perder a sua amizade, Mel; e pensar que a qualquer momento você pode se esquecer de mim..." - Ele respirou fundo, segurando as lágrimas e prosseguindo: - "Pelo menos, o Chaz me disse que você estava com saudade, e isso me alivia. Enquanto a gente sentir saudade, quer dizer que aquilo aconteceu, e que foram bons momentos. Só saiba que, por mais dolorosa que seja essa saudade, eu até que gosto dela. Ela me aproxima um pouco de você e a saudade do seu sorriso, do seu toque, me faz relembrá-los...".

- Agora ele está o maior punheteiro. - Chaz sussurou, não sendo nem um pouco discretos.

- Chaz! - Caith o repreendeu, e apenas ouvi o estalo do seu tapa que ecoou no ar.

- "Mel, eu não queria confessar isso, mas os meus sentimentos não conseguem evitar: eu ainda te amo. Nunca se esqueça de mim, por favor. Como eu prometi, nunca esquecerei de você. Mil beijos, do seu bandido tentador". - Ele terminou de ler a carta que tinha em mãos, recuperando o fôlego, fitando a câmera com a cara com uma vazia, mas com os olhos marejados. Aqueles olhos pareciam me hipnotizar, causando um turbilhão de emoções, desde lembranças até um calor interno.

Não consegui segurar as lágrimas assim que a televisão ficou com uma tela preta, sinalizando que o vídeo havia acabado. Eu não conseguia seguir em frente fazia dias e, ao saber que ele também não, apenas me decepcionou - eu era a causa do seu sofrimento. Eu, Melissa McCartney, sempre sendo uma pedra no sapato. Ri do meu pensamento deprimente e, depois, ri por ter rido. OK, isso foi estranho.

Repentinamente, reparei que os meus amigos já estavam descendo as escadas e me fitando com aquele pesar nas faces; aquele pesar que eu tanto odiava, que eu procurava evitar. Esse era um outro motivo para não chorar na frente das pessoas, inclusive os meus amigos, quando eu não estava apenas com a Letícia, ou com a Caitlin. Elas imaginavam como eu estava me sentindo; não sabiam como era esse sentimento, mas que era doloroso, era.

Limpei as minhas lágrimas e sorri aquele sorriso que eu tanto odiava - era como se eu mentisse facilmente para os meus amigos. Tudo bem, era estranho eu me sentir assim; mas, por mais externa que fosse a mentira, eu já me sentia mal. Eu forçava os sorrisos perto deles, porém eu percebia que eles reconheciam a mentira.

- Mel... - Caitlin choramingou, com os olhos marejados. - Não fica assim que eu choro!

- Isso é uma ameaça, senhorita Beadles? - Perguntei, querendo brincar, mas o meu tom não fora tão convincente assim.

- Não, isso é uma afirmação. - Correu até mim e me abraçou, como se eu fosse um frágil objeto que, a qualquer momento, pudesse quebrar.

- O Justin deixou muito claro que, se você não quisesse conversar com ele por Skype, não precisava. - Ryan tentou ajudar, entretanto eu não sabia como aquilo, em hipótese alguma, poderia ajudar. Eu nem estava tão mal assim, só que os meus amigos, já acostumados com os meus atos não-verdadeiros, não sabiam mais quando eu estava, internamente, infeliz. Essa era a conclusão que eu havia chegado.

- E por que eu não gostaria? Ai, desculpa, foi uma grosseria de minha parte. - Coloquei a mão sobre a boca, arrependida do tom brusco com que respondera.

Ninguém me censurou, o que estranhei muito; porque, naquele grupo, todo mundo falava o que pensava, nem que ferisse os outros em volta.

- Ai, Mel, eu já te disse que queria que o Chaz fosse tão romântico quanto o Justin; mas agora eu repito! - Caith desabafou, segurando as minhas mãos e me fitando.

- Ei, eu estou bem aqui! - Ele exclamou do lado dela.

- Eu sei, e foi por isso mesmo que eu disse aquilo. - Essa relação entre os dois era, realmente, muito engraçada. Ri com a cara de indignação do Chaz, que jogou as mãos para o alto e olhou, sem saber o que fazer, para o teto, como se fosse para o céu.

- Ai. - Suspirou Caitlin, me vendo rir.

- Quer entrar no computador, agora? - Letícia me perguntou, falando pela primeira vez desde que descera, um pouco receosa.

- Pode ser. - Respondi, respirando fundo.

Nem notei no quão rápido eles conectaram-se ao Skype e o Ryan ligou para o Justin. Logo, me disseram que ele estava online, e quase entrei em pânico.

- Eu preciso me arrumar melhor para o Justin! - Exclamei, nervosa. Me levantei, sem saber para onde ir, parecendo uma pateta.

- Mel, calma! Nem que você tivesse maionese no cabelo, uma meleca verde na cara, uma barriga de chopp e celulite, o Jus iria te achar feia. - Chaz disse, rolando os olhos.

O encarei curiosa e, logo, disse:

- Que bom... Eu acho.

Ele revirou, mais uma vez, os olhos, mostrando certa indelicadeza e rispidez de sua parte. Empurrou-me até uma cadeira, na qual sentei, percebendo que já haviam posto um computador na minha frente, com uma webcam. Fiz uma careta desgostosa diante da figura imaginária que a minha mente criara. Caith pegou uma escova e, delicadamente, passou pelos fios dos meus cabelos negros. Sorriu, ansiosa, e pôs uma delicada tiara sobre a minha cabeça. Ela era azul e possuía um pequeno laço, da mesma cor, no canto direito dela.

- Vamos deixá-los à sós. - Murmurou Letícia, puxando Ryan que implorava para ficar.

Ela apenas esbravejou um "um mês de greve", e ele obedeceu-a prontamente. Ri daquele casal, sempre me surpreendendo. Logo, notei que já estava conectada, porém ninguém aparecia do outro lado da câmera.

O meu coração acelerou assim que vi ele sentar na cadeira e me fitar com aqueles olhos cor chocolate, que tanto me hipnotizavam. Ficamos, por um momento, em silêncio, apenas observando um ao outro. Percebi que os seus traços não haviam mudado, mas algo no seu rosto havia mudado - talvez ele tivesse amadurecido com tal experiência de vida.

- Oi, princesa. - A sua voz rouca causou-me um arrepio na nuca, que espalhou-se por toda a minha espinha. Sorri envergonhada, como se fosse o nosso primeiro encontro. Quis me dar um tapa mental por isso; mas, ao invés de me fraquejar ao papel de ridícula, apenas respondi:

- Oi, Jus. Tudo bem? - Claro que a conversa sempre morria com essa pergunta, mas a minha crise interna era muito maior. A minha vontade de gritar e chorar de felicidade por ver que ele ainda se importava era tamanha, e eu ainda tinha que guardá-la para mim.

- Melhor agora... Sabe, pode parecer um pouco deprimente; mas eu realmente queria tê-la aqui ao meu lado. Nunca pensei que eu fosse odiar o computador tanto assim... - Proferiu, rindo roucamente.

- Às vezes, temos que sacrificar coisas para ganharmos prêmios ainda maiores. - Murmurei, sem jeito, dando uma indireta. Senti-me tão besta por fazer o papel da namorada abandonada que o meu desejo era pedir perdão; porém talvez isso arruinasse mais ainda a nossa conversa. Afinal, já fazia um mês que não nos falávamos; isso era muito tempo.

- Nenhum prêmio será maior do que o amor que eu sentia por você. - Sua fala me encabulou, todavia uma palavra me atordoara: sentia. Quer dizer que ele não me amava mais? Estando no Sul, com as sulistas loiras, em Atlanta, indo nos fim de semanas para Hollywood, em Los Angeles, na Califórnia; e eu queria que ele ainda gostasse de mim? Aff, como eu sou patética às vezes... - Mas, então, parabéns pelo seu aniversário, Mel! Eu falei de você para o meu pai, e ele ficou muito feliz ao ver que eu tinha sossegado um pouco... Ele sabia da minha fama de mulherengo. - Disse, rindo com aquele seu sorriso de tirar o fôlego.

Desconfortável com aquele assunto, me acomodei mais na cadeira, procurando não fitá-lo tanto. Eu sabia que iria acabar chorando se o visse demais. Por isso, comecei a fitar as minhas mãos, incomodada com os meus próprios sentimentos.

- Obrigada, Jus. - Murmurei simplesmente.

Eu não sabia qual era a sua expressão, então eu tentava ficar um pouco mais calma.

- Mel, você está triste? Tem alguma coisa te incomodando? - Ele perguntou, com um tom de preocupação explícito na voz.

- Não. - Sorri amarelo, ainda fitando as minhas mãos. Eu não podia fazer a mesma cena escandalosa que fiz quando vi o vídeo. Eu não podia querer tocar na tele e chorar feito uma condenada. Eu simplesmente não ia passar por esse papel de idiota novamente.

- Mel, olha nos meus olhos e responde. - A sua voz estava séria, e eu não conseguia negar nenhum pedido seu.

Suspirei, rendendo-me ao seu pedido. Olhei naqueles olhos que tanto me hipnotizavam e não pude deixar de marejar os meus. Seus olhos castanhos fitavam-me curiosamente, porém relembraram-me vários momentos que passamos juntos, como a nossa última noite. O jeito que ele me tornou dele fora indescritível, assim como o sentimento que senti quando chegamos ao ápice juntos.

- O que houve? - Senti o desespero na sua voz, como se ele quisesse estar no meu lado e afagar-me as bochechas.

- Nada. - Disse, desviando o olhar e fitando as teclas do computador, com o olhar perdido.

- Mel, me diz, por favor. Senão eu vou pensar que eu sou culpado. - Ele murmurou com aquela voz melodiosa; e, por um instante, me odiei por amá-lo tanto que não conseguia nem recusar o seu pedido.

