Adrien sentiu um perfume doce preencher suas narinas. Não lembrava da sua cama ter esse cheiro de cereja. Não estava em uma posição boa, então decidiu virar para o outro lado. Foi quando encostou em algo... ou alguém.

Acordou em um susto. Abrindo os olhos rápido e se sentando na cama, ainda não acostumado com a claridade que vinha da janela. O problema é que não era sua janela, sua cama ou o seu quarto.

“Fudeu!”

Olhou para baixo e viu que estava com as suas roupas normais, as roupas de Adrien!

— Plagg! - Chamou aos sussurros, mesmo querendo berrar. Não sabia aonde estava o kwami. - Plagg, cadê você? - Ele ia chamar de novo, mas então ouviu um resmungo ao seu lado.

Gelou por completo antes de se virar e ver que por algum milagre, Marinette ainda dormia.

O sol da manhã batia em seus cabelos, e os faziam ter um brilho azulado lindo. Assim como sua pele, tão branquinha… ela parecia ser feita de porcelana.

— Até que enfim a bela adormecida acordou! - Plagg apareceu ao seu lado, o fazendo tomar um susto! Conteve um grito, também, só por milagre.

— Plagg, mostrar as garras! - Disse rápido, um pouco desesperado.

— Mas eu nem tomei café da…

Se transformou em Chat Noir. Não podia acreditar no quão IRRESPONSÁVEL ele fora. Se desculparia com Plagg depois, mas precisava sair dali.

“Eu dormi do lado da Marinette! Ela podia ter me visto! Que idiota! Ladybug me mataria se descobrisse!”

Com a destreza que só um gato tem, saltou para a varanda e já ia embora quando ouviu a voz sonolenta de Marinette o chamando.

— Chat…

Se virou para trás já com uma desculpa do tipo “Bom dia! Sim, eu fui embora ontem e voltei hoje de manhã só para checar se você ainda estava bem, eu sou super atencioso né?”

Mas ao olhar pela claraboia, viu que ela ainda dormia…

“Sonhando comigo de novo princesa?” - Ele não se aguentou, rindo sozinho, e com o ego inflado.

Então voltou para o quarto, indo até a escrivaninha e escreveu um bilhete em um post-it. O deixou ao lado de Marinette na cama e agora sim, pode rumar para sua casa, torcendo para que Nathalie ainda não tivesse entrado em seu quarto para acordá-lo.

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Marinette despertava lentamente, sem abrir os olhos, se sentindo estranhamente leve.

— Tikki! - Chamou a kwami ainda sonolenta. - Quantas horas?

— Bom dia Marinette! São 7:35 da manhã - A kwami respondeu feliz.

— 7 e….35?? - Marinette abriu os olhos e deu um salto da cama. - Tikki, por que você não me acordou, eu vou me atrasar, eu… dormi… muito. - Deixou a voz morrer quando percebeu que sim, já era manhã. Sua mente ainda não compreendia, mas o sol que brilhava através da janela não mentia.

— Por que eu te acordaria Marinette? Conseguiu exatamente o que queria a dias! E você precisava descansar. - A kwami estava com um super bom humor.

— Mas… eu… o que houve? - Lembrou-se então da noite anterior. Da crise de pânico que teve e de como Chat a ajudou.

Ainda tentava se lembrar dos detalhes, quando viu um papelzinho cor de rosa ao seu lado na cama.

“Me desculpe por sair sem avisar… sabe como é né? Identidade secreta e tal, haha!

Mas enfim, fico feliz que tenha conseguido dormir, princesa.

Nos vemos outro dia!

Ass.: Seu gatinho favorito.”

— Convencido! - Ela riu, soltando um arzinho pelo nariz. Mas então reparou em um detalhe:

“Como ele sabe que eu consegui dormir?” - Sentiu seu sangue gelar.

— Tikki! - Chamou a kwami que estava comendo biscoitos em sua penteadeira. - Me conta o que aconteceu ontem depois que eu dormi! Que horas Chat Noir foi embora?

Ela desceu e começou a se arrumar para escola, enquanto a kwami detalhou o fato de que sim, Chat Noir havia passado a noite inteira ali e ido embora pela manhã.

— Eu não acredito que ele foi tão descuidado a ponto de dormir aqui! - Ela disse já com raiva. Diria umas boas para ele mais tarde… até se lembrar que Ladybug não sabia sobre esse pequeno incidente, e bem, Marinette não podia xingá-lo, afinal, foi ela mesmo que pediu para que ele ficasse. “Droga!”

— Ele se destransformou durante a noite, não foi? - Perguntou para a kwami que simplesmente afirmou com a cabeça. - Ele é louco! Devia tomar mais cuidado. Eu devia tomar mais cuidado! Não posso deixar isso acontecer de novo. - Ela se censurou. Mesmo sendo bom não ter sonhado com Chat Blanc essa noite.

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“Por que eu fui para lá ontem??”

