Insônia escrita por Babydoll


Capítulo 49
Gaining by losing


Notas iniciais do capítulo

Oi seus lindos do meu coração!

Depois de mil anos, arrumei a bio do meu perfil, podem ir lá me dar biscoito.

Como estão depois do cap passado? Bem? Acho que não né... kkk

Ouvi boatos que nesse cap as coisas não melhoram muito, enfim.

Só deixa eu falar que em outro site, eu tenho um leitor que tá amando ver todo mundo sofrendo kkk e além de ter gostado da Marinette estar em coma, ainda me pediu pro Gabriel fugir da cadeia e terminar de matar ela hahahah eu ri demais.

E deixa eu falar também que o meu aviso no cap anterior foi pro beleléu né? Antes eram só 2 ou 3 leitores querendo puxar meu pé, agora é todo mundo. Saibam que eu sou formada em teologia e sei fazer um exorcismo.

Ah, a tradução do título é "Ganhando ao perder", pq foi tipo... eles ganharam a batalha, pegaram o miraculous da borboleta, mas, qual foi o preço disso, entende? Eles ganharam, mas o preço foi muito alto, quase uma perda.

Enfim, como sempre, uma boa leitura pra vocês ♡



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Eu prometo, eu não vou desmoronar

Eu só preciso sentir a borda

E eu prometo, eu não irei longe demais

Só não me deixe perder meu caminho

Fique de olho em mim

Se você prometer manter o seu chão

Eu saberei exatamente onde pousar

Então, por favor, prometa que você estará por perto

Fique à vista, ok?

Eu sei que você irá entender

(Keep and eye on me - Frida Sundemo)

Estava sentado, o corpo debruçado para frente, enquanto encarava as próprias mãos. Sentiu seus dedos gelados, e tentou esfregar eles uns nos outros para afastar a sensação de frio, em vão. 

Uma brisa noturna entrou por alguma janela daquele corredor do hospital, fazendo os pêlos do seu braço se arrepiarem. 

Sacudia o pé nervosamente, sendo esse o único alívio físico para conter a ansiedade de seu corpo.

Estava do lado de fora do quarto de Marinette, os pais dela estavam lá e Adrien não sabia quando iria entrar novamente. Não queria entrar. Não queria vê-a tão debilitada, em uma cama, sem abrir os olhos, sem poder sorrir para ele assim que chegasse.

Soltou outro suspiro sôfrego e voltou a atenção de volta para suas mãos. Dedos gelados era algo que ele podia resolver.

Foi quando outras duas mãos apareceram sobre as duas. As unhas pintadas de preto denunciavam quem era.

— Você está tremendo, Adrien. Quer que eu consiga um cobertor para ou outra coisa? - Pôde sentir que ele estava agachado à sua frente.

— Estou bem. - Limitou em responder Luka, sem se dar o trabalho de olhá-lo nos olhos. 

Notou que a própria voz ainda estava instável pelo choro e se frustrou com isso. Não queria parecer fraco e receber alguma atenção especial, ou cuidado, agora.

Ouviu um suspiro vindo do garoto mais velho quando o mesmo ergueu o corpo, ficando em pé na sua frente.

— Encontrei um quarto vazio aqui perto, Alya e Nino já estão lá esperando por nós. - A informação atiçou a curiosidade de Adrien, que finalmente ergueu a cabeça para encontrar com os olhos azuis. A confusão devia estar estampada em seu rosto, pois logo o mais velho continuou. - Precisamos conversar sobre o seu pai. 

Aquilo foi suficiente para que uma forte dor de cabeça atingisse Adrien, que tentou suavizar o sintoma apertando seus olhos. Os dedos, ainda gelados, acabaram servindo como anestésico.

— Se ainda não estiver se sentindo pronto...

—Não, vamos. Quero acabar logo com isso. - Levantou de súbito da cadeira, interrompendo Luka, que logo tratou de guiá-lo até o quarto onde o casal já os aguardava.