- A culpa não é sua! É minha! - Murmurei, desabafando, enquanto eu limapava com a ponta dos dedos as lágrimas que teimavam em cair. Fitei-o, pronta para confessar como eu me sentira durante todo aquele mês.

- Mel... - Ele pediu, com os olhos começando a marejar. Eu nunca havia visto-o abalado, a não ser na nossa despedida. Porém não esperava vê-lo assim, tão frágil. Talvez um reflexo de como eu estava.

- Justin, você sabe muito bem que a culpa é minha. Eu não vejo mais os meus amigos, quase não saio de casa, vivo remoendo as nossas lembranças... Eu não aguento mais essa dor. Dá uma vontade louca de arrancar essa dor do meu peito e me livrar dela... Mas ela só se preenche com uma pessoa que eu não consigo esquecer. E o pior é que eu sei que ele vai me esquecer mais cedo ou mais tarde. Logo vai estar namorando supermodelos que desfilam de biquíni, enquanto eu vou começar a engordar aqui como qualquer garota americana! - Exclamei. Com o meu desabafo sincero, senti-me um pouco aliviada. Pelo menos, alguém sabia como eu estava me sentindo.

Escondi o meu rosto entre as mãos, deixando o cabelo cair na frente do meu rosto, tapando as minhas lágrimas que caíam repetidamente, sem intervalos. Minha cabeça começou a doer, a latejar; e eu só queria que aquela dor cessasse, assim como todas as outras que estavam me infernizando naquele momento.

- Mel, eu não quero te ver presa a mim. Viva a sua vida, por favor. Ficar com esse peso na consciência de que você ainda está presa a mim, não me dará sossego. - Ele disse, com a voz sufocada. - Eu já estou em outra, você precisa me superar também

Lembrei-me de um menino e uma menina novos, que haviam entrado na escola há pouco tempo. Os meus amigos já haviam conversado com eles; porém os seus olhos eram muito parecidos com os do Justin, por isso eu não conseguia ficar perto dele. Eles deviam ser irmãos, pois andavam sempre juntos; então eu não chegara a conversar com nenhum dos dois. Porém eu chegara a notar o olhar dele para mim. Sem querer me mostrar, mas ele demonstrava um certo interesse em mim - não pude evitar em reparar.

- Quer dizer que, hipoteticamente, se um garoto está gostando de mim, eu posso ficar com ele? - Perguntei, engolindo o choro e mostrando um olhar sedutor para o Justin. Ele não tinha que saber que eu o amava, mas entender que estava enganando a si mesmo. Se ele queria que eu o esquecesse, eu iria fazê-lo. Não podia ficar remoendo um amor que nunca voltaria.

- Sim. - Ele disse, ainda com a mesma expressão de dor que anteriormente.

- Tudo bem, acho que já tenho um pretendente então. Tchau, Bieber, eu tenho que ir. - Chamá-lo assim me doeu; não o chamava dessa forma com um tom tão sério desde que ele me beijara à força: o nosso primeiro beijo.

- Espera, Mel, mas a gente nem conversou... - Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, encerrei a conversa e desliguei o computador.

Os meus amigos logo entraram, já sorrindo ao ver a mudança nítida no meu visual.

Eu não queria mais ser aquela menina que todos olhavam com pesar; não queria ser a coitadinha, a dramática, a sofredora. Eu queria ser a primeira a dar a volta por cima. Por mais que eu fingisse ser feliz, eu estava determinada que, de agora em diante, eu seria feliz. Sorri para mim mesma, vendo que eu poderia sentir tanta felicidade quanto antes.

- Nossa, que mudança! O que o Justin fez? Um strip-tease? - Chaz perguntou, agarrando a Caitlin por trás, que apenas revirou os olhos.

- Não; ele apenas abriu os meus olhos. Vamos, eu quero sair dessa casa deprimente. - Murmurei, pensando em como que eu possuía tantas lembranças naquele lugar. Como a noite que íamos sair, e eu desci as escadas, com ele me elogiando... Abanei a cabeça negativamente, eu não queria mais me torturar.

- Nossa! A Mel querendo sair de casa? Ela ficou doente ou o quê? - Letícia perguntou, e apenas respondi com um sorriso irônico.

- OK, eu só preciso trocar de roupa que eu pareço um monstro. Caith, Letícia, me ajudem a escolher uma roupa! - Murmurei, correndo lá para cima.

Eu sabia que elas olhariam-se surpresas, mas subiriam atrás de mim. Preparem-se que aqui surgiria uma nova Mel

- Meninas, como eu estou? - Falei, saindo do banheiro e dando de cara com ambas boquiabertas.

Estava vestindo uma saia preta, de cintura alta. A minha blusa preta, tomara-que-caia, colado ao corpo, valorizava as minhas curvas, assim como aumentava os meus seios, deixando-os mais fartos. O meu scarpin preto dava um ar elegante à roupa, assim como a minha maquiagem também escura e o meu cabelo rebelde, que davam um ar selvagem.

- Antes eu preciso perguntar: - Caitlin disse, retomando fôlego - aonde você está indo com essa roupa?!

- Comemorar o meu aniversário, oras! Afinal, não é sempre que se faz dezesseis anos. - Comentei, dando de ombros. Comecei a descer as escadas, mas notei que as meninas não me seguiam.

Voltei ao quarto, perguntando-as o que havia acontecido para não terem descido. Elas entreolharam-se e perguntaram o que o Justin havia dito na nossa conversa. Eu desconversei, dizendo que iríamos nos atrasar, mas elas me conheciam: eu tinha algum motivo para estar agindo tão estranhamente.

- Tudo bem, eu me rendo. - Confessei. Eu tentei ser madura, não demonstrar nenhuma dor e consegui sucesso na minha busca. - O Justin meio que disse que já tinha achado outra pessoa, que era para eu seguir em frente, então foi o que eu fiz. Eu estou pronta para abalar as paredes ocas daquele colégio e os ares de toda essa cidade! Stratford que me aguarde! - Exclamei, vendo-as se encararem novamente. - Então, vamos a algum restaurante? Por favor, eu quero sair desse lugar pacato.

- Mel, ninguém mais fala "pacato". - Caitlin murmurou, sempre por dentro das notícias.

- Eu sei, mas só notei quando já tinha falado. - Disse, rindo; e elas me acompanharam. Percebi que as minhas amigas estariam lá, me apoiando, não importasse o quê. Poderia até ser uma ideia estúpida ou absurda; porém elas não iriam interferir nas minhas escolhas. Sorri enormemente, descendo as escadas.

Chaz ficou encarando-me fixamente, assim como Ryan; entretanto pareceram acordar para a vida quando viram as caras não tão animadas das suas respectivas namoradas atrás de mim.

- Você vai aonde, Mel? - Perguntou Ryan, curioso.

- Nós vamos a um restaurante, comemorar o meu aniversário. - Murmurei animada, vestindo um casaquinho, também preto, e pegando o telefone; eu ainda tinha que ligar para a minha mãe.

- Nossa, para quem nem queria acordar, você está bem animada. - Chaz comentou, com uma cara gozada, a qual eu apenas repreendi mostrando a língua.

A minha mãe, enquanto eu assistia o vídeo do Justin, teve que sair para ir ao Hospital, pois houvera uma suspeita de gripe suína; e era preciso mais médicos para apurar o caso. Ao responder a minha ligação, ela pediu desculpas por não estar presente no dia do meu aniversário, mas disse que daria um jeito de jantar comigo. Sorri e, logo, pensei em juntá-la com o meu pai. Alguém na família, pelo menos, teria que estar completamente feliz, com o seu verdadeiro amor. Suspirei, pegando as chavez do carro e dando ao Chaz.

- Mel, você está bem? - Ele perguntou, confuso, não sabendo se eu tinha perdido o juízo.

- Eu ainda não posso dirigir, e só você, a Caitlin e o Ryan podem. E eu não confio em nenhum dos dois. O Ryan por que ele sabe ser estranho quando quer; e a Caitlin por que mulher sempre dirige mal.

- Ei! - Ela reclamou, apenas levantei os braços, não me importando.

Entramos no carro, e a Caitlin

Começamos a conversar, enquanto eu guiava o Chaz até um restaurante muito bom.

- É, Ryan, realmente, nunca dançe daquele jeito novamente... - Ouvi Letícia murmurar, mas eu perdera o resto da coversa, perdida em pensamentos. Possivelmente, eles estavam falando da festa da Kate.

Nesse mesmo momento, uma música muito conhecida, que tocara naquela festa, começou a tocar no rádio. Era a música Brighter than Sunshine, do Aqualung, a mesma que eu dançara com o Justin na festa, na frente de todos. Suspirei, lembrando daquela noite.

http://www.letras.com.br/justin-bieber/overboard) corajosa, rebelde, sedutora, sexy. Eu não queria nada que me lembrasse da Mel antiga. Eu não choraria mais em público nem que esse público fosse apenas uma pessoa e não deixaria que me olhassem mais com piedade. Agora todos me olhariam com luxúria ou inveja; eu queria que dissessem para o Justin que eu já havia superado-o, estava em outra. Ele iria se arrepender do que dissera ô, se iria.— por incrível que pareça — me deixou ir na frente. Liguei o rádio e, inicialmente, não estava dando nada, apenas propagandas.[Link:http://www.youtube.com/watch?v=Q536JTSe40M]

Todos pareceram notar, mas eu não me deixei abalar e comecei a cantar a música, de um jeito animado, e até caligrafia eu inventei.

- "And it's brighter than the sun, brighter than the sun, sunshine..." - Cantei, movendo os braços como se fossem o meu microfone.

- Tudo bem, chegamos. - Chaz disse, estacionando em frente ao restaurante.

- Graças a Deus! - Exclamou Ryan, recebendo um olhar furioso como resposta minha.

