Where We Belong escrita por Mad


Capítulo 9
Cartão de Visitas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Como vocês estão? Feliz 2022 e vamos em frente! Quem sabe essa fic acaba esse ano? xP sejam bem vindos ao capítulo 9! Hora de se jogar na cidade de Meridiana, mais especificamente, na ordem dos caçadores! Mas não é só a emoção de um lugar novo que aguarda as nossas ruivas lá dentro. Gostei bastante de escrever esse capítulo e de consertar um certo problema que ele tinha xP essa fic é assim, planos que eram escritos em pedra mudam de uma hora pra outra. Enfim! Até as notas finais, espero que gostem bastante do capítulo ^^



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"Você criou uma pasta para os diários?"

 

"Sim, como havia pedido Doutora."

 

"Ótimo, então adicione mais um arquivo…"

 

"Entrada ES-007. Não, não vou fazer uma referência ao Bond. Ninguém vai entender mesmo…

É muito bom ter um plano. Faz só uma semana desde que eu estava perdida chorando no ombro da Aloy, e agora estou aqui finalmente sabendo o que fazer. Bem… mais ou menos. Precisamos achar Hades e Hefesto antes de qualquer coisa, o problema é como fazer isso. Eu tenho acesso a alguns dados do Zero Dawn sobre o terreno mas… não muito. Preciso de mais informações pra saber onde começar a procurar… nesse meio tempo, preciso apressar a digitação dos códigos. Claro que eu sei programar mas eu tô basicamente lidando com a idade da pedra aqui, tendo só o meu Foco e esse terminal improvisado, preciso de ao menos um teclado e algumas outras peças. Além do mais, não é a minha especialidade… O Travis, apesar de chato pra caralho, era um deus nisso.

Não é só por isso que sinto falta deles...

Consegui convencer a garota a cuidar mais de si mesma, esquecer um pouco toda essa pressão de salvar o mundo. Temos tempo, e temos ideias. Eu já conquistei o mundo com só metade dessas coisas. Imagina o que ela pode fazer? 

Ela me empolga. Quase como…"

 

"Elisabet! Temos que ir."

 

"Já vou indo! CYAN, preciso que faça o seguinte. Precisamos de um mapa completo da maior região que conseguir, com o máximo de detalhes relevantes. Fluxo de dados entre as máquinas, fatos históricos, a população de cada formigueiro, esse tipo de coisa."

 

"Tempo estimado de 6 horas para o processamento."

 

"Você é incrível! Obrigada CYAN, me mantenha atualizada, tenho que ir. Até mais tarde."

 

"Tenha um bom dia, Doutora Sobeck."

 

Aloy estava esperando. 

 

Da porta de sua casa, não conseguia ouvir nada que vinha do antigo porão, agora escritório. Elisabet porém foi pega de surpresa, tendo perdido a noção do tempo enquanto conversava com CYAN sobre sua agenda. Subindo as escadas às pressas, não carregava consigo nada além de um modesto cantil e seu Foco no ouvido esquerdo. Ao seu redor, projetadas a partir do dispositivo, uma multitude de abas e menus holográficos flutuava em harmonia completa. A mais jovem finalmente a via fazendo seu caminho até a porta, e ao se encontrarem frente a frente, notou um último gesto de Elisabet, desativando todas as abas luminosas.

 

"Desculpa a demora garota" A doutora fez um sinal de prece com as duas mãos enquanto se desculpava. "Acabei me afundando demais na agenda. Bom dia."

 

Ambas saíram juntas da residência, com Aloy fechando as portas duplas atrás de si. Tomaram enfim o caminho para a ordem dos caçadores. 

 

"Não quis te apressar, mas seja lá o que Talanah planeja, me deixou um pouco empolgada."

 

"Bem, por enquanto CYAN está cuidando do trabalho pesado… Isso me dá tempo pra conhecer melhor esse lugar."

