Criação escrita por AmadoraLL


Capítulo 13
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, pessoal! ♥
Esse capítulo é o mais longo da fanfic, pois é a união de dois capítulos.
Peço para que leiam as notas finais também :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800563/chapter/13

Sakura entrou no templo com passos firmes e olhar ferino atrás da sua presa. Ao seu redor, as paredes pareciam gemer com o agarre das raízes da árvore e fios de poeira despencavam do teto como se fossem goteiras. A rosada se empertigou ao ver, com sua visão periférica, uma sombra se mover. A Uchiha se virou e avançou contra o oponente.

Sakura segurou Zetsu pelo colarinho de suas vestes e o pressionou contra a parede com força, fazendo com que alguns trincos se formassem na superfície. A rosada percebeu que o homem estava abatido. Seu cabelo acinzentado grudava em sua testa por conta do suor de sua tez. Os olhos arregalados estavam envoltos de olheiras, fundos dentro das órbitas.  Os lábios rachados estavam entreabertos, sem fôlego.

—-Desfaça. Agora.--Sakura sibilou e Zetsu teve forças para lhe dirigir um sorriso debochado. 

—-Não dá para desfazer a fé de um devoto, bruxa.

Zetsu deu ênfase à última palavra e olhou para baixo. Sakura o imitou e franziu o cenho ao ver o que havia nas mãos do homem. Nas mãos do oponente havia uma semente de cerca de 20 centímetros. A casca castanha do grão já havia se rompido e uma radícula se erguia orgulhosa. A única coisa fora do comum eram algumas raízes finas que saíam da semente e perfuraram os antebraços dele, causando manchas lilases debaixo da pele.

Sakura se afastou, como se aquilo pudesse ser alguma doença contagiosa. 

—-Mas o qu..

Antes de Sakura pudesse completar a sua indignação, uma mão agarrou o seu calcanhar e a puxou para trás. A rosada caiu de barriga para baixo e sentiu o queixo arder. A Uchiha ignorou o desconforto, se virou e encarou quem a atacou. Do chão uma gosma branca tomava forma humanóide. O que se formou primeiro foi um braço musculoso que terminava em uma mão firme que derrubou a mulher. Com o pé livre, a ninja médica chutou o clone de Zetsu e o oponente voou alguns metros.

Sakura voltou a encarar Zetsu, que parecia estar ainda mais suado, mas a rosada percebeu que alguém se aproximava e virou-se a tempo de aparar um ataque potente do clone. O chute cheio de chakra fez com que a Uchiha deslizasse para trás, mas o que mais chocou a mulher foi perceber que estava lutando contra si mesma. O clone parasita estava idêntico à mulher: os mesmos cabelos rosados, a mesma manchinha de espinha na têmpora e aparentemente, as mesmas habilidades de combate.

Sakura bufou, concentrou chakra em sua testa e desferiu uma cabeçada contra seu clone. A sósia jogou a cabeça para trás com o impacto do golpe e a rosada aproveitou o atordoamento para dar uma rasteira em sua oponente. Caído no chão, o clone arregalou os olhos e rolou para o lado, ação que o salvou de ter sido destroçado por um dos punhos da Uchiha. Sem perder tempo, a cópia se levantou do chão em um pulo e avançou contra a mulher. A sósia uniu os dedos indicadores e médios de ambas as mãos e moldou um bisturi de chakra.

Sakura bufou, sabia o quanto aquele bisturi era afiado e preciso. Tendo isso em mente, a rosada se esquivou como pôde enquanto o clone atacava. Quando desviou-se para a direita, a Uchiha pisou em falso em uma pedra que havia se soltado do chão e apesar de não cair, seu desequilíbrio foi a brecha que a sósia precisava. O bisturi de chakra cortou a barriga da mulher e a ninja fechou os olhos com força para aguentar a dor. Ela viu o sangue começar a minar da ferida, mas lembrou que quando a vida te dá limões, faça uma limonada.

Sakura segurou o braço da sósia com força e sorriu quando escutou o som do osso se quebrando. O rosto impassível do clone se turvou em uma careta e a cópia empurrou a rosada e pulou para longe. A rosada aproveitou o distanciamento para aplicar chakra sobre o corte e se curar. A Uchiha arqueou uma das sobrancelhas ao ver sua sósia fazer o mesmo jutsu de cura e colocar o antebraço no lugar. Quando a mulher sentiu o corte se fechar por completo, ela lançou um sorrisinho ácido para sua oponente antes de falar:

—-Acho que estamos quites, então.

