Hocus Pocus escrita por Bruninhazinha


Capítulo 8
☪ Não há nada tão ruim que não possa piorar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800557/chapter/8

Cama macia, cobertor felpudo, tempo nublado. Aquela manhã estava particularmente gélida e as árvores da floresta mágica pareciam tocar o céu. No velho casebre da clareira, tudo parecia propício para a permanência de Hinata na cama, afundada em um mundo de sonhos.

Mas alegria de pobre dura pouco.

E parece que a de Hinata tinha o costume de durar ainda menos.

As cortinas foram repentinamente abertas e o sol praticamente fritou o rosto da garota.

Ela piscou sequencialmente, atordoada, sem entender o que raios estava acontecendo, quando enxergou de relance a silhueta feminina andando de um lado a outro pelo quarto, abrindo cada maldita cortina, retirando o cômodo da escuridão. Com os olhos sensíveis e uma dor de cabeça dos infernos, Hinata afundou a cara no travesseiro e puxou o cobertor para o alto da cabeça.

O cobertor foi puxado com violência. Ela gemeu, em posição fetal, praguejando aos quatro ventos.

De qualquer forma, não precisava ser muito inteligente para reconhecer aquele cantarolar irritante.

Só havia uma pessoa no mundo capaz de se sentir tão feliz pela manhã.  

— Bom dia, Bela Adormecida! — Tenten escancarou as janelas. O frio atingiu o rosto da Hyuuga e um monte de pássaros adentrou o cômodo apertado, sobrevoando a cabeça dela. Hinata apertou os olhos, muitíssimo aborrecida, e decidiu se sentar no colchão. — Hora de acordar!

— O que você está fazendo aqui? — questionou com uma nota acusatória, desorientada, ainda com a cabeça latejando enquanto os pássaros piavam em seus ouvidos. Tentou espantá-los, mas um deles, um sabiá maldito, quase furou seus olhos.

— Parece que alguém acordou com o pé esquerdo hoje.

— O que você queria? São seis da matina, porra! — apontou para o relógio na mesinha de canto, com um olhar assassino. E, de fato, estava prestes a assassinar alguém. Aquilo só podia ser brincadeira! Tenten, porém, não deu bola para seu mau-humor, sequer se importava se estava sendo impertinente. Limitou-se a abrir as gavetas da cômoda, olhando os vestidos perfeitamente dobrados e organizados por cor, como se aquele fosse seu castelo, não o covil de uma bruxa. — Como conseguiu entrar?

— Ah! — os olhos castanhos voltaram-se para a amiga, por cima dos ombros, brilhando. — Isso foi muito simples, florzinha. — Hinata torceu o nariz para o apelido. — Alguém esqueceu a porta destrancada. Bastou girar a maçaneta.

Isso explicava tudo. Hinata não se lembrava de muita coisa depois que saiu da taverna com Naruto, quem dirá se trancou a porta.

Pelo visto, não. 

Ela franziu o cenho quando um esquilo pulou pela janela junto com um coelho, as patas imundas em sua cama.

Sua adorada cama.

— Tudo bem. Isso já é demais. — respirou fundo, tentando manter a calma, mas estava sendo difícil. Tentou agarrar o coelho, mas o bicho foi mais rápido. Correu pelo colchão, Hinata tateando por todos os lados e, quando ela finalmente conseguiu pegá-lo, ele furou suas mãos com os dentes. — Ai! — berrou, chorosa, balançando a mão vermelha, enquanto o coelho saltava para os braços da princesa, que encarava a bruxa com incredulidade.

— Qual era seu objetivo? — alisou o pelo macio do bicho, que guinchou para a bruxa, raivoso. — Jogar ele pela janela?

— Exatamente.

— Você é maligna.

— Eu sou uma bruxa. Caso ainda não tenha percebido, animais me odeiam. — rolou os olhos, impaciente. — Mande-os embora. Xô! — gritou para um dos pássaros – o mesmo sabiá que estava tentando cega-la. — Bicho nojento.

— Diz isso, mas tem uma coruja. — resmungou, chamando os bichinhos para fora. Os animaizinhos saíram pela janela, alguns, antes de partir, olhando feio para Hinata, que resmungou algo sobre chamar um exterminador de pragas.

— Hades é diferente. — deu de ombros.

