Insônia escrita por Babydoll


Capítulo 52
Me deixe ir


Notas iniciais do capítulo

Perdoem minha demora, e meu sumiço. Estou passando por alguns problemas e precisei tirar um tempo para mim. Postei um aviso no meu perfil, mas de qualquer forma, queria vir aqui me desculpar. Jamais imaginei que ia demorar tanto tempo.

Enfim, nos falamos lá no final.

Boa leitura!



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Estou me libertando dessas memórias

Preciso deixar ir, somente me deixe ir

Eu disse adeus, incediei tudo

Preciso deixar ir, somente me deixe ir

(Let Me Go - Avril Lavigne)

— Já faz mais de um mês, Luka...

— Eu sei disso.

— E não aconteceu nada. - As palavras saíram tão amargas de sua boca quanto o café que havia acabado de ingerir.

—Então nada de ruim aconteceu também. Ainda é uma vitória, Adrien. - Luka passou o braço por cima de seus ombros encolhidos, enquanto loiro dava uma respirada funda. - Agora ela já passou do período de risco de ataques cardíacos pós-cirúrgicos que o Dr. Florence nos deu. Ela está segura.

"Segura"

Adrien deu outro longo suspiro enquanto ouvia o discurso motivador de Luka. Não que não gostasse deles, mas às vezes, tudo o que ele queria era não ter que manter a postura otimista o tempo todo e poder ouvir um "É, não há nenhuma esperança mesmo".

Ainda não entendia como Luka conseguia e tinha quase certeza que o mais velho chorava escondido de todos. E se culpava por não poder ser uma âncora para o amigo assim como Luka era para ele.

Ergueu os olhos e olhou para o céu da manhã. Azul e límpido como costumava ser os olhos dela. 

Baixou a cabeça no mesmo instante. Adrien não gostava mais de sair à luz do dia.

— Vou voltar para o quarto. - Soltou de forma rápida, enquanto se levantava do banco do lado de fora do hospital. O vento soprou bagunçando os fios loiros, mais compridos que o normal, que acabaram batendo na altura dos olhos esmeraldinos. - Obrigado pelo café, Luka.

— Tem certeza que já quer entrar?

— Tenho tarefas da escola pra terminar antes que o Nino volte hoje com mais. - Respondeu com um sorriso, tendo certeza de que Luka não insistiria.

— Tudo bem, vou voltar ao trabalho. - O mais velho se deu por vencido, também levantando do banco e pegando o capacete que estava depositado ao seu lado.

Apesar de saber que Adrien já havia terminado todas as tarefas que tinha. Sabia o que ele faria: Sentaria e olharia para Marinette pelo resto do dia, e noite.

Pois a verdade, é que a cada dia que Mari passava desacordada, menos Adrien dormia. E não havia nada que ele, ou os outros amigos de Adrien, pudessem fazer para evitar esse declínio. Demoramos dez vezes mais para nos reerguer do que é preciso para desmoronar, e apenas o tempo poderia ajudá-lo agora.

— Te vejo amanhã, Agreste. 

Adrien agradeceu internamente por Luka ajudá-lo a espairecer tanto quanto respeitava seus momentos de solitude, e por isso, o deixava em paz, mais do que Alya e Nino gostariam.

O loiro acenou de volta enquanto via o amigo caminhar em direção à bicicleta, antes de entrar pelas portas automáticas do hospital.

Adrien sabia do plano secreto "não tão secreto" de seus amigos de tirá-lo do quarto todos os dias por algumas horas. E por mais que ele gostasse que eles fizessem isso, o que ele mais gostava era de estar ao lado dela.

E quanto à isso, não havia competição.

***********************************************

Branco era tudo o que conseguia enxergar.

O vasto campo de flores alvas se entendia até o horizonte, onde as imensas nuvens baixas se misturavam com as nevadas pétalas, dando uma impressão de que céu e terra estavam unidos, em um só.

Não havia cor, vento ou cheiro. Não que Marinette tivesse sentido falta de alguma dessas coisas. Apenas um sentimento de quietude tomava conta de seu ser.

Estava tudo calmo, pacífico e silencioso.

Estava em pé no meio desse campo, podia ver seus pés tocando o chão, mas sentia seu corpo leve, como se flutuasse.

Enquanto olhava para si mesma, tentando entender a sensação esquisita que sentia, viu uma figura branca ao longe. Não pensou duas vezes antes de se aproximar devagar.

