Sasuke soltou as três moedas na mão do comerciante e em troca, recebeu apenas um murmúrio. O moreno olhou ao redor, sabendo que estava no caminho certo. A cada vilarejo que cruzava, o Uchiha presenciava mais miséria. O homem se empertigou, apertando com mais força os suprimentos que comprara. Estava há uma semana no trajeto e evitava pensar nos próximos dias que teria pela frente. Apesar de não querer admitir, começava a sentir o peso da idade. O ninja sentia as costas doerem por conta das noites ao relento e ao preparar alguma lebre que caçou, lembrava-se da cozinha de casa.

Após as compras, Sasuke seguiu seu caminho. Na proporção em que se aproximava de Okagure, mais e mais o moreno buscava ser invisível. Depois de caminhar dois quilômetros, o Uchiha percebeu o dégradé do céu e olhou ao redor. Montar um acampamento ali não seria ruim. Poucos minutos depois, o homem havia terminado o singelo acampamento que consistia em um pequeno abrigo e uma fogueira tímida. O ninja comeu um dos enlatados que comprou e encarou as chamas. Quando anoiteceu e os olhos começaram a pesar, ele foi  dormir. Apesar de cair no sono rapidamente, acordou poucas horas depois, em alerta.

Sasuke acordou com os os olhos arregalados, sentindo os pelos da nuca se eriçarem. Durante os próximos três segundos, só foi possível ouvir o farfalhar das árvores. Porém, o moreno permaneceu com os sentidos aguçados e ficou rígido quando escutou o som de passos. O Uchiha levou a mão para debaixo do saco de dormir e segurou  uma kunai quando notou que se tratava de mais de uma pessoa. O homem escutou sussurros e foi então que decidiu sair da cabana. Com o sharingan ativado, homem avançou contra a pessoa mais próxima. O ninja chutou o joelho do invasor e quando este tombou para frente, ele posicionou a kunai contra a jugular do oponente. Por fim, a outra mão livre agarrou violentamente o cabelo do inimigo.

Quando Sasuke abriu a boca para perguntar quem ele era Sasuke escutou uma voz esganiçada:

—-Uchiha! Ah, que… que porra!

O desespero da voz era quase cômico.

—-Quem são vocês?--Sasuke gritou, ouvindo o seu oponente dominado choramingar.

—-Solta o Akira!--Gritou a voz na escuridão.

A luz fraca da fogueira iluminava parcialmente o rosto de homem, ou melhor, do menino diante de Sasuke. Era um moleque sujo de no máximo 14 anos. Apesar dos olhos arregalados, havia um quê de coragem em seus olhos. Ao sentir o sharingan sobre si, o garoto tentou disfarçar a tremedeira. Sasuke quis rir. O moreno afastou a lâmina do outro, chamado Akira, que parecia ser poucos anos mais velho que o outro. O Uchiha pôde escutar o suspiro dele.

—-Vão embora.

Assim que escutou a ordem, Akira se levantou e cambaleou até o seu colega mais novo. O mais velho segurou o mais novo pelos antebraços e o arrastou para longe. Sasuke tentou descobrir se o cenho franzido do menino era de confusão ou indignação. O moreno não conseguiu concluir nada. Os dois logo se afastaram e foram engolidos pela escuridão. Depois de alguns minutos, o homem passou a mão no rosto. “Que merda foi essa?”. Antes que fosse deitar novamente, o ninja ouviu passos indo na sua direção.           

Sasuke suspirou e sequer se levantou quando os dois surgiram no seu campo de visão. Akira estava com o cenho franzido enquanto o mais novo tinha um brilho nos olhos. 

—-Oe, você é o ex-nukenin, Sasuke Uchiha?--Perguntou o mais novo com a voz mais firme do que antes.

Sasuke respirou fundo ao ouvir “ex-nukenin”, mas apesar do desconforto, o moreno assentiu. O menino mais novo desferiu um soco no ar, empolgado. Quando ele se aproximou com passos largos, o Uchiha considerou se afastar, mas desistiu. Quando estava perto o bastante, o garoto praticamente se jogou no chão, se ajoelhando. O homem olhou para Akira, mas o rapaz virou a cara para o ninja.

—-Por favor, Uchiha-sama, eu suplico que nos ajude.--O menino disse sem levantar o rosto; sua voz saiu abafada. 

Antes mesmo que Sasuke pudesse responder o garoto levantou o rosto e implorou.

—-Salve Okagure!

Ao ouvir o nome da vila, o corpo e Sasuke enrijeceu.

