Quando Sarada acordou, Sasuke a chamou para uma caminhada sem sentido, destino ou justificativa. 

—-Agora é a hora da bronca?--Sarada questionou baixinho e Sasuke franziu o cenho. Tanta coisa aconteceu que o moreno sequer se lembrava que tinha que dar uma bronca na morena.

—-Não.--Sasuke disse, mas logo emendou.--Não ainda, em casa vemos isso. 

—-Nós já vamos pra casa, né?

—-Sim, minha perna está melhor. Mas… você sabe que as coisas serão um pouco diferente agora, não é?--Sasuke disse pausadamente, acompanhando a expressão de Sarada.

Os olhos de Sarada se arregalaram por alguns instantes antes da morena camuflar sua surpresa com uma expressão neutra. Em seguida a Uchiha soltou um simples “Hm”. Sasuke soltou o ar pelo nariz; aquela palavra monossilábica já lhe era conhecida.

—-É só isso?--Sarada olhou para Sasuke com o cenho franzido.--Só “Hm”?

—-Ué, o que mais eu devo dizer?--Sarada deu de ombros, encarando as pedrinhas do chão.

—-Assim até parece que você não está feliz em rever sua mãe.--Sasuke arriscou e viu Sarada empalidecer.

—-O que você quer dizer?-Sarada disparou e logo depois mordeu o lábio inferior.--Não! Não é isso.

Sasuke se colocou diante de Sarada e a morena desviou o olhar.

—-Vamos, me conte o que há.--Sasuke passou a mão na cabeça de Sarada.

Sarada passou uma das mãos pelos braços e começou a balançar a perna direita.

—-É que… É estranho!--Sarada decretou, cruzando os braços.--O jeito que ela me olha, pai! É tão, parece que ela me conhece e-eu sei que isso é óbvio por que ela é minha, minha…

—-Sua…?--Sasuke instigou, arqueando uma das sobrancelhas. 

—-Argh!--Sarada passou uma das mãos no rosto.--Tá me entendendo?

Como resposta, Sasuke negou lentamente com a cabeça. Sarada respirou fundo algumas vezes antes de dizer:

—-Ela é uma desconhecida para mim.--Após falar Sarada cobriu os olhos com as mãos e quando percebeu que Sasuke não falaria nada, a menina tirou as mãos do rosto.--Ela me olha com tanto amor e eu não consigo, eu não entendo como fazer isso. Fomos só você e eu por tanto tempo, Papa.--Sarada fungou.--Eu não sei como retribuir o carinho dela. E se eu nunca…?

Sasuke a puxou para perto e sentiu Sarada soluçar contra si, deixando o chorar correr solto. Quando percebeu a respiração da morena se acalmar o moreno a afastou com candura. O Uchiha observou o rosto vermelho e inchado da menina.

—-Sarada, está tudo bem. Eu sei como é difícil expressar esses sentimentos. Sei por conta própria.--Sasuke lhe endereçou um sorriso mínimo.--A sua mãe se esforçou muito mais do que eu mereço para que eu reaprendesse a amar. 

—-Tem alguma dica para mim?--Sarada murmurou, passando as costas das mãos no rosto para se livrar das lágrimas.

—-Tente não afastá-la. Você não precisa dizer que a ama, abraçá-la e a encher de beijos. Nem Sakura espera por isso.-- Sasuke fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado.--O amor é uma escolha e vocÊ pode escolher estar aberta a conhecer sua mãe, filha. 

Sarada o encarou durante alguns segundos e por fim, concordou com a cabeça.

—-Mas… e se ela decidir que não gosta de mim agora? A última vez que ela me viu eu era um bebê!--Sarada franziu o cenho quando viu Sasuke rir da sua preocupação.--Ah, Papa! Não ri!

—-Sarada, todo o sacrifício que sua mãe fez foi por amor. Entenda: não tem como deixarmos de amar você.--Sasuke apertou levemente uma das bochechas da filha.

—-Então, por amor, eu consigo me livrar do castigo?--Sarada abriu um sorriso grande e Sasuke arqueou uma das sobrancelhas. 