Adrien andava de um lado para o outro, se martirizando.

“Ela com certeza viu o meu rosto durante a noite!”

“Ela vai contar para todo mundo e eu vou perder meu Miraculous!”

“Não, a Marinette não faria isso… Mas se ela descobriu, eu vou ter que…”

— Para de andar de um lado pro outro! Ta me deixando zonzo! - Plagg reclamou, estava de mau humor desde que o havia feito “trabalhar” sem tomar café hoje.

— Eu to com um problema sério Plagg! - Disse se sentando no sofá, ficando de frente ao mini felino.

— Adrien! - Vai se atrasar para a escola. - Ouviu Nathalie o chamado no corredor.

“Escola… Marinette… Droga!”

— Ela não viu nada! Fica tranquilo! - Plagg disse pela vigésima vez. - Mas e se viu, qual o problema?

— Ela me viu??? Ai meu Deus! - Voltou a caminhar pelo quarto.

— Eu disse “E SE”!! Garoto doido! - Plagg implicou.

— Se ela tiver me visto, eu vou ter que contar a Ladybug! Como eu devo contar para mulher que eu amo que eu passei a noite na cama de outra? Argh! - Ele apertou as têmporas, totalmente nervoso. - Sem falar que ela vai me achar um completo irresponsável por ter ficado lá a noite inteira, correndo o risco de revelar minha identidade secreta. Ela vai ficar tão desapontada… Não vai mais confiar em mim! - Adrien se sentou no sofá novamente, totalmente abatido.

Plagg se sentiu mal por ele, já que sabia que Ladybug não ficaria nada desapontada, afinal, ele sabia que ela própria o havia chamado para o quarto.

Mas como não podia contar isso a ele, só bastava consolá-lo. Afinal, um guardião triste é capaz de se esquecer de comprar queijo.

— Você está pensando demais. Vai para escola e vê como a Marinette reage. Assim vai descobrir se ela sabe ou não.

— Você tem razão, Plagg. Ficar aqui me martirizando não vai adiantar em nada. Obrigado!

— Não precisa me agradecer! - O kwami disse bem convencido. - É só me comprar queijo!

“Ele não tem fundo!” - Adrien pensou, revirando os olhos, já saindo do quarto.

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Marinette chegou atrasada, o que foi estranho depois de dias chegando na hora.

Sentou em seu lugar e viu Nino passar, emburrado, um dinheiro para Alya por baixo da mesa. Sua amiga tinha um sorriso vitorioso no rosto.

“Esses dois não prestam!”

Já ia se protestar quando viu o lugar de Adrien vazio à sua frente.

— Cadê o Adrien? - Perguntou baixo para Alya

Mas antes que a amiga pudesse responder, viu o loiro entrar pela porta.

Tão lindo! Os cabelos dele pareciam ouro refletidos na luz do sol. Estava feliz por ter descansado essa noite e conseguir raciocinar melhor as coisas, principalmente, para poder admirar o Adrien.

O viu se desculpar com a professora pelo atraso e de dirigir ao lugar de costume, mas antes de sentar, ele olhou para Marinette, que o encarava.

Adrien sentiu suas bochechas queimarem. “Ela ta me olhando, ela sabe!”. Sentiu as mãos suarem frio, sentou rápido em seu lugar e nem mesmo percebeu que Marinette também ficou vermelha com a troca de olhares.

“Os olhos dele são tão lindos…” pensava sonhadora. “E ele… corou? Para mim?”

Ela ficou surpresa. Adrien nunca havia feito isso antes.

As aulas passaram normalmente, e Marinette se sentia bem melhor com um pouco das energias renovadas. Claro, estava longe de estar 100%, não conseguiria repor semanas de sono em uma só noite. Mas era bom não ter aquela sensação de lerdeza durante a aula pelo menos um dia.

E é claro, precisava saber o que havia mudado para finalmente, conseguir dormir.

No intervalo, Alya a puxou para perto das meninas que falavam animada sobre o ensaio que veriam à tarde. Por ser sexta-feira, queriam curtir ao máximo o dia.

Marinette estava tão imersa na conversa, que não notou Adrien a observando do outro lado do pátio.

“Ela está conversando com as amigas. Estão rindo! Argh, ela deve estar contando para elas nesse exato momento quem eu sou”

— Deixa de ser paranoico! - Ouviu a voz abafada de Plagg, que estava escondido em sua blusa.

— Fica quietinho aí Plagg, eu preciso de concentração.

— Vai falar logo com ela!

Adrien respirou fundo, e apesar de não admitir, seu kwami estava certo. A dúvida só o fazia pensar no pior. Então, quando viu Marinette e Alya irem se sentar com Nino em uma mesa, ele foi ao encontro deles.

— E aí cara! Chegou atrasado hoje, o que houve? - Nino perguntou assim que se sentou.

— Ah, eu… acabei dormindo demais! - Ele disse rindo nervoso, coçando sua nuca. Tentou não olhar na direção da menina que fora a causa do seu atraso.