O porém é que a sósia de Sakura não tinha o mesmo bom humor. O clone fez selos com as mãos e a rosada tensionou o maxilar ao ver as linhas pretas se alastrarem pelo corpo da cópia. 

—-Ah não, isso não. --Sakura sibilou e avançou antes que o justu se estabelecesse. 

Há alguns metros de distância da sósia, Sakura gritou seu característico “Shannaro!” e desferiu o Flor de Cerejeira Única. A onda de impacto do golpe destruiu uma pilastra próxima e fez com que a cópia fosse arremessada por alguns metros. O impacto do clone contra o chão foi violento e uma nuvem de poeira se levantou. 

Quando Sakura se aproximou, viu o estrago que seu golpe fez em sua sósia. O clone tinha um corte grande na cabeça que empapava o cabelo com sangue e seu ombro estava em um ângulo bizarro. A rosada engoliu a seco, tentando se livrar do gosto amargo que ficou em sua boca. A Uchiha se aproximou quando viu o corte começar a fechar com uma velocidade impressionante.

—-Últimas palavras?--Sakura perguntou ao segurar a cabeça da sósia entre as mãos. 

Antes que a sósia pudesse responder, Sakura deslocou o pescoço do clone com um movimento preciso e a vida se esvaiu da cópia. A rosada suspirou, vendo os olhos verdes sem vida. A seguir, o cadáver começou a empalidecer até parecer que era feito de giz. A Uchiha franziu o cenho quando o corpo passou a derreter e se distanciou. A mulher virou-se na direção de Zetsu e o encontrou sentado no chão, com as costas apoiadas contra uma parede. O homem só teve forças de virar os olhos para a ninja.

Sakura se ajoelhou ao lado de Zetsu e o homem tentou se distanciar da rosada. Fraco, ele tombou de lado no chão. A Uchiha franziu o cenho ao ver como a semente havia aumentado de tamanho nas mãos dele e como novas radículas se erguiam. A planta se nutria da seiva viva das veias do conselheiro. A mulher olhou para a face dele e lembrou-se de como aquele ser atrapalhou sua vida e envenenou sua reputação. Um homem desprezível. A ninja suspirou e lembrou-se do voto que fez. 

—-Ainda posso tentar te salvar.--Zetsu negou lentamente com a cabeça.--Você vai morrer se eu destruir isso.

Zetsu tentou falar algo, mas apenas conseguia mover os lábios de forma errática. O homem então fechou os olhos e segurou a semente com mais firmeza,  trazendo para perto de si. Sakura suspirou, fechou uma das mãos no grão e usou o chakra para destruir a casca. A semente se partiu em duas e no mesmo segundo o conselheiro teve um espasmo violento antes de morrer. Ao redor, o caos de crescimento da Árvore Divina cessou. A rosada suspirou e olhou para o oponente. Uma morte desprezível para um homem desprezível.

    Sasuke não pôde deixar de dar um sorriso mínimo ao ver a expressão do Okage mudar. Em meio à batalha o homem parou, franziu o cenho e em seguida arregalou os olhos. Como se fosse instintivo, o moreno soube que se tratava de algum feito de Sakura. Para aproveitar a distração do oponente, o Uchiha fez selos de liberação de chamas. No ar, labaredas negras surgiram e com o manejar de Kusanagi, o ninja conseguiu manipular a direção do fogo e guiá-los até o oponente. Preparava outros selos do estilo fogo quando escutou os berros do inimigo. 

Apesar da velocidade, Sasuke não teve tempo de completar os selos do justu. O moreno percebeu que o Okage estava diante de si quando sentiu uma dor aguda no braço direito, seguido de formigamento e dormência. O Uchiha olhou para o oponente e viu as veias que se sobressaltavam ao redor dos olhos castanhos do homem. “Byakugan”, pensou ao fincar Kusanagi no chão e usá-la como apoio a fim de chutar o adversário. O inimigo interceptou o golpe, segurou a perna dele e projetou um osso através da palma da mão; osso que atravessou a carne do ninja. 