— Ele é esquisito. Como você. Agora levante dessa cama antes que eu também te atire pela janela que nem ia fazer com o pobre do coelhinho.

— Ainda me pergunto por que te aturo.

— Porque você me ama. — sorriu abertamente, mas depois franziu as sobrancelhas castanhas. — E isso é lá jeito de falar comigo, depois de dois meses desaparecida? Devia estar beijando o chão que piso, de tanta saudade que sentiu mim!

Hinata rolou os olhos, mas colocou-se de pé antes que Mitsashi começasse a falar mais. Cambaleou pelo cômodo até o banheiro, onde tomou um banho gelado para recuperar as forças.

Ao retornar, suas roupas já estavam separadas, dobradas em cima da cama, ao lado dos piores sapatos possíveis. Suspirando, enfiou-se no vestido espalhafatosamente rosa — o vestido que mais odiava no mundo – e calçou as botas. Em frente ao tocador, enquanto penteava os fios longos, conseguia sentir o cheiro de café vindo da cozinha.

Tentava prender o cabelo em um penteado simples quando a princesa atravessou o batente com uma bandeja nas mãos, contendo frutas, café fumegante e ovos.

— Coma. — deixou a bandeja na frente de Hinata e retirou a escova das mãos dela. — Vou te ajudar com o cabelo.

— Você tinha que escolher esse vestido odioso?

— Ele é lindo. — desembaraçou o cabelo escuro com força, de propósito, fazendo com que a bruxa a encarasse com cara feia pelo reflexo do espelho. — Agora desembucha. Onde se meteu todo esse tempo?

Hinata começou uma explicação rápida e pouco detalhada. Ao fim do relato, a Mitashi estava com os olhos esbulhados, como se acabasse de escutar a fofoca do século.

— Você beijou um príncipe!

— Foi tudo o que escutou? Eu poderia estar morta e você só se preocupa com isso

— Mas você não está morta. — o sorriso era largo e o olhar cheio de malícia. — Como ele é? É bonito?

— É um príncipe. — suspirou pesadamente, tentando não pensar muito a respeito, porque se pensasse, ficaria divagando sobre como ele era charmoso com aquele cabelo dourado e ombros largos. — Um rapaz normal. — disse mais para si, do que para a outra.

— Deve ser bonito. — Enquanto Hinata torcia o nariz, a princesa parecia uma bomba de felicidade. — E como foi? O beijo? Teve língua?

— Será que podemos mudar de assunto?

— Com certeza teve língua, porque você é uma danadinha. E é óbvio que não podemos mudar de assunto. — disse, rigorosa, terminando de trançar o cabelo da moça. — Você acha mesmo que eu vou me contentar com essa historinha medíocre? Quero todos os detalhes sórdidos, minha querida. Estou sedenta por uma fofoca há meses, você não faz ideia!

— Não tem nada para contar! — esbravejou, levantando os braços, como se desse por vencida. — Ele me beijou – e não, não teve língua! — disse, antes que fosse alvejada com mais perguntas a respeito. —, acordei, conversamos. Ele veio aqui umas duas vezes, acho. Fomos naquele festival ridículo que teve em Konoha. Fim.

— Uau. — piscou sequencialmente. — Ele conseguiu te fazer sair desse cafofo? — parecia bastante impressionada. — Deve ser um príncipe e tanto.

— Ah, cale a boca!

Tenten continuou rezingando no cangote da outra, louca para obter mais informações, mas desistiu assim que Hinata a fuzilou com os olhos, dando o assunto por encerrado. Ainda estava com uma dor de cabeça horrível – felizmente, o café forte seria suficiente para renovar os ânimos. E também tinha o elixir para ressaca, guardado nas vidrarias do armário. Tomaria mais tarde, assim que se livrasse da princesa.

Ao terminar a refeição, as duas caminharam para fora do quarto. A casa estava do mesmo jeito, meio empoeirada, precisando de outra faxina, os livros perfeitamente guardados nas inúmeras prateleiras e as cartas e embrulhos ainda sobre a mesa da cozinha.

Tudo igual.

Exceto por um pequenininho detalhe – um bem pequeno mesmo, no sentido mais literal que isso possa soar.  

Se antes o rosto da bruxa era sereno, agora estampava a mais pura incredulidade.

Havia um garoto bem miúdo, com seus quatro anos, sentado à mesa, segurando um urso de pelúcia espalhafatosamente verde, os olhos do brinquedo em forma de botões pretos.