—-O que você acha?--Sasuke retrucou e Sarada deu de ombros. 

Quando estavam voltando, Sasuke pousou a mão no ombro de Sarada e pousou o dedo indicador sob os lábios, pedindo silêncio. A morena obedeceu e os olhos do moreno correram pela floresta ao redor de ambos. O Uchiha estava com a sua visão fixa a noroeste, de onde sentia a aproximação de ninjas que sequer ocultavam o chakra. Dez metros, cinco metros… e enfim, os ninjas Anbus se revelaram em meio a vegetação. Um dos ninjas mascarados se pronunciou:

—-Sasuke Uchiha. Somos o esquadrão de ajuda humanitária designado para Okagure.-- Em resposta, Sasuke os cumprimentou com um breve aceno de cabeça.--O Hokage lhe endereçou um comunicado.-- O ninja estendeu um pergaminho para o moreno.--Ele pediu para que retornem a vila; nós assumimos daqui em diante.

Antes que Sasuke pudesse responder algo, o esquadrão deu as costas e caminhou em direção à vila. 

—-Nossa, eles são fodões…--Sasuke escutou Sarada murmurar.

Sasuke até mesmo pensou em repreender Sarada pelo palavrão dito, mas o moreno estava ocupado lendo o pergaminho. A péssima caligrafia de Naruto comunicava “Você não poderia ter sido um pouco mais discreto, Teme? O bom é que deu tudo certo no final (menos para o Okage). Venham para casa.”

Quando Sakura avistou Sasuke e Sarada retornando da caminhada, Sakura sorriu e disse: 

—-A equipe humanitária chegou!-- Sasuke assentiu.--Pela posição do Sol acho que podemos viajar ainda hoje após um banho decente. Eu encontrei um riacho próximo. 

—-Um banho seria ótimo!--Sarada exclamou pegando algumas mechas de cabelo e olhando as pontas duplas. 

—-Podem ir primeiro.--Sasuke disse virando-se em direção à fogueira.--Vou apagar a fogueira e ficar de olho no perímetro. 

—-Venha, eu te mostro onde fica.--Sakura percebeu que Sarada encolheu os ombros, mas logo abandonou a hesitação e caminhou para o lado da rosada. 

Ambas caminharam devagar e o silêncio não era absoluto apenas porque os passos das Uchihas rompiam folhas e galhos secos. Secretamente ambas suspiraram ao ver o riacho. Sarada se abaixou para retirar suas sandálias e quando acabou, endereçou um olhar intenso para a mulher. A médica se empertigou e disse em um rompante:

—-Ah! E-eu… vou te dar privacidade!

Sakura se afastou consideravelmente e subiu até o topo de uma árvore. De lá a rosada conseguiu ver Sarada encolhida, avançando devagar nas águas frias. “É melhor entrar de uma vez, filha” a mulher pensou, segurando o riso. Como se tivesse ouvido os pensamentos da mãe, a morena mergulhou de vez. 

Quando deu por si, Sakura estava sorrindo, lembrando dos primeiros banhos de Sarada. Se recordou de toda a preocupação que sentia em relação à temperatura da água, do zelo que tinha para segurar seu corpinho rechonchudo e como dedicava toda a sua atenção para não deixar a água entrar nos ouvidos da pequena. Agora o bebê estava crescido, afundando e emergindo como um peixe, sacudindo a cabeça para se livrar das gotas na orelha.

Totalmente independente. 

Sakura só se deu conta de que adormeceu quando escutou a voz de Sarada a chamar. A rosada desencostou as costas da árvore e mesmo que os olhos pesassem, avistou a menina ao pé da árvore. A mulher saltou do galho e pousou no chão como se a gravidade fosse uma gentileza, não uma força.

—-É uma pena que você tenha que vestir as mesmas roupas.--Sakura comentou ao analisar Sarada.