Sasuke engoliu o grito que se formou em sua garganta e usou o Rinnegan para se teleportar para longe do Okage. O inimigo sorriu ao ver o moreno tentar apoiar o pé no chão. O moreno o fuzilou com o olhar ao ver o oponente levar o osso projetado até o rosto e lamber o sangue. O Uchiha ignorou a dor e o sangue que empapava sua calça e apoiou o pé no chão. Estava na hora de acabar com aquilo, e de preferência, sem combate corpo-a-corpo. 

Os dois passaram alguns segundos se analisando. O Okage foi quem reiniciou os ataques ao concentrar uma grande quantidade de chakra na mão direita. A energia era tamanha que até mesmo tremulava o ar ao redor, como se fosse escaldante.

Sasuke arregalou os olhos ao perceber um punho de chakra vindo na sua direção. O moreno se envolveu com as costelas do Susanoo, mas a armadura pouco o protegeu do impacto. O Okage gargalhou ao assistir seu oponente ser arremessado para longe.

Sasuke caiu no chão de forma violenta e o Okage se aproximou devagar. 

—-Você tem noção de que nada disso seria necessário se você fosse menos arrogante?--A voz andrógina soou como uma sentença indiferença quando o Okage encarou o rosto pálido e moribundo de Sasuke. 

—-Realmente, muita coisa não teria acontecido se não fosse minha arrogância.

O corpo do Okage tensionou quando ele escutou a voz de Sasuke soar cristalina e principalmente, por não sair dos lábios do moribundo. Antes de ver o corpo derrotado se transformar em uma tronco, o homem se virou e encarou o moreno. 

Sasuke não hesitou em afundar a lâmina eletrizada pelo chidori no peito do Okage. O moreno viu o sangue verter enquanto o oponente tinha espasmos dolorosos. Entretanto, os olhos do inimigo continuavam brilhantes, a reluzir um brilho vingativo.

O Okage então usou seu Rinnegan e novamente Sasuke se viu absorvido para outra dimensão. O moreno logo reconheceu que estavam de volta à Terra, novamente em Okagure. O cabelo do oponente cresceu subitamente e o Uchiha sentiu seus membros serem envolvidos pelos fios, sendo imobilizado.

Sasuke se debateu, mas ao sentir a firmeza dos fios que o prendiam, invocou as chamas amaterasu para se libertar. O Uchiha sentiu alguns fios começarem a estourar com o calor, mas concluiu que aquilo levaria um tempo. O homem rugiu quando sentiu a cabeleira o colocar de ponta de cabeça, mas manteve-se focado em se libertar, principalmente quando viu o inimigo se mover até Sarada.      

    Mesmo de cabeça para baixo, Sasuke viu o rosto de Sarada empalidecer ao ver o Okage cambalear em sua direção. A morena se distanciou o máximo que pôde e apenas parou quando sentiu a quentura das chamas aquecer suas costas. O moreno se debateu ainda mais e sentiu mais fios se romperem quando o Okage atravessou o círculo de fogo como se não fosse nada. 

  --Não tema, minha pequena…--O Okage estendeu os braços na direção de Sarada.

Sarada tinha os olhos arregalados, mas a morena enrijeceu o maxilar. Sem dizer nada, a Uchiha fez selos com as mãos e uma labareda ardente se estendeu na direção do Okage. Assim que as chamas se dissiparam, a menina viu que o oponente continuava intacto. Enquanto isso, Sasuke conseguiu libertar suas mãos e fez dissipar o círculo de fogo.

—-Corra!--Sasuke gritou, mas foi ignorado. 

Sarada franziu o cenho e apesar da tremedeira que assolava suas mãos, tentava se concentrar. “Vamos, sharingan, eu preciso de você agora...” implorava a morena em seus pensamentos. Entretanto, nada aconteceu e o Okage se aproveitou da inércia da menina. O inimigo a segurou pelos braços e a suspendeu até deixá-la na sua altura.

Sasuke conseguia sentir que seus movimentos estavam mais livres e assim, conseguiu levar o dedão até a boca. Enquanto mordia a pele, o moreno não desviava o olhar de Sarada, que esperneava e até mesmo atingiu o Okage com um soco pífio. O Uchiha estendeu o braço o máximo que pôde para alcançar o chão e até mesmo sentiu uma fisgada dolorosa no ombro quando sentiu a terra contra a palma da mão.