Estava tudo diferente dessa vez, não tinha medo ou pânico, somente uma paz perturbadoramente tranquila, enquanto a figura de Chat Blanc ficava cada vez mais próxima.

— Você conseguiu, M'lady? — Chat Blanc disse em uma voz suave, sem ao menos olhar para ela. sentado em meio as flores do campo.

— Consegui? -  Perguntou confusa, tentando chamar a atenção dele, em vão. Sua própria voz chegando estranha em seus ouvidos. 

Os olhos azuis felinos continuaram fixos em algum ponto invisível no horizonte.

— Eu estou livre... - Ele soltou as palavras, e parecia que a mera pronúncia delas tirava um enorme peso de seus ombros. Soltou um suspiro profundo, como se estivesse prendendo a respiração por muito tempo, e finalmente, pudesse libertar o ar de seus pulmões.

Mari piscou, se sentindo confusa. Moveu seu corpo para frente do dele, a fim de vê-lo melhor. Foi então que seus olhares se encontraram, os olhos azuis felinos banhados em lágrimas se estreitando com carinho enquanto a fitavam com ternura. 

— Chat? - Mal conseguiu chamá-lo antes de ser puxada para um abraço apertado.

Mesmo com o corpo aéreo, sentiu as vibrações do corpo colado ao seu, enquanto ouvia seus suspiros e o calor das lágrimas, que desciam pelas bochechas do felino e molhavam seu cabelo.

Ela permaneceu em seu enlaço. Mesmo sem entender o que estava acontecendo, era como se parte de si soubesse tudo, e isso a deixou tranquila para estar ali e compreender que não havia outro lugar no mundo para ela estar, que não fosse esse abraço.

— Sabia que podia confiar em você, princesa!

O coração de Mari acelerou tão rápido que chegou a doer. A compaixão e a culpa por ele se misturando em uma só emoção. Foi a primeira vez que Chat Blanc a chamou assim.

— Eu estou aqui, gatinho, não vou a lugar nenhum! - Mari apertou seus braços em volta dele, desejando que nada pudesse tirá-la desse contato.

Mas então sentiu as mãos frias e fortes dele a afastando, deixando-os frente a frente, e Marinette viu que o sorriso de Chat Blanc havia se desfeito.

— Não. Você não pode. Precisa me deixar ir. - Ele alegou com uma voz séria e fria, diferente de como estava sendo até agora.

Mari abriu a boca para contestar, não entendendo porque ele estava a afastando, sendo que tudo o que ela queria agora, era estar com ele. 

Surpresa ainda estampava seu rosto quando Chat pegou sua mão e depositou um beijo solene.

— Eu sempre vou amar você. - A voz dele, em tom de despedida, cortaram o ar e chegaram até os ouvidos dela, a deixando com o coração apertado.

E antes que Marinette pudesse dizer algo, uma brisa suave de primavera soprou entre os dois, e o corpo de Chat Blanc se transformou em pequenas pétalas de rosa branca, que foram levadas pelo vento, fazendo-o desaparecer diante dos olhos azuis dela.

Um grito ficou alojado em sua garganta.

— C-Chat....

A vontade de chorar formando um nó no pescoço e ardendo em seus olhos, enquanto uma terrível sensação a puxava para longe do campo.

— Chat! - Era como se uma corda invisível estivesse a puxando para trás, contra sua vontade, contra o seu desejo de estar ali com ele.

— Mari??

Ela ouviu a voz dele a chamando de volta, mas não o viu em lugar nenhum. O campo florido aos poucos foi se tornando escuro.

— Ela se mexeu! Eu vi! Eu juro que eu vi!

A cabeça da garota doía e rodava, seus braços e pernas perdendo totalmente a leveza de antes, ficando mais pesados a cada minuto enquanto ela caía.

— Vou chamar um médico!

"Mãe?" Reconheceu a voz de Sabine, apesar de estar mais distante, Mari tinha certeza que era ela. 

A confusão não a deixou pensar muito. Um enjoo começando a se formar na boca de seu estômago, e tudo o que Mari queria era voltar a sentir a sensação boa de antes.

— Mari, amor, eu tô aqui! - Foi quando mãos quentes envolveram a sua. Apesar da sensação estar estranha, pois seus dedos pareciam estar formigando. Mesmo assim, Mari usou aquele contato como um guia, focando apenas no calor da mão de Chat e esquecendo o mal-estar do resto de seu rosto.