A reação de Hinata foi olhar do menino para Tenten e de Tenten para o menino, tentando assimilar o que diabos estava acontecendo.

— Que porra é essa?

Já não havia mais sorriso no rosto da Mitsashi.

— Lembra que te disse que tinha novidades?

— Por favor, me diga que esse é o irmão do Lee.

— Queria eu poder dizer isso. — cruzou os braços.

— Merda.

As duas ficaram em um silencio sepulcral pelo que pareceu uma eternidade, apenas encarando a criança, que derrubou um monte de caixas no chão enquanto balançava o urso para lá e para cá.

— Ele teve um filho fora do casamento com uma camponesa, há alguns anos, antes de me conhecer. — explicou, então, quebrando o silencio. — Ninguém sabia da existência desse garoto, nem mesmo Lee. A mãe do menino morreu, e os avós não o querem. Vai morar conosco. Eu até poderia questionar a paternidade, mas assim, sabemos que não dá.  

E não dava mesmo. Os dois eram idênticos. Os mesmos olhos de besouro, o cabelo preto em forma de cuia, as sobrancelhas grossas. O jeito energético.

O menino, então, desistiu de brincar com o urso e o atirou para um lado qualquer, quase acertando Hades, que estava quietinha no poleiro. A coruja praticamente guinchou, olhando-o cética e com raiva. Abriu as asas e partiu.

As duas se encararam, Hinata perplexa, e Tenten sem saber se ria ou se chorava.

— Você está ferrada. — disse, por fim.

— Eu sei. — suspirou. — Você bem que podia me dar uma daquelas maçãs, sabe. Seria bom dormir pela eternidade.

— Pode esquecer.

Mais silencio.

A princesa se remexeu um pouco, como se estivesse em um dilema. Hinata esperou pacientemente, no fundo sabendo o que viria a seguir.  

— Preciso de um favor.  

— Por que será que não estou surpresa? — As duas fitaram-se longamente.  

O que quer que Tenten estivesse planejando, Hinata sabia que seria uma péssima ideia.

+

Naruto acordou muito bem-humorado. Tomou um banho longo, vestiu as vestes reais, até penteou o cabelo e se perfumou, mesmo que estivesse com uma leve ressaca. A maravilhosa vista de seu quarto revelava um céu nublado e, se tinha algo do qual o príncipe gostava, era do tempo frio, especialmente do cheiro de chuva e terra molhada.

Então, depois de jogar uma capa grossa sobre os ombros e ajeitar as ombreiras de ouro, ele saiu com passos calmos pelo corredor, esperando encontrar a calmaria de sempre.

Mas não foi isso que aconteceu.

Empregados andavam de um lado a outro, alguns desesperados, outros atordoados. O mordomo parecia a beira de uma síncope, as empregadas esfregavam cada maldito canto do castelo, enquanto uma horda de servos carregava caixas imensas, empilhadas, de um lado a outro, entrando e saindo da porta que levava ao interior da sala particular da imperatriz.

Toda a cena causou um frio odioso no estomago do rapaz, porque, no fundo, ele sabia o que tudo aquilo significava.

Por isso, ao invés de seguir seu rumo até a sala de jantar, para saborear o desjejum daquela manhã, Naruto rumou os passos até a saleta rosa e purpurinada.

Não foi surpresa alguma encontrar Kushina a beira de um colapso, gritando com cada pobre coitado que entrava ali, enfiada em um vestido volumoso, com a coroa pesando na cabeça, o rosto tão vermelho quanto seus fios ruivos.

— Pela última vez, Koi, nem que você tenha que atravessar a porcaria daquela floresta encantada, — cutucou o peitoral de um dos serviçais, um baixinho e rechonchudo, que estava roxo de medo. — dê um jeito de arranjar guardanapos na cor mármore. Não marfim, mas mármore, entendeu?

— C-certo, Majestade.

O pobre homem passou pelo príncipe aos tropeços, quase em prantos. Kushina, por outro lado, atirou-se no sofá ao lado da sobrinha, que lixava as unhas, alheia aos acontecimentos, embora houvesse um quê de animação nos olhos azuis.

