Insônia escrita por Babydoll


Capítulo 4
Solidão


Notas iniciais do capítulo

Estou mais generosa essa semana, então quis trazer mais um capítulo para vocês.

O de amanhã ainda está de pé, não se preocupem.

Sem mais delongas, boa leitura ♥



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Chat Noir entrou em seu quarto e foi em direção ao piano, desligando o celular da playlist de piano.

— Plagg, esconder garras. - Viu o pequeno kwami preto sair e já voar para o armário de queijos. 

— Todo aquele fogo me deu vontade de comer queijo na brasa! - Ele disse, já enfiando um pedaço enorme de camembert na boca.

Adrien torceu o nariz só pela lembrança do fedor do queijo.

“Esfomeado”

Se jogou na cama, lembrando dos momentos que tivera com sua amada.

“Ah Ladybug…”

Queria ter mais tempo com ela. Não se viam a quatro dias pela ausência de akumas ou problemas na cidade, e estava com saudades. Nunca admitiria, mas ele torcia internamente todos os dias para que alguém fosse akumatizado e pudesse ver sua Lady. 

Era algo horrível, e ele sabia. Muito egoísta, mas ele não podia evitar. 

Irônico era que, mesmo assim, o tempo que passavam juntos, sem lutar contra alguém, era ainda mínimo. Queria mais, precisava de mais…. Mas já tinha tentado tantas coisas.

Lembrou da vez em que decorou todo um telhado para fazer uma surpresa para ela… e ela não apareceu. Também foi naquele dia que ele descobriu que o coração de sua Lady era de outro.

Suspirou frustrado se virando na cama. Tentando se livrar das memórias ruins que aquele dia trazia.

E como em um estalo, lembrou também que esteve com Marinette naquele dia. Conversaram na varanda, e ao descobrir que a amiga tinha problemas relacionados ao amor, assim como ele, a levou ao mesmo telhado, para a surpresa destinada a Ladybug. Foi bom vê-la feliz por alguns minutos.

“De quem a Marinette pode gostar?” Não conseguiu não se perguntar, já que não tinha pensado muito sobre isso na época. Ao pensar nela, também lembrou da noite anterior. E por um momento, quis muito saber se ela ficaria bem essa noite.

Levantou rápido, decidindo que iria estudar, tomar banho ou comer… fazer qualquer coisa pra tentar controlar seus pensamentos novamente. Não podia deixar sua curiosidade o levar a fazer coisas que normalmente não faria, como por exemplo, virar o Chat Noir novamente e visitar uma certa garota.

De novo.

*******************

Marinette cambaleou até sua casa, tentando parecer o melhor possível para as pessoas que  viam na rua. 

Até um senhor de bengala a ofereceu ajuda, DE BENGALA! Ela estava mesmo um caco. 

Entrou em sua casa pela porta da sala, aproveitando que seus pais estavam na padaria. Assim, não notariam o atraso dela. Afinal, o sol já começava a se pôr.

Fez um lanche, tomou um banho merecido e então, sentou em sua escrivaninha, ligando o computador.

“Em curto prazo, a privação do sono pode causar dores no corpo, cansaço, sonolência, irritabilidade, alterações repentinas de humor, perda da memória de fatos recentes, comprometimento da criatividade, lentidão do raciocínio, desatenção e dificuldade de concentração. Já a longo prazo, falta de vigor físico, envelhecimento precoce, comprometimento do sistema imunológico e perda crônica da memória estão entre os males.

Humor e sono usam os mesmos neurotransmissores, por isso ficar em estado de privação do sono causa os mesmo sintomas que a depressão, e é complexo separar o diagnóstico de um do outro.”

Lia alguns textos na internet e estava ficando assustada. Descobriu também sobre um homem que ficou onze dias sem dormir e acabou morrendo. 

Desligou seu computador correndo e foi tomar seu chá de camomila. Tinha funcionado ontem não? Tinha que continuar tentando.

Já eram 23h, e ela andava de um lado para o outro em seu quarto, com mais uma xícara fumegante em sua mão. Parecia mais desperta do que nunca. 

“Estou ansiosa sobre ir dormir, mas ansiedade tira o sono, então quanto mais ansiosa eu ficar, mas sem sono, e quanto mais sem sono, mais ansiosa…”

Sua cabeça começou a doer. Certamente estava ficando louca. E não sabia mais quanto tempo ficaria assim. Sem contar que precisava se controlar. 

Marinette era a única pessoa, da cidade inteira, que não podia se deixar levar pelas emoções. Afinal, se Hawk Moth a akumatizasse, quem a salvaria?

Observou Tikki dormindo, havia insistido mais cedo com a kwami, novamente, que ela deveria descansar. Mas neste momento, em que sentia o pânico crescer em seu peito, sem controle, desejou que Tikki acordasse, para ter alguém para conversar. Não queria ficar sozinha.