—-O que disse?

—-Oka...gure.--Repetiu o menino, encolhendo-se em seus ombros.

Sasuke observou os dois meninos comerem à sua frente; não havia pudor ou delicadeza. Ambos se lambuzavam com os enlatados, comendo com as mãos. Apesar de manter os olhos nos desconhecidos, a mente do moreno estava distante, mais especificamente em Okagure.

—-Estava… tão bom!--Disse o menino mais novo, acariciando a barriga.--O meu nome é Yusuke e ele é Akira.

—-Vocês são de Okagure.-- A frase de Sasuke soava como uma insinuação, um convite para que Yusuke falasse.

—-Sim.--Yusuke fez uma pausa para lamber o polegar.--Fugimos há seis meses.

—-Por que?

Yusuke desviou o olhar e encarouo o chão. Akira olhou para Sasuke e negou com a cabeça.

—-Não precisam falar se não quiserem. Vocês ouviram falar de Sakura-

—-Haruno?!--Yusuke exclamou, sorrindo, e antes que Sasuke pudesse corrigir o sobrenome da esposa, o menino continuou.--Ela é tãaaaao legal!

—-Você a viu? Ela está bem?--Sasuke até mesmo se inclinou para frente.

—-Faz muito tempo que ela cuidou do Akira.--Yusuke coçou a cabeça, olhando para Akira.--Aquele dia foi… bem, apesar do Okage proibí-la de atendê-lo, ela cagou pra ele e curou a hemorragia dele.--Os dois meninos se olharam durante alguns segundos e Akira se remexeu, soltando sons inteligíveis. Yusuke afagou o braço do mais velho e disse:

—-Foi bacana ver ela peitando o Okage, mesmo que fosse perigoso. A última pessoa que o desafiou não terminou muito bem. 

—-O que houve?--Sasuke perguntou baixo, tentando não soar como uma criança.

Yusuke não falou nada, e na verdade, foi Akira quem se pronunciou, digamos assim. O rapaz simplesmente abriu a boca e revelou o espaço no qual deveria estar a sua língua. Um arrepio passou pela coluna de Sasuke quando ele raciocinou e concluiu que Okagure estava se tornando cada vez mais sinistra. 

—-Então,,. você fará parte da resistência?--Sugeriu Yusuke, movendo as sobrancelhas.

—-Há uma resistência?

—-Sim, nós dois!--Yusuke apontou para si e para Akira.--Com você seremos três! E você, meu caro Uchiha, vale por mais de 100 homens. Somos quase um exército!

Em seu discurso, Yusuke se levantou em um rompante. Sasuke passou a mão no rosto e, sem dizer nada, apenas se levantou e entrou em sua tenda. O Uchiha dormiu mais rápido do que achou que conseguiria e quando acordou, achava que os garotos teriam ido. Porém, quando saiu do abrigo o homem suspirou ao ver os dois dormindo ao relento. 

Enquanto caminhava pelos arredores em busca de água, a tranquilidade da floresta permitiu que Sasuke mergulhasse em seus pensamentos. “Salve Okagure!” a súplica do menino repetia na sua cabeça. Entrar em uma guerra civil e bancar o herói não estava nos planos do moreno e certamente traria problemas para Naruto… O Uchiha foi enumerando as desvantagens de se enroscar em tramas políticas. Porém, quando estava voltando para o acampamento, Sasuke ouviu a gargalhada de Yusuke e manejou a cabeça. Pelo visto, teria companheiros de viagem, quisesse ou não. 

Durante os dois dias seguintes de viagem, Sasuke se arrependeu várias vezes com os meninos. Entretanto, o moreno se surpreendeu com a extensão da sua paciência. “Talvez tenha sido o convívio com Sarada”. Pensar na menina fez com que um nó em sua garganta. Antes que o Uchiha sentisse o coração pesar, ouviu um grito reclamão de Yusuke.

—-Isso doeu, Akira!

Sasuke suspirou, mas sequer olhou para trás, sabendo que a reclamação  de Yusuke era oriunda de algum soco ou chute que levara de Akira. O moreno sequer julgava o menino mais velho… Nesse curto período de tempo, o Uchiha aprendeu que o mais novo tinha o dom de ser chato. Além disso, o homem concluiu que a violência era recorrente entre os dois. Uma brincadeira comumente terminava em um tabefe na cara e ironicamente,  uma briga terminava em soco também. Apesar de ignorar os dois, o ninja escutou passos se aproximarem e não tardou para que Akira surgisse no seu campo de visão. O menino o encarou até que o seu olhar fosse recíproco. 