— Onde já se viu confundir cor mármore com marfim? — resmungou, indignada, recebendo uma palmadinha de Ino, no ombro, para confortá-la. — São tão diferentes. Bando de inúteis! E a Agência Mágica dos Serviçais Reais tem a coragem de dizer a mim, a Imperatriz, que são todos muito bem treinados! Quanta mentira! Juro que vou mandar um pombo-correio denunciando. Isso é propaganda enganosa!

— O que significa tudo isso? — Naruto decidiu adentrar a sala de vez, sem saber se era o certo a se fazer. Em situações assim, seu subconsciente costumava manda-lo para o mais longe possível da mãe louca.

Pela primeira vez, as duas notaram a presença do príncipe, que fitava toda a cena com uma expressão estarrecida. O encararam, Ino um pouco mais animada, Kushina com o olhar cansado.

— Ah, bom dia, querido.

— Como vai, Narutinho?

Ele ignorou Ino, ainda fitando a mãe longamente, esperando por respostas.

— A senhora está com cara de quem está aprontando alguma.

— Oras, — franziu as sobrancelhas, indignada com o tom. — onde já se viu falar assim com a mãe? Só estou fazendo o melhor para meu filhinho tão lindo, querido e majestoso. — certo, as coisas só estavam ficando mais estranhas. Ela não era dada a elogios, tipo, nunca. — Seu aniversário é em algumas semanas e você acha mesmo que vou deixar esse grande acontecimento passar em branco? Logo sairá em sua missão, em busca de seu propósito. — ela continuou, agora mais animada. — De sua princesa. Isso não pode passar em branco. Será um baile perfeito.

Ah. Pronto.

Aí estava a explicação.

Naruto segurou o gemido de desgosto. O mesmo não pôde ser dito de sua expressão, que era a de quem ia vomitar.

— Você nunca me disse que teria um baile.

— Mas vai ter. — foi Ino quem disse. — Ah, imagine só! Dança, comida, música, pessoas de todos os reinos. Me faz lembrar da época que conheci Gaara, quando perdi meu primeiro sapato. — suspirou, sonhadora. — Vai ser incrível. Iremos estender as férias até sua partida.

Ele ficou até sem ar.

Aquilo só podia ser piada.

— Mãe, a senhora não quer mesmo que eu saia nessa missão, não é?

— É claro que você vai, querido. — colocou-se de pé, desamassando o vestido, depois ajeitou as ombreiras de ouro do filho, dando palmadinhas para alisa-las. — Não só vai, como será bem-sucedido e logo teremos um casamento!

— Eu nem sei quem é essa garota!

Kushina, no entanto, tinha a resposta na ponta da língua.

É aquele velho ditado: não há nada tão ruim que não possa piorar.

No caso de Naruto, as coisas sempre pioravam.

— E é por isso mesmo que Tsunade virá a sua festa. Ela lhe dará todas as instruções necessárias para encontrar sua princesa.

— Aquela velha charlatã? — quase se engasgou, os orbes arregalados. — Você está brincando, não é?

— E por que eu brincaria com algo sério assim? — estreitou os olhos, o fio de irritação surgindo no rosto delgado. Não era um bom sinal, Naruto percebeu. — E não chame Tsunade assim. Ela criou seu pai, é quase sua avó. E sem mais discussões a respeito. Você vai salvar a princesa, nem que eu tenha que te arrastar até a porcaria da torre e eu juro que faço isso, se for necessário. 

Os olhos da mulher faiscaram.

 Naruto não duvidou dela nem por um segundo.  

Gemeu de desgosto, mas não disse mais nada. Apenas deu as costas e saiu com passos largos, batendo a porta com mais força que o necessário, só para deixar bem claro o quanto desaprovava toda essa merda. Então foi até a sala de jantar, para descontar a raiva na comida. Foda-se, comeria até passar mal. Até vomitar. Até entrar em coma, se necessário. Talvez assim ele não teria que ir nessa missão de merda.

A cabeça ainda doía e só de pensar que em poucas semanas sairia em uma aventura suicida sentia um calafrio esquisito na espinha.

Enfrentar um dragão e salvar uma princesa.

Droga, por que essas coisas tinham que acontecer? Com tantos príncipes pelo mundo, por que logo ele tinha que ser o encantado?

Naruto não queria se casar com uma princesa ou viver grandes feitos. Queria ser normal, só isso.

Era pedir demais?

Pelo visto, sim.