— Princesa, abra os olhos! Por favor! 

Tudo estava uma bagunça, nem tendo percebido que os olhos estavam fechados todo esse tempo até Chat dizer, mas fez um esforço para obedecer seu comando.

Ele soou ansioso, preocupado, aflito... tudo em uma só emoção. E ela só queria dizer que estava tudo bem, apertar a mão dele de volta, mas sua boca e seu corpo pareciam não responder aos seus controles.

— G-gatinho.... - A garganta seca arranhou quando a palavra saiu, causando uma sensação horrível.

Ouviu um choro logo depois.

Fazendo todo o esforço que podia, forçou suas pálpebras a abrirem, não achando que seria tão difícil. Sentiu uma dor em seus olhos pela luz forte que atravessou sua visão assim que conseguiu abrí-los.

— Mari? Oh meu Deus, Mari!

Ouviu, ainda sem vê-lo, meio tonta com tudo o que estava sentindo, mas um peso repentino ficou sobre seu peito, e sua visão foi tampada com uma cabeleira loira.

"Que cheiro bom" foi seu primeiro pensamento. Era o perfume de Adrien.

— Você acordou, eu não acredito... você acordou! - Ele ficou repetindo por um tempo, enquanto a embalava com carinho do jeito que podia.

A mente de Marinette estava começando a despertar completamente, mas isso trazia mais perguntas do que respostas. 

"Adrien, o que foi? Por que está chorando tanto? O que houve?"

— A-Adrien... - Foi a única coisa que conseguiu dizer, e com dificuldade, antes da dor em sua garganta a impedir de terminar sua frase. Tentou engolir para ajudar, mas sua boca continuava seca, como nunca sentiu antes.

Ao menos, sua tentativa de falar algo surtiu algum efeito, pois Adrien se afastou logo em seguida, entrando completamente em seu campo de visão dessa vez.

Mari assustou com a aparência do garoto, quase não o reconhecendo.

Os cabelos loiros estavam mais longos e bagunçados, olheiras escuras e fundas abaixo dos olhos verdes, que estavam úmidos e vermelhos. 

Ela imaginou se estava vendo coisas, ou se sua visão ainda estava estranha, por algum motivo. Mas depois de alguns segundos o encarando, percebeu que não era nenhum engano.

Antes que pudesse dizer algo, ou tentar ao menos, captou uma movimentação pelo canto dos olhos, algumas pessoas que não conhecia estavam entrando pela porta.

"Uma porta..." - Foi quando Mari se permitiu vagar os olhos ao redor do cômodo que estava. 

Era definitivamente um hospital, ela percebeu após uma rápida varredura do ambiente e pelo cheiro no ar. Mas isso ainda não a explicava muita coisa.

— Olá garotinha, estamos muito felizes por finalmente acordar. - Um homem de aparência elegante falou calmamente, enquanto se aproximava da cama.

Estava de jaleco e estetoscópio no pescoço, obviamente o médico do local. 

— Sim querido, ela acordou. Venha pra cá! - Ouviu a mãe falando, provavelmente ao telefone. Conseguiu avistá-la perto da porta, mas outras mulheres que estavam no quarto, Mari deduziu serem as enfermeiras, tamparam seu campo de visão.

Sentiu Adrien se afastar, e quis protestar. Tentou mexer o braço para puxá-lo de volta, mas não conseguiu.

—  Consegue me dizer seu nome? - O médico apareceu do lado esquerdo da cama, o lado oposto em que Adrien estava, enquanto do direito as enfermeiras mexiam em alguns aparelhos que Mari não conhecia. 

De repente, ela se viu cercada de pessoas estranhas, alguém mexeu em sua mão, só então percebeu o acesso venoso ali, penetrando em sua pele.

Quis chorar, sentindo assustada e confusa ao mesmo tempo. Ela queria não estar ali naquele momento.

— Calma, está tudo bem, estamos aqui para ajudar. - O médico voltou a falar, como se tivesse lido seus pensamentos, mas provavelmente, havia apenas percebido a cara de pânico que ela estava fazendo.

Mari virou o rosto pra ele, todos os músculos rígidos de seu pescoço protestando no processo.

Foi quando notou um copo com um canudo sendo estendido para si através médico. A boca salivando com ânsia antes de agarrá-lo com os lábios, sugando a água ali de dentro como se fosse um poderoso elixir.