Akira fez um gesto com as mãos na frente da barriga. Sasuke franziu o cenho quando o garoto repetiu o movimento dos dedos. A terceira repetição foi feita de maneira energética,      

—-Esse filho da puta está com fome!--Disse Yusuke. 

Ao ouvir o xingamento, Sasuke virou a cabeça com força e teve que morder a língua para não repreendê-lo. O morone limitou-se a olhar feio para Yusuke, mas o menino sequer notou. O garoto chutava as pedrinhas no chão, descontando o ressentimento passageiro que sentia de Akira. Com a explicação do amigo, o mais velho concordou  com a cabeça.

—-Eu também estou faminto!--Exclamou Yusuke , surgindo do outro lado de Sasuke.--O que tem pra comer?

Sasuke franziu o cenho.

—-Não darei  comida a vocês.--Sasuke ouviu Akira bufar e Yusuke soltar uma interjeição.

—-Tu é muito egoí-

—-Vocês não sabem caçar?--Sasuke arqueou uma das sobrancelhas.--Como sobreviveram na floresta?

Akira cruzou os braços diante do corpo e Yusuke ficou com o rosto vermelho. Nenhum dos dois gostava de relembrar esses dias, ou melhor, meses na floresta. Quando a guerra civil estourou, a única opção foi fugir. Desesperadamente. Na floresta comiam o que conseguiam, desde frutas até insetos. Não tardou para que a necessidade os fizesse perceber que eram bons ladrões. Sasuke notou que sua pergunta tocou uma ferida e se calou.

—-Quer saber?!--Gritou Yusuke, e um rompante.--Vô caçar sim! Caçar até um… um… javali!

Sasuke até mesmo pensou em dizer que não existiam javalis naquela região, mas se limitou a suspirar.  

—-Venha Akira!--Ordenou Yusuke, caminhando com passos duros para longe de Sasuke.

Sasuke poderia ignorar os garotos, mas uma curiosidade sádica o fez querer ver as estripulias dos meninos. Além disso, diminuir o ritmo da viagem faria bem para suas pernas. O moreno seguiu os dois ouvindo o leve cochichar de Yusuke. Os dois logo começaram a varrer os olhos pelo chão. Vez ou  outra, se abaixavam e pegavam gravetos fortes e folhas apetitosas.  A busca durou vinte minutos e na metade do tempo  o Uchiha sentou-se debaixo de uma árvore para observar a cena.  

Ao ver o resultado da artimanha dos meninos, Sasuke teve que segurar o riso e disfarçou com uma tosse. Akira passou a mão na testa, enxugando o suor; enquanto isso, Yusuke pousou as mãos na cintura admirando o que haviam feito. Aquilo poderia ser tudo, menos uma armadilha. O mais novo olhou de soslaio com o moreno com uma arrogância desafiadora.

—-Logo teremos um javali!

Os garotos se esconderam atrás de uma moita. Pelo menos o silêncio reinava, esse era o alento do moreno. A concentração dos meninos continuou inabalável por meia hora. Depois começaram os suspiros frustrados, as dores por ficarem na mesma posição. Quando mais uma meia hora se sucedeu, Sasuke resolveu conferir como os jovens estavam. Pela sua experiência parental com Sarada, crianças sozinhas e muito quietas não resultavam em coisa boa. O moreno não demorou para encontrá-los no mesmo lugar de antes. Entretanto, agora Akira cochilava de bruços enquanto Yusuke desenhava no chão com um graveto. 

—-Como está a caçada?

Quando perceberam a presença de Sasuke, os meninos se sobressaltaram. Yusuke franziu o cenho e olhou feio para o moreno. O garoto colou o dedo indicador sob os lábios e depois sussurrou:

—-Você fala alto demais! Espantou todos eles.

Sasuke levantou os olhos e encarou a calmaria que rodeava a “armadilha”. Sequer uma abelha voava por ali.

—-É, vocês estavam se saindo bem.

Yusuke abriu a boca para retrucar, mas antes que o menino pudesse falar algo, Sasuke empunhou uma kunai e moveu a cabeça para que ambos os seguissem. Uma vozinha sádica surgiu na mente do moreno; o Uchiha se sentiu tentado a chutar a “armadilha” e vê-la desmoronar, mas abandonou a ideia. Os garotos se entreolharam quando viram o homem pegar gravetos do chão. 