A sala de jantar estava do jeito de sempre: com a mesa lotada, cheia de aperitivos, o cheiro adocicado pairando pelo cômodo e o som das liras ecoando.

Só que, dessa vez, o som angelical mesclava-se aos gritos de Karin e Sasuke, que pareciam prestes a se estapear. Ela apontava o dedo no nariz dele, e ele mantinha aquela carranca de sempre – um pouco pior talvez. Meio que com cara de quem queria bater em alguém – não na princesa, lógico, embora, no fundo, Naruto soubesse que esse era o maior desejo do amigo.

O único quieto na sala, que ignorava completamente a discussão, era Gaara. O rapaz estava sentado em uma das pontas da mesa, segurando entre os dedos uma edição de Podres de Konoha, um periódico lançado diariamente com as fofocas do reino.

O moreno e a princesa pararam de gritar assim que o príncipe adentrou o cômodo e se atirou em uma das cadeiras.

— Os pombinhos podem continuar. — disse, simploriamente, servindo-se com uma quantia considerável de torta de morango. — Não quero atrapalhar a briguinha de casal de vocês.  

— Não somos um casal. — Sasuke retorquiu, com uma careta, e a ruiva rolou os olhos.

— Poderíamos ser, se você facilitasse.

— Não seríamos um casal nem se você fosse a última mulher existente no planeta, Karin.

Naruto suspirou, a cabeça prestes a explodir.

— Vocês vão mesmo continuar com essa palhaçada?

— Ele não quer me contar quem é a namorada dele! — apontou para Sasuke de forma acusatória, como se estivesse sendo traída ou coisa parecida.

— Simplesmente porque não é da sua conta. — Sasuke retorquiu.

— A partir do momento em que me declarei, passou a ser da minha conta.

Houve uma pausa. O Uchiha estava vermelho de ódio.

— Minha vida pessoal não te diz respeito. Nada sobre mim te diz respeito. Você é uma lunática, maluca!

— Ei!

— Calem a boca! — Gaara interviu, gritando, e colocou o Podres de Konoha sobre a mesa antes de encarar os dois com seriedade. — Porra, vocês são um pé no saco! Como consegue aturar isso? — a pergunta foi dirigida ao loiro, que deu de ombros, enchendo a boca com bolo.

— Eu simplesmente aprendi a ignorar. É isso todo santo dia, depois de um tempo você se acostuma. Agora, — levantou os olhos para a irmã, que parecia um balão, prestes a explodir. — ele não te quer, Karin. Aceita que dói menos. Só está inventando essa desculpa de namorada porque prefere ficar só a ter que te aturar.

Karin arregalou os olhos, encarando Sasuke como se acabasse de levar uma bofetada.

— Você mentiu?

— Lógico que mentiu. — O Uzumaki rolou os olhos. — Você acha mesmo que esse imprestável virgem e antissocial ia arranjar uma namorada do dia para a noite?

— Ei! Pare de falar de mim como se eu não estivesse aqui.

— Eu não acredito que passei o festival inteiro te seguindo para nada! — ela gritou, quase chorando.

Houve um silencio muito longo e constrangedor.

Gaara, então, explodiu em gargalhadas.

— Certo, isso foi patético. — disse, ainda rindo. Enquanto Sasuke encarava Karin com as sobrancelhas arqueadas, o loiro acompanhou o ruivo nas risadas.  

— É, realmente.

— Quem nunca fez nada vergonhoso que atire a primeira pedra. — a princesa tentou se defender, trincando os dentes, com raiva. — Ah, parem com isso!

Mas todos já estavam rindo. Nem Sasuke conseguiu se conter. Naruto se engasgou com um fiapo de morango da torta. Ao se recompor, disse:

— Karin, você precisa arrumar algo de útil para fazer. Lavar uma louça, limpar uma casa, sei lá.

— Vejam só, — os olhos vermelhos brilharam em divertimento maldoso. — o sujo falando do mal lavado.

Ele endireitou a coluna.

— O que quer dizer?

— Fica falando de mim, rindo da minha cara — cantarolou. — mas passou o festival inteiro andando por aí com uma garota desconhecida. Espera só a mamãe descobrir que está com uma namorada nova. Nossa, — colocou as mãos na boca, só para dramatizar mais. — ela vai ter um colapso.

— Como você sabe disso? — então desviou os olhos para o amigo ruivo. — Por acaso andou fofocando por aí?