Ao entrar no local, viu Alya sentada em uma cama, enquanto Nino estava encostado na parede perto da janela. Flutuando no meio do ambiente, estavam Trixx e Wayzz.

— Adrien, como você está? - O pequeno kwami de tartaruga perguntou com cautela, atraindo a atenção de todos para ele.

— Ele ta péssimo! Não consegue ver isso no rosto dele? - Plagg atropelou as palavras do loiro, já sobrevoando o local enquanto Luka fechada a porta atrás deles.

— Plagg! - Advertiu ao kwami preto, se sentindo constrangido ao ter todos os pares de olhos voltados para eles, enquanto o clima do quarto parecia ficar cada vez mais pesado. - Estou bem, Wayzz, obrigado por perguntar. 

O kwami preto apenas revirou os olhos e voou pelo cômodo, indo de encontro aos outros kwamis, e junto dele, estava Tikki. Ela havia ficado escondida no quarto de Marinette até se encontrar com Adrien, e antes disso, havia acompanhado a portadora durante toda a noite, desde que ela foi levada ao hospital.  

Quando Mari foi transferida para o quarto, Tikki viu Adrien entrar e rapidamente se escondeu dentro de sua blusa com Plagg. E o garoto imaginou que ela deveria estar exausta e com fome, ainda tinha um pedaço de queijo guardado, que Plagg prontamente à cedeu em bom grado, mas não havia sido o suficiente. 

Tinha planejado conversar um pouco com ela quando ele se acalmasasse, e conseguir algo doce para ela comer, mas agora, esperaria a conversa com Luka acabar primeiro.

Caminhou até a cama, também se sentando no colchão. Esperava que situações assim não se repetissem por muito tempo, ter seus amigos pisando em ovos antes de conversar com ele era desagradável.

— Então, o que o meu pai fez agora? - Foi o primeiro a puxar o assunto, já que ninguém parecia confortável o bastante para fazê-lo. 

Viu Nino se desencostar da parede e cruzar os braços, parecendo tenso pela primeira vez. Mas foi Alya quem o respondeu.

— Bom, Luka estava nos contando que acabou levando os policiais até aquele jardim subterrâneo, mas aí...

As palavras morreram na boca da garota, como se ela não se sentisse confiante o suficiente para continuar. Adrien a viu lançar um olhar hesitante para Luka, que estava com Sass, agora, pousado em seu ombro direito. 

— Não encontramos a sua mãe, Adrien. Eu sinto muito. 

O loiro sabia que não estava com a cabeça em seu devido lugar. Pensamentos aleatórios , alguns bem negativos, estavam o atormentando a hora. E por isso, ele quis confirmar se o que havia ouvido era real ou apenas mais uma alfinetada se seu inconsciente, o lembrando que tudo podia piorar.

— Como é...?

Luka se aproximou calmamente, pedindo para que Sass se juntass aos outros kwamis, que estavam perto de Nino, e ajoelhou novamente na frente de Adrien, proferindo cada palavra com muita calma.

— Alguém destruiu o elevador que dava acesso a mansão, e removeram o caixão, completamente daquele lugar. Não encontraram provas concretas contra o seu pai, além de ter um galpão subterrâneo logo abaixo de sua propriedade.

Adrien imaginou uma lista mental com todos os problemas que haviam se acumulado até esta noite, e enquanto esse dia não acabasse, parecia que a lista não teria fim.

Ele abaixou a cabeça mais uma vez, aos dedos de ambas as mãos mergulhando em seus fios loiros enquanto ele tentava respirar fundo para conseguir raciocinar.

— Mas quem faria algo assim? - A voz de Alya soou ao seu lado.

— Mayura. - A voz de Nino sobressaiu, mas pela distância, Adrien deduziu que ele permanecia perto da janela. 