Em poucos minutos, a armadilha de Sasuke estava pronta. Em menos de dez minutos, um coelho selvagem se aproximou. Daria uma bela refeição. O narizinho do animal pulsava e apesar da desconfiança, o peludinho se aproximou para conferir a isca. A armadilha foi acionada e o bichinho ficou de cabeça para baixo, esperneando com uma das patas presa.  Presenciar o desespero do coelho fez com que Yusuke engolisse a seco e que Akira desviasse o olhar. Sem dizer nada, Sasuke ofereceu a kunai para os meninos. O mais velho dos dois respirou fundo e pegou a arma que parecia pesar toneladas. Ao perceber a palidez de Akira, Sasuke pegou a kunai de volta devagar. Yusuke corou e olhou para os próprios pés. 

    --Você nunca deve ter vergonha por não querer matar.--Disse Sasuke, olhando para a kunai em sua mão.--Apenas os desprezíveis sentem prazer nisso. 

—-Mas… a gente precisa comer.--Murmurou Yusuke e Sasuke assentiu.

—-Mas mesmo que seja por necessidade, é preciso fazê-lo com dignidade e respeito.

Dito isso, Sasuke foi até o coelho e pôs fim ao sofrimento com um golpe limpo e fatal. A solenidade das ações do moreno era hipnótica e os meninos acompanharam tudo, aprendendo a reverenciar a caça que fortalece o caçador. Depois, quando já saboreavam a carne, Yusuke olhou pra o moreno. O Uchiha também comia com os olhos fixos na fogueira. “Quero ser como ele”, pensou. 

Quatro dias se passaram e foi quando os três viajantes encontraram o último vilarejo antes de Okagure. O lugar não diferia dos demais povoamentos que Sasuke visitou. Quando entraram na vila, o moreno se virou para os meninos:

—-Buscarei informações. Se quiserem podem vir, se não, nos encontramos aqui em quatro horas. 

Os meninos assentiram e antes que Sasuke pudesse falar mais alguma coisa, ambos deram as costas e saíram perambulando. Perceber a curiosidade dos garotos o moreno se perguntou que tipo de infância eles tiveram em Okagure já que não havia nada de interesse no vilarejo em que estavam. Antes que divagasse mais, o Uchiha puxou o capuz do casaco, ocultando o rosto. O homem entrou no primeiro boteco que encontrou. Pela sua experiência, tavernas e botequins eram os melhores lugares para conseguir informações. Bastava sentar, esperar e manter os ouvidos atentos. O resto era só deixar com o álcool... 

Sasuke bebericava sua segunda cerveja quando os bêbados começaram a soltar a língua. O moreno revirou os olhos ao ouvir um velho falar sobre prostitutas. Essa era a parte ruim; ter que escutar baboseiras. 

—-Ei, Shinji!--Gritou um dos ébrios, se dirigindo para o colega.--Você viu as putas novas da Akame?--A pergunta saiu arrastada, como se as palavras derretessem em sua língua. Antes mesmo que o tal Shinji pudesse responder, ele continuou.--São gos-gostosas demais!

—-São mesmo!--Exclamou um terceiro homem, que ainda conseguia se manter em pé.--São carne fresquinha de Okagure. Essas “santinhas” são tudo de bom!

A gargalhada do homem incentivou outras risadas tão ou mais grotescas. Sasuke se empertigou ao ouvir o nome da vila e tratou de prestar atenção na conversa.

—-Eu que não fodo aquelas mulheres amaldiçoadas!--Gritou Shinji em um ímpeto.--Okagure é terra maldita e tudo o que vem de lá também é.--O homem se desgrudou do balcão como se móvel estivesse em chamas. 

Os demais tiraram sarro de Shinji e ele ficou ainda mais vermelho,  só que agora era por causa da raiva. 

—-Quero ver, quero ver vocês rirem quando o kage deles vier e destruir… tudo!

As gargalhadas dos homens aumentaram, assim como a raiva de Shinji e o desconforto de Sasuke. O moreno esperou que o bêbado continuasse, mas o ébrio estava indignado demais para continuar. Determinado a não continuar a ser motivo de chacota, Shinji  jogou algumas moedas no balcão e saiu resmungando do bar. 

Sasuke o encontrou em uma viela próxima, vomitando. O moreno esperou que Shinji se recuperasse e disse:

—-O que quis dizer no bar?

Shinji revirou os olhos e por conta do desequilíbrio da embriaguez, teve que apoiar uma das mãos na parede.

—-Se for pra você rir de mim, é melh-

—-Tenho cara de quem quer ouvir piada?--Retrucou Sasuke, se aproximando de forma ameaçadora.