 

O mesmo sorriso do dia anterior se formou em seu rosto ao externar sua empolgação. Agora, com mais calma, percebia perfeitamente a diferença crítica de Meridiana para os outros locais que havia visitado desde seu despertar. O clima quase que tropical e a poeira levantada a partir do chão pintava o ambiente em um distinto amarelo alaranjado, totalmente diferente dos acentos brancos de neve nas folhagens dos territórios a leste, ou da neve profunda e clima congelante do Corte. Era como se o próprio sol acima de sua cabeça fosse uma estrela completamente diferente, uma que servia de sustentação para um sorriso desregrado porém sutil. 

 

Aloy por sua vez mantinha seus pensamentos nas palavras de Talanah. Superado, teoricamente, o choque de sua situação atual, sabia exatamente onde poderia procurar por seu propósito, e via na tal 'surpresa' uma oportunidade, mesmo que sem forma ou cor. 

 

Para tal ocasião, decidiu se vestir de acordo, usando agora um traje típico dos Carja, adornado em amarelo e marrom, com placas em cor preta isolando o calor ameno provido pelo sol da manhã. Em suas costas, trazia apenas o arco de caça Banuk e a lança equipada com o Controle Principal. Elisabet vestia uma nova túnica de cor vermelha, cobrindo parcialmente o traje comum Carja feito do tecido claro mais simples, quase um trapo,  com a lança de Sona repousando em suas costas.  Havia percebido os olhares confusos do dia anterior, ao se depararem com o macacão do Zero Dawn.

 

"Se puder, queria conversar sobre a tal máquina estranha que achou antes de me acordar. Mais tarde, claro."

 

A Doutora conteve sua vontade de obter informações, frente a um desejo igualmente grande de manter a garota sem amarras aos seus planos. Encontrou, previsivelmente, empolgação na resposta.

 

"Eu queria mesmo falar sobre aquilo. Nunca vi nada igual."

 

"E você já viu muita coisa. Tenho minhas teorias…"

 

"É, eu também tenho. Pode me chamar pra falar sobre quando precisar."

 

Subindo o último lances de escadas em uma das praças da cidade, finalmente viam a construção imponente, dotada de portões negros que contrastavam com a luz amarela advinda do interior. Mais um lance de escadas era necessário para acessar a entrada, e Aloy subiu os degraus a frente de Elisabet. A mais velha era agora dominada por uma timidez que, em seu íntimo, sabia que vinha da imponência do ambiente em si. Ela era uma cientista e não uma caçadora, apesar dos eventos não usuais dos dias anteriores. O lado de fora estava ocupado por transeuntes diversos, conversando em voz alta em seus grupos seletos e servindo como uma espécie de barreira para o som abafado da música tocada dentro do local. Absorvendo o primeiro choque, a mais velha apertou o passo e encontrou com Aloy na entrada.

 

Teve então seu segundo choque, na forma combinada da música animada tocada por diversos músicos e da enorme carcaça de Tirânico no centro do térreo. Elisabet havia humildemente aceito sua escala microscópica frente às dimensões de tal máquina ainda quando eram apenas números e projeções holográficas, porém apenas agora tinha real noção do conceito.

 

Aloy havia enfrentado máquinas como essa.

 

Mais de uma vez.

 

Seu momento de admiração, tanto com a máquina quanto com a garota a sua frente, foi interrompido quando Talanah se aproximou, vinda da escada a direita, contornando a máquina ao centro. 

 

"Eu sei que multidões e música não são exatamente do seu gosto mas…"

 

Aloy sabia que qualquer outra pessoa precisaria se explicar, menos ela.

 

"Se você diz que o dia é importante, é importante. O lugar já tem mais a sua cara. Parece que você manda aqui desde sempre."

 

Ambas compartilharam um sorriso, e Talanah voltou-se para a tímida Doutora.

 

"Bem vinda a Ordem dos Caçadores! Pode ficar à vontade, é minha convidada."