— O meu nome é Dr. Jean Leroy, e é um prazer finalmente conhecê-la. Poderia me dizer seu nome? 

Ele usava um tom carinhoso, e apesar de ainda se sentir assustada por não estar mais vendo Adrien ou sua mãe em lugar algum com toda a movimentação ao seu redor, Mari se sentiu um pouco mais calma ao olhar os olhos castanhos do homem.

— Marinette... - Ela conseguiu dizer com mais facilidade, mas ainda havia um pouco de dor irrompendo e arranhando sua garganta.

— Muito bom Marinette, e você pode me dizer quantos anos têm? - Ele questionou, ao mesmo tempo que usava uma espécie de lanterna para iluminar seus olhos. Ela fez uma careta quando a luz atingiu sua írias, o incômodo da claridade surgindo novamente.

—  Tenho quatorze. - Ela respondeu, ainda não entendendo o objetivo que ele queria atingir com essas perguntas básicas.

Por sorte, Jean logo guardou a lanterna, e parecia satisfeito com o que quer que tenha visto ou ouvido.

— Você parece estar muito bem Marinette. Consegue apertar meu dedo? 

Mal havia reparado quando ele colocou o próprio dedo próximo à mão dela. Pensou o quão ridículo era esse pedido, até que ela tentou e o máximo que conseguiu foi um leve roçar no dedo dele ao fechar a mão.

— Não se preocupe, algumas semanas de terapia irão ajudá-la a recuperar sua força. - Dr. Leroy assegurou logo em seguida.

— Por que não consigo? - Perguntou, frustrada consigo mesma e com um medo começando a crescer dentro de si.

— Me diga, qual a última coisa que se lembra? - Mas o médico continuou seu interrogatório, ignorando a pergunta, ou então, deixando claro que as informações viriam no tempo que deveriam.

Fez o esforço mental que podia para lembrar o que havia acontecido antes de estar no campo com Chat Blanc.

"Chat Blanc..." o nome explodindo em sua mente antes que pudesse impedir.

Adrien, Hawk Moth era o pai de Adrien. E então, ele a akumatizou.

Uma forte dor atingiu sua cabeça ao lembrar disso. Quis levantar o braço para massagear a têmpora, mas desistiu no meio do caminho ao não ter força o suficiente. Fechou os olhos com força na esperança de dispersar a dor.

— Onde estão meus pais?  - Perguntou, ignorando a pergunta assim como médico havia feito.

E também, ela não poderia contar à ele o que o que se lembrava sem revelar sua identidade secreta. 

Por Deus, ela nem sabia se era secreta mais. Precisava urgente encontrar alguém da equipe para descobrir o que havia acontecido após ela ter apagado.

—  Provavelmente contando aos seus amigos que você acordou. - Foi retirada da sua linha de raciocínio ao ouvir a frase do homem. Sentiu que havia algo errado quando mesmo se aproximou um pouco mais da cama para olhar fixamente em seus olhos. - Ficou em coma por quase dois meses, Marinette.

O enjoo em seu estômago pareceu aumentar em, ao menos, dez vezes. Começou a se movimentar na cama. Queria levantar dali e sair correndo desse hospital. Encontrar Adrien e abraçá-lo forte, e pedir para ele dizer que era tudo mentira, que ela só estava acordando e um sonho. Um sonho não, um gigante pesadelo.

— Calma Marinette, sei que isso pode parecer algo horrível. - O médico continuou a falar, enquanto gesticulava para uma enfermeira segurar seu outro braço inquieto e que estava quase arrancando o acesso. - Você perdeu dois meses, mas têm uma vida longa pela frente, logo esse tempo não fará mais nenhuma diferença!

Mari olhou em direção à ele novamente, tentando se acalmar. Já podia sentir a garganta se fechando e as lágrimas acumulando nos olhos.

— Eu quero os meus pais. E Adrien. Quero-os aqui, agora. - Pediu com a maior firmeza que conseguiu, apesar da voz ter saído falha pela ameaça de choro.

— Sim, claro. Vamos trazê-los até aqui. Retornarei mais tarde para vê-la. 

Um alívio inundou seu ser ao ver todos os profissionais se afastando, mas ainda havia uma angústia em seu peito que parecia apertar seu coração. E sabia que não conseguiria se livrar dela até que todas suas dúvidas fossem sanadas. 