Sentiu os olhos arderem com as lágrimas que finalmente saíram, depois de horas as controlando fortemente. Largou a xícara em algum canto quando sentiu que iria soltar um soluço pelo choro. Tapando a boca com a mão, foi em direção a sua varanda. Talvez ali pudesse chorar sem acordar sua kwami. Não queria preocupá-la. 

Só queria chorar, precisava chorar…

Então se deixou levar pelas emoções. Sentou no chão, abraçando suas pernas. Desejava que toda dor em seu peito pudesse sair junto com as lágrimas que rolavam.

“O Chat Blanc está com alguns problemas…”

— Não, agora não! - Conseguiu dizer entre os soluços. Levando as mãos à cabeça, apertando os olhos. “Preciso me controlar! Preciso me controlar!”

“Me salva”

— Me deixa em paz! - O choro só aumentava, assim como a angústia que apertava seu coração. 

— Marinette! Olha para mim!

— Não, não! - Ela sacudia a cabeça tentando se livrar dessa voz que a atormentava.

Até que sentiu sendo puxada para um abraço, a cabeça afundando em um pescoço familiar.

— O-o que eu faço?? Marinette, por favor! - Ela ouviu a voz, sentindo a vibração de seu peito. Ele parecia assustado.

— Chat! - Ela disse um pouco mais calma, mas ainda sentia os espasmos no seu corpo pelo choro. 

Ele percebeu que ela parecia ter voltado a si, ia desfazer o abraço para olhar em seu rosto, mas então, ela o abraçou de volta, bem forte.

— Gatinho… não me deixe - Ele se arrepiou com ela o chamando, a voz dela, saiu em um sussurro, e com uma dor tão grande que ele teve vontade de chorar.

— Estou aqui princesa. Não vou sair. - A puxou para mais perto. Ela tremia, e sentiu lágrimas quentes e silenciosas molhando sua roupa.

Ficou na mesma posição até sentir os braços dela relaxarem o aperto em sua cintura. 

Assistiu em silêncio enquanto ela apoiava as costas no parapeito e secava as lágrimas. Ela não o olhou nenhuma vez. 

— O que faz aqui Chat? - Ela disse baixo, a voz ainda embargada. Passando a mão no próprio rosto. 

Ela fitava o chão, mas ele precisava ver seus olhos. “Eu precisava ver se você estava bem.” - Era o pensamento que ele não conseguiu colocar em palavras.

Automaticamente, esticou a mão e ergueu o queixo dela com os dedos, tomando cuidado para não arranhá-la com suas unhas. A obrigou a olhar para ele.

Marinette estremeceu com seu toque, mas assim que levantou a cabeça, viu seu semblante agoniado. O encarava culpada, ele estava assim por causa dela.

Já Chat Noir, nunca vira os olhos de Marinette tão lindos como nesse momento. Estavam ainda úmidos, e por isso brilhavam como luzes de estrelas, em um tom azul tão límpido que ele se perguntou se o melhor pintor de Paris seria capaz de recriar essa cor.

— Tão linda…

Ainda hipnotizado, ele viu ela ficar vermelha, então se deu conta que falou em voz alta.

“Merda”

— A-aah, Marinette, eu quis dizer… é... o que houve? - Ele perguntou, passando as mãos pelos cabelos de forma nervosa. - Por que estava chorando? - Chorando era um modo de dizer. Mas nunca havia visto alguém naquele estado antes, ela parecia estar sofrendo muito. Ele até teve de certificar se não havia nenhuma borboleta negra ali por perto.

“Ela deve ter dado sorte hoje, mas e se eu não tivesse chegado… ?”

Mari apertou os olhos, e respirou fundo. Permanecendo em silêncio. Não sabia o que poderia dizer. Já estava cansada de mentir.

— Desculpa, eu fiz de novo, não precisa falar, se não quiser, eu...

— Eu… - Ela começou devagar, fazendo o coração dele disparar com o medo dele ser o problema. - Eu quero dormir Chat Noir! Só isso! Eu só quero dormir!

Ele a olhou confuso. Parecia uma desculpa (e uma das mais esfarrapadas), mas o modo como ela falava… a urgência em sua voz, o fizeram ficar confuso.

— Só… dormir? - Ele perguntou, só para confirmar.

— Fala como se fosse a coisa mais fácil do mundo! - Ela disse, mudando o tom completamente. Agora estava irritada.

— E não é?... - Ele não estava entendendo absolutamente nada.

— Não, não é! - Ela soltou um longo suspiro. Apertou as têmporas novamente, sentindo sua dor de cabeça ainda mais forte devido ao choro. - Me desculpe, você não tem culpa de nada. Alteração de humor está na lista de sintomas da privação de sono, assim como irritabilidade, mas mesmo assim, eu não devia descontar em você. 

Ela ofereceu um sorriso, o primeiro da noite que ele via.

— Tá tudo bem princesa, eu só não imaginava que alguém poderia ficar assim por falta de dormir.

Ela riu com escárnio.

— Tem gente até que morre.