 

"Bem, se é assim, me sinto honrada! E em casa. Obrigada." A semelhança dos sorrisos tornava fácil para a Águia-Solar acolher Elisabet em seu lar. As três agora formavam a primeira fila que, de pé, acompanhavam a banda tradicional Carja batendo palmas. Alguns membros mais empolgados se envolviam em uma dança conjunta, como se estivessem ao redor de uma fogueira.

 

A música teve um fim tão animado quanto toda a sua duração, com a plateia explodindo em uma salva de palmas. Talanah fez questão de apertar a mão de cada um dos músicos, antes de assumir uma posição central no palanque onde se encontravam. O silêncio então se instaurou imediatamente, sem nenhum tipo de sinalização ou acordo. 

 

"Hoje, amigos, estamos comemorando o renascimento da Ordem dos Caçadores. Renascimento que aconteceu duas vezes: o primeiro cultural, quando os antigos valores da Ordem impostas por nosso fundador, o Décimo Rei-Sol Nahasis, retornaram a permear as nossas ações. O segundo foi estrutural, quando nossa casa foi defendida e reconstruída a partir de nosso próprio suor e comprometimento. Sendo assim, venho trazer as boas novas." Ela então apontou para um distinto grupo de moças, todas aparentemente na metade da adolescência. "Primeiramente, anuncio a total liberação das restrições para se tornar um membro. Essas garotas, de diferentes origens, tribos, etnias e crenças representam o início da mudança. Também anuncio que a partir de agora, não haverá número limite de Águias na Ordem. Todos os membros terão seus feitos de caça revisados e poderão não só se tornar Águias, mas também apadrinhar Tordos seguindo seus próprios critérios."

 

Os sorrisos e aplausos que se sucederam eram a assinatura perfeita da aceitação às mudanças. Os membros mais antigos viam agora a oportunidade de se tornarem algo maior, e as novatas tinham ainda mais motivos para se provar. Talanah porém continuou, dessa vez se voltando para Aloy. 

 

"Dentre as novas adições, há uma que logicamente não pode ser ignorada. Estou nesse momento promovendo a caçadora Aloy a posição de Águia." A notícia lhe acertou em cheio, tendo como efeito imediato um sorriso confuso e curioso. "Suas habilidades em muitos momentos superaram as minhas, e não há como negar seu merecimento." Mais aplausos, ainda mais animados. Elisabet colocou sua mão no ombro de Aloy, sorrindo de forma orgulhosa.

 

"Todos os novos decretos serão visíveis no quadro de avisos, na parede lá fora. Por hora, é melhor que escutem música ao invés da minha conversa chata, não é mesmo? Aproveitem!" 

 

Logo, a banda voltou a performar e, naturalmente, a festa continuou. O ambiente parecia ainda mais cheio, preenchido pela confusa e feliz junção de diversas conversas, risadas, música e palmas. Aloy e Elisabet seguiram Talanah a pedido da própria Águia-Solar, subindo as escadas até o segundo piso. Da mesa onde as três se sentaram, todo o salão podia ser visto, e assim permaneceram por alguns segundos, até Aloy dizer:

 

"Você me surpreendeu de verdade com essa. Nunca me imaginei como uma Águia."

 

Talanah apenas riu, sinalizando com a não em direção a alguém no andar de baixo. Voltando seu olhar para Aloy, respondeu:

 

"As vezes é muito difícil te entender, sabia?"

 

Elisabet, sentada na cabeceira da mesa, revelou a mesma expressão de Aloy, porém apenas observou a conversa de forma sútil.

 

"Como alguém que praticamente come peças no café da manhã não entende as próprias habilidades?"

 

"Não é simples assim, eu só acho que..."

 

"A gente não nota quando respira."