Sarada olhou para si mesma, observando as vestes sujas e rasgadas em algumas partes. Por fim a morena deu de ombros e disse:

—-Eu… gostaria de pedir um favor.--Sarada desviou o olhar para o musgo que esparramava pelo tronco. Os poucos segundos de silêncio de Sakura foram mal interpretados.--Só se não for te atrapalhar! Não sei…

Um tiquinho do nervosismo de Sarada diminuiu quando a morena viu Sakura sorrir.

—-Pode falar.--Sakura tombou a cabeça para o lado.--Asseguro que eu não tenho muito o que fazer por aqui.

Sarada lhe devolveu um esboço de sorriso.

—-É que eu preciso de ajuda para desembaraçar meu cabelo.--Sarada passou uma das mãos sentindo os nós entre seus dedos.--O papai geralmente faz isso, mas dói um pouquinho. Você…

—-Posso sim!--Sakura sorriu até seus olhos verdes se comprimirem, sorrindo também.   

Sakura olhou ao redor e disse quando avistou uma rocha mediana próxima.

—-Senta ali.

Sarada obedeceu e não tardou para que Sakura começasse a passar os dedos pelo cabelo da morena. Os dedos passavam pelos fios como uma musicista tocando harpa. Quando encontrava um nó ou outro, a rosada o desmanchava devagar com uma precisão cirúrgica. A menina se manteve calada enquanto a Uchiha a penteava, focada em sentir as mãos da mulher na sua cabeça, quase como um afago. Era Sasuke quem cuidava do seu cabelo desde...  sempre e isso justificava o corte de cabelo prático e funcional da mais nova. Apesar da atenção e vontade, o moreno não levava muito jeito, o que rendia em algumas reclamações da filha. Ela suspirou e fechou os olhos apreciando o toque.

De agora em diante Sasuke estava demitido do seu cargo de penteadeiro. 

—-Prontinho!--Sakura exclamou depois de alguns minutos, afastando as mãos.

Sarada abriu os olhos devagar, achando que Sakura poderia ter passado mais tempo ali.

—-Agora é a minha vez de tomar banho.--Sakura moveu a cabeça, alongando o pescoço.--Você sabe voltar até Sasuke sozinha?

—-Consigo, mas… posso ficar aqui?--A frase fez Sakura arregalar os olhos.

—-Claro!--Sakura sorriu e se dirigiu até a margem do lago.

Sarada permaneceu sentada na pedra e dalí pôde observar Sakura entrar no riacho, ou melhor, pôde enxergar as cicatrizes que salpicavam as costas da rosada como constelações. 

—-Você tem muitas cicatrizes.--Após dizer, Sarada mordeu a própria língua propositalmente.--Quer dizer… assim como Papa. Coisa de ninja, né?

Sakura mergulhou mais, deixando apenas a cabeça de fora e virou-se para Sarada.

—-Sim, coisa de ninja mesmo…--Sakura murmurou, lançando o olhar para o céu.

—-Acho que deve ser por isso que o Papa não quer que eu vá para a Academia Ninja. Por conta das cicatrizes.

—-Ah, mas até civis podem ter cicatrizes, ué.--Enquanto lavava o rosto, Sakura escutou um “Pois é” de Sarada.

—-Vou interceder por você e te contar contar um segredo.--Sakura passou a mãos pelos cabelos.-- Sasuke fica muito mais maleável depois de uma sopa de tomate bem temperada.

Sarada arregalou os olhos com a informação valiosa que acabara de receber e endereçou um sorriso para Sakura. A rosada devolveu o sorriso e fez questão de tentar decorar cada detalhe do rosto alegre da menina.

Poucas horas depois a família Uchiha já estava pronta para seguir viagem para Konoha.  

—-Antes de ir eu gostaria de fazer uma coisa.--Sasuke disse e diante do beicinho indignado de Sarada, o moreno continuou.--Serei breve. 

—-Você tem meia hora.--Sakura decretou e Sasuke assentiu antes de desaparecer em um vórtice. 

Quando Sasuke abriu os olhos, estava no centro de Okagure, diante do templo maldito. O moreno olhou ao seu redor e apesar da destruição ser visível, o silêncio opressor deu espaço para uma brisa morna e preguiçosa. 