Entramos no restaurante, e sorri. Eu precisava enfrentar as lembranças, então escolhera o restaurante onde jantara com o Scooter e o Justin. Meu sorriso ampliou ao notar que era o mesmo recepcionista da outra vez, aquele que me cantara.

Assim que entramos, deixei ele retirar o casaco dos meus ombros, os quais fiz questão em ficarem desnudos, jogando o meu cabelo para um lado só.

- Obrigada, - murmurei, mordendo o lábio e fitando-o de cima à baixo, terminando com um último olhar "quarenta e três", matador e sedutor.

- De-De nada. - Tadinha, havia até perdido a fala. Sorri, o meu melhor sorriso.

A partir de agora seria assim: eu flertaria em todos os lugares possíveis, sairia com o maior número de caras e escolheria aquele mais adequada. Claro que um recepcionista de restaurantes não é adequado, porém não havia preconceitos nos meus critérios. Bastava ser engraçado, charmoso e que me fizesse rir. Era disso que eu estava precisando com toda a minha carência.

Nos dirigimos a uma mesa vazia, que estava próxima ao banheiro. Assim que Ryan se levantou, alegando que ia lavar as mãos, Chaz reclamou:

- Eu sabia que nós não devíamos ter sentado perto do banheiro. Agora o Ryan solta uma bomba, e a gente? Como fica?

Todos riram, mas o Chaz parecia estar falando sério. Dei de ombros, suspirando, e comecei a notar uma série de olhares masculinos sobre mim. Pus uma mecha rebelde do meu cabelo atrás da orelha, fitando as minhas mãos, envergonhada, ao notar que todos eles se dirigiam ao meu decote.

- Er, Mel, por que você escolheu esse lugar? - Caitlin perguntou, notando que era muito caro, sabendo que eu não tinha todo o dinheiro do mundo para gastar.

- Porque ele me trás más lembranças... Ou eu deveria dizer boas? - Perguntei retoricamente, já que fora uma pergunta dirigida a mim mesma.

- Como assim? - Indagou novamente, sem entender.

- Eu vim aqui com o Justin conhecer o Scooter; ele me tratou super mal, pela minha interpretação, e foi até um pouco grosso. - Murmurei, atraindo a atenção de Letícia e Chaz que estavam um pouco destraídos, conversando.

- O Scooter? Duvido! Eu conheço ele desde quando ele fez contato com o Justin; nós fomos para Atlanta conversar com o cara. Eu fui mais de intruso, mas não podia dispensar as garotas sulistas americanas... - Ao ver o olhar mortal de Caitlin, ele fugiu do assunto e continou: - E ele nos hospedou na sua casa; inclusive, pregou uma peça em nós. Não conhecíamos Atlanta, e o Scooter nos deu o endereço errado do restaurante onde almoçaríamos juntos. Assim, acabamos em um motel! Não que eu não tenha gostado, mas foi meio estranho quando eu e o Justin saímos do carro e fomos na recepção perguntar aonde ficava o tal do restaurante; acho que acharam que éramos um casal gay. - Chaz disse, dando de ombros, mostrando que não possuía nenhum tipo de preconceito contra essas coisas. Ele, porém, não se sentia à vontade sabendo o que os outros pensavam.

- Olá, posso ajudá-los? - O garçom perguntou, ao chegar na nossa mesa, em seguida, e afastando-se do Chaz. O primeiro deveria ter ouvido o final da conversa, por isso tal reação. Rolei os olhos; esse racismo era tão sem propósito. Um gay não é como se fosse contagioso, ou como se fosse agarrá-lo em pleno salão. Apenas tinha opniões diferentes, e o mundo parece que não consegue aceitar isso.

Logo que os seus olhos pousaram em mim (leia-se no meu decote), ele engasgou-se, começando a ter um ataque bem ali. Letícia, prontamente, levantou-se e deu alguns tapinhas nas suas costas.

Assim que ele se recuperou, ainda corado, voltou a repetir a pergunta, evitando olhar-me.

Fizemos o nosso pedido e, assim que a comida chegou, atacamo-na. Eles cantaram parabéns para mim, me fazendo corar horrores e ainda consegui ganhar o apelido de Moranguinho, de tão vermelha. Claro que, quando fomos sair do Restaurante, o recepcionista, ao terminar de vestir o meu casaco, sussurou no meu ouvido: "Parabéns", me fazendo arrepiar.

Saímos de lá, e ninguém pareceu notar nada. Combinei com as meninas de, após o meu jantar com a minha mãe, nós iríamos a uma balada que teria na cidade. Era um evento único, já que Stratford era extremamente pacata; porém essa festa prometia.

Chegando em casa, me arrumei para sair com os meus pais. Pus uma minissaia preta, que delineava o meu bumbum, levantando-o. A minha meia-calça também era preta — eu andava um pouco "dark" ultimamente. A minha blusa era de um tom vermelho sangue, sem alça e com um decote generoso. Me olhei no espelho e eu estava pronta para extravasar todos os meus sentimentos. Talvez tudo que eu precisasse fosse de uma boa balada.

Pus um sobre-tudo preto por cima, para a minha mãe e o meu pai não notarem nada. É, isso mesmo; ambos iriam jantar juntos, e eu sairia mais cedo, deixando-os sozinhos naquele lugar. Eu sabia que a minha mãe estava de caso com algum rapaz qualquer, mas, quando visse o meu pai, não resistiria. Sorri perversamente, me fitando no espelho — essa noite prometia. Coloquei uma sandália preta, muito alta, e imaginei eu gemendo de dor no dia seguinte. Nada que um sacrifício pela moda não fosse bem recompensado.

Fui com a minha mãe ao restaurante, ambas muito conversadeiras. Eu estava animada com a expectativa da festa, já ela com a expectativa de uma noite entre mãe e filha.

- Sabe, Mel, senti a sua falta. Eu não aguentava mais aquela menina desanimada com tudo, que chorava à noite e... - A interrompi, não querendo falar sobre esse assunto.

- Mãe, às vezes, mudanças são necessárias. - E o assunto morreu, sem precisarmos tocar mais nele.

O jantar foi um pouco tenso, já que os olhares entre os meus pais já estavam me deixando envergonhada. Peguei o meu celular e fingi ler uma mensagem da Letícia.

- Mãe, pai, a Letícia está me convidando para dormir na casa dela! Fazer uma noite de meninas por causa do meu aniversário. - Murmurei sorrindo, aquele sorriso que ela dizia lembrar um anjo.

- Tudo bem. - Ela disse, ainda hipnotizada pelo meu pai. Comemorei mentalmente e mandei uma mensagem para a Letícia, dizendo que eu iria de táxi para a festa.

Peguei um certo dinheiro para o automóvel com a minha mãe, seguindo em direção à rua, já sem o casaco, que eu havia deixado próximo à blosa dela. Minha mãe estava tão envolvida na sua conversa com o meu pai que nem notara a minha roupa. Me parabenizei por armar um plano tão perfeito.

Assim que um táxi passou, levantei o braço e sinalizei para pegá-lo.

- E aí, gatinha? Quer uma carona? Uma transa e eu te levo de graça. - Murmurou, comendo-me com os olhos.

Fiz uma cara de repugnação e continuei andando, até um ponto de táxis. Seria mais seguro pegar um ali. Entrei no táxi de um velhinho e me senti mais confortável com a situação. Dei o endereço e senti algo vibrar no meu bolso: era a Letícia.

"Miga, eu já comprei os ingressos e estou te esperando aqui na frente. Bjos :*"

Suspirei, pensando, mais uma vez, como seria a noite. Eu queria me atirar nos rapazes, mas sem deixar nenhum me tocar. Queria beber muito, esquecer a minha vida, trocar de corpo. Não queria mais viver a minha vida, essa era a verdade. Não queria mais sentir o meu vazio no peito, a minha esperança em vã, a minha dor inevitável. Eu queria apenas me isentar de todos aqueles sentimentos, e a bebida parecia ser a única companheira que me ajudaria naquele momento.

Cheguei no local, paguei o táxi e encontrei Letícia. Ela me elogiou e disse que a Caitlin já estava lá dentro, com o Chaz. Minha vontade era de fazer um escandalo, por ambas terem convidado os namorados, e eu ficaria segurando vela. É, a Letícia também havia convidado o Ryan.

Assim que entramos, percebi alguns olhares em direção a mim e às minhas pernas. Sorri para um menino muito bonito, com olhos azuis e cabelo escuros, que parecia ser bem forte devido à impressão que dava a sua camisa colado ao seu abdômen.

Inicialmente, me esbaldei muito e dancei várias músicas diretamente. O menino, que eu vira na entrada, se aproximou por trás e começou a roçar o seu sexo, já ereto, na minha bunda. Eu não queria essa aproximação toda, então me afastei e fui pegar uma bebida.

Pedi uma tequila; e, sem hesitar, o barman me entregou, mesmo percebendo que eu não tinha vinte e um anos, nem aqui, nem na China. Sua fileira de dentes brancos ficou exposta assim que ele sorriu ao me ver beber tudo em um gole só. Agradeci pela bebida, mas queria mais. Pedi outra dose, e ele me fitou, ainda sorrindo. Me passou o copo; e, após beber em um gole só, perguntei:

- O que foi?

- Nada... - Aham, sei. Fingi acreditar e peguei, dessa vez, um copo de absinto e levei para a pista de dança.

A música que tocava era "Hello", do Martin Solveig, e eu amava aquela música, era a última moda na Europa. Comecei a dançar e, quando avistei a Caitlin e o Chaz se beijando, resolvi estragar o clima. Quando estava me aproximando, vi aquele mesmo menino da entrada aparecer, repentinamente, na minha frente. Bufei e cantei para ele uma parte da música que estava tocando:

- "

- Hey, casal! - Exclamei, bebendo o resto do absinto e virando o copo, tentando ver se não tinha mais gotas.