 

Aloy e Talanah reverteram seus olhares de forma imediata para a Doutora. A julgar pela expressão de surpresa, a própria Elisabet foi pega desprevenida por suas palavras. Pensou e ensaiou desculpas em sua mente mas por fim, engoliu os medos e prosseguiu:

 

"Quer dizer… Aloy caça máquinas desde quando era só uma criança. É rotina."

 

"Ok, faz sentido. Grande sabedoria, erm…"

 

"Elisabet. Pode me chamar de Elisabet.

 

Talanah pigarreou antes de retomar o raciocínio.

 

"De qualquer forma, Aloy, não era mais justificável te manter como Tordo. Sinta orgulho. Você é uma caçadora completa."

 

Aloy retornava as palavras de Elisabet, e de fato faziam sentido. Nada do que fizera recentemente havia sido diferente de como tinha feito desde quando iniciou seu treinamento com Rost. O significado de seus atos assumiram novas formas após os eventos da Provação, mas a forma como caçava máquinas no presente momento não seria estranha para a pequena Aloy de 10 anos, por exemplo. Ela sorriu em direção a Talanah, da forma mais sincera que a Águia-Solar já havia visto.

 

"Obrigada, Talanah."

 

Por uma fração de segundo, ou vários minutos, não era relevante. Aloy estava em casa.

 

E como reagem os anfitriões quando recebem visitas, seu olhar se voltou à entrada ao perceber uma certa movimentação não usual. Talanah por sua vez já observava a situação de forma atenta. Um homem, vestindo roupas de caça Carja, conversava com um dos Águias veteranos. Este que por sua vez gritou animado em direção a Águia-Solar no andar acima, assim que ouviu o que o homem tinha a dizer:

 

"Caça nova! Temos caça nova!"

 

Não só as conversas, a música também cessou. Talanah se levantou e sinalizou para que permitissem passagem. Aloy e Elisabet permaneceram sentadas, ainda vendo claramente o desenrolar da cena. Atrás do homem Carja, outros dois, mais jovens, vestidos de forma bem parecida, traziam consigo uma plataforma de madeira sobre rodas, puxando-a com cordas grossas. Os membros e convidados abriram passagem, dando espaço ao que com clareza se revelava uma cauda de Tirânico, intacta. 

 

"Qual deles abateu a fera?"

 

"Deve ter sido esse barbudo na frente."

 

Murmúrios e suposições preenchiam o silêncio. Sussurros esses que chegavam sem forma nos ouvidos das três no andar de cima, especialmente Talanah, que já estava pronta para perguntar o responsável pela abate. Como se lesse a mente da Carja, tal pessoa finalmente entrou no local, surpreendendo a todos imediatamente.

 

Mesmo com o efeito de silhueta causado pela luz do sol, todos podiam distinguir os cachos castanhos, os óculos redondos e o artefato triangular brilhando em amarelo em seu ouvido direito. Aloy e Elisabet imediatamente ouviram o sinal sonoro em seus ouvidos, identificando o Foco do garoto. Garoto este que vestia apenas trapos marrons sem mangas, e uma calça tão suja quanto. Ele se posicionou ao lado da enorme peça, e permaneceu em silêncio, aguardando. 

 

"Ok, chamou minha atenção, rapaz." Talanah disse em voz alta, o suficiente para que ouvissem no andar de baixo, e encostou de volta sua cadeira, dizendo: "Venham comigo, isso vai ser interessante." Aloy levantou-se primeiro, seguida pela Doutora a sua direita. As três então desceram as escadas. O garoto por sua vez olhava para qualquer lugar, menos para as figuras que se aproximavam. Sentia seu suor descer toda a curvatura de seu rosto e cair no chão. Enfim, estavam frente a frente.

 

"Então você abateu um Tirânico, garoto?"

 

"S-Sim, fui eu."

 

Houve um pequeno atraso na resposta. O rapaz ainda evitava certos momentos de contato visual.

 

"Qual o seu nome?"

 

"Mathias."

 

"Imagino que seus amigos sejam testemunhas?"

