Escolhas, lembranças e heróis. escrita por Madame K1945


Capítulo 4
Cap 3. Péssimos sinais.


Notas iniciais do capítulo

Pov. Neville e... outra pessoa.



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Era dia de voltar para Hogwarts e a casa estava borbulhando. Havia gente entrando e saindo, aurores do ministério, membros da família Weasley e até mesmo alguns professores, todos se assegurando que tudo estava em seu devido lugar e que iríamos viajar com segurança.

Eu estava na mesa de café com Gina, Hermione e os gêmeos, comendo o café reforçado da senhora Weasley, quando algo inesperado aconteceu: Ron apareceu na porta da cozinha, com roupas de viagem e os cabelos penteados, olhando tudo como se estivesse um pouco perdido. Como se nunca tivesse descido ali, ou, se minha teoria de suas saídas noturnas estivessem corretas, como se nunca tivesse visto o local com tanta gente.

A cozinha toda ficou em profundo silêncio. O senhor e senhora Weasley estavam com os olhos marejados, como se estivesses se segurando para não chorar. Gina e os gêmeos se entreolharam como se um gnomo estivesse ali para do na porta, não o irmão deles. Hermione, no entanto, foi a única a fazer alguma coisa e bateu de leve na cadeira próximo a sua, convidando-o para sentar, enquanto dava um sorriso de orelha a orelha. O primeiro que eu havia visto ela dar.

Ron sentou-se, e começou a se servir, como se isso fosse algo que ele fazia todos os dias. De repente o ar não parecia mais tão tenso e a visão de Ron e Hermione comendo um ao lado do outro se tornou algo reconfortante, embora alguém ainda estivesse faltando ali. Esperava que isso significasse que o dia de hoje fosse ser, no mínimo, bom.

..

Chegamos em King´s Cross bastante adiantados, e eu consegui manter trevo dentro de uma caixinha de sapatos para ele não sair fugindo por aí. Vovó veio também e eu confesso que a presença dela era calmante. O sentimento de conforto que eu senti ao ver um de seus extravagantes chapéus era algo que eu não tinha havia um tempo.

Um pouco mais adiante, por entre a fumaça da locomotiva, vejo Malfoy. Ele estava com seus pais e todos eles tinham um estranho aspecto cansado. Achei estranho. Pensava que eles estariam exultantes, agora com a morte de Harry e com o cada vez mais próximo levante de Voldemort. Mas eles estavam longe, pode ter sido apenas impressão minha. De qualquer forma, eu só espero que Malfoy não esteja insuportável esse ano, ninguém merece isso.

— Argh. Tinha até me esquecido que teremos que dividir nosso ar com aquela desculpa de ser humano.- disse Gina, ao meu lado, com uma cara nada satisfeita.- Espero que ele não venha mexer com a gente, se não eu não sou mais responsável pelos meus atos!

— Ginevra Weasley, pare de falar asneiras! Você não vai agredir ninguém! Não quero ver uma carta de reclamação da escola esse ano ouviram? Isso vale para todos!- ralhou a senhora Weasley.- Agora subam no trem, já temos que ir.

Embarcamos rapidamente e começamos a procurar uma cabine. Fred e George foram atrás de seus amigos e quando dei por mim, Ron e Hermione não estavam mais conosco, tendo ido para umas das cabines mais ao fundo.

— Parece que somos só nós não é? - eu disse, me dirigindo a Gina.

Ela resmungou algo pra si mesma e abriu uma das portas.

Dentro da cabine havia apenas uma garota, que eu já havia visto em Hogwarts antes. Ela era loira, com os cabelos compridos e pele leitosa. Os olhos estavam escondidos por um par de óculos muito estranho e ela lia uma revista de cabeça para baixo. Não conseguia me lembrar de seu nome.

— Oi, eu sou a Gina. Tudo bem se a gente ficar aqui?

— Claro!- respondeu a garota- Só tenham cuidado com os narguilés, eles adoram confundir o cérebro das pessoas, como já devem saber. Eu sou a Luna.- disse ela, com uma expressão sonhadora.

Eu não sabia o que eram narguilés e dei um sorriso sem graça. Gina apenas concordou e se jogou no banco, encostando a cabeça na parede. Me sentei ao seu lado.

Luna nos olhou por cima de seus óculos e perguntou:

— Vi que costumavam andar com Harry Potter, ele parecia ser legal.

Senti Gina ficar tensa ao meu lado, mas havia algo na frase de Luna que não me retraiu. Ninguém havia perguntado para nós se Harry era legal. Ouvimos muitas condolências, muitas frases tristes nesses últimos meses, mas ninguém havia perguntado como ele realmente era, como era o tempo em que ele estava vivo, as partes boas. Foi, de certa forma revigorante. Pude então, pela primeira vez me lembrar de Harry de forma austera, e não melancólica.

— Sim, ele era incrível. Sabia que no primeiro ano ele...

E desandei a contar as histórias que eu sabia. No meio da conversa Gina entrou também, contribuindo com histórias das férias que ele passava na casa Weasley. No fim, foi uma viagem feliz e ainda ganhamos uma nova amiga. Ela me conquistou quando fez o comentário sobre Harry e conquistou Gina ao fazer outro comentário:

— Aquele que não deve ser nomeado! O nome dele de verdade deve ser tão feio que ele tem dois apelidos!- ela disse, nos fazendo dar uma grande rizada. No fim, foi mesmo uma boa viagem. Só esperava que o resto do ano seguisse esse roteiro.