Shinji arregalou os olhos e engoliu a seco.

—-Prossiga.--Sasuke ordenou com um tom de voz baixo.

    --Sobre as putas amaldiçoadas…?--A fala de Shinji foi morrendo quando o homem percebeu o olhar de Sasuke se estreitar sobre si.--Não sei muito. Mas o kage deles é louco, quer guerra e sangue. 

    --Como sabe?--Sasuke segurou Shinji pela gola da roupa puída.

    Shinji engasgou com a própria saliva e para tentar se expressar enquanto tossia, moveu a cabeça freneticamente.

    --Todo mundo sabe! To-Todo mundo fala.--Quando se livrou do desconforto na garganta.--Se não acredita em mim, pode ir lá como que Okagure é! 

    Sasuke sabia reconhecer o cheiro do medo, da covardia e da mentira. Apesar de saber que Shinji era um covarde e medroso, o moreno sabia que ele não estava mentindo. O Uchiha soltou o homem subitamente e sem dizer nada, deu as costas e saiu do beco. O homem estava atordoado com o que ouvira, mas seguiu andando até o ponto de encontro que combinou com os meninos. Enquanto se aproximava, o ninja percebeu uma aglomeração próxima. Ele não prendeu sua atenção nas pessoas e os ignoraria facilmente se não tivesse escutado seu sobrenome ser citado. Estacou sua caminhada e virou-se quando escutou:

—-Sim, o ultimo Uchiha!--Sasuke arregalou os olhos ao ver Yusuke sobre os ombros de Akira.

Yusuke tinha a coluna ereta, o peito aberto e gesticulava como um político. As pessoas ao redor não desviavam o olhar do menino. Para continuar seus discurso, o menino estufou o peito e franziu o cenho, atribuindo gravidade a sua fala.

—-O herói da vila da folha, o ex-nukenin cheio de ódio vai destroçar o Okage assim como fez com Itachi Uchiha!

Os olhos arregalados de Sasuke deram espaço para uma carranca e narinas infladas. O cenho do moreno se franziu, lançando sombras sobre os seus olhos e seus lábios formaram uma linha rígida, Como que para deixar o Uchiha ainda mais furioso, as pessoas ao redor vibraram, empolgadas com a possibilidade de paz, mesmo que por carnificina. Yusuke sorriu para a aglomeração e antes que ele abrisse a boca, o homem avançou pela multidão, sem se importar com as reclamações e xingamentos. os garotos não se amedrontaram em vê-lo, mas seus sorrisos morreram quando ouviram o ninja falar:  

—-Vamos embora.

Akira hesitou, olhando para as pessoas e antes que Yusuke retrucasse, Sasuke exclamou:

—-Agora!--A voz de Sasuke soou como um trovão, fazendo a multidão emudecer.

O clima entre os três continuou pesado mesmo após horas de viagem. Para os dois garotos, parecia que Sasuke os punia, mas o próprio moreno não se dava  conta do desgaste da caminhada que faziam. As coisas ditas pelo bêbado martelavam na cabeça do Uchiha. Quando enfim silenciava as falas de Shinji, as de Yusuke ocupavam seus pensamentos, O homem passou a mão no rosto tentando se livrar dos fantasmas do passado e para se preparar para os demônios que enfrentaria em um futuro próximo. Quando o solado dos pés do ninja começaram a arder, ele decidiu que estava na hora descançar. 

Enquanto Sasuke ogava alguns gravetos na fogueira  que fizera, as chamas lançavam sombras que deixavam as feições do moreno taciturnas. Yusuke e Akira se entreolharam. Como se Akira pudesse ler os pensamentos do mais novo, o mais velho maneou cabeça, negando. Em seguida, movimentou os dedos de forma incisiva. O outro revirou os olhos e também usou as mãos para responder o amigo. O Uchiha estava alheio à interação dos garotos, mas foi puxado dos seus pensamentos quando escutou:

—-A gente tem que bolar um plano.--Sasuke arqueou uma das sobrancelhas, como se Yusuke tivesse falado em outro idioma.--Para resgatar Okagure…

—-Por que falou aquelas coisas?--Sasuke disparou, tendo que destencionar o maxilar para falar.

Ao ouvir o tom de voz de Sasuke, o sorrisinho de Yusuke morreu. 

—-Eu… estava chamando as pessoas para a resistência.--Sob o olhar descrente de Sasuke, a voz de Yusuke foi morrendo aos poucos.