 

"Meus homens viram tudo, Águia-Solar. Me chamo Hama."

 

O homem de barba deu um passo à frente.

 

"Estávamos sendo massacrados pelo gigante. Nunca havíamos enfrentado algo tão grande. Conseguimos bons acertos mas parecia que nada adiantava! Isso até o garoto aparecer, se aproveitar de um dos nossos ataques desesperados e acertar em cheio o coração da máquina com uma lança." 

 

Talanah ouviu a história com atenção, especialmente percebendo o tom de voz empolgado de quem a contava, e ao notar o Foco no ouvido do rapaz, entendia que os fatos se encaixavam. Os caçadores, apesar de fortes, não tinham conhecimento do ponto fraco do Tirânico, algo que o garoto provavelmente havia visto através da análise do Foco. 

 

"Onde o abate ocorreu?"

 

"Foi ao Norte de... Monte Livre? O vilarejo Oseram." O homem disse, olhando algumas vezes para o garoto atrás dele, como se buscasse confirmação. Talanah por sua vez permanecia com os braços cruzados, olhando o rapaz de cima a baixo. Seus braços eram finos e longos, e em termos de altura, talvez batia pouco acima de sua cintura. Atrás dos óculos, conseguia ver olhos ansiosos, ainda sem contato direto com os seus. Era definitivamente apenas um garoto, e havia, supostamente, feito algo incrível. Um fato ainda era um mistério porém.

 

"Por que trouxe o troféu? Sem ofensas mas você não parece fazer isso com frequência, e conseguiria bons cacos com algo tão grande." Talanah tentou não ser ácida, e se surpreendeu ao finalmente encontrar determinação em seus olhos.

 

"Cacos são fáceis de conseguir. Eu...não tenho família, Águia Solar. Não tenho muita coisa na verdade… Se esse troféu puder fazer meu nome em algum lugar, estou satisfeito. Não peço muito, e não quero tomar muito do seu tempo, na verdade eu só..."

 

De início, era como se uma outra pessoa assumisse suas funções vocais. Os gaguejos haviam cessado e a voz firme davam firmamento a um contato visual firme. Porém, ao longo de sua declaração, as sílabas começaram a desaparecer e se misturar umas às outras, e antes que conseguisse formar a frase de forma coesa, Talanah o interrompeu dizendo:

 

"Reconhecimento? Ok, isso não é absurdo." Se surpreendeu mais uma vez, dessa vez com o objetivo nobre de alguém tão jovem. Entretanto, tentou ao máximo não se comover com sua situação, ainda haviam fatos a atestar.

 

"Bem, você veio até aqui, com testemunhas, então deve saber que apesar do troféu ser suficiente, é meu dever verificar ao menos o local do abate. Por hora, reconheço seu feito nominalmente."

 

O rapaz sorriu e estava pronto para deixar sair de sua boca o agradecimento mais caloroso, até ser interrompido por Talanah, que ainda tinha coisas a dizer.

 

"Ao mesmo tempo, estou lhe tornando o Tordo de nossa Águia mais recente, Aloy."

 

"O que?"

 

As vozes de Aloy e Mathias soaram como apenas uma só. Todo o nervosismo do rapaz retornou imediatamente, e os olhos de todos ao redor da sala se arregalaram, especialmente os de Elisabet Sobeck. 

 

"Não é necessário, não sou um caçador. Foi só..."

 

"Não é necessário, é obrigatório. Faz mais sentido reconhecer o feito de alguém que ao menos sabe o mínimo, não é?"

 

O garoto foi roubado de suas palavras ou argumentos, ou ao menos de sua capacidade de expressá-los. Talanah disse em difinitivo então:

 

"Para Aloy será a experiência de ensinar, e para você… Bem, trate como um presente. Não irei cobrar muito, fique tranquilo." Ela estendeu a mão, esperando o retorno do gesto. Este que veio com certo atraso, e ao fazê-lo, percebeu o tremor nas mãos do rapaz. Aloy não achava as palavras certas para dizer frente a tal situação inesperada. Não sentia exatamente a necessidade de protestar a decisão mas ao menos discuti-la com mais calma.