- Não enche, Mel... - Chaz murmurou, sem fitar-me, ainda distribuindo diversos beijos pelo pescoço da Caitlin.

- Ai, essa doeu. Mas vocês viram a Letícia e o Ryan? - Perguntei e recebi um sonoro não como resposta.

Saí dali. Preferia não arriscar quando o Chaz estava de mau humor.

Voltei ao bar, dando uma piscadela para o barman que, sem eu pedir, já preparava outro copo de absinto. Sorri e perguntei o seu nome.

- Rodrigo. - Retribuiu o meu sorriso com outro, e o fitei fixamente enquanto bebia o meu copo com absinto.

- O seu sotaque não me parece canadense. - Murmurei, percebendo que puxara o "R".

- Não, sou mexicano. - Respondeu, e eu dei um pulo de alegria.

- Ai, que bom! Eu também tenho descendência mexicana! - Tudo bem, eu parecia uma patética estando tão feliz por causa de um fato tão... Sem propósito. Enfim, o efeito da bebida estava começando a aparecer.

E assim a noite prosseguiu, enquanto eu tinha altos papos com o Rodrigo, que me servia cada vez bebidas. Eu já deveria estar na décima dose de absinto, até porque a minha visão estava embaçada, assim como eu sentia um calor percorrendo o meu corpo, além da ânsia que a bebida me causava. Eu nunca fui muito de beber, muito menos de vomitar. Nunca tinha tomada um grande "porre" na minha vida, daqueles que eu via nos filmes da pessoa nem conseguir dormir de tanto vomitar. Eu esperava que isso não ocorresse hoje.

- Mas, daí... O Justin... Me abandonou a-aqui... - Contei para Rodrigo, com a voz embargada devido a bebida. Comecei a rir histericamente e vi a minha mente se tornar turva. - E eu já o esqueci completamente... Aquele desglaçado. - Murmurei, me engasgando com a própria saliva.

Resolvi ir dançar um pouco; fazia muito tempo que eu estava sentada naquele banquinho em frente ao bar. Segurando o copo com absinto em uma mão, a outra serviu para eu mesma esfregar o meu corpo, passando as minhas mãos sensualmente nas minhas curvas, nas minhas coxas, aproximá-las do meu sexo. Eu queria enlouquecer todos ali, me sentir desejada, esquecer os meus outros problemas. Bebi mais um goli e comecei a rebolar, sem notar que, logo, um menino se encaixou na minha bunda, esfregando loucamente o seu pênis ali.

Eu não tive reação alguma, apenas continuei dançando. Me virei de frente para ele, juntando as nossas cinturas, sentindo o seu sexo preste a rasgar a sua calça jeans de tão ereto. Mesmo que todos estivessem nos observando, não me importei e os nossos corpos pareciam ser um só, de tão próximos. Ele, aos poucos, foi me levando até a parede, onde me prensou. Notei que era o mesmo menino da entrada, da dança, do sussurro. Não me importei quando ele começou a beijar o meu pescoço, chupando-o, beijando-o, lambendo-o. Eu não conseguia abrir os olhos direito, muito menos dizer alguma coisa; porém ele conseguia e disse:

- Se lembra de mim? - A sua voz rouca de desejo fez eu me arrepiar. Não consegui pronunciar nada. A minha língua estava mole, o que me impidia de dizer qualquer coisa. - Eu te vi, lá perto do manicônio. Eu era aquele motoqueiro que se apaixonou por você logo que te viu... Mas você estava com aquele loirinho lá e nem me deu bola. Eu sabia que você era louca por mim... - Disse, mordendo o lóbulo da minha orelha. Logo quando ele ia me beijar, quando seus lábios roçaram nos meus, ouvi o barulho de algo se chocando e percebi que era Chaz que batia no menino. Entreabri os olhos, fazendo um esforço enorme, já que eles pesavam. Porém, assim que me deparei com a cena do menino inconsciente no chão, arregalei-os.

- Chaz! - Um grito sufocado ecoou da minha boca. Ele se aproximou de mim e me abraçou, enquanto Caitlin apenas observava a cena, também chocada.

- Eu prometi que eu cuidaria de você. Eu prometi para ele. - Confessou, afegando os meus cabelos.

Ainda chocada, ele me levou para onde Caitlin estava e disse que precisávamos nos afastar de lá, antes que algum segurança chegasse. Já que o salão era bem grande e deveria caber mais de três mil pessoas, nos dirigimos ao bar. Mesmo me sentindo com nauseas por causa da bebida, pedi outra dose de absinto. Mas Chaz a recolheu antes que eu pudesse pegá-la da mão do Rodrigo.

- Rodrigo, ele não quer me dar. - Esbravejei, brava e mimada. Ele apenas riu (provavelmente imaginando o duplo sentido), fitando Chaz que parecia querer soltar fumaça.

- Mel, quantas você já tomou dessas? - Perguntou, com o tom de voz gélido. Notei que a Caith parecia desconfortável com a situação, mas eu não conseguia nem pensar direito para fazer alguma coisa quanto a isso.

- Umas dez, pol quê? - perguntei, sem conseguir mais pronunciar os erres. Antes dele me responder, roubei o copo da mão dele e o virei de uma vez só. Quando acabei, sentindo a minha boca arder, assim como o meu corpo, sorri vitoriosa.

- Onze com e... - Antes que eu pudesse concluir a frase, tudo se tornou escuro. A minha visão, já embaçada, se tornou um verdadeiro breu. Não pude evitar de ouvir os gritos dos meus amigos antes de desconectar-me da terra, sentindo o meu corpo chocar-se contra o chão.

-

-

-

Fazia algum tempo que eu sabia que estava dormindo, mas apenas sonhava com coisas escuras. Era uma escuridão sem fim, e eu queria acordar, mas os meus olhos se recusavam, assim como o resto do meu corpo.

Tudo começou a se clarear, mas ainda não consegui abrí-los e ver o que estava acontecendo à minha volta. Eu queria gritar, pedir ajuda, mas não conseguia nem abrir a boca. Sentia as minhas feições relaxadas, por mais que eu estivesse em uma crise interna.

- Quando você acha que ela vai acordar? - Ouvi uma voz angustiada perguntar. Mas não era qualquer voz, era a voz dele: a do Justin. Aquela rouquidão, suavidade, carinho... Mentalmente, sorri e, logo, quis responder a sua pergunta.

Eu diria que eu estava acordada, era óbvio, mas a minha boca permanecia parada. Era como se o meu cérebro não estivesse mais obdecendo os meus comandos.

- Logo, logo. - Parecia ser a voz da Caitlin, mas não soube reconhecer.

Parecia um sonho extremamente louco e sem sentido; mas, se fosse para continuar ouvindo-o, eu não me importava.

- Por que será que ela fez isso? Praticamente, com outras palavras, tentou se matar bebendo tanto... Assim como aconteceu com o nosso bebê. - Murmurou, com a voz chorosa.

Não entendi sobre o que eles conversavam; era um tanto estranho aquele papo.

O silêncio prevaleceu, o que me fez imaginar se o meu anjo havia ido embora e me abandonado naquela escuridão. Entretanto, eu conseguia ouvir um "bip" que não intercalava em segundos. Era o único barulho que eu escutava.

- Quando você terá que viajar por causa da turnée? - A voz parecida com a da Caitlin perguntou, quase num sussurro, quebrando o silêncio.

- Daqui a uma semana. - Ele murmurou, pesaroso, e senti algo afagar os meus cabelos. Queria sorrir devido à sensação extasiante do seu toque.

- Ela vai acordar antes. - A voz feminina afirmou, convicta.

Antes que ele respondesse, senti lábios doces e macios tocarem, levemente, a minha bochecha, causando uma corrente elétrica entre as nossas peles.

- Assim espero. - A fala dele ecoou na minha mente, até desaparecer. Até tudo desaparecer, inclusive o barulho da máquina. Era como se eu tivesse mergulhado novamente na escuridão, por mais que eu quisesse voltar, por mais que eu juntasse todas as minhas forças para conseguir abrir os olhos, ou ouvir barulhos novamente.

Porém Deus parecia estar me castigando pela performance daquele dia. Todavia aquela escuridão me assustava; era como se não fosse coisa de Deus, mas sim do Diabo. Eu queria sair daquele lugar; então me vi correndo, sem rumo. Corri tanto que seria possível chegar no meu país de origem; todavia, quando se corre sem se enxergar o destino, apenas a escuridão, não se chegava a lugar algum.

-

-

-

A escuridão parecia sugar cada vez mais as minhas forças. Correr tanto naquele lugar, me deixava sem energia, me deixava com um mal estar. No meu sonho, ou fosse o que fosse, repentinamente, eu parei de correr. Virei para trás e vi uma luz vindo na minha direção. Tentei tocá-la, segui-la, mas ela fugia de mim. Até que ela começou a clarear, ficar cada vez mais potente. Não pude evitar de fechar os olhos, devido à tanta claridade. Os comprimi fortemente, acabando por abri-los e recebendo o contraste da sala branca como resultado.

Percebi que estava em uma sala muito clara, que possuía aquele mesmo "bip" do sonho. Tentei bufar, pensando que deveria ser mais um sonho louco. Porém um aparelho interligado à minha boca atrapalhou a minha ação, e reagi tentando retirá-lo dali. Percebi que a minha mãe, que estava com a cabeça no colo do meu pai, dormia, assim como ele. Com o acelerar do meu coração, entretanto, eles acordaram, num pulo, vindo até mim.

Minha mãe começou a chorar, antes mesmo de me explicar o que era tudo aquilo. Retirou a minha mão que tentava remover o aparelho e explicou:

- Não retire-o, filha; ele está te ajudando. - Murmurou, sorrindo, derramando algumas poucas lágrimas.

Não deixei de notar a mão do meu pai que afagava o braço da dona Mellany. Tentei, sorrir, mas o tubo na minha boca tornou-se um verdadeiro obstáculo para isso.