Quando Aoda surgiu, não demorou para que a serpente mostrasse as suas presas em um chiado agressivo. O animal não perdeu tempo e avançou contra o Okage, o afastando de Sarada com brutidão. Entretanto, o réptil sentiu que a morena estava desfalecida contra as suas escamas e a olhou. A Uchiha mantinha os olhos abertos, mas a visão não se focava em nada. 

—-Sasuke-sama!--A voz de Aoda se manifestou.--Sarada está sob um genjustu. 

Sasuke soltou um som gutural quase que animalesco ao escutar aquilo. Afinal, o falcão sempre protegeria o seu ninho. Reunindo toda a sua força o moreno conseguiu se desvencilhar do cabelo que o prendia e logo a armadura do Susanoo começou a se formar ao redor do moreno. O Uchiha encarou o Okage com o cenho franzido, os olhos brilhando nas cores violeta e vermelho. As luminosidades projetavam-se de forma quase que demoníaca na face do ninja. O oponente sorriu ao ver o descontrole do ex-nukenin e pouco se importou quando escutou o ordenar para que Aoda levasse Sarada para longe. 

—-Leve-a até Sakura.

—-Terá que me matar para trazê-la de volta.--O Okage viu um sorriso sem humor se desenhar nos lábios de Sasuke.

—-Não subestime a minha esposa. Fora que, para te matar eu não preciso de pretextos.

Aoda não permaneceu para ver como a luta se decorreria. Obediente, a serpente tomou o caminho oposto em uma velocidade impressionante, fazendo subir a poeira por onde passava. Os olhos dourados do animal tentavam encontrar Sakura no meio daquela multidão de pessoas assustadas. O réptil suspirou ao ver a rosada gritar seu nome e acenar do chão há alguns metros. Aproximou-se da Uchiha e gentilmente depositou Sarada no chão. Quando ajoelhou-se ao lado da morena, a mulher não demorou para entender do que se tratava.

Sakura suspirou fundo e pousou as duas mãos no rosto de Sarada, uma em cada bochecha, e pôde sentir o suor da morena umedecer as suas mãos. A rosada fechou os olhos e em um esforço meditativo, isolou-se do caos que a rodeava. Não havia mais gritos, luta ou destruição. Quando a Uchiha abriu os olhos ela estava em um lugar totalmente diferente. A ninja suspirou ao reconhecer a àrea verde ao seu redor. Estava no Complexo Uchiha. A mulher se aproximou do lago ao ver Sasuke e Sarada sentados na beirada da lagoa. O vento fresco farfalhou nos galhos das árvores e trouxe a risada da morena para ela, que também sorriu.

Sakura então manejou a cabeça, lembrando a si mesma do motivo de estar ali. Nada era real; uma mera ilusão. A rosada acelerou os passos e sentou-se ao lado de Sarada. A morena sequer notou a presença da rosada e continuou focada em ver Sasuke descascar uma laranja para comerem. A Uchiha pousou a mão no ombro da menina, que a olhou com o cenho franzido.

—-Sarada…--Sakura umedeceu os lábios.--Nada disso é real, minha filha.

Sarada recuou e Sakura continuou:

—-É um genjutsu. Não deveríamos estar aqui.

—-Você não deveria estar aqui.--Sarada retrucou com uma frieza herdada pelo sangue.

—-Filha…

—-Você está estragando tudo! Xô!.--Sarada então virou-se de costas para Sakura, alheia à dor que suas palavras causaram.

Sakura abriu a boca para argumentar, mas se calou ao sentir uma ventania gélida chicotear suas costas. A rosada desviou o olhar da família e percebeu que as árvores desapareceram da àrea. A Uchiha suspirou; aquilo estava perto do fim. Em contrapartida, Sarada esbravejou:

—-O que você fez?!--Sakura se virou para olhar Sarada e viu a morena chorar ao ver Sasuke desaparecer.--Papa!

Sakura abraçou Sarada com força, mas a morena continuava a murmurar e suplicar pelo pai. 

—-Passou, filha.