— Bom, esse não é nosso maior problema. - Luka continuou, a voz suave e paciente. Adrien levantou a cabeça, não conseguindo mais imaginar como poderiam haver mais notícias. - Tivemos que voltar a delegacia, pois Gabriel havia chamado reforço para o lado dele. 

Os olhos de Luka continuaram a analisar Adrien, que tentou escapar de seu contato visual. Cruzou os braços e passou a observar os kwamis, que agora estavam sentados sobre um móvel do outro lado do quarto. 

Sass e Wayzz pareciam confortar Tikki. Adrien queria saber o que ela estava dizendo à eles.

— Mas quem?

Alya havia ativado seu lado jornalista, pelo visto, e o loiro agradeceu por isso. O poupava o esforço de ter que fazer perguntas para receber respostas que não queria, mas precisava ouvir.

— Ele ligou para uma assistente quando saímos, acho que é Nathalie o nome. E ela chegou lá minutos depois, com dois dos maiores advogados da França. - Luka parecia ter desistido de confortá-lo, levantado e andando pelo quarto de forma ansiosa. 

Ou, o assunto realmente o tirava do sério.

— Nossa, que ótimo, já estava bem fácil mesmo. - Nino explodiu, fazendo os olhos verdes serem direcionados até ele. - Mas o que eles fizeram? Mentiram pelo Gabriel?

Era raro ver Nino Lahiffe perder sua compostura. Mas Adrien sabia como seu amigo ficava quando o assunto era Gabriel Agreste, ele nunca havia superado a forma como o pai tratava e controlava seu melhor amigo. 

Adrien se sentiu acolhido por vê-lo sentir raiva por si. Era uma forma diferente de proteção e cuidado.

— Pior, usaram a verdade. - Luka estava com um braço apoiado no outro, o rosto sério, como se ainda estivesse processando todo o ocorrido. - Gabriel confessou ser o Hawk Moth, mas alegou que suas ações nunca machucaram ou mataram alguém, assim como não causou nenhum dano a cidade, já que Ladybug sempre arrumava tudo.

— Mas isso é injusto! - Foi a vez de Alya explodir, se levantando da cama em um pulo. - Não é como se ela tivesse feito isso pra ajudar ele!

— Sim, mas no final, tudo o que puderam usar contra Gabriel foi crime por danos morais e psicológicos à população de Paris. - O mais velho tempestuou, contraindo o maxilar com raiva. - E com as artimanhas que só os advogados dele tinham, conseguiram um acordo de apenas dois anos de prisão, assim como um contrato que obrigou os policiais a manterem sigilo sobre a identidade dele.

Alya apenas bufou irritada, como se estivesse com tanta raiva que não conseguiu se expressar em palavras.

— Que absurdo! Porque os policiais aceitaram algo assim? - Nino continuou sua defesa.

Adrien ficou pensativo diante daquela cena. Imaginou que, se caso o amigo não quisesse levar a vida de DJ à diante, poderia facilmente virar um advogado.

— Porque Gabriel alegou...- Luka deu uma pausa, fechando os olhos e respirando fundo antes de terminar sua frase. - Alegou estar preocupado com o filho, caso a verdade fosse revelada. 

Adrien sentiu o olhar do mais velho pesar sobre si, como se estivesse se desculpando por essa fala. Pois estava mais do que claro, que Gabriel havia apenas usado o filho como desculpa. 

Um silêncio sepulcral se instalou pelo quarto após as palavras serem proferidas. E Adrien constatou que apenas ele poderia suavizar o ambiente.

— Ele tentou me akumatizar, mesmo sabendo que eu era o filho dele. Nada mais me surpreende, por isso, não se preocupem. 

Percebeu a tensão se dissipar, mesmo que pouco. Todos ainda estavam pensativos, digerindo o ocorrido e talvez, tentando descobrir alguma forma de mudar aquela sentença. 

— Mas que ódio! Só dois anos? Isso é inacreditável. - A garota soltou, de repente, mexendo no celular furiosamente. - E qual vai ser a desculpa pública que a imprensa vai receber a respeito da prisão dele? 