- Ah, temos que avisar o médico que ela já acordou, Jordan. - Minha mãe disse ao meu pai.

Este apenas assentiu, se retirando da sala. Minha mãe continuou a afagar os meus cabelos e, como se pudesse ler a minha mente através do olhar, após fitar-me por algum tempo, murmurou:

- Nunca mais apronte uma dessas conosco. Você tinha um nível de álcool no sangue muito alto: quatro litros e meio. A partir de cinco litros, já desencadeia a morte. Você ficou um pouco anestesiada com o efeito e acabou ficando inconsciente. - Explicou, dessa vez, tocando carinhosamente as minhas bochechas, me fazendo lembrar do sonho.

Queria tanto poder falar, perguntar sobre tudo o que acontecera, quando tempo eu estava lá... Mas não podia por causa do bendito aparelho! Que raiva!

O médico adentrou à porta apressado. Mirou-me, e a sua expressão passou-se de assustada para extasiada!

- Senhorita McCartney, como se sente? - Claro, ele queria que eu respondesse com aquele aparelho na boca. Apenas balancei levemente a cabeça, de forma afirmativa. Eu não daria uma resposta negativa que ele logo cobraria mais exames. - Ótimo! Sabe, você chegou aqui tão mal que eu não achei que conseguiria salvá-la.

Suas palavras causaram um arrepio na minha espinha, fazendo eu prometer a mim mesma que nunca mais abusaria da bebida; agora, apenas socialmente.

O médico disse que faria algumas observações, pedindo para que eu respondesse aos estímulos. Fez cosquinha no meu pé, e eu ri. Tocou na minha nuca, e eu senti. Eu tinha todos os sentidos completos novamente. Ele sorriu e disse que permitiria a entrada dos meus amigos. Sorri mentalmente - já que o aparelho não deixava - ao pensar que eu poderia revê-lo se o meu sonho tivesse sido real.

Logo, Caitlin e Letícia entraram preocupadas no quarto, sorrindo aliviadas ao me verem. Queria poder abraçá-las; ou, pelo menos, sorrir e mostrar o quanto eu gostava de vê-las sempre me apoiando, mas nem isso eu poderia fazer com todos aqueles aparelhos.

- MEL! - Ambas gritaram, e percebi que Caitlin já chorava de emoção, enquanto Letícia apenas possuía os olhos marejados, sempre se fazendo de difícil.

Ryan e Chaz entraram um pouco envergonhados, talvez sem jeito, não sei. Eu não sabia das últimas fofocas e mal me lembrava da noite em que bebi tanto quanto a minha mãe dissera.

As minhas amigas vieram me dar um abraço caloroso, mesmo que eu não pudesse retribuir ele. Meus olhos marejaram ao perceber o quanto elas se importavam comigo; eu não tinha palavras para retribuir o amor que eu sentia por elas.

Ryan e Chaz acenaram, procurando não fitar os meus olhos. Franzi a testa, mostrando o quão confusa eu estava. Caitlin tratou de explicar, e eu fiquei extremamente agradecida.

- O Chaz se sente culpado por você ter tirado a bebida da mão dele, Mel. Foi aquela última dose que te levou à inconsciência.

Balancei a cabeça, cética, revirando os olhos. Era claro que não era culpa dele. Algumas imagens, não muito claras, começaram a passar pela minha mente. Lembrei da nossa entrada na festa, daquele menino que me encarava... E eu nem sabia o seu nome. Não pude deixar de lembrar que ele era o motoqueiro, que me prensou na parede, quase me beijou... Fiz uma careta, percebendo as burradas que eu tinha feito enquanto estava sob o efeito da bebida.

- E o Ryan se sente culpado por não ter feito nada, nem te visto na festa... Sabe, ele e a Lê estavam um pouco ocupados no banheiro. - Não se passara despercebido o sorriso maroto de Caitlin, assim como a troca de um olhar cúmplice entre o Ryan e a Letícia.

Eu queria sorrir, tirar as minhas dúvidas sobre a noite, procurar conversar com eles, perguntar sobre uma pessoa que apareceu no meu sonho... Mas não conseguia devido aqueles malditos equipamentos.

O doutor entrou no quarto junto com uma enfermeira e deu algumas ordens. Infelizmente, os meus amigos e os meus pais tiveram que se retirar. Logo, retiraram o aparelho bucal, porém permaneceram com os outros.

- Esse aparelho lhe ajudava a respirar, para que não tivesse uma parada respiratória e a falência dos demais órgãos. - Assenti, ainda sem dizer nada.

Percebi o que eu fiz e as decisões que tomei foram decisivas para estar naquele estado. Eu não poderia mais assustar a minha mãe, o meu pai e os meus amigos assim. Era a segunda vez que eu ia parar no Hospital por intoxicação. Tudo bem que, na primeira vez, não fora culpa minha: eu havia sido invenenada. Porém, dessa vez, eu não tinha como culpar ninguém, nem queria fazer isso! Eu tinha que arcar com as consequências; e, possivelmente, o castigo que a dona Mellany me daria não seria muito bom. Fiz uma careta, e o médico, talvez entendendo que era para ele, se retirou, dizendo que chamaria novamente os meus amigos.

Não pude deixar de sorrir, já que agora eu poderia conversar com eles! Parecia que eu havia passado séculos naquela cama, pois eu sentia uma saudade imensa!

Assim que entraram, gritei de felicidades; e elas, também. Nos abraçamos mais uma vez, parecendo ser a primeira.

- Vocês não sabem como eu senti a sua falta! - Exclamei. - Lá tudo era preto, não tinha vida. Eu corria, corria, tentando alcançar a luz, mas não conseguia... - Murmurei, balançando a cabeça para os lados e cerrando os olhos, como se quisesse esquecer.

- Já passou, Mel; já passou... - Caitlin sussurrou, parecendo a minha mãe. Eu ri, limpando as lágrimas nos cantos dos olhos e dizendo:

- Mas então... Alguém mais veio me visitar? - Perguntei, com uma pontinha de esperança daquela voz e daquele toque realmente serem dele, e não apenas fruto da minha imaginação.

- Sim, o... - Antes que o Ryan pudesse terminar a frase, a Letícia o beliscou. - Dude, qual é?

- E eu sou lá um "dude". Fala sério, Ray. - A Lê murmurou, rolando os olhos e usando um apelido fofo que eu não conhecia.

- Quem veio, Ryan? - Perguntei, curiosa e, ao mesmo tempo, esperançosa.

- Ninguém. - Todos, menos o Ryan, responderam, encarando-o.

- Gente, eu esperava mais de vocês. - Reclamei, cruzando os braços de uma meneira que não atrapalhasse tanto os tubos que interligavam-se nos meus pulsos.

- Co-Como assim? - Letícia perguntou, fitando-me, assustada.

Suspirei e decidi explicar tudo, mesmo que eu pudesse estar arriscando o resto de sanidade que eles pensavam que eu tinha.

- Eu tinha um sonho muito estranho, que eu acho que era realidade... Enfim, sonhei que a escuridão tinha se esvaído e comecei a ouvir vozes. Mas não eram vozes quaisquer: eram a de Caitlin - fitei-a séria - e a do Bieber. - Eu ainda não pronunciava o nome dele em voz alta, mesmo não tendo motivo para não fazê-lo. - Só que o "sonho" não se estendeu muito. Ouvi algumas coisas...

- Como o quê? - Perguntou Caitlin, temerosa.

- Ouvi ele perguntar se eu ia me recuperar, dizer que eu quase tinha me matado; e ele não entendia o porquê disso. Escutei você, Caith, explicar que eu me recuperaria e perguntou quando ele viajaria. Este respondeu que logo, porque não tinha muito tempo, tinha uma turnée; e foi isso.

Omiti o fato do "nosso bebê", que deveria, realmente, ser algo da minha imaginação. Caitlin era a única que sabia sobre o teste de gravidez que eu fizera e que eu, praticamente, esquecera sobre. Era a melhor coisa a se fazer.

Todos me encaram, boquiabertos. Entrementes, ninguém dissera nada, apenas fitaram-me fixamente, como se eu fosse alguma berração ou algo do gênero. Esperei ouvir alguma respiração, mas nada. Abanei freneticamente na frente da cara da Caith, procurando ouvir a sua resposta. Por mais que eu pudesse estar me iludindo, eu tinha esperanças de que ele tivesse mesmo se preocupado comigo, vindo até Stratford e me dado um beijo na bochecha. Mesmo que fosse um beijo inocente, o meu coração já se acelerava enquanto eu pensava naquilo.

- Ai, Mel! - Foi a única coisa que a Caitlin pronunciou, me abraçando.

Apenas revirei os olhos, não entendendo direito a sua reação. Pelo menos, Chaz tratou de explicar, com a sua própria versão dos fatos:

- Ele veio aqui, Mel. Ele ficou preocupado com você; todos ficamos. Mas ele não podia desmarcar a primeira turnée da vida dele, justo quando ele está começando uma carreira. O Justin ficou com medo de que você não conseguisse entender...

- E quem disse que eu me importo? - Tudo bem, eu havia sido meio rude dando um "coice" nele.

- Os seus olhos, a sua voz... Mel, não adianta fingir. Todos nós sabemos que, por mais que você tenha se esforçado, - referiu-se à festa - nunca esquecerá ele. - Chaz disse, fazendo com que eu me encolhesse.

- Posso conversar à sós com a Caitlin e com o Chaz? - Perguntei, engolindo seco, após um momento de recuperação devido à sua fala.

Todos saíram imediatamente do quarto, percebendo a minha reação aquela fala. Minhas lágrimas não aguentaram, embaçando a minha visão e caindo repetidamente sobre as minhas bochechas.

- O que foi, Mel? - Chaz perguntou, preocupado.