Sarada abriu os olhos e Sakura lhe endereçou um esboço de sorriso. A rosada se permitiu admirar aquela obra prima do seu útero. A Uchiha sorriu ao consigo mesma ao ver que, infelizmente, a morena herdara a sua testa de marquise. A mulher concluiu que pouca coisa mudou desde que a pequena era uma bebê chorona. Os olhos continuavam amendoados e o narizinho arrebitado fazia a ninja ter vontade de apertá-lo carinhosamente. Apesar de terem se passado anos, a médica se lembrava de como era sentir o calor do corpinho da filha contra o seu; a bebê resmungando ou ressonando baixinho. Acolhê-la em seus braços ainda causaria a mesma sensação?

—-Papa… onde está?--A voz de Sarada era rouca e vacilante.

Sakura sentiu como se tivesse sido atingida por um balde de água fria. A rosada manejou a cabeça e virou a cabeça na direção do combate que se seguia há metros de distância. Sarada arregalou os olhos ao notar que o confronto resultara em algumas construções destruídas, além do templo em chamas. A Uchiha voltou seu olhar para o Okage que flutuava no ar, sem se acuar diante do Susanoo. A grande figura desferiu um golpe contra o inimigo que foi atingido em cheio pela lâmina de energia roxa. Ao ir de encontro com o solo, o corpo do homem causou uma cratera. A mulher manteve o olhar fixo no oponente caído e decidiu que participaria do embate caso o inimigo se erguesse.

Sakura franziu o cenho ao ver a inércia do Okage, pediu para que Aoda cuidasse de Sarada e se aproximou de Sasuke. O moreno estava ofegante e o Susanoo que antes cobria o seu corpo se dissipava. O Uchiha olhou de soslaio para a rosada.

—-Sarada está bem,--Sasuke assentiu ao escutar a frase de Sakura.

Ambos voltaram os olhares para o Okage. O oponente não tinha mais forças para se levantar e mesmo que aquele homem fosse seu inimigo, Sakura se aproximou para conferir suas feridas. A rosada ajoelhou-se e percebeu que era encarada por dois pares de olhos: os do seu marido e os do Okage. Quando a Uchiha fez menção de usar seu chakra para diminuir o sofrimento do moribundo, ele disse:

—-Nem desperdice o seu chakra com esse corpo. É inútil.-- A voz andrógina ressoou com fragilidade. Em seguida olhou para Sasuke.-- E você Indra, espero que tenha mais educação quando nos vermos novamente.

Sasuke sustentou o olhar do Okage e gradativamente, o terceiro olho começou a desaparecer na mesma proporção em que a vida se esvaia do homem. Tudo o que Sakura via agora era um cadáver oco; nada mais poderia ser feito. A mulher se levantou e passou as mãos pela roupa para se livrar da poeira. Com a súbita calmaria as pessoas começaram a se aproximar ou a saírem de suas casas. Os civis caminhavam como zumbis, olhando para toda a destruição. Não demorou para que um choro irrompesse o silêncio sepulcral e não era possível determinar se era um pranto de alívio ou de raiva. O casal trocou um breve olhar e compartilharam do mesmo raciocínio: hora de ir embora. 

O casal se desvencilhou dos cidadãos até se aproximarem de Aoda e Sarada. A morena estava apoiada na serpente, os olhinhos abatidos brilharam ao ver os Uchihas.

—-Povo de Okagure!--Sasuke virou a cabeça e reconheceu a voz de Gohan ecoar. Parte do cabelo grisalho do homem ainda estava manchado de sangue, mas seus olhos seguiam determinados por conta do trabalho de Tsunade.--Peço alguns instantes de atenção.--Perdidos e carentes de liderança, a multidão voltou-se para ele.-- Eu sei que passamos por momentos difíceis, que confiamos em pessoas que pareciam merecedoras da nossa confiança, mas que apenas manipularam nossas fraquezas. Mas nunca é tarde para aprendermos. Nunca é tarde para curarmos nossas feridas e trilharmos um futuro brilhante. Por isso, apelo para que acreditem que amanhã será um dia melhor, porque nós seremos pessoas melhores ainda hoje.