— O que?? - Ele perguntou incrédulo. 

“Boa Marinette, deixa ele mais preocupado, vai” - Se xingou mentalmente.

— Ai, Chat, eu não devia ter falado isso, me perdoa! - Ela começou a falar rápido para ver se o acalmava. - Eu to bem! Vê? - Disse levantando em um pulo. O fazendo se levantar também. - Eu só precisava chorar um pouquinho, só isso.

“Pouquinho?” - Ele pensou

Ele percebeu o que ela estava fazendo. Como sempre, suavizando a própria situação para não deixar ninguém preocupado com ela. Já a tinha visto fazer isso diversas vezes na escola. E por isso gostava tanto de Marinette. O coração dela era bom. Até quando ninguém estava olhando, ela se importava com o próximo e fazia o que estivesse ao alcance para ajudar.

Sentiu-se coagido a fazer o mesmo.

— Quando seu pai foi akumatizado, você se lembra? - Ela não sabia onde ele queria chegar, mas confirmou com a cabeça. - Naquele dia, eu pedi perdão ao seu pai por ter te magoado… - Ela ia dizer algo, mas ele a interrompeu. - Mas eu prometi, naquele dia, que eu sempre iria salvar você. - Ela ficou sem palavras. Sabia o amor de Chat Noir por Ladybug, mas nunca imaginaria o carinho que ele tinha por ela como Marinette. - Você é minha amiga, Marinette. Por isso, deixe-me dizer algo: nada dói mais que a solidão. - Ele disse, se lembrando das próprias palavras dirigidas ao Lobipai aquele dia. - Me deixe te ajudar. Mas eu não posso fazer isso se você continuar a mentir para mim.

Ainda em choque pelas palavras dele, Marinette só conseguia abrir a boca e fechar, sem ter nada a dizer.

Então  uma brisa gélida passou por seus braços descobertos, Chat a viu se arrepiar.

— Está ficando frio, você precisa entrar. - Ele a tomou pela a mão, abrindo a porta da claraboia para ela. 

Assim que entrou, esticou a mão, segurando o pulso de Chat.

— Entra também… - Não sabia por que tinha dito aquilo… O que ele iria pensar, ela, uma menina, o chamando para seu quarto no meio da noite. Ela só sabia que não queria ficar sozinha.

Mas sem mais perguntas, Chat adentrou no quarto.

Sem jeito, Marinette sentou em sua cama, e Chat sentou na outra ponta. Ela parou de respirar um momento quando se lembrou que Tikki dormia em seu quarto, mas ao olhar a almofada que ela geralmente ficava, suspirou de alívio ao ver que estava vazia. 

— Obrigada, por não me deixar sozinha. - Ela começou a falar, tímida.

— Não fiz mais do que o meu dever de herói. - Ele disse, dando aquele sorriso ladino que sempre aparecia quando ele jogava seu charme.

Isso a fez rir.

— Convencido! - Ele riu com seu comentário, e ela riria também, se não tivesse sido interrompida por um longo bocejo.

— Olha só quem está com sono! - Ele disse a zoando. Mas internamente, estava se sentindo muito aliviado. - Você devia deitar.

— Mas e você? - Ela perguntou, corando no mesmo instante. - Não, não foi isso, eu…

— Isso é um convite princesa? - Ele a fez corar mais, se controlando para não rir do quão adorável ela ficava sem graça

— Esquece! - Ela disse envergonhada, enquanto entrava debaixo das cobertas, ficando de costas para ele.

Chat riu como se ela tivesse contado a piada mais engraçada do universo.

Ficou alguns minutos vendo o tanto que aquele quarto era a cara dela. De onde estava, podia ver o manequim que ela usava para criar suas peças. Ela era tão talentosa. Lembrou da vez em que a ajudou com algumas fotos. E de todos os ensaios e trabalhos como modelo que realizara, aquele havia sido o melhor. 

Sorria nostálgico quando ouviu a respiração dela ficar mais profunda.

— Mari…- Chamou baixinho, mas se interrompeu rapidamente, prendendo o ar. “Eu sou burro? A menina diz que está com problemas para dormir e aí eu acordo ela?”

Voltou a observá-la e soltou o ar que prendeu em seus pulmões. 

Ele pensou em sair e ir embora, mas lembrou como isso terminou na noite passada.

“Vou ficar mais um pouco, só para ter certeza de que ela dormiu mesmo.”

Então se aconchegou mais confortavelmente na cama.

Alguns minutos depois, deu um bocejo, e pensou em ir embora novamente. 

Mas ao observá-la, tão serena dormindo, decidiu que esperaria mais um pouco. Não queria que ela acordasse sozinha, caso acordasse novamente como no dia anterior.

“Só mais um pouco…”


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Notas finais do capítulo

É isso pessoal, haha, estou louca para saber o que acharam.

O próximo capítulo se chama "Irresponsável", tirem suas próprias conclusões!

Beijos doces! ♥ e até amanhã.



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