***************************************

Antes que pudesse conversar, Sabine entrou no quarto com algumas enfermeiras e colocaram Mari em uma cadeira de rodas, indo ao banheiro logo em seguida. Foi quase como um dia de spa, apesar de não ver muitas cadeiras de rodas por lá. Banho, cremes por todo lado, higienização completa. Ainda achou apavorante ter outras pessoas tendo que fazer a coisas por ela, como por exemplo, escovar seus dentes, mas tentou não pensar muito nisso, pois se fizesse, entraria em pânico.

Depois disso, passou a próxima meia hora com seus pais em cima de si. Deixou o prato de sopa, que as enfermeiras haviam levado, pela metade, apesar de ver a alegria no olhar de seus pais a cada colherada que ela conseguiu dar. Eles choraram enquanto diziam o quanto estavam felizes por vê-la bem. Consequentemente, ela também chorou ao perceber o quanto havia preocupado os dois.

Mas não pôde deixar de notar Adrien sentado no sofá no canto do quarto. Ele permaneceu em silêncio durante toda a conversa, limpando as lágrimas dos olhos disfarçadamente em todas as vezes em que elas teimaram em derramar. E foram muitas. 

Ela ouviu atentamente sobre como havia sido encontrada ferida por Chat Noir e levada ao hospital. Que havia passado por cirurgias e tido uma parada-cardíaca. Marinette jamais teria imaginado no quão perto da morte ela havia estado. E ao mesmo tempo que estava grata por estar viva, tentou não pensar em como havia feito as pessoas a sua volta sofrerem por suas ações.

Talvez se ela tivesse pedido ajuda antes, o confronto com Hawk Moth teria sido diferente. 

Mas ela não estava arrependida, nem por um momento, por ter feito o que fez. Ela salvou Adrien. E salvaria novamente se pudesse.

Mas ainda assim, seu coração estava apertado.

— Bom querida, vamos deixá-la descansar um pouco agora. - Tom finalmente disse, dando uma olhada para Sabine que concordou com um aceno de cabeça, e depois olhou para Adrien. 

Marinette ficou sem entender por alguns segundos, até que Sabine contornou a cama e lhe deu um beijo na testa.

— Converse um pouco com ele. Vai te fazer bem, e pra ele também. - Sabine disse baixinho, enquanto colocava uma mecha do cabelo recém-lavado, que havia saído do lugar, para trás da orelha de Marinette. Os fios estavam um pouco ressecados e mais compridos que o normal. - Eu sei que você terminou com ele, mesmo não querendo, mas ele ainda ama você, filha. E muito.

Mari respirou fundo e prendeu o ar em seus pulmões. Queria muito esclarecer que o término jamais havia acontecido de verdade, mas não era hora.

Viu os progenitores saírem do quarto antes de voltar os olhos para ele. Mas ele já estava com os olhos esmeraldinos sobre ela, ainda sentado no sofá.

Seu amigo, parceiro e amor da sua vida.

— Adrien...

Dizer seu nome em voz alta foi como um gatilho, que o despertou e o fez atravessar o quarto a passos largos para alcançá-la.

Sentou na cadeira ao lado da cama reclinada, pegando a mão direita dela com ambas as mãos e depositando vários beijos.

— M'Lady... eu achei que tinha te perdido. - Essa frase, ela reconheceu de imediato. O coração saltando uma batida quando as palavras alcançaram seus ouvidos.

Mas agora, diferente de antes, nenhum medo preencheu seu interior.

Marinette tentou mexer o outro braço. Queria envolver Adrien neles, mas ainda estava difícil. Ele percebeu seu esforço e se aproximou mais dela, sentando na lateral da cama e a abraçando contra seu peito.

Ficaram ali alguns minutos. Apenas segurando um ao outro, enquanto suas respirações ajustavam um ao outro automaticamente.

— O que houve? - Mari não aguentou mais esperar para saber. Mas permaneceu quieta em sua posição, mesmo que não pudesse ver o rosto dele direito dessa forma. 

Sentiu alguns beijos sendo depositados no topo de sua cabeça antes de receber sua resposta.

— Você derrotou Hawk... meu pai. - Ele falou com dificuldade, dando uma respirada funda antes de terminar a frase. Mari sentiu a dor na voz embargada quando ele se referiu ao progenitor. - E ele te feriu a ponto de me deixar quase dois meses sem você. Quase que para sempre.