Gaara levantou as mãos para o alto, mostrando inocência.

— Eu não tenho nada a ver com isso, cara.

— Fiquei sabendo dessa história também. — Sasuke se intrometeu no assunto, sentando-se em uma das cadeiras, com os orbes ônix fixos no amigo loiro. — Você acha mesmo que poderia andar por aí com uma garota toda encapuzada, em pleno festival, que ninguém comentaria?

Naruto engoliu o seco.

Merda.

— Só para constar, ela é minha amiga, Gaara a conheceu.

— É, eu sei. Ela é sua amiga. — o ruivo disse, a expressão indiferente. — Mas não é isso o que diz no Podres de Konoha.

O que?!

O ruivo levantou e cruzou a mesa, só para entregar o jornal ao amigo, que o agarrou, as mãos trêmulas de nervoso. Então, começou a ler.

KUSHINA SURTA E CHOCA UM TOTAL DE ZERO PESSOAS.

Não é de se admirar que a rainha tenha surtado mais uma vez, dessa vez com Sua Alteza Real, Minato. O rei entrou em uma competição de espadas e, segundo testemunhas, acabou com o braço fraturado e a coluna entrevada. Toda solidariedade ao nosso amado imperador. O reino, incluindo nós, jornalistas do Podres de Konoha, esperamos que tenha uma ótima recuperação.

SAPATEIRO DA RUA DAS FADAS GANHA FORTUNA

Hiroshi Yoshida conseguiu virar o mais novo milionário da vila após uma reviravolta impressionante: a princesa do País dos Ventos, juntamente de seu leal, lindo e malhado – devemos acrescentar – príncipe, encomendou cerca de cento e cinquenta pares de sapatos apenas para essa semana, pagos em dinheiro.

Graças a visita da princesa ao seu estabelecimento, muitos agora querem encomendar sapatos com Hiroshi. Ele é a mais nova subcelebridade da cidade e princesas de vários reinos já mandaram cartas implorando por seus serviços. Afinal, para fazer sapatos impecáveis para alguém tão exigente quanto Ino, somente o melhor dos melhores!

EXCLUSIVO! O PRÍNCIPE HERDEIRO ACOMPANHA UMA GAROTA MISTERIOSA.

Todos nós sabemos quem Uzumaki Naruto é. Honrado, provavelmente a criatura mais bonita que existe, talentoso. Mais que o queridinho das debutantes, ele é o sonho de consumo das mães e princesas de todo o mundo.

Infelizmente, para todas elas, um homem fechado quanto aos assuntos do coração. O motivo já está na ponta de nossas línguas: a profecia que se cumprirá em seu vigésimo segundo aniversário. A profecia que o unirá ao amor verdadeiro, que tornará o País do Fogo uma lenda.

Que fique bem claro: vocês que nos mandam as notícias através dos pombos-correios e cartas. E o que chegou para nós, meus amigos, foi o maior BA-BA-DO! Uzumaki Naruto deu o que falar no festival.

O príncipe, tão fechado para o amor, teria finalmente se apaixonado antes de cumprir a profecia, contrariando todas as expectativas da rainha?

Segundo nossas fontes, nosso queridinho foi visto no festival, não sozinho, mas com companhia – e dessa vez feminina! Uma garota que, aparentemente, ninguém nunca viu ou ouviu falar. E que o divertiu bastante, dado os sorrisos bobos. O rosto dela, no entanto, ainda é um mistério.

Os boatos são de que seus olhos são de pérolas. E sabemos o que isso significa, não é mesmo? Mas nada ainda pode ser dito, já que as informações não são exatamente concretas a respeito dos olhos da garota.

De qualquer forma, uma pergunta não quer calar:

Quem é ela?

Puta que pariu.

Naruto terminou a leitura tremendo, com os olhos arregalados. Se isso chegasse nas mãos de Kushina...

— Estou fodido. — disse, por fim, passando as mãos trêmulas pelo cabelo loiro, o suor escorrendo pela espinha. — Estou fodido. — repetiu, meio engasgado por causa do pânico. — Minha mãe vai me matar.

— É, sabemos que você está completamente fodido. — Sasuke deu uma palmadinha no ombro do amigo. — A propósito, ela tinha mesmo olhos de pérolas? — franziu o cenho. — Porque se tiver