Sasuke sorriu brevemente, imaginando se Naruto seria assim quando fosse idoso. Mas o moreno logo abandonou a ideia já que o loiro jamais seria tão sábio quanto Gohan. Em determinado momento os olhos do mais velho encontraram os do Uchiha e o grisalho lhe endereçou um breve aceno de cabeça. O homem repetiu o gesto de forma imperceptível e suspirou antes de dizer para sua família:

—-Se aproximem. 

Antes que Sakura pudesse questionar algo, a rosada sentiu sua visão rodar e sua cabeça inflar como um balão. Tentando se manter equilibrada a Uchiha segurou o antebraço de Sasuke. Quando abriu os olhos a sensação de vertigem tinha se dissipado e a mulher percebeu que já não estavam no centro da vila. O cenário de destruição deu espaço para uma vegetação intocada. A grama se estendia como um tapete vibrante enquanto as árvores as rodeavam em uma recepção calorosa. Ouvir o farfalhar das folhas causou um efeito imediato na médica que se permitiu respirar fundo.

Sakura abriu os olhos ao escutar um baque surdo ao seu lado e se sobressaltou ao ver Sasuke de joelhos.

—-Papa!--Sarada pulou diante de Sasuke e levou suas mãos infantis até o rosto do moreno, o erguendo. 

—-Estou bem, filha.--A voz de Sasuke soou baixa, mas firme. Lentamente, como se qualquer ação demandasse muita energia, o moreno cobriu uma das mãos de Sarada com a sua.--Só… preciso descansar. 

—-Sarada, busque galhos pelas redondezas, por gentileza.

Sarada ficou emburrada com o pedido de Sakura, mas sua expressão se amenizou quando Sasuke assentiu para a morena.  A menina se afastou do moreno e caminhou para a floresta. A rosada se aproximou do Uchiha e o ajudou a se deitar na grama, A Uchiha desabotoou a camisa do homem e com olhos clínicos, passou a analisar os hematomas e cortes. Entretanto, aquele não era qualquer paciente, era o seu marido. A médica sentiu suas bochechas corarem na medida em que curava as feridas e via o físico invejável do ninja. Sakura mordeu sua bochecha interna e desviou o olhar para o rosto do ex-nukenin.

O rosto de Sasuke estava tenso. Seu cenho estava franzido e o maxilar rígido. Sakura mordeu o lábio inferior; tinha tanto que queria saber e perguntar… Entretanto as palavras adequadas não pareciam existir. A rosada não parava de pensar no quanto havia perdido e como a sua falta havia sobrecarregado o moreno. Durante todos esses anos a mulher repetiu para si mesma que tudo aquilo tinha um propósito, que o seu sacrifício não fora em vão. Mas agora…

A mão de Sasuke cobriu a sua e Sakura percebeu que todas as feridas superficiais do moreno estavam curadas. A rosada sustentou o olhar do Uchiha e sentiu os olhos marejarem. A Uchiha puxou o ar com força pelo nariz congestionado e com toda a força que ainda restava em si, disse:

—-Me desculpe.--Sakura falou em um sussurro e assim que se calou a rosada comprimiu os lábios para evitar que um soluço escapasse. 

 Sasuke se limitou a apertar a mão de Sakura e lhe endereçou um pequeno sorriso. A rosada sorriu abertamente e tudo pareceu minimamente menor. Quando a noite caiu os Uchihas construíram uma fogueira para se aquecer e cozinhar os animais que caçaram. Após o jantar o cansaço abateu a família, e todos dormiram, pelo menos até a madrugada. 

Sakura acordou com a agitação de Sarada. A morena se remexia, resmungando baixinho em um pesadelo. A rosada se aproximou com passos surdos e passou a mão na testa suada da menina.

—-Sarada…--Sakura murmurou enquanto acariciava o rosto de Sarada.--Filha.

Sarada despertou com a respiração alterada e olhos arregalados. Sakura permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de perguntar o óbvio:

—-Teve um pesadelo?--Em resposta Sarada concordou com a cabeça.--Quer me contar o que foi?

Sob a luminosidade fraca da fogueira Sakura viu a expressão de Sarada mudar. A morena engoliu em seco, mordeu o lábio inferior e desviou o olhar.

—-Eu…--Sarada começou, falando devagar e baixinho.--Eu gostaria de contar para o Papa.--Percebendo o que havia dito, a morena arregalou os olhos. --Digo contar primeiro, sabe?