— Fraude na empresa, corrupção, desvio de verba... Qualquer coisa que os advogados disserem, todos vão engolir. 

Adrien ficou exaurido daquela conversa. Já havia conseguido as informações que precisava, não queria saber dos detalhes de como seu pai iria se safar por todo mal que fez. Levanta da cama e caminhou para perto da janela. Queria respirar um ar fresco. 

— Como você tá, cara? - Ouviu Nino perguntou baixo, talvez não querendo atrapalhar a conversa acalorada que rolava entre Luka e Alya.

— Ainda sem acreditar que tudo isso é mesmo real. - Respondeu sincero, apoiando os braços na beirada da janela e deixando sua cabeça tombar para frente.

Era estranho pensar que, a essa hora noite passada, ele e Marinette estavam juntos. Apesar de estarem preocupados em como seria o confronto no dia seguinte, os dois estavam bem.

Era estranho pensar que ela não estaria da mesma forma com ele, essa noite.

— Adrien!  - O chamado fez com que ele fosse tirado de sua nuvem de pensamentos pesarosos e voltasse de volta a realidade. Olhou para Luka, esperando que ele dizer o que queria. - A polícia estava apenas terminando de acertar os detalhes sobre o acordo de seu pai, e logo devem ligar para você.

O loiro assentiu. Nem um pouco animado em receber aquela ligação e ter que fingir tristeza na frente das autoridades.

— Alya! Estamos com fome! - Trixx interrompeu os assuntos ao voar para o meio da sala, se encontrando com sua portadora. Suas patinhas estavam sobre a barriga de maneira dramática.

— Oh, sinto muito Trixx. Vamos todos para o refeitório. - Ela acalmou a kwami, e foi seguida por todos os outros. - Precisamos dar uma pausa. Ok? - A garota falou para o três.

Não parecia muito uma pergunta, mas sim, uma ordem. 

****************************

Os quatro estavam na cafeteria vazia do hospital, e todos os cinco kwamis já estavam devidamente alimentados.

"Cinco kwamis. Apenas quatro portadores" - A cabeça de Adrien o atormentou novamente.

— Temos que contar para a escola amanhã, o que aconteceu. - Nino divagou, terminando de tomar o refrigerante que comprou em uma máquina.

— Eu cuido disso, não precisam se preocupar. - Alya o respondeu de maneira amena, colocando uma mão sobre a dele por cima da mesma. E apesar do sorriso que lançou para o namorado, ela parecia exausta. 

Todos estavam exaustos.

Mas a fala de Nino lembrou à Adrien que, outra certa pessoa importante, também deveria saber sobre o que aconteceu com Ladybug. Mas ele não sabia como encontrar Mestre Fu. 

Era sempre Marinette quem o contactava.

Olhou para a comida posta a sua frente, apenas um sanduíche natural e um copo de suco. E apesar de não estar sentindo fome alguma, deu algumas mordidas no lanche para deixar seus amigos mais tranquilos.

Não haviam conversado muito desde que chegaram ao refeitório, e Adrien agradeceu internamente por isso. Queria ficar quieto por um tempo.

— Eu devia chamar os pais da Marinette para comer alguma coisa. - Ele lembrou, apenas pensando alto,  mas já se levantando da mesa.

Mas ao fazer isso, todos se levantaram junto.

— Tudo bem, é uma boa ideia. - Alya concordou, sendo interrompida ao ter o celular vibrando em sua mão. Ela soltou um suspiro antes de finalizar quem quer que a estivesse ligando. - Eu tenho que ir pra casa, minha mãe já deixou umas cinco ligações aqui. 

Adrien percebeu que Alya pareceu triste por ter que ir. Entendia a sensação. 

Mas ela precisava, afinal, já era quase madrugada e ela possuía pais preocupados com ela a aguardando em casa. Todos eles tinham.

— Eu te levo. - Nino falou, se colocando ao lado dela.