— Ei! - Mari chamou sua atenção, enquanto um choro ameaçava irromper dele. Levantou a mão esquerda com bastante custo, e Adrien rapidamente compreendeu que ela queria ver seu rosto, ajeitando sua posição para olhar diretamente para ela.

Mari sentiu o rosto dele tocar sua palma, e mesmo com os dedos rígidos e difíceis de manear, ela gostou da sensação da bochecha úmida de Adrien sobre eles. Era como se estivesse tocando as coisas pela primeira vez na vida, tudo parecia novo em contato com sua pele.

Os olhos, ainda mais verdes e fundos, estavam focados nela, pesados por conta de toda a dor incutida neles. As maçãs de seu rosto mais salientes do que costumavam ser. Era engraçado, para ela, parecia que tudo havia acontecido no dia anterior, mas o peso do tempo e do sofrimento podia ser claramente visto no rosto de Adrien.

Mari deu um suspiro profundo com essa imagem.

— Bom, pelo menos coloquei o meu sono em dia. - Falou com graça, na esperança de finalmente ver um sorriso nos lábios dele.

Ela odiava vê-lo tão triste.

Adrien ficou estático, digerindo o que Mari havia acabado de dizer. Imediatamente, sentiu as lágrimas surgindo de novo. 

— Boba Marinette, você é muito boba! Não pode fazer isso comigo! - Ele a abraçou pela terceira vez, deixando o choro fluir em soluços e lágrimas grossas. 

Era como se Adrien não acreditasse somente em seus olhos e precisasse sentí-la em seus braços, protegê-la com seu corpo e garantir que nada a machucasse de novo. Ainda não acreditava que ela havia acordado.

"Gato bobo" - Mari apenas se permitiu ficar ali, torcendo para que apenas sua presença pudesse curar a dor que Adrien agora carregava.

Ela se imaginou no lugar dele, esperando o amor da sua vida acordar por dias e dias, sem saber se haveria um fim na espera. Os olhos azuis dela, já inchados, inundaram novamente apenas com esse pensamento. Mari não sabia se suportaria.

Assim que o choro de Adrien cessou, o viu se levantar de repente.

— O que foi? - Mari perguntou, já preocupada com a súbita mudança.

Mas ele apenas limpou os rastros de lágrimas no rosto, com uma feição bem mais leve que antes.

— Alguém sentiu sua falta. 

Foi então que viu dois seres saírem de perto das coisas de Adrien no sofá, enquanto ele ia até a porta do quarto servir como vigia.

— Plagg, Tikki! - Mal conseguiu conter o sorriso que irrompeu em seu rosto ao ver os dois kwamis ali.

Tikki voou em direção ao seu rosto, abraçando Mari na bochecha, enquanto Plagg apenas permaneceu ali perto, observando as duas.

— Estou tão feliz por te ver bem de novo! - A kwami vermelha falou, bastante emocionada.

— Não queria te preocupar, desculpe Tikki. - Apesar de saber que não tinha culpa por ter se machucado, uma parte de si ainda a cobrava para ter sido mais cuidadosa, e poupado as pessoas ao seu redor.

— Você não precisa se desculpar, Marinette. Você apenas agiu de acordo com o que você realmente é: Uma heroína.

Adrien ficou na porta, apenas observando as duas, feliz por finalmente ver essa interação e novo. E viu quando os olhos de Mari se encheram ao ouvir as palavras da kwami, mas ela conseguiu se controlar antes que lágrimas fossem derramadas, e abriu um sorriso que iluminou todo seu rosto.

Ele próprio sentiu vontade de sorrir, apenas olhando a cena, e por Deus, ela havia acordado apenas há poucas horas, mas já estava o curando de dentro pra fora.

— Que bom que acordou, o garoto já não aguentava mais e eu não aguentava mais ele chorando pelos cantos.

Sentiu seu corpo petrificar após ouvir as palavras que Plagg lançou para a namorada.

Mas então a viu rir e relaxou a tensão de seus ombros instantâneamente.

— E aposto que você não aguentava mais de saudades de mim. - Ela riu, virando o rosto em direção ao kwami preto, e então Adrien percebeu como os ossinhos da clavícula dela estavam sobressaindo sob a pele. 

Ela havia mudado. Seu corpo havia suportado muita coisa.

Ele mal conseguia fechar os olhos por muito tempo. A imagem dela desacordada ainda vívida em sua mente.