Sakura juntou todo o seu foco para tentar manter a expressão serena e é possível afirmar que ela teve êxito na façanha.

—-Entendo. Vou chamá-lo.--Assim que falou, Sakura se levantou e virou-se na direção de Sasuke.

Sasuke já estava acordado, sentado, observando a cena.

—-Ela quer falar com você.--Sakura murmurou, agradecendo mentalmente por estar contra luz e poder abusar da escuridão para esconder sua expressão facial nada boa.

Sasuke demorou um pouco para se levantar, analisando o rosto de Sakura. A rosada até achou que o moreno falaria algo, mas o Uchiha assentiu e levantou-se. Foi a vez da Uchiha de sentar-se e observar os outros dois. 

Sakura viu Sasuke se sentar ao lado de Sarada, que sem pressão ou incentivo algum, começou a falar. No decorrer da narrativa o rosto da morena corou e os olhos marejaram. Sem dizer nada o moreno colheu as lágrimas fujonas com o polegar. Quando a menina terminou o relato, o ninja disse poucas palavras e tocou a testa dela com o dedo indicador e o médio. A mais nova assentiu e não demorou para que se deitasse. 

Quando Sasuke retornou para se deitar ao lado de Sakura, a rosada já estava deitada, fingindo que dormia. Mesmo sem enganar ninguém, a Uchiha insistiu na farsa, tanto que acabou se convencendo e caiu no sono.

No dia seguinte todos acordaram com o raiar do sol. Sakura acordou frustrada e entediada. Queria voltar logo para Konoha, mas sabia que tinha que respeitar a recuperação de Sasuke. 

Não tardou para que Sakura tivesse uma ideia para distrair a cabeça. A rosada se levantou e decidiu que definitivamente, todos precisavam de um banho.

—-Verei se há algum riacho nas redondezas.--Sakura disse para Sasuke, sem se demorar no olhar do moreno.

    --Chame Sarada.--Sugeriu Sasuke, apontando na direção de uma Sarada adormecida com a cabeça.

    --Ela me odeia, Sasuke.-- Sakura manejou os braços no ar, contrariada.

    Sakura percebeu as expressões faciais de Sasuke mudarem. As sobrancelhas do moreno se arquearam na mesma proporção que sua mandíbula tencionou. O Uchiha soltou o ar pelo nariz antes de dizer:

—-Sakura, você sabe que não é assim.--Sim, ela sabia que não era assim. Sabia que o seu sacrifício sacrificaria boa parte da intimidade que teria com Sarada. Mas… agora tudo acabou e a vontade de recompensar o tempo perdido urgia. Tal desejo era egoísta? Sem saber dos pensamentos da rosada, Sasuke declarou:--Eu vou falar com ela. 

Sakura tombou a cabeça para o lado e disse:

—-E você vai falar o que? “Sarada, por favor, ame a sua mãe”?--Sakura fechou os olhos com força. --Eu… eu só vou e já volto.--Murmurou antes de dar as costas para Sasuke.

Sakura escutou Sasuke chamar por seu nome, mas a rosada o ignorou e se embrenhou na mata. A Uchiha caminhou sem pressa, aguçando os sentidos. Enquanto adentrava na mata, a mulher deixou a tensão se esvair, mas ainda não se sentia completamente em paz. 

Enquanto Sakura tentava entender o que estava acontecendo e seu emaranhado de sentimentos, acabou encontrando um riacho. A rosada contemplou as águas cristalinas e observou seu reflexo naquele espelho d’água. Seria melhor se a mulher não tivesse se encarado, a autocrítica foi implacável. 

Sakura deu-se conta de que chorava quando uma lágrima suicida saltou do seu rosto em direção ao lago.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo tem um ritmo bem fluído, né? Começa com tiro, porrada e bomba e termina com um draminha familiar. Alguém chama a psicóloga Anahy, por gentileza? rs
Bem, acho que agora é a oportunidade perfeita para "explicar" o título da fanfic hehe
Escolhi "Criação" para referenciar a criação de Sarada feita por Sasuke, mas também para indicar a criação de laços entre Sakura e filha.
Sendo assim, a história está entrando em uma nova fase.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Criação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.