Foi então quando Alya fez menção de tirar o seu colar, e Adrien percebeu suas intenções.

— Não, fique com ele. Todos vocês. - Olhou no rosto de cada um, e viu quando Luka levou à mão instintivamente até o bracelete. - Sei que os miraculous estarão seguros com vocês, e também... - Ele respirou fundo antes de continuar. - Se Mayura aparecer, estarão preparados.

Parecia muita coisa para lidar ao mesmo tempo. Mari, seu pai, Mayura... Às vezes, se perguntava se não estava esquecendo de mais alguma coisa.

— Obrigada. Nós voltamos amanhã, tudo bem? - A garota colocou uma mão sobre o ombro dele, e Adrien se forçou a abrir um sorriso mínimo enquanto concordava.

— Claro. 

Viu o casal sair do refeitório, e já estava prestes a fazer o mesmo, quando um pigarrear soou atrás de si, o lembrando da presença de Luka ainda naquele lugar.

— Então, eu sei que não deve estar querendo ir pra casa. - Luka começou, agindo de forma estranha enquanto falava. 

Constantemente olhando para os próprios pés e inquieto com as mãos. Só então Adrien notou que o estava vendo o garoto tímido e sem jeito pela primeira vez. - Você pode ir para o barco comigo, se quiser.

Adrien ficou surpreso por um segundo. Não tinha muito amizade com Luka, assim como tinha com os outros, e se consideravam apenas conhecidos. Mas a gentileza dele aqueceu seu coração de alguma forma.

— Obrigado, Luka, e-eu nem tinha pensado nisso ainda, pra falar a verdade. - Levou uma de suas mãos aos cabelos, o seu próprio tique nervoso. - Mas acho que vou ficar aqui no hospital esta noite.

Viu o mais velho abrir um pequeno sorriso, como se visse graça em seu embaraço.

— Tudo bem, mas saiba que o Liberdade está disponível quando precisar.

Podia não parecer nada, apenas um convite bobo. Mas para Adrien, significou muito.

— Vou me lembrar. - Sorriu e depois se despediu do garoto, enquanto fazia o caminho de volta para a UTI.

******************************

— Lembra daquela vez em que ela torceu o tornozelo mas não nos contou? Tivemos que correr pro pronto socorro quando vimos o inchaço!

— O tornozelo dela tinha virado uma bola, tadinha.

Ouviu as vozes já conhecidas, mas estranhou o bom humor em que elas estavam. 

Tentou se preparar mentalmente enquanto voltava para o quarto de Marinette, não só para estar pronto para vê-la novamente, mas para tentar lidar com seus pais tristes.

Mas ao chegar no corredor, ouviu apenas risadas e conversas alegres.

Se aproximou o máximo que conseguiu, para certificar se eram eles mesmo naquele quarto, quando sua presença foi notada

— Oh Adrien, entre querido. - Sabine o chamou. O sorriso ainda moldando o seu rosto oriental.

— Me desculpem, estou interrompendo? - Ele parou na soleira da porta, e viu ambos sentados em cadeiras, cada um de um lado da cama.

— Não, não! Só estamos nos lembrando dos sustos que a Marinette já nos deu. Ser pais de uma menina desastrada é ter uma vida cheia de emoçẽos. - Tom explicou rapidamente, ainda de forma cômica.

Mas sua alegria não foi acompanhada dessa vez, visto que Sabine apenas suspirou , enquanto acariciava o braço da filha.

— É, Mas nenhum foi tão grande quanto esse... 

O silêncio pairou sobre o quarto. Adrien apenas respirou fundo, tentando não pensar muito na situação. Abaixou a cabeça, tentando engolir o nó que se formou em sua garganta.

— Lembra da vez que ela prendeu a cabeça na grade da casa da sua mãe? - A voz animada de Sabine cortou o ar pesado que havia sido instalado. 

Rapidamente, Tom irrompeu em uma gargalhada.

