Dumbledore não era mais diretor de Hogwarts. O ministério achara “mais seguro” colocar alguém de seu pessoal ali dentro e a sapa rosa, ops desculpe, Professora Umbridge fora a escolhida. O professor só continuava em Hogwarts porque era muito influente e conseguira o cargo de História da Magia, agora que o professor Binns finalmente se aposentara. Nós também teríamos uma aula com ela e seria a de Defesa contra as artes das trevas. Não é difícil imaginar que ninguém estava animado para isso.

Depois que saímos do salão, finalmente me encontrei com Ron e Hermione e ele estava com um olho roxo.

— Deveria ver como Malfoy ficou.- foi a única coisa que ele disse, enquanto Hermione passava uma pomada na ferida, resmungando baixo.

De noite, conversamos com Dino e Simas no salão comunal, sobre como havia sido as férias, novidades do beco diagonal e a mudança do corpo docente. Ninguém tocou no nome de Harry. Mas ainda assim era difícil não pensar nele, não quando ainda era tão fácil vê-lo conversando conosco no sofá. Não quando tudo da Grinfinória gritava Harry Potter com todas as letras. Não quando vimos um anúncio no quadro de recados procurando um apanhador para o time. Não quando chegamos no dormitório e a cama dele ainda estava lá. Foi onde Ron dormiu aquela noite.

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Durante a semana, ocorreram diversos acontecimentos que eu acredito que merecem certo destaque.

O primeiro deles foi terça feira, na aula de história da magia, aula essa que teríamos com Dumbledore. Quando chegamos na sala ele estava lá, sentado na mesa do professor, com seus oclinhos de meia lua na ponta do nariz e um olhar sereno. A sapa também estava lá, com a desculpa de que iria supervisionar as aulas, já que o professor não lecionava a muito tempo e ela estava preocupada com o controle de qualidade na escola. No fundo todo mundo sabia que ela só estava ali porque o Ministério via o professor como uma ameaça. Sentia uma certa satisfação diante desse fato, era bom que estivessem com medo mesmo.

— Muito bem estudantes- disse o professor, de braços abertos, como se estivesse dando as boas vindas no jantar de início de ano e não apenas iniciando uma aula de história- vamos começar com mais uma aula de história da magia, para que aprendamos com os erros do passado e não os repitamos no futuro. Abram seus livros no capítulo 3: revoltas na Gram Bretanha.

— Herm, herm. Professor Dumbledore, não seria mais ortodoxo começar pelo capítulo 1? Assim os alunos não ficam perdidos?- disse a Diretora, com sua voz fina.

— Muito pelo contrário senhora Diretora, começar pelo capítulo 3 é exatamente para não      deixá-los perdidos, pois ele faz um apanhado de todas as revoluções que eles estudaram no ano passado. Saberia disso se tivesse lido o cronograma que lhe mandei, junto com os outros professores, como eu fazia nos meus tempos de diretor. É importante estar por dentro dos assuntos que seus professores darão ao longo do ano.

Umbridge ficou vermelha como uma pimenta e olhou para os lados como se estivesse procurando apoio da turma, o que não encontrou. Depois disso saiu apressada da sala, bufando feito um javali com a saia rosa de lã balançando e os saltinhos cor de rosa batendo no chão.

— Espero que ela tenha ido ler os cronogramas.- disse o professor Dumbledore, olhando para a porta que ela acabara de sair e balançando a cabeça, como se não acreditasse que uma pessoa daquelas estava comandando a escola.

Depois desse comentário todos nós explodimos em rizadas e a aula transcorreu normalmente. Sem o professor Binns era mais fácil ficar acordado e o professor contava tudo de uma forma muito emocionante. Nunca havia pensado como história da magia podia ser legal.

No fim da aula, quando estávamos todos saindo, o professor chama Ron e Hermione para conversar. Não quis ficar espiando, mas não pude deixar de ouvir meu nome na conversa. Ambos chegaram atrasados na aula de feitiços.

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O outro aconteceu na aula de Defesa contra as artes das trevas. Assim que chegamos na sala já estranhamos. As mesas não estavam mais organizadas em dupla e havia um quadro pregado na parede que dizia:

Regras das Aulas

Não é permitido conversar.

Não é permitido perguntar sem ser chamado

Não é permitido contestar a professora.

NÃO É PERMITIDO O USO DE VARINHAS.

Oi? Não são permitidas varinhas? Como assim??

— Se não são permitidas varinhas como aprenderemos os feitiços?- falou Hermione, de cara fechada, dando voz a uma de nossas inúmeras perguntas.

— Regra número 2 querida, preste atenção.- disse a diretora com a voz açucarada, lá do lado da grande mesa do professor, um sorrisinho debochado disfarçado de gentileza, como se estivesse falando com uma criancinha boba. Hermione ficara ainda mais brava- Aprenderão dos livros é claro. E como você desrespeitou uma das regras, serei obrigada a lhe dar uma detenção.

Todo mundo parecia ter prendido a respiração com isso, até os sonserinos. Hermione nunca havia levado detenção de um professor antes.

— O quê?! Uma detenção só porque ela desrespeitou uma de suas regras ridículas?- gritou Ron, como rosto vermelho, enquanto Hermione estava olhando para o chão do seu lado.

— Detenção para você também querido, depois das aulas hoje. Lembrem-se das regras.- nossa nova professora respondeu, com um sorriso alargado que a fazia ainda mais parecer um sapo que havia crescido demais. E que usava pulôveres rosa.

— Ron, não vale a pena.- foi a única coisa que ela disse pelo resto da aula.

Aula essa que passou se arrastando como uma lesma. Mais outros dois alunos, Parvati e Simas pegaram detenção por desrespeitarem as “regras” e quando Malfoy cochichou algo para Zabine, ela não fez nada, deixando todos ainda mais indignados.

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O terceiro momento foi, na verdade, o mais importante de todos.

Eu estava no salão comunal sozinho, já guardando minha redação meio feita sobre os objetos mais adequados para se praticar transfiguração e as minhas penas, quando Ron e Hermione se sentaram na minha frente. Ambos haviam acabado de voltar da detenção com Umbridge e tinham gazes enroladas nas mãos. Não perguntei o porquê.

Os dois ficaram parados me encarando, com os olhos meio esbugalhados e seria uma situação cômica, se eu não estivesse tão tenso. O que diabos eles queriam comigo?

Depois de quase um minuto nesse jogo de encarar, Hermione suspirou e disse:

— Escute Neville, nós conversamos e decidimos que queremos te ajudar. – ela soltou, de um fôlego só, a voz séria- Nós acompanhamos o Harry todo esse tempo e já sabemos de algumas coisas da história porque sim, Dumbledore também nos contou, então decidimos que seria justo se te ajudássemos. Isso é tão pessoal para nós quanto é para você.- ela estava decidida, como uma verdadeira grinfinória e embora seus olhos estivessem levemente mareados, eu conseguia ver um pouco da antiga Hermione mandona nela.

— Só queremos deixar claro uma coisa.- continuou Ron, mais sério ainda que Hermione- Só porque nós vamos te ajudar, não significa que nós vamos virar os melhores amigos da terra ok? Acho que você já entendeu que mesmo estando na mesma posição dele para o resto do mundo, para nós ninguém nunca tomará o lugar dele. Nunca.

É claro que eu entendia. O trio de ouro eram Harry, Ron e Hermione, qualquer coisa fora disso era ridículo de se pensar. Ainda assim eu entendia porque ele havia falado aquilo, qualquer um se apoiaria neles 24 horas por dia e tentaria de tudo para pegar a fama. Enquanto a mim, ficava grato por eles quererem me ajudar. Eu estava me sentindo completamente perdido até aquele momento e não queria nem pensar o que eles estavam passando.

De repente me dei conta que não fazia ideia do tamanho do assédio que eles deviam estar sofrendo, tanto da imprensa quanto dos outros alunos e não pude deixar de sentir um pouco de pena. Eu estava sendo muito protegido de tudo, nem todos sabiam da profecia, mas e quanto a eles? Percebi que ambos estavam me encarando e vi que ainda não havia respondido.

— Eu entendo, não se preocupe. Eu nunca pensaria em tomar o lugar dele, não com vocês. Mas muito obrigado por me oferecerem ajuda, eu estava me sentindo completamente perdido. Muito obrigado mesmo.

— Somos seus colegas Neville, seus amigos até. Nos importamos com você.- disse Hermione, com um sorrisinho gentil no canto da boca, embora seus olhos continuassem um pouco molhados, refletindo na luz da lareira.

Depois dessa conversa, nos despedimos e eu e Ron subimos para o dormitório masculino. Antes de chegarmos na porta, porém, Ron se vira para mim e fala, com o olhar sombrio.

— Não falei isso perto de Mione porque ela não queria que você ficasse aterrorizado, mas se prepare Neville, porque tem uma guerra vindo aí e ela vai ser sangrenta. Você é a nossa última esperança, nossa última cartada. Não temos mais espaços para perdas e decepções. Se prepare.

E entrou, me deixando ali parado. Em poucos minutos eu havia ganhado dois novos aliados e deixado em um mar de inseguranças, mas eu sabia que ele estava certo. Se eu queria terminar de uma vez por todas com essa ameaça e honrar Harry, era melhor eu me preparar.

Que Merlin nos ajude.