Vi o olhar da Caith para ele, uma mistura de irritação com incredulidade. Logo, ela veio me abraçar, enquanto eu tentava segurar o choro, não querendo passar por todo aquele drama novamente.

-

- Faz cinco semanas e dois dias, Mel. - Chaz finalmente dissera algo, e os meus olhos esbugalharam-se.

- Como assim? Eu fiquei todo esse tempo? Eu já devo ter perdido o ano! - Murmurei incrédula, cética, com a boca entreaberta.

- Eles vão te dar uma segunda chance, já que você tem atestado. - Chaz me amparou.

Yeah I think your cute but really you should know. I just came to say hello, hello, hello, hello." - Que significava "sim, eu te acho fofo, mas você realmente deveria saber que eu só vim dizer oi, oi, oi, oi". Sussurrei no seu ouvido, fazendo-o estremecer com a aproximação. Sorri, fitando-o, e continuei o meu caminho.Mais uma noite, eu sonhei com ele e, mais uma vez, eu chorei por não ser real. - Recitei uma frase, que eu havia lido na internet. - Eu amo ele, Chaz. Eu sei, mas eu queria conseguir mentir para mim mesma; eu não consigo mais conviver com essa dor. É inexplicável o quanto eu o amo; até me assusto com o tamanho desse sentimento. - Murmurei, entre lágrimas, procurando recuperar o fôlego e respirando fundo. - Desde aquele dia, Chaz, que ele me beijou à força, eu sabia que o amava; apenas não admitia a mim mesma. Naquela noite do meu aniversário, eu queria mostrar para ele (e para mim) que eu podia esquecer ele; eu queria. Agora eu sei que é inevitável, que eu não irei esquecê-lo tão cedo. Mas eu quero continuar a minha adolescência normalmente; ainda quero curtir os meus dezesseis anos, quero me divertir. Por favor, finjam que eu estou bem, que o esqueci completamente, que já estou em outra. Prometo não cometer mais loucuras como essa... - Caitlin apenas assentiu, me abraçando fortemente em seguida. - Afinal, há quanto tempo eu estou no Hospital? - Perguntei, confusa.

Continuamos a conversar, e me senti bem por estar com os meus amigos. Todos evitavam tocar naquele assunto, enquanto buscavam me tratar sem pena. Eu não queria vê-los me lançando olhares que indicavam piedade, como se eu estivesse sofrendo. Não que eu não estivesse, eu apenas queria convencer a mim mesma que eu estava. Complexo, eu sei...

Certa vez, sozinha no quarto do hospital, apenas com Caitlin, perguntei sobre o assunto do "nosso bebê". Ela uniu as sobrancelhas, e então as suas feições se tornaram tensas. Ela tentou desviar daquele assunto, e deixei-a fazê-lo. Não gostava de pressioná-la, mas, caso ela quisesse dizer algo, eu estaria ali para ouvi-la.

Algum tempo se passou, saí do hospital e, logo, eu já podia seguir a minha vida em frente. O tempo tratou de arrumar as feridas que estavam se catrizando em meu coração. Porém a mídia não me ajudava a atingir a minha meta: esquecê-lo. A todo lugar que eu via, havia uma nova notícia do "novo fenômeno mundial". Diversos países, em todos os continentes, possuíam fã-clubes e essas coisas. O Twitter dele aumentava diariamente o número de seguidores, já somando quatro milhões atualmente, em outubro de dois mil e dez. É, um ano sem ele. E sim, eu acessava o twitter dele quase todos os dias.

Chaz, Ryan e Caitlin se aproveitavam da fama dele para "bombarem" no twitter. Eu não achava aquilo muito justo, mas sabia que eles não faziam por maldade ou por serem "espertinhos". Era apenas a junção do útil ao agradável, como dizia o Ryan.

Letícia, mantendo-se a amiga fiel que sempre fora, apenas tinha um twitter que não era público, com os tweets protegidos. Ela apenas trocava "DMs" (como se fossem mensagens privadas) com ele. Às vezes, quando tinha algo de interessante, ela me contava. Por exemplo, quando ele decretou que iria lançar o seu primeiro disco. Claro que fiquei contente por ele estar realizando o seu sonho, não conseguindo conter a alegria.

Porém muitas coisas me decepcionaram, preciso confessar. Não que eu achasse que ele fosse só meu, que ele não iria sair com mais ninguém. Entretanto, ao ver o vídeo de "One Less Lonely Girl" que ele cantou para a Selena Gomez (

Logo, o boato de ele ter beijado a Jasmine Villegas, colega de tour dele, veio à tona. Aquela foto simplesmente rasgara o meu coração, não deixando pedaços para juntá-lo. Fora então que ele resolvera comentar sobre tal foto, dizendo

Eu já havia decidido aquilo há muito tempo, mas eu iria pô-lo em prática apenas agora: o meu plano de ser feliz. Eu precisava arranjar alguém que curasse a minha ferida, alguém que remendasse-a. Porém não era tão simples e não apareceria de uma hora para outra. Era ter paciência e rezar a Deus que ele enviasse um anjo para me salvar.

Até que, enfim, ele apareceu. Era um aluno novo no colégio e, logo no primeiro dia de aula, causou um grande impacto. Desceu de sua moto, retirando o capacete e deixando as suas madeixas negras, assim como os seus olhos de um tom azul, azuis como o céu, me deixavam com a ideia de que eu estava nas nuvens.

Desde o primeiro dia, notei que ele era o menino da moto, que tentara conversar comigo lá, no manicômio, quando eu fui visitar a Kate. Ele pediu desculpas por aquele dia, ressaltando que não sabia que eu tinha namorado.

Todavia, ficamos na mesma sala; e não pude deixar de criar um grande laço de amizade com ele, o Dereck. Nos tornamos inseparáveis na aula, porém, fora dela, eu notava o incômodo do Chaz e do Ryan perto dele. Por isso, eu nunca convidava-o para se sentar conosco, até que decidi mudar de ideia.

O sinal recém havia batido, e pegávamos os nossos materiais. Como era Química, e eu não tinha essa aula com a Letícia, apenas com o Dereck, eu era a sua dupla. Então saímos da sala juntos, rindo de alguma bobagem que ele dissera - como sempre -, e andamos até o refeitório.

Não pude deixar de notar o seu olhar triste, assim que o seu sorriso se desfazera.

- Bem, acho que eu vou indo me sentar naquela outra mesa. - Por ele ter um porte físico muito bem... Desenvolvido e ser alto, ele era da equipe de futebol americano e se sentava com eles. Porém realçava o fato deles serem metidos, por isso não gostava de andar com eles.

- Não, espera. - Sussurrei, segurando a sua mão quando ele se virou.

- Co-Como? - Ele perguntou, surpreso, com um sorriso ameaçando nascer em seus lábios.

- Vem, Dereck; hoje, você vai se sentar conosco.

Sem olhá-lo, apenas o arrastei até o outro canto do refeitório, onde se encotravam a Letícia, a Caitlin, o Ryan e o Chaz. Havia também uma nova colega chamada Amanda, assim como a Isabel. Ambas eram muito legais e, por terem um jeito espalhafatoso e extrovertido, logo se acertaram com a Letícia.

Por mais que todos comentassem, ninguém achava grade coisa o Justin Bieber ter estudado naquela escola. Até porque ele nunca voltara para Stratford até agora.

- Pessoal... - Comuniquei ao chegar em frente à mesa. - Esse é o Dereck; ele vai se sentar aqui conosco hoje. - O meu olhar fora o suficiente para ninguém se opôr a minha decisão.

- Prazer, Dereck. - Amanda, mais conhecida como Nanda, tratou de apresentar-se. Eu sabia que aqueles olhares queriam dizer algo à mais. Estava na cara que ela gostava dele. Não pude evitar um sentimento ruim, que eu conhecia muito bem, se apossar do meu corpo.

- Esta é a Amanda. Aquela é a Letícia... - Comecei a apresentá-los, e nos sentamos. Comemos em paz, mesmo eu sentindo o clima tenso que se instalou com os olhares trocados entre o Chaz e o Ryan para com Dereck.

- Dé, eu vou no banheiro. Se importa de ficar aqui? - Perguntei temerosa por deixá-lo naquele lugar, mas eu não controlava a minha bexiga.

Ele assentiu, e eu saí. Desde então, ele começou a me evitar, olhando-me com mágoa, dor e algo que eu não conseguia decifrar. A maioria das aulas, eu permanecia sentando com a Letícia; até que a primeira aula de Química chegou. Aproveitei para tirar essa história a limpo.

Ele se sentou, prestando atenção nas palavras da professora, que explicava o procedimento que seria feito na aula prática. Peguei um pedaço de folha do caderno e escrevi: "Sinto a sua falta". Coloquei na sua frente e evitei ver a sua reação, fitando a mulher que falava como se fosse estúpido ter que explicar aquilo.

Percebi que havia, no verso do bilhete, uma resposta em minha frente. "Impossível você sentir mais a minha falta do que eu sinto a sua". Respondi, com um pequeno sorriso ameaçando no canto da minha boca por saber que ele se importava. "Então por que você anda me ignorando?". Passou-se um tempo, como se ele pensasse se deveria me dizer a verdade. Ouvi um suspiro e o barulho do atrito do papel com a mesa. O peguei, lendo "Assim é melhor para você...".

- Tudo bem, isso é ridículo. Nós estamos um do lado do outro, então por que você não me explica tudo isso com palavras? - Perguntei, exaltada por não avançarmos em nada com aqueles bilhetinhos.

- Senhorita McCartney, gostaria de se retirar da minha aula? - A professora perguntou brava, me encarando. É, talvez eu soubesse o motivo de não estarmos falando. Neguei com a cabeça, e ela apenas prosseguiu.

- Por isso. - Ele murmurou simplesmente, me provocando.