—-Com licença.--Sasuke disse ao se aproximar de um aldeão.--Gostaria de encontrar Yusuke e Akira, sabe onde eles estão?

Sasuke não se surpreendeu quando o civil lhe disse que os meninos estavam no templo xintoísta. O moreno lembrava-se do caminho e admirou-se ao ver uma aglomeração no edifício, que pelo visto, servia como sede administrativa. Algumas pessoas conversavam, outras distribuiam alimentos para uma fila, outros saiam e entravam com ferramentas e materiais de construção. O lugar borbulhava em uma energia de renovação.

Sasuke viu Yusuke e Akira carregando alguns tijolos; estavam suados e determinados. O mais velho arregalou os olhos ao ver o moreno e cutucou o moreno. 

Yusuke franziu o cenho ao ver Sasuke e o moreno começou a se aproximar. Uma voz masculina e irritada chamou os meninos e Akira pegou as madeiras do amigo, assentiu para Sasuke e continuou seu trajeto. 

Sasuke e Yusuke permaneceram calados durante alguns segundos até que o moreno dissesse:

—-Partirei para Konoha, mas antes gostaria de pedir te pedir desculpas.

Yusuke suspirou e deu de ombros.

—-Tudo certo, Sasuke-sama. Depois eu entendi que eu não tinha o direito de falar aquilo.  

—-Sabe, em Konoha você pode ingressar em uma Academia Ninja...

—-Bha, ser o seu discípulo foi legal, mas acho que precisam mais de mim por aqui.--Yusuke sorriu olhando ao redor, orgulhoso por ver seu povo livre do Okage.-- Te escrevo uma carta quando tudo melhorar.

—-Estarei esperando.

Ambos se despediram com um sorriso e em menos de meia hora, Sasuke já estava de volta com sua família. Enquanto partiam, nenhum dos Uchihas sequer olhou para trás. Sakura tinha que conter a vontade que tinha de correr, de se distanciar o mais rápido que conseguisse, até as suas pernas arderem. Entretanto, a rosada se limitou a colocar um pé diante do outro e aquele ritmo cadenciado pareceu ser o suficiente, enfim. Enquanto caminhava, a mão da Uchiha roçava levemente na de Sasuke, o que causava cócegas em ambos. Além disso, era quase terapêutico acompanhar o trotar energético de Sarada.

Vez ou outra Sarada corria alguns metros adiante e se abaixava para observar ou apanhar algo que considerou interessante na beirada da estrada. Porém com o passar das horas a empolgação da  morena e a ansiedade de Sakura deram espaço para o mesmo sentimento: cansaço. 

—-Está cansada, Sarada?--Sakura perguntou rompendo o coro de grilos que começou há pouco.

Em resposta, Sarada manejou a cabeça em um gesto displicente. 

—-Melhor buscarmos um lugar.--Sasuke comentou olhando ao redor.

Sarada se espreguiçou e virou-se para os pais em um rompante:

—-Espera! Estamos caminhando em qual sentido?--Sarada perguntou olhando para os lados, como se pudesse ter uma placa por perto.

—-Noroeste.--Sakura respondeu e Sarada sorriu.--Mas o que isso t-

—-Eu sei onde podemos passar a noite!--Sarada fez uma dancinha de comemoração com os ombros.--Nós estamos caminhando há cinco horas…--A frase da morena saiu com a entonação de uma dúvida e a menina voltou a sorrir quando Sasuke assentiu, confirmando a suposição da Uchiha.-- Ah, então estamos perto!

—-Perto do que?--Sakura perguntou juntando os cabelos em um coque frouxo.

—-De Takon.--Sarada colocou uma mecha atrás da orelha.--Eu… enquanto eu vinha eu encontrei algumas pessoas de lá, pessoas beeem legais.--A morena estendeu a entonação da penúltima palavra ao ver Sasuke arquear uma sobrancelha.--Eu tive que fugir deles, mas sério, eles foram muito legais e eu só gostaria que soubessem que eu estou bem.