— Nossa, que vergonha! Tivemos que chamar os bombeiros para cortar o ferro! - O homem não conseguia parar de rir enquanto narrava o acontecido.

A cena se formou tão rápido e fácil em sua mente, que Adrien riu sozinho no lugar, imaginando uma pequena Marinette fazendo confusão por aí.

Até que o estômago de Tom roncou e o fez lembrar do porquê estar ali.

— Ah, é. Meus amigos me levaram para lanchar na cafeteria. - Ele chamou a atenção dos dois sobre si. - Achei que deveriam ir.

— Uma ótima ideia Adrien, obrigado. Vai querer um café, querida? - Tom disse, já se levantando.

— Um chá querido, por favor. 

Tom caminhou até a saída do quarto, dando tapinhas no ombro de Adrien assim que passou pela porta.

O loiro ainda estava estático na soleira. Não havia se aproximado da cama de Marinette desde que ela havia chegado da cirurgia. Não sabia se estava pronto para isso. A voz de Sabine chamou sua atenção logo em seguida.

— Ficamos aqui ao lado dela, lembrando de várias memórias boas. O Dr. Adam disse que ela pode nos ouvir. Sabia disso? - Sabine estava acariciando os fios negros do cabelo de Marinette enquanto falava sonhadora, sem olhar em sua direção.

E foi somente nessa hora que Adrien olhou diretamente para a garota na cama.

Os fios em seu rosto, o tubo em sua garganta... eram coisas demais para processar.

Sentiu os olhos arderem e abaixou a cabeça antes de responder Sabine com a voz embargada.

— É mesmo? Eu não sabia. - Fungou ao final da frase, e se odiou por estar chorando novamente.

— Entre aqui, querido. Sente-se.

Adrien se perguntou se Sabine, como mãe, havia algum tipo de poder especial para lidar com as pessoas, e saber o que elas precisavam.

Não se sentia preparado para ficar perto de Marinette ainda, mas ele precisava fazer isso alguma hora. E quanto antes, melhor.

Andou até a cama à passos rígidos. Um tremor começou em seu joelhos e se estendeu por todo o seu corpo, dificultando a pequena caminhada.

Ele sentou na cadeira onde Tom estava antes, e se limitou em apenas olhar para frente.

Conseguia ver a mão de Mari com o acesso ao soro ligado em sua veia. O corpo dela estava coberto por um fino cobertor e do outro lado da cama, Sabine estava o encarando.

Um olhar com tanta compaixão e doçura, que Adrien teve que se segurar para não correr até o outro lado e se jogar no colo dela, como uma criança assustada.

Era assim que se sentia, um garotinho sozinho e assustado.

— Sei que não deve estar sendo fácil pra você. - A mulher falou. - Eu também sei que vocês dois terminaram, digo, que a Marinette terminou com você. - Ela se corrigiu rapidamente. - Só Espero que não tenha ficado chateado com ela por isso.

Adrien ficou surpreso ao pensar que isso era uma coisa que estava preocupando a mulher. Entre tantas coisas mais importantes, por isso, tratou logo de negar suas dúvidas.

— O meu amor por ela continua o mesmo. - Ele fitou a delicada mão de Mari, mais uma vez.

 Queria tirar aquelas agulhas dela e tomar a mão dela entre as suas, como sempre. Mas sabia que não podia fazer isso. Queria, ao menos, ter coragem de entrelaçar os dedos dela entre os seus novamente. 

Apertou suas mãos em punho com força sobre o próprio colo, se contendo, enquanto mordia o lábio inferior com força.

— Não sabe o quanto fico aliviada ao ouvir isso. - Apesar de não estar olhando, soube que a mulher estava sorrindo.

Ficaram os dois em silêncio por alguns segundos. E enquanto isso, Adrien pensava em como ele não queria se separar de Mari, nem que fosse por alguns segundos. Tinha a sensação de que ela se machucaria, caso ele fizesse isso. 