Bufei e peguei o bendito papel novamente. "Por que isso seria melhor para mim? Depois do tanto que eu já sofri, você só está piorando a situação. Eu esqueço dele quando estou com você, Dé, e lhe perder seria como retornar para o abismo escuro e ingrato que era a minha vida... Por que você só complica o que é natural? Eu ajo, penso, faço as coisas naturalmente próximas a você; mas parece que isso não lhe agrada... O que há de errado comigo, afinal?". Desabafei no papel, sentindo os meus olhos marejarem. Eu não entendia como as pessoas sempre me abandonavam: primeiro o meu pai, depois o Oliver, depois o Justin e agora o Dereck...

Porém, antes que ele pudesse responder, o sinal bateu, revelando o horário do almoço, enquanto a professora ainda gritava, buscando que nem todos saíssem, que a prática do que ela dissera seria no período seguinte - já que tínhamos dois períodos de Química hoje, com o intervalo no meio.

Dereck arrumou o seu material, terminou de escrever e me encarou, afagando a minha bochecha com a mão.

- Leia apenas quando eu já tiver saído. Me perdoe, e espero que isso não interfira na nossa amizade. Espero que consiga decidir o certo. - Murmurou, fitando-me intensamente com aqueles olhos azuis, para os quais eu só pude assentir.

Logo que ele saiu, comecei a ler o bilhetinho que se encontrava em cima da sua cadeira. "Como você pode pensar isso, Mel? Eu estava tentando pensar no seu bem. O Ryan e o Chaz abriram os meus olhos. Eu te amo, Mel, de um jeito que eu sei que você nunca será capaz de me amar. É inútil eu me remoer por algo que eu sei que não vai acontecer. É estúpido eu ser o seu amigo se, toda a vez que eu te vejo, o meu coração se acelera. Se, quando eu olho a sua boca, sinto vontade de grudá-la à minha. Se, toda vez que você choro, temo não me controlar e ir atrás daquele idiota que te abandonou nesse estado... Mel, a verdade é única e absoluta; e não há nada, nem ninguém, que possa contestá-la. O amor é benigno, mas pode ser um inimigo no nosso caso. Eu não quero perder a sua amizade, porém não posso me aproximar sem te querer. Você decide se, a partir de agora, nós permaneceremos amigos. Se você quiser se afastar, tudo bem, eu aceitarei. Beijos, do seu ...(você completa isso aqui), Dereck".

Fiquei um pouco atordoada por um momento. Como ele poderia ser tão idiota por se afastar sem nem ao menos me explicar? Se era por isso que ele se afastara, eu agradecia. Não por saber que ele me desejava, nem nada. Apenas por saber que não era por ele não me aguentar mais, ter enjoado por mim. Pode soar como uma besteira, mas eu não aguentaria ficar sem ele. Dessa vez, eu impediria o destino de me roubá-lo.

Eu não sabia ainda o que eu falaria para ele, porém eu precisava encontrá-lo. Fui até o refeitório, mas ele não estava lá. Me dirigi até o bosque, que se encontrava atrás do colégio, e o vi ali, de costas, mirando a paisagem.

Me aproximei dele, também observando o Sol, que, mesmo sendo meio-dia, não se encontrava acima da gente, mas sim à nossa frente. Segurei a sua mão, ficando de pé ao seu lado. Me lembrei de uma vez que eu estava mirando o pôr do sol com o Justin, enquanto o seu rosto irradiava felicidade.

- Eu também te amo. - Sussurrei essas palavras, automaticamente, sem me dar conta de que era o Dereck que estava ao meu lado, não o Justin. Mas elas soaram tão verdadeira que, com um sorriso, Dereck virou para mim e diminuiu a distância entre nós, me puxando ao seu encontro.

O meu espanto e a minha surpresa foram imperceptíveis a ele, que juntou os nosso lábios, roçando-os uns nos outros. Eu não queria perdê-lo, não mesmo. Eu me rendia a qualquer outra coisa, mas me renegava a não vê-lo mais, ou ao vê-lo me ignorar. Por isso, assim que a sua língua pediu permissão para invadir a minha boca, cedi. Cedi aquele lugar que eu pensava que se tornaria intocável, assim eu poderia sentir o gosto do Justin ainda na minha boca. Era estupidez, eu sabia. Mas, quando amamos, não reparamos nos atos mais imbecis que fazemos.

Dereck tinha um beijo bom, eu não poderia negar. Minhas mãos que, até agora, estavam caídas ao lado do meu corpo, pareceram tomar vida. Talvez por eu ser uma adolescente, me movi pelo desejo, trazendo-o para mim ao puxá-lo pelas madeixas negras. Eu sabia que estava errando, enganando-o. Porém o egoísmo falou mais alto; e, ao invés de riscar perdê-lo, eu iria me entregar aos seus sentimentos. Com o tempo, talvez, eu poderia começar a gostar dele.

Entretanto isso não aconteceu.

Já estávamos há dois meses juntos, e as férias haviam chegado. Letícia, Ryan, Chaz e Caitlin iriam para Atlanta e haviam me convidado; mas eu não queria revê-lo e tornar a sofrer tudo aquilo de novo.

Estava na sala da minha casa, juntamente com o Dereck, relembrando quando o Ryan e o Chaz descobriram sobre nós estarmos ficando. Primeiro, os seus olhos se esbugalharam; depois, fora a vez das suas bocas se entreabrirem; e ambos gaguejarem. Sorri amarelo naquele dia, pois eu sabia que todos estranhariam. Eles apenas me disseram um "parabéns" curto e grosso, o qual eu agradeci seca. Eu não fizera-o por querer, mas me senti tão ofendida, que acabei falando sem querer.

- Amor, se lembra de quando a Letícia descobriu sobre nós? - Perguntei, enquanto apoiava a cabeça no seu colo, e ele afagava o meu cabelo, fazendo cafunés delicados.

- Lembro sim. Ela quase teve um surto. - Ele murmurou entre risos.

Era verdade, só faltava ela ter um infarte mesmo. Nós estávamos escondidos no nosso lugar, que se tornara o bosque, quando ela nos viu. Gritou comigo por ter sido a última a descobrir, tendo ainda que extorquir essa informação com o Ryan, prometendo que, se ele não dissesse o que tanto escondia, seria uma semana sem sexo. Minha vontade era de rir na hora; porém, ela parecia estar tão irritada que eu não cutucaria a fera. Depois nós nos entendemos, e ela disse estar muito feliz por eu ter superado tudo que ficara no passado. Sorri ao lembrar.

- É verdade... Mas, então, sobre a viagem que eles vão fazer aos Estados Unidos... - Ele me olhou com uma ruga em sua testa perfeita; suspirei. - Bem, é o meu país de origem, e eu queria muito voltar para lá. Mas não queria revê-lo, Dereck. Vou ser bem sincera com você: eu não sei se os meus sentimentos não voltariam à tona ao vê-lo.

Cerrei os olhos, esperando a sua reação de berrar e gritar comigo. Mas não, Dereck não era assim. Ele apenas suspirou e disse:

- Eu preferiria que você fosse, para ver o que você realmente sente por mim.

Talvez ele estivesse se referindo a incapacidade que eu tinha em me entregar a ele, de aprofundar a nossa relação. Realmente, eu não conseguiria fazer amor com mais ninguém; não sem eu realmente superá-lo.

- Desculpa, Mel. - Ele murmurou de repente, e fitei-o sem entender. - Aquela vez na festa... - Ele pareceu engolir o choro e segurar as lágrimas. Me sentei, saindo do seu colo e sentando do seu lado, com a mão sobre a sua face triste. - Na festa que você foi para o coma... O Chaz me contou. Fui eu que tentei te agarrar, Mel. Você lembra de alguma coisa que aconteceu naquela noite? Eu fiquei desacordado depois de um soco que o Chaz me deu, mas eu mereci. Por isso que eles não iam muito com a minha cara no início. Desculpa, amor; eu nunca imaginei que eu teria uma oportunidade assim como esta, de lhe beijar, sentir as suas carícias... Me perdoa, Mel.

Entreabri a boca, confusa; porém, antes, ele tratou de unir os nossos lábios famintamente, como quem ansia, há muito tempo, algo. Apenas correspondi ao beijo, porém a sua língua procurava a minha sedenta, em busa de mais. Diminui o ritmo, acalmando-o com pequenos selinhos.

- Não precisa se preocupar, Dé. Ninguém estava no seu melhor juízo, aquela noite.

Ele sorriu maravilhosamente, fazendo com que o meu coração acelerasse. Me senti completa ao vê-lo sorrindo; agora já não importava mais o que eu sentia, apenas queria ver a felicidade dele. Ele me curou, então eu tinha que evitar a sua tristeza. Era o mínimo que eu poderia fazer para redimir o meu egoísmo.

Na semana seguinte, cheguei na escola; e, logo, Letícia veio até mim, desolada.

- O que houve, amiga? - Perguntei, preocupada.

- Nós não poderemos mais ir à Atlanta, Mel... Logo agora que você iria... - Sua face triste e decepcionada logo se desfez, preenchendo o sorriso que eu tanto gostava de ver no rosto da minha amiga. - AGORA ELE ESTÁ VINDO PARA STRATFORD! ELE FARÁ UM SHOW AQUI, EM QUARENTA DIAS!

Minhas pernas bambearam, e eu não consegui raciocinar muito bem o que ela dissera. Ele estava voltando, como ele prometera. Ele estava voltando, mas eu estava namorando outro. Eu não poderia voltar para os seus braços...

No mesmo momento que pensei isso, me arrependi. Eu não poderia voltar para ele, logo ele que me abandonaria novamente. A única coisa que eu podia fazer era ignorá-lo. Eu teria que evitá-lo ao máximo, isso se fosse possível.

Como quem acorda de um pensamento distante, vi Letícia abanar freneticamente, com a mão, em minha frente. Sorri amarelo e tentei prestar atenção no que ela dizia.