Sakura e Sasuke se entreolharam durante alguns segundos, em um diálogo de pura telecinese. Por fim a rosada anunciou o consenso do casal:

—-Certo, podemos ir.--Sarada sorriu e antes que a morena pudesse falar algo, Sakura prosseguiu.--Mas você sabe ir até lá?

—-Claro! Mais uma hora e estaremos lá. Me sigam!--Sarada colocou a mão na cintura e virou-se voltando a caminhar.

E a “uma hora de trajeto” facilmente tornou-se duas. Quando Sasuke bufou pela segunda vez, Sakura sabia que não seria prudente esperar por uma terceira bufada, Quando a rosada cogitou dizer algo, Sarada comunicou solenemente:

—-Chegamos.

Sakura percebeu as casinhas rústicas despontando uma a uma e o casal se deixou ser guiado por mais dez minutos pelas ruas de terra. Os Uchihas pararam diante de uma casa de paredes branquinhas e sem cerimônia, Sarada bateu contra a porta de madeira.

Depois, Sarada voltou para o lado dos pais e passou a mão pelo cabelo. Não tardou para que a porta se abrisse e Akane os encarasse, Ao fitar o casal, a mulher franziu o cenho, vasculhando a mente atrás de alguma lembrança. Porém quando ela olhou a morena, seus olhos se arregalaram e ela pousou as mãos sobre os lábios.

—-Er… oi!--Sarada acenou, endereçando um esboço de sorriso constrangido para Akane,

Recuperada do susto Akane foi em direção de Sarada e a abraçou com força contra si, fazendo a morena desaparecer no kimono que vestia. A mulher então virou-se para a casa, fazendo com que a menina quase tropeçasse. 

—-Tio!--Akane gritou, sorrindo.--Vem logo, vem ver quem tá aqui! On-onde você esteve, menina?

Aproveitando que Akane a libertou um pouco, Sarada se afastou e tomou fôlego para falar:

—-Akane-san, eu gostaria de apresentar os meus pais.

Akane voltou a olhar para o casal e o rosto da mulher se tingiu em um tom rosado.

—-Oh, prazer em conhecê-los! Meu nome é Matsura Akane.--A mulher fez uma mesura breve.

—-Sakura e Sasuke Uchiha.--Sakura se pronunciou enquanto sorria.

—-Sarada realmente comentou que estava em busca de vocês. Venha, venham podem entrar.

Antes que o casal pudesse protestar ou até mesmo concordar, Akane trotou para dentro de casa puxando Sarada consigo. Lá dentro houve o reencontro com o tio de Akane, que apesar de não ter reagido com a mesma euforia que a sobrinha, também apreciou a visita surpresa. 

Não tardou para que a família fosse convidada para jantar uma comida simples e saborosa. 

—-Nossa, a comida está maravilhosa!--Sakura exclamou.

Sarada fez um joinha com a mão, concentrada demais no próprio prato para desperdiçar tempo com palavras. Ao lado de Sakura, Sasuke assentiu com a cabeça.

—-Que bom que gostaram.--Akane respondeu sorrindo.

Sasuke pigarreou, atraindo a atenção de todos da mesa.

—-Agradeço por terem acolhido e cuidado da minha filha.--Sasuke proferiu a fala com solenidade.--Como conheço a personalidade dela, espero que Sarada não tenha dado muito trabalho.--O moreno olhou de soslaio para Sarada que lançou um esboço de sorriso sapeca.

—-Oh, não, não…--Akane se pronunciou manejando a mão direita, como se o assunto não tivesse importância.

—-Não verdade ela deu um trabalhinho sim.--Decretou Matsu, interrompendo a fala da sobrinha.

—-Tio!--Akane ficou vermelha e enterrou o rosto na palma das mãos.

Ao ouvir aquilo Sarada até mesmo engasgou e bebeu todo o seu suco em uma golada só. O silêncio que se seguiu foi quebrado por Sasuke, com uma fala que fez a morena suar frio.

—-Interessante. Fale mais.

Matsu trocou olhares com todos da mesa antes de falar novamente, coçando a cabeça:

—-Sarada é uma boa menina, mas essa história chegou toda atravessada e eu ainda não entendi nada.