 

"Certo, está resolvido. Voltem às celebrações. Guardem essa peça no depósito para inspeção." Aos poucos, o público se dispersou mais uma vez, a música voltou a tocar. Ao antigo trio, agora se juntava o jovem Mathias, ainda calado e olhando incessantemente para os lados. Ao voltarem para a mesa de antes, Talanah disse empolgada:

 

"Sente-se garoto, queremos te conhecer melhor."

 

Mathias relutantemente se sentou, sentindo toda a sua timidez latente esmagar seu coração. Por um momento, porém, a timidez se escondeu atrás de seus olhos quando se encontraram com o par de olhos verdes do lado oposto da mesa. Demorou para organizar seus pensamentos e perceber que aquele que o observava de volta era Aloy, sua Águia. 

 

"Qual a sua idade? E de onde vem?"

 

Usando a pergunta como uma oportunidade de mudar a direção de seu olhar, o rapaz respondeu, um esforço grande para não comer as sílabas.

 

"15. E..eu vivo em Pico Mercante, não tenho certeza de onde nasci."

 

"Não acho que tivemos alguém tão jovem por aqui. Bem, me chamo Talanah, sou a Águia-Solar da Ordem."

 

"Muito prazer."

 

Após alguns momentos, Aloy tomou a penosa iniciativa de se apresentar. Ainda não entendia exatamente a decisão da amiga mas ao mesmo tempo não tinha desejo algum de desrespeitar o jovem à sua frente.

 

"Me chamo Aloy, é bom te conhecer Mathias."

 

Elisabet por sua vez gaguejou as palavras sorrindo exageradamente em direção ao garoto, esticando sua mão para cumprimentá-lo como se não quisesse ser deixada de fora das apresentações.

 

"Elisabet Sobeck. Muito prazer, garoto."

 

Ao apertar a mão da Doutora, tentando ao máximo devolver o sorriso, Mathias disse de forma súbita:

 

"...são parecidas."

 

"Ah, bem… Eu sou a mãe dela."

 

A expressão de Mathias foi preenchida por confusão. Era claro que a aparência denunciava tal fato, mas algo estava errado.

 

Claramente errado.

 

Talanah tomou um gole de sua bebida, e disse com um tom firme.

 

"Amanhã de manhã, irei verificar o local. Vocês podem começar o treinamento, sem problemas."

 

"Na verdade, o fato é que eu me feri durante o embate. Não consigo correr ou… bem…"

 

"Hum… eu notei que estava mancando. Você vai ficar bem?"

 

"Eu já fiz tudo que era possível, só basta esperar agora."

 

"Ora não é problema, há muito o que fazer com o restante do corpo funcionando, não é Aloy?"

 

Mais uma vez pega de surpresa, Aloy raciocinou rápido para tentar ser o mais convincente possível ao dizer:

 

"Sim! Digo… todo mundo começa disparando parado. Podemos fazer isso."

 

"Quando sua perna se curar, poderá avançar o treinamento. E então, vou lhe tornar membro honorário e poderá sair. O que acha?" Talanah fez sua proposta.

 

Com o mesmo atraso de antes, o rapaz enfim concordou com a cabeça. E então, como se uma lembrança o acertasse der repente, Mathias se levantou, seus cachos balançando e batendo contra sua testa.

 

"E-Eu preciso ir, mas estarei aqui amanhã cedo… para o treinamento."

 

Notando que o garoto esperava algum tipo de permissão, Talanah se levantou também e disse:

 

"Claro, vamos aguardar você. Agora vou dar uma olhada no que você trouxe. Aloy, Elisabet, obrigada por terem vindo. Fique à vontade ok?"