- Ouviu? Eu já comprei os ingressos! Começaram a vender hoje, mas, como será em um lugar pequeno, tive que comprar logo. Apenas eu e você, já que a Caitlin, o Chaz e o Ryan decidiram ir de camarote. Vê se pode: até nisso eles se aproveitam. - Ela revirou os olhos, mas logo começou a falar das músicas dele.

Reparei em como eu não conhecia as músicas. Conhecia Down to Earth, que eu ajudaria-o, além de One Time, que ele cantara para mim, assim como Love Me, Baby e Somebody to Love. Poderiam até dizer que eu sou poser, mas conheço-o melhor do que ninguém. Por incrível que pareça, quis manter distância das músicas dele, para não pensar estupidamente "ah, essa ele fez para mim". Eu queria acabar com as dúvidas e inseguranças.

Dereck me abraçou por trás, relembrando-me o porquê de eu estar viva e sorrindo. Ele era o motivo do meu sorriso, das borboletas no meu estômago. Por mais que eu não amasse-o, não podia negar que havia uma forte conexão entre nós.

No final, com o passar dos dias, esqueci que o show se aproximava. Dereck era o único coisa com quem eu me preocupava. O seu sorriso chegava a irradiar o meu dia, espantando o frio, o medo, as inseguranças.

Com os meus lábios nos seus, fomos interrompidos com um pigarreio. Amaldiçoei mentalmente quem quer que fosse e me virei para ver a minha amiga Letícia com um enorme sorriso no rosto, capaz até de rasgar a sua bochecha.

- É hoje, amiga! - Exclamou, contente.

- É hoje o quê?

Juntei as minhas sobrancelhas, em um sinal claro de dúvida.

- Você se faz de inocente, ou o quê? - Não entendi a sua pergunta, mas retruquei:

-

http://www.youtube.com/watch?v=hFJaHnGzrtY), eu chorei, rebelando todas as lágrimas que estavam guardadas em meu interior. Eu sabia que ele apenas mordia o lábio (1:48 e 2:48) quando se sentia atraído por alguém; ele havia me contado isso uma vez. Ele amava ela, eu sabia."Bem, eu estava apenas, não sei, eu estava apenas beijando-a. Foi isso que aconteceu. Eu não sei. Eu nem ao menos sabia que alguém estava tirando fotos. Aquilo meio que aconteceu e... Sei lá. Não é algo realmente estranho. É estranho? Acho que todo garoto de 16 anos beija garotas, certo? Então não há nada fora do comum nisso." "Você está namorando?", a entrevistado perguntou. Bieber então respondeu com um não, acrescentando: "foi apenas um beijo". Eu não sabia como reagir, por isso fiz o que eu já estava acostumada a fazer: me escondi atrás de uma máscara de felicidade, não deixando que os outros vissem o meu verdadeiro sentimento.Desde pequena vi que Cinderela chegava à meia noite. Pinóquio mentia. Aladin era ladrão. Batman dirigia a 320 km/h. Por que eu seria inocente?

- Putz. HELLO, HOJE É DIA DOIS DE FEVEREIRO! DIA DO SHOW DO JUS! ISSO NÃO TE DIZ NADA? - Ela começou a se descabelar à toa. Suspirei, eu tinha esquecido.

Fechei os olhos e apenas murmurei:

- OK, vou subir para me trocar.

Eu estava em casa, já que as férias haviam iniciado, mas já estavam quase acabando. Subi derrotada as escadas, ouvindo a Letícia conversar animadamente com o Dé, que parecia um pouco triste.

Fui até o meu closet e peguei a primeira coisa que vi. Não queria que ele me visse lá; queria ficar impeceptível. Eu nem sabia o porquê de eu ir no show. Talvez porque a Letícia queria; talvez porque, internamente, eu nunca conseguiria ficar longe dele. Toda chance que eu tivesse, seria insuficiente.

Vesti uma calça jeans escura, com uma blusa um pouco decotada branca, já que eu sentiria calor. Peguei um casaquinho preto e deci, bem básica mesmo.

Dereck sorriu ao me ver, talvez pensando que eu não queria conquistar o novo astro pop. Ri do meu pensamento, que era um tanto surreal para mim.

Nem deu tempo de me despedir direito do Dereck, apenas dei um selinho. Logo, Letícia me arrastou para fora, entrando no seu carro. Estava tão animada que, provavelmente, não notou a minha falta de empolgação.

Chegamos ao teatro, onde seria o show. Era um local pequeno, mas havia muita gente na fila já. Sendo Stratford, nunca imaginei que houvesse tanta gente aqui. Os portões ainda não haviam aberto, então eu e a Letícia fomos para a fila. Pela primeira vez, perguntei aonde seriam os nossos lugares. Antes eu não estava muito interessada, nem agora, - mas a curiosidade falava mais alto.

- Na pista. Não é a premium, mas vai dar para vê-lo, não se preocupe. - Ela murmurou, piscando em seguida. Apenas revirei os olhos, até ver uma kombi branca passar pela frente do local e um monte de pessoas correrem atrás dela.

- Nunca pensei que seria tão fácil pegar um lugar na fila. - Comentei caminhando, já que diversas pessoas haviam liberado espaço.

O tempo passou, enquanto a minha aflição aumentava. Eu não contava com ela, mas, quando vi, já era muito tarde. A minha garganta estava seca; o meu estômago, revirando; e a minha cabeça latejava.

Já estávamos dentro do local, espremidas entre milhares de pessoas que nos empurravam, não melhorando a situação. Fitei Letícia com pesar nos olhos, quase desistindo de tudo aquilo e indo embora. Até agora, eu não entendia o porquê de tudo aquilo. O porquê dos meus pés não se moverem para longe daquele lugar, ou o porquê do meu coração estar acelerando.

As pessoas começaram a gritar insanamente quando as luzes se apagaram, e o empurra-purra começou. Não me senti nada confortável, mas não podia deixar a Letícia sozinha. Ela começou a gritar também, enquanto o fundo de uma música, que eu conhecia muito bem, tocou.

Apenas o instrumental, um pouco eletrônico, de Somebody to Love, começou, enquanto alguns dançarinos apareciam no piscar das luzes. Repentinamente, o ritmo mudou, iniciando Love Me. Ele apareceu no centro do palco, de costas, com a sua costumeira roupa roxa - a sua cor favorita. Os gritos aumentaram, e mal pude escutar quando a sua voz rouca e macia, cuja eu sentia tanta falta, começou a ecoar pelo teatro.

Um arrepio involuntário se apossou da minha nuca, enquanto eu permanecia parada em meio aquele calor humano. Eu não podia me entregar novamente àquele sentimento avassalador, capaz de me deixar sem comer por dias, ou vegetando por semanas. Eu não queria voltar àquele estado depressivo, não mesmo! Justo agora que eu estava tão feliz... Com o Dereck, alguém que realmente me amava e que continuaria me amando. Eu não podia me iludir com alguém como Justin Bieber, que tinha milhões de garotas aos seus pés, assim como as famosas mais cobiçadas de Hollywood. Por mais que antes nós fôssemos parecidos, agora estávamos em mundos diferentes. Eu não poderia arriscar tudo o que eu conseguira até então para ter algo que eu cobiçaria para o resto da minha vida. Eu pagaria o preço pelo meu passado, mas nunca arriscara o meu presente.

Eu tomara uma decisão assim que os seus olhos dourados e profundos me fitaram. Não pude evitar de sentir um desejo por aqueles lábios que se entreabriram. Eu estava longe do palco, mas perto o suficiente para ver aquelas pérolas brilharem.

Ele perdera algumas palavras da música, mas logo voltou a cantar, ainda me olhando e se atrapalhando um pouco na coreografia.

Mais uma vez, eu só estava atrapalhando-o. Resolvi me retirar da vida dele, fazendo um favor a nós dois. Eu viveria a minha vida normalmente, enquanto ele teria aquela que sempre sonhou.

Uma lágrima solitária escapou dos meus olhos, escorrendo pela minha bochecha e terminando em meu queixo. O seu trajeto era como a nossa história: iniciou-se de um jeito belo, percorreu um caminho difícil e terminou do mesmo jeito que começou, ou seja, involuntariamente. A lágrima tinha apenas um caminho a seguir, no qual ela sumira de qualquer jeito. Eu possuía escolhas, aquelas que poderiam estar sendo tomadas de forma errada; porém prevendo, inicialmente, não ferir ninguém... A não ser eu.

Me virei, ficando de costas e sentindo Letícia me seguir, confusa. Eu não estava me lamentando por nada que eu havia vivido com o Justin; afinal, quando a vida lhe oferece um sonho muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar quando este chega ao fim. Então era isso: o fim. No final, é como dizem: se finais fossem felizes, não seriam finais.


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Notas finais do capítulo

FIM DE MY REASON - PRIMEIRA TEMPORADA *--------------*
A PRÓXIMA TEMPORADA SERÁ EM OUTRO LINK, O QUAL EU MANDAREI NOS REVIEWS, JUNTAMENTE COM A RESPOSTA!
O que não ficou explicado, será na próxima temporada. ^^ Críticas, opiniões, sugestões, elogios sobre a nossa jornada aqui, é só comentar/recomendar. Beijooos ;*
P.s.: aqueles que RECOMENDARAM ganharão um bônus, que não valerá para a segunda temporada. Será um FINAL ALTERNATIVO, de como seria caso a Mel permanecesse no show. Será enviado por MP apenas com o consentimento da leitora. Se você recomendou - mesmo com a fic concluída -, basta pedir por comentário o capítulo bônus :D Claro, ainda não está pronto :B Mas não será muito grande como os capítulos normalmente são, então espero enviar em breve. *-*'
P.s.2: AMO TODAS VOCÊS! *u* Sem vocês, essa fic não existiria. Muito obrigada, amoras!