Sasuke assentiu, digerindo as palavras. O moreno não voltou a olhar para Sarada e a morena não sabia dizer se isso era bom ou ruim.

—-Então que tal elucidarmos tudo?--Sakura sugeriu com um sorriso amarelo.--O que exatamente Sarada contou pra vocês?

Sarada se encolheu na cadeira, desejando poder evaporar daquele cômodo.

—-Eu adoraria que vocês, oh adultos, parassem de falar de mim como se não estivesse aqui. Ótimo, agora como eu tenho a atenção de todos, vou falar o que aconteceu.--Sarada ficou de pé.--Eu não sou de Okagure, sou de Konoha, mas acho que vocês já suspeitavam disso…--Akane confirmou com a cabeça.--Mas contei a verdade quando disse que estava em busca dos meus pais.--A morena apontou para o casal para ser o mais didática possível.--E também falei uma meia-verdade…--A menina fez uma careta.

—-Meia-verdade? Sobre a sua madrinha?--Akane perguntou com o cenho franzido.

—-É, é verdade que eu fugi da minha madrinha, mas eu menti sobre o motivo.--Sarada encolheu a cabeça entre os seus ombros e esperou que não precisasse entrar em detalhes.

—-Sua madrinha não te maltratava.--Matsu decretou.--Conhecemos Tsunade-san e realmente parecia uma mentira.

Antes de Sarada pudesse responder algo, Sakura espalmou as mãos contra a mesa com força, fazendo os objetos tilintar.

—-Sarada!--Sakura exclamou.

—-Ei, ei! Eu sei que mentir não é legal, mas… mas pensem pelo meu lado, gente!--Sarada pousou as mãos no peito.--Eu estava assustada e não conhecia vocês direito.--A morena voltou-se para os pais,--E vocês deveriam estar orgulhosos por eu não ser ingênua e confiar na primeira pessoa que aparece. 

Sarada arqueou a sobrancelha, analisando as expressões faciais de todos. Por fim, sentindo-se vitoriosa, a morena suspirou e voltou a sentar-se à mesa. 

—-Certo.--Sasuke suspirou. --Vocês sabem falar onde fica a pousada da vila?

—-Takon não é tão grande assim, meu jovem.--Matsu se pronunciou antes de soltar uma risada.--Não temos uma pousada, mas vocês podem passar a noite aqui conosco.

—-Seria abus-

—-Seria perfeito!--Sakura interrompeu dando um leve chute em Sasuke por debaixo da mesa.--Muito obrigada.

Após o jantar, Akane improvisou uma cama na sala com inúmeros cobertores para que a família pudesse se aconchegar. Quando estava tudo pronto, a anfitriã falou:

—-Sei que não é o ideal, mas acho que serve, né?

—-Está ótimo, Akane-san.--Sarada disse depois de se jogar no amontoado de travesseiros e cobertas no chão.

A maciez da “cama” era mais do que perfeita para a família que, até o momento, dormia ao relento. Apesar de sentir o corpo relaxar, a mente de Sarada continuava ativa. A morena se remexia de um lado para o outro, e como estava entre Sasuke e Sakura, ora ficava de frente para o moreno, ora cara a cara com a rosada.

Enfim, Sarada perguntou:

—-Vocês estão dormindo?

—-Não.--Sasuke murmurou, ainda de olhos fechados.

—-Está sem sono?--Sakura perguntou e Sarada sentiu os dedos da rosada no seu cabelo.

—-É que eu esqueci de contar uma coisa…

Sasuke então abriu um dos olhos, encarando Sarada. A morena aproximou o rosto da face do moreno e disse:

—-Papa, o meu sharingan despertou.

Ao escutar aquilo Sasuke levantou a cabeça rapidamente, encarando Sarada com os olhos arregalados.

—-Quando?!--Sakura perguntou com a voz animada. 

—-Há alguns dias…--Sarada murmurou.

—-E como foi?--Sasuke questionou, apoiando a cabeça na mão.