 

"Você é uma anfitriã e tanto." Aloy disse, provocando um sorriso no rosto da amiga que tomou o caminho das escadas com Mathias, este que não olhou para trás até sair do local pela mesma porta pela qual havia entrado.

 

"Parabéns pela promoção, ela parece gostar muito de você."

 

As bochechas de Aloy assumiram uma coloração incriminante, e a caçadora desviou o olhar ao dizer:

 

"Pra ser sincera, eu não esperava. Por mais que faça sentido. Quer dizer, eu já abati tantas máquinas…"

 

"Mas agora vai ter que lidar com algo bem mais assustador... Um adolescente."

 

Ambas riram o máximo que seus pulmões aguentaram frente ao comentário, e ao passo que recuperava o fôlego, Elisabet se lembrava da conversa que havia tido com Aloy no dia anterior.

 

"Tem uma coisa que a gente costumava dizer na minha época…"

 

"Mais ditados?"

 

"A vida fecha portas para abrir janelas" Elisabet disse, colocando a mão no ombro da mais jovem, bebendo alguns goles de sua bebida em seguida.

 

"Ok, isso é bonito." Era agora a vez de Aloy tomar um gole do pequeno copo que segurava. "Não sei não… eu posso até ser boa em aprender mas ensinar? É outra história…"

 

"A parte boa é que você não tem nada a perder. Vai que você se dá bem com o garoto?"

 

"Tem alguma coisa muito familiar nele e eu não sei o que é…"

 

Elisabet repousou seu rosto em uma das mãos, olhando para o saguão abaixo. Por um momento contemplou o quão mundanos haviam sido os eventos que presenciava. As danças e conversas, as burocracias e apresentações. Era como se nenhuma praga robótica ou desastre planetário tivesse acontecido. Seu sorriso preencheu o rosto, o que invocou um comentário daquela ao seu lado.

 

"Gostou daqui?"

 

"Eu gostei da cidade toda. Acho que tomei a decisão certa ao vir com você" Elisabet olhou para Aloy e sorriu ainda mais contente ao declarar sua satisfação. Aloy por sua vez devolveu o sorriso, levantando seu copo. 

 

"Um brinde às janelas?"

 

"Às janelas."

 

Era um alívio conseguir ver as janelas recém abertas.

 

Mesmo sem poder distinguir a paisagem. 

 

~.~

 

Ao sair de Meridiana, Mathias não pôde evitar de olhar para trás uma última vez, sentindo todas as variações de arrependimento possíveis. O que era um plano simples agora se tornava uma pedra em seu sapato, agora usado para chutar para longe uma pedra qualquer. Tomou o caminho de casa – se é que podia chamar assim – e resmungou para si mesmo, descontente.

 

"Era só o que me faltava…"

 

A noite era apenas uma criança. O amanhã por sua vez viria sem dúvidas, e tinha a vida feita.


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Notas finais do capítulo

MEU MENINO CHEGOU... DE NOVO. Agora em difinitivo no core da fanfic, conheçam Mathias! Como eu sempre digo, tô bem ansioso pra desenvolver ele. Mas me digam, o que acharam? Estão gostando da história? Tem alguma sugestão ou crítica? Por favor mandem tudo que estiver na cabeça de vocês, eu to com abstinência de feedback -q qualquer coisinha mesmo!! Ajuda muito. Preciso, claro, agradecer a minha Irmã Vanilla Sky e o apoio tremendo que ela me dá. Deem uma olhadinha no perfil dela que tá BOMBANDO recentemente ❤️ agradeço também a Aninha pela empolgação com a fic mesmo sem ter jogado o jogo xP FIZ UMA FÃ. Enfim, no capítulo seguinte, nossa dupla vai se separar um pouquinho! Garanto que vão se juntar pra algo muito legal, futuramente. Até lá, muito obrigado a todos pela leitura! Até mais ❤️



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