Sasuke bateu a palma da mão direita contra sua própria coxa e soltou um riso irônico.

—-Poxa, verdade, né?! A “resistência” que até o momento só tem nós três. Conseguiu novos camaradas?

O embaraçamento inicial de Yusuke evaporou diante da afronta de Sasuke.

—-Quem você pensa que é?!--Retrucou Yusuke, levantando-se do chão. 

—-Por que você não me diz quem eu sou?--Sasuke falou em um tom de voz mais comedido, mas não menos irônico.--Você me conhece muito, não é? Não sou o vingador? O assassino de irmãos? O último Uchiha?--A cada indagação acusatória, o rosto do moreno se contorcia.--Você, seu moleque, não sabe nada sobre mim.--Sasuke passou a mão no rosto.

—-Eu não sou um moleque!--Yusuke gritou; como se sua maturidade só pudesse ser comprovada com oitavas mais altas.

—-Ah, é sim! Você se agarra a esse sonho bobo de salvação… Eu juro que nem por um segundo eu pensei em Okagure. 

Yusuke se encolheu, como se tivesse sido golpeado e Sasuke mordeu a língua ao escutar o menino fungar. Antes que o moreno pudesse falar algo, o garoto gritou;

—-Por isso que você é o ultimo Uchiha idiota!--Até o final da frase, a voz de de Yusuke variou de um tom indignado e forte para um tom agudo e choroso. 

Logo depois, Yusuke se virou, deu as costas e marchou para longe. Sasuke acompanhou a silhueta desaparecer. Não demorou para que a escuridão o engolisse. Em seguida, Akira se levantou e apesar dos olhos indiferentes, os seus lábios formavam uma linha rígida. O garoto moveu as mãos e o homem tinha certeza de que estava sendo xingado e pior, também sabia que merecia. Não tardou para que Akira seguisse os passos de Yusuke e deixasse o Uchiha para trás. O ninja ficou alguns minutos sentados, encarando a escuridão. Ele suspirou, tentando se livrar do bolo que assomava sua garganta. Sem sucesso, decidiu ir se deitar. Eles voltariam. 

Quando o sol raiou, Sasuke permaneceu deitado mesmo que qualquer resquício de sono tivesse evaporado. Ensaiou alguns pedidos de desculpas e escolheu o script no qual ele soava menos patético. Quando saiu, o moreno pigarreou alto para chamar a atenção dos meninos. O moreno estranhou o silêncio que se sucedeu, levantou o olhar e passou a mão no rosto. Estava sozinho. O Uchiha sentou-se e aguardou pelo retorno deles pelas próximas quatro horas. Primeiro, tentou ser otimista, o máximo que conseguia ser, e repetiu para si mesmo que eles tinham ido caçar. Depois, uma linha de pensamento mais realista fez com que o Uchiha concluísse o óbvio: os meninos haviam partido.

Quando retomou a viagem para Okagure, não tardou para que Sasuke achasse o silêncio ensurdecedor. Tinha se acostumado tão rápido com a barulheira dos meninos que agora parecia que algo não estava certo. De certo modo, a presença barulhenta e infantil dos garotos o fazia se lembrar de Sarada. Apesar da morena ser diferente de Yusuke em vários aspectos, alguns detalhes eram semelhantes, tais como a teimosia e infelizmente… a cara de choro.

Apesar da angústia que sentia, Sasuke conseguiu enterrar a sensação para longe. Afinal de contas, o moreno era um ninja e o objetivo da missão era a prioridade. A cada passo dado na direção de Okagure o moreno prestava cada vez mais atenção ao seu redor. Logo percebeu que o silêncio ficava cada vez mais denso, quase opressor. O curioso era que apesar do silêncio ser enervante, o Uchiha não ousava quebrá-lo, temendo romper uma linha tênue de equilíbrio.

O coração de Sasuke pareceu falhar quando o moreno viu enfim as muralhas de Okagure. O Uchiha observou longamente e apesar do alívio que sentiu, não pôde deixar de estranhar que não havia guardas ou ninjas nas torres de vigia. O homem franziu o cenho e aguçou sua audição. Não havia ruído de transportes ou o burburinho das pessoas. Nada. Okagure era a nascente daquele silêncio sepulcral que transbordava por quilômetros como se fosse uma névoa tóxica. Todo aquele contexto formavam um convite velado, atiçavam uma curiosidade suicida. Era como uma luz que hipnotiza as moscas para serem tostadas. Os pêlos da nuca do ninja se eriçavam, mas ele ignorou e seguiu em frente.