—-Horrível.--Sarada fez uma careta e Sasuke lhe sorriu.--Meus olhos arderam bastante e quando ativou foi tudo tão… intenso. Parecia que eu enxergava tudo, mas não conseguia processar nada. 

Sasuke manejou a cabeça.

—-As primeiras vezes são assim mesmo, depois você se acostuma. Fico feliz que seu sharigan tenha se manifestado.

—-O ruim é que eu não consigo controlar ainda.

—-Eu também não conseguia na sua idade, mas em casa eu te ensino como dominar, copiar jutsus…--No fim da frase, Sasuke bocejou.

—-Para que eu vá para a Academia Ninja?!--Sarada se exaltou, se remexendo na cama.

Sasuke suspirou fundo e fechou os olhos. Durante alguns segundos o moreno sentiu os olhares de Sarada e Sakura sobre si.

—-Vá dormir, Sarada.

Sasuke escutou Sarada bufar e se remexer, mas o moreno se manteve impassível e sem que se desse conta, o Uchiha caiu no sono. Quando o homem acordou, deu de cara com o rosto adormecido da morena. Apesar de saber que deveriam se levantar e seguir viagem, o ninja se permitiu ficar ali durante alguns segundos, contemplando o rostinho amassado da menina.

Sasuke sorriu levemente ao ver o rastro de saliva que escorria pelo canto da boca de Sarada. O moreno percebeu uma movimentação atrás de si, mas não se moveu; sabia que não se tratava de um inimigo.

—-Ela tem bruxismo.--Sakura murmurou e Sasuke virou-se de barriga pra cima e olhou para Sakura, assentindo.

Não tardou para que Sasuke se levantasse e depois de se organizarem o casal pousou seus olhares em Sarada que seguia dormindo, mesmo que em um contorcionismo extraordinário. Em uma troca de olhares os Uchihas chegaram à mesma conclusão. O moreno se abaixou e pousou a mão na cabeça da morena.

—-Sarada…--Sasuke sussurrou.--Filha, está na hora de acordar. Nós temos que ir.  

Ao escutar a voz de Sasuke, Sarada foi despertando sem pressa e sem vontade. Com movimento de flexão e alongamento, a morena começou franzindo o cenho e esticou os lábios em um bocejo. Em seguida estendeu os braços, mesmo que as mãos ainda estivessem fechadas em punhos. Enquanto isso, a menina soltou murmúrios ininteligíveis.

Sakura sorriu ao ver Sarada levantar os braços em um pedido que Sasuke logo entendeu. Com gestos delicados, mas firmes, o moreno acomodou a morena contra o seu peito. A cabeça da menina se encostou no ombro do Uchiha e ali, a menina travou uma batalha perdida contra o sono.   

—-É uma pena que tenham que ir tão cedo.-- Akane comentou do batente da porta olhando para Sarada adormecida.

—-É que assim aproveitamos mais o dia.--Sakura disse enquanto terminava de prender o cabelo em um coque desleixado.

—-Vocês podem nos visitar.--A voz de trovão de Matsu ressoou enquanto todos caminhavam para fora da casa.--A primavera aqui é linda.

—-Viremos sim.--Sakura respondeu e então voltou-se para Sarada.--Sarada, dê tchau aos nossos amigos.

Ninguém jamais soube da força hercúlea que Sarada fez para abrir os olhos. 

—-Tchau.--Sarada bocejou.--Akane-san, Matsu-san, obrigada por cuidarem de mim. 

Akane se aproximou e depositou um beijo na mão de Sarada enquanto Matsu afagou sua cabeça. Com as despedidas feitas, a morena não viu mais motivos para manter os olhos abertos. Não tardou para que a família Uchiha começasse a caminhar para longe. Os anfitriões permaneceram olhando os forasteiros se distanciarem, afinal, não havia nada de mais empolgante para se fazer em Takon mesmo.

Akane até mesmo esperou que algum deles parasse de andar, olhasse para trás e desse um último aceno. Porém isso não aconteceu. A mulher não sabia que ninjas já estavam bem acostumados com despedidas.