Esses pensamentos o levaram à uma decisão.

— Sabine, eu gostaria de ficar no hospital com a Marinette, se a senhora não se importar. - Ele desviou os olhos até ela, esperando que o contato visual ajudasse à convencê-la a deixar.

Viu a confusão no rosto da mulher antes que de responder, ajeitando melhor a postura na cadeira e piscando os olhos rapidamente.

— Bom... é claro, Adrien, se é isso que quer. - Sentiu um pouco de otimismo preencher o seu ser, antes dela continuar a frase. - Mas eu não sei se o seu pai vai gostar disso, digo, você é tão importante e tem tantos compromissos.

Sabine parecia genuinamente preocupada, e Adrien sentiu mal com isso. 

"Como ela se sentiria se soubesse a verdade?" - Foi a pergunta que o rondou, enquanto formulava uma resposta convincente.

— Acredite, ele não vai. - A seriedade pesou em sua voz, deixando claro que esse fato não era algo a ser discutido. - Além disso, vocês tem a padaria para cuidar. Posso ficar aqui quando vocês precisarem.

Apesar de compreender que a saúde da filha era a prioridade do casal naquele momento, cuidar do negócio da família ainda era  uma pauta a ser discutida. O sustento dos Dupain-Cheng vinha da Padaria, e Adrien sabia que agora, mais do que nunca, eles iriam precisar de ajuda extra para conseguir ficar no hospital e continuar tocando o negócio. 

Viu a mulher hesitar um pouco antes de responder, formando um vinco entre suas sobrancelhas.

— Certeza que não vai ter problemas, Adrien?

A resposta saiu antes que ele se desse conta.

— Sim. Não há ninguém esperando por mim em casa, pode ficar tranquila.

Por mais que doesse, aquela era a sua verdade agora. Talvez Gorila estivesse preocupado com seu paradeiro e as dezenas de chamadas perdidas em seu celular indicavam que Nathalie também estava procurando por ele.

Mas eles não eram sua família. Essa já estava destruída à muito tempo. Não havia nenhuma mãe o esperando de braços abertos em casa ou um pai que o perguntasse como havia sido seu dia.

O que ele podia fazer agora, era dar o seu melhor para que a família Dupain-Cheng permanecesse inteira novamente.

— Tudo bem, então está resolvido. - Um sorriso tímido surgiu no rosto feminino, e depois ela soltou um longo suspiro, como se um grande peso houvesse sido retirado de seus ombros. - Vou atrás do Tom agora. 

A pequena mulher se levantou da cadeira e Adrien imitou o gesto de forma automática. Mas, além de apenas realizar o ato por reflexo, o garoto o havia feito por puro medo de ficar no quarto sozinho.

Sabine, novamente, como se pudesse ler sua mente, fez um gesto com a mão para que ele se sentasse outra vez.

— Fique aqui, converse com ela. Vocês ainda não tiveram um tempo juntos a sós desde que ela retornou da cirurgia. - O rosto sereno dela entrou em contraste com o desespero estampado no rosto do garoto.

Pânico se instalou dentro de Adrien, enquanto ele tentava, ao máximo, evitar olhar para a garota deitada na cama atrás de si. 

Sabia que a dor seria demais.

—M-mas eu não sei o que dizer. - Os olhos dele pareciam querer ser atraídos, enquanto outra parte sua relutava incessantemente. 

A chinesa rodeou a cama, indo para o lado do garoto com um sorriso contido no rosto. Parecia estar achando graça em sua falta de jeito.

— As palavras vão vir do seu coração. Não fique com medo. Ela ainda é a mesma Marinette. - Foram as últimas palavras antes de o dar as costas e sair do cômodo. 

De repente, Adrien se viu ali sozinho com Mari.

"Ela ainda é a mesma Marinette" - Parecia algo tão simplório para ser dito. Claro que ela era a mesma, mas Adrien precisava ouvir essa afirmação.