— Adrien, onde está minha aliança? 

Tirou os olhos do corredor movimentado do hospital e viu Marinette reparando em seu dedo vazio na mão direita.

— Ah, ela está comigo. - Caminhou em direção à cama, usando isso como desculpa para se aproximar dela mais uma vez. Os kwamis já se escondendo ao verem a porta livre novamente. Eles não podiam correr esse risco. 

Adrien puxou uma correntinha no pescoço, onde a aliança dos dois estavam.

— Os médicos disseram que seus dedos podiam inchar... - Ele engoliu a seco, tendo arrepios só de imaginar Marinette tendo sintomas fortes como esse novamente. - Mas não permiti tirarem os seus brincos. - Ele voltou a sentar na cadeira, e acariciou os cabelos dela, colocando alguns fios atrás da orelha, e visualizando os familiares brincos redondos, agora, pretos.

— Obrigada amor. - Ela conseguiu levantar o braço direito, a mão de Adrien encontrando a dela no caminho e a segurando com carinho. - E não está com a sua pois ainda estamos "terminados?"

O coração dela acelerou, não sabia o porque, mas esperava que esse não fosse o motivo.

Adrien então coçou a nuca, enquanto desviou o olhar.

— Ah, a minha, eu tive que tirar... estava larga. 

Os olhos azuis dela varreram o corpo dele rapidamente, não sabendo como ainda ficava assustada com as novas informações. 

Parecia que tudo tinha mudado.

— Mas eu não ligo pra isso, mas... a sua aliança, ela pesava muito aqui. - Ele disse, colocando a mão sobre o peito, onde o anel dela estava pendente no cordão prata. - Alguns dias, eu conseguia me tranquilizar por saber que isso era temporário. Mas em outros... - Adrien fez uma pausa, apertando a camisa forte com os dedos. - Eu temia que ela nunca voltasse aos seus dedos. - Viu os olhos dele rapidamente ficando inundados novamente, a dor nítida sendo vista através das íris.

— Oh Adrien... eu sinto muito! - Ela apertou o lábio inferior com os dentes, controlando o próprio choro para que Adrien pudesse se esvaziar de todo sentimento ruim que ele havia guardado dentro de si nesse tempo em que ela não pôde estar com ele.

Ele debruçou sobre o corpo dela, ainda tendo cuidado em não pressioná-la demais com o próprio peso. Afundou no rosto no pescoço feminino, enquanto ela depositou os braços finos sobre as costas dele. Eles ainda doíam, mas por Adrien, valia todo o esforço.

— Eu te disse uma vez que, enquanto você estivesse ao meu lado, eu não iria sofrer. Mas eu errei, princesa... eu fiquei ao seu lado, todos esses dias, e ainda assim, era uma tortura!

Mari sentiu os soluços dele sobre sua pele. Fechou os olhos com força, controlando suas emoções para poder assumir a responsabilidade que tinha no momento.

— Shh, eu estou aqui. Está tudo bem.

Adrien estava mal, e era por sua causa.

Ela o faria ficar bem novamente.

Custe o que custasse.


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Notas finais do capítulo

"A Bruna vai matar a Mari, a Bruna é má" HAHAHAH não nego, foi divertido ver o desespero, mas isso é pra aprenderem a não julgar os autores antes da obra terminar.

Quero que me peçam perdão de joelhos!

Enfim, sentiram minha falta? Porque eu senti de vocês.

Sério, eu estou me sentindo muito culpada pelo meu sumiço, e como eu disse no meu recado, não foi um sumiço proposital para vocês sentirem falta da Mari assim como sentiram da fic, o que aliás eu achei uma jogada de marketing incrível, eu jamais seria capaz. Mudei de cidade nesse tempo, passei por coisas que jamais imaginei, mas enfim, a vida é feita disso, altos e baixos.

Ainda não voltei ao meu ritmo normal, mas aos poucos vou me habituando novamente.

Foi meu aniverśario dia 6, passamos o natal, ano novo e eu longe de vocês. Foi horrível, mas espero que o fim de ano de vocês tenha sido bom!

Não deixarei data para o próximo, mas não demorarei tanto quanto esse, prometo haha.

Próximo cap se chama Insônia.... isso mesmo, o nome da fic. E não, não é o último, o último será o número 55.

Beijos doces! (como vocês gostam), e até mais!



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