— Isso é novidade, com a Mari a gente já tá acostumado… - Alya lembrou, ganhando um olhar mortal de Marinette.

Ele não conseguiu não rir. E quando o fez, os olhares deles se encontraram, e novamente, Adrien pode sentir seu rosto queimar.

— Nino! - Alya levantou no mesmo instante! - Vem cá me ajudar com uma coisa…

— Alya! Agora n… - Marinette tentou chamar a amiga, mas ela já estava longe, e puxava o namorado consigo. Deixando os dois sozinhos na mesa.

— Isso foi estranho. - Adrien constatou.

— A culpa é minha… - Marinette começou devagar, evitando qualquer contato visual para não gaguejar. - E-eu queria te falar uma coisa. - Falhando miseravelmente.

Mas Adrien mal percebeu o nervosismo da garota à sua frente. Pois ele mesmo estava o mais nervoso possível.

“Ela vai me contar agora!” - Sentia o coração tamborilar rapidamente no peito. “Vai me contar que descobriu que sou o Chat Noir!”

— Eu.. quero dizer, nós, as meninas e eu, vamos para o barco da mãe da Juleka hoje, e eu queria.. Não, n-nós queríamos que você fosse. - Ela finalizou olhando em seu rosto para ver qual seria a sua reação.

— Era isso que queria falar? - Quando a viu afirmar com a cabeça, deu um suspiro aliviado. - Ah que bom! - “Ela não sabe!” Ele comemorou internamente.

— Sério? Então você vai? - Ela disse já animada.

— Não, que dizer, sim… Eu, preciso olhar com meu pai antes. - Ele tentou consertar, rápido.

— Ah, claro, o seu pai. - Ela tentou não ficar desanimada, mas o pai do Adrien não era o pai mais tranquilo do mundo quando se tratava da agenda do filho.

— Mas se vão só as meninas, porque me chamaram?

— Bem, a princípio seria só as meninas mesmo, mas como vamos ver o ensaio da banda, e o Ivan faz parte da banda, então elas acharam melhor chamar os namorados também, e pediram para te chamar. - Marinette quis se bater. - NÃO QUE VOCÊ SEJA MEU NAMORADO! Digo, elas chamaram os namorados delas e como eu não tenho, me pediram para te chamar! Pra ser meu namorado! NÃO! Para tocar com a banda! - Argh, como ela podia se atrapalhar tanto quando conversava com ele?

Ouviram o sinal do intervalo tocar. E ela sentiu que literalmente foi salva pelo gongo.

— É melhor a gente ir. - Adrien disse, e estava aliviado por não ser nada do que estava pensando. E já sabia sobre o ensaio, Ivan o havia chamado mais cedo, perguntando se poderia tocar com eles dessa vez, mas negou, pois seu pai já havia preenchido sua agenda daquele dia. Mas ficou muito contente com Marinette o chamando, então antes de voltar para a aula, ele colocou a mão sobre o ombro da amiga. - Muito obrigado pelo convite, Marinette, de verdade.

E isso foi o suficiente para que ela sentisse que suas pernas eram gelatina.

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Estava em casa, contando os minutos para o horário de encontrar com as meninas no barco da Juleka.

— Parece que alguém está de bom humor! - Tikki comentou enquanto via Marinette rodopiando e cantarolando pelo quarto enquanto arrumava suas coisas.

— Sim! Ai, se o Adrien conseguir ir vai ser incrível! - Ela não conseguia contar o sorriso em seu rosto. Suas bochechas estavam até doendo.

— Isso é muito bom Marinette! Principalmente te ver cheia de energia depois de dias sem dormir.

O sorriso dela se desfez, dando espaço a uma vermelhidão nas bochechas ao se lembrar de como havia dormido na noite passada.

— Mesmo assim, Chat Noir não devia ter ficado aqui. - Ela lembrou a Tikki, voltando a arrumar o seu quarto.

— Mas ele te ajudou Marinette! - Não sabia por que Tikki insistia tanto naquele assunto. - Talvez ele ter dormido ao seu lado foi o que te fez dormir!

— É isso, Tikki! - Ela deu um pulo, assustando a kwami.

— Acertei sobre o Chat Noir?

— Não! Sobre dormir sozinha! - Ela estava entusiasmada, talvez tivesse encontrado o problema. - Você não me disse que o corpo humano é complexo e mesmo dormindo, eu podia ter sensações ao meu redor? E se eu estou com medo de dormir sozinha e inconscientemente me acordo com pesadelos?

Tikki a observava divagar, e mesmo não concordando, ela poderia ter razão.

— Você pode estar certa, mas como vai provar isso?

Sem responder, Marinette pegou seu telefone e mandou mensagem para Alya, perguntando se após o ensaio, poderia dormir na casa dela.

Foi respondida alguns minutos depois com um “Claro” em caps lock e vários emojis felizes.

— Problema resolvido!