Respirou fundo antes de sentar na cadeira novamente e mover os olhos na direção da namorada.

Ele a viu ai, deitada, olhos fechados. Poderia dizer a si mesmo que ela estava apenas dormindo, se não fosse por toda aparelhagem hospitalar ao seu redor.

— O-oi, princesa... sou eu. Adrien. - Mal terminou a frase e era como se sua garganta estivesse se fechando, enquanto lágrimas brotavam em seus olhos. Ele estava certo, olhar para ela doía com se seu corpo estivesse sendo esfolado em carne viva.

Respirou fundo e decidiu pegar a pequenina mão de Mari entre a sua, se assustando um pouco por sentir os dedos dela tão moles. Soltou soluço, fechando os olhos com força para tentar conter o choro.

— Por que todo esse horror teve que acontecer através de mim? - Falou sozinho no escuro, apertando ainda mais a mão dela entre as suas, finalmente permitindo que suas lágrimas fossem liberadas.

Soluços ressoaram pelo quarto escuro, junto com o monitor, que continuava a apitar.

Bip... bip... bip...

Adrien se permitiu lastimar, mais uma vez, por tudo o que aconteceu. Tudo o que havia acontecido com ela, era por sua causa.

Seu pai era o vilão, e a motivação dele era a sua mãe.

Não havia dúvidas para ele de que se havia alguém que deveria estar deitado nessa cama, era ele. Marinette havia sido apenas sugada para esse caos familiar, uma perfeita vítima.

Esses pensamentos agonizantes o fizeram chorar ainda mais.

— Eu não posso perder você, meu amor. Então, por favor. - Ele levou os dedos debilitados dela aos lábios, molhando-os com as lágrimas quentes que escorriam. - Por favor, volta para mim.

Ficou alguns minutos ali sozinho, usando o tempo sozinho para se acalmar, quando Plagg  e Tikki apareceram perto de si.

— Adrien, ela não está usando os brincos. - A kwami vermelha falou com calma, mas foi o suficiente para Adrien sair de seu torpor e ficar em alerta.

Era um detalhe que havia perdido, um detalhe muito importante. Levantou com pressa na cadeira olhando ao redor, suspirando aliviado ao encontrar uma sacola com as roupas de Marinette dentro. 

Retirou dali os brincos e, ao guardar a sacola, reparou em outro acessório que estava lá dentro, no meio de suas roupas.

Era a corrente que havia dado à Marinette, junto com a aliança dela. 

Respirou fundo, tomando coragem e pegou o colar, guardando-o no bolso antes de se aproximar da cama novamente. Estava com as mãos tremendo, mas com cuidado, conseguiu colocar os brincos de volta em suas orelhas, antes de retornar à sua cadeira. Tikki pareceu ficar mais tranquila depois desse ato, deitando sobre o corpo de Marinette em seguida.

Talvez a adrenalina tivesse finalmente passado, pois Adrien sentiu seu corpo pesado, e se rendendo ao cansaço, deitou com a cabeça apoiada no colchão.

 

 


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Notas finais do capítulo

Como que chama o tipo de relevo que são mais baixos do que o nível do mar ou a região em seu entorno? Aaaah, é mesmo....

DEPRESSÂO!

Hahahhaaha piada sem graça... (Por que eu sou assim mds? Por que?)

Enfim, espero que tenham gostado do cap de hoje! Era pra ele ser maior, mas ele tava tipo, MUITO gigante, aí decidi dividir ele em dois.

E pessoal, uma linda escritora, a Camren_Crazy123, criou um grupo no telegram para nós. Se chama "Insoniados" e o link é esse aqui: https://t.me/Insoniad0s

Gente, me digam se piraram também, ou não, com o trailer de Ephemeral, porque eu, meus amores, só tô viva pq consegui ressuscitar. Sério, to bem não. Chega logo dia 07/11! kkk

É isso, beijos doces e até o próximo cap!

Amo vocês!



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