..

Quando chegamos em Hogsmead, a primeira coisa que eu percebi foi que Hagrid não estava lá. Quem recebia os primeiranistas era a professora de trato das criaturas mágicas que tivemos no terceiro ano, quando Hagrid foi para Askaban. Primeiro mal sinal.

Depois de entrarmos nas carruagens, percebi que ainda não havia avistado Ron e Hermione. Nem Malfoy. Segundo mal sinal.

No momento que entramos no salão, percebi, novamente a falta de Hagrid e o mais assustador, o que deixou muitos alunos confusos: Dumbledore não estava em sua cadeira. Em seu lugar havia uma mulherzinha vestida de rosa, com uma cara que lembrava muito um sapo. Avistei o professor em uma cadeira ao lado da professora Mcgonagall. Terceiro péssimo sinal.

É, parece que a premonição que eu fiz no trem não ia se realizar e que esse ano de Hogwarts ia ser tudo, menos bom.

..

Londres, UK, algumas semanas antes.

Branco. Tudo branco, paredes brancas, móveis brancos, janelas brancas. Tento lembrar de como cheguei ali. Nada. Nem uma mísera memória que me fosse útil naquele momento. Eu já estava no hospital a quase um mês e continuava completamente perdido. A doutora Lawper dizia que eu estava indo bem, que eles não esperavam muito de mim, mas eu sabia que era mentira. Bem, tento me animar, pelo menos eu me lembrava de coisas básicas, mas ainda me sentia perdido no funcionamento de muitas coisas. Em resumo, minha atual situação era uma bela de uma porcaria.

 - Olá querido- diz a enfermeira Bonner, chegando no quarto junto com a doutora Lawper- como se sente hoje?  Algum enjoo, dor de cabeça?

— Não, eu tô bem, que nem todos os outros dias.

— Muito bom, muito bom. Isso é ótimo querido.- começou a dizer a enfermeira, quando foi interrompida:

— Escute menino, eu sei que sua situação não é nem um pouco ideal, e entendemos que você não consegue se lembrar das coisas ainda, acredite, não te culpamos- dizia a doutora Lawper, com uma cara levemente nervosa- mas você já está ocupando o quarto a um mês e além da perda de memória, você não apresentou nenhum outro efeito colateral do acidente que te trouxe aqui. Então eu não tenho como te segurar aqui no hospital por muito mais tempo e teremos que te mandar para uma casa de órfãos. Desculpe.

Bem, não é como se eu não esperasse, realmente. Eu sabia que a doutora estava me mantendo aqui a muito mais tempo do que era realmente necessário. Eu já tinha me acostumado a ideia de ter que deixar o hospital em breve, mas admito que era difícil. Elas eram praticamente as únicas pessoas que eu conhecia.

— Então eu acho que podemos tentar mais uma vez aquele exercício da memória, para vermos se você consegue se lembrar de alguma coisa antes de sair. Da última vez você até conseguiu chegar mais perto de uma memória, lembra? Das duas crianças que você conseguiu se lembrar? Vamos continuar daí.- disse a enfermeira Bonner, sempre a mais otimista.

Depois disso foi uma série de figuras e perguntas, informações de jornais antigos e fotos. A mesma coisa das últimas sessões. Segundo a doutora eu estava exercitando a minha memória, para ver se as ligações sinápticas antigas retornavam ou alguma coisa assim, eu não tinha entendido muito bem. Quando isso acabou, a doutora olhou para mim e me perguntou, pela milésima vez, com uma cara cansada.

— Muito bem garoto, vamos tentar agora. Consegue se lembrar de algo?

Forcei um pouco minha memória, como se vasculhasse em uma gaveta. Eu via duas crianças com clareza, um garoto ruivo e uma menina de cabelos cheios. Eu sempre sentia uma boa sensação quando pensava neles, como se os conhecesse e eles fossem muito queridos para mim. Eles pareciam estar falando algo nessa memória, como se estivessem discutindo. Eu via a boca deles se mexer, as vozes abafadas, tudo em câmera lenta.  De repente a primeira informação realmente útil aparecera para mim, como um estalo.

 - 14, eu tenho 14 anos.- disse, com os olhos arregalados e o coração palpitando.

As faces da enfermeira e da doutora se iluminaram e olharam para meus exames de forma animada.

— Realmente, isso bate com os exames que fizemos em você, embora pensássemos que pudesse ser um pouquinho mais novo. Isso foi muito bom querido, consegue se lembrar de mais alguma coisa?

Novamente estava vasculhando pelas minhas memórias, qualquer coisa, qualquer mísera lembrança, até que me veio um nome, e junto dele uma sensação. Sentia que esse era meu nome e o sentimento de pertencimento era incrível, depois de estar com a mente praticamente branca por tanto tempo. Olhei para as duas mulheres e disse, quase sem ar:

 - Harry Potter, meu nome é Harry Potter.

 


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Pensaram mesmo que eu ia matar nosso Harry? Não não, ele ainda tem muita coisa pra fazer.
comentem sobre tudo e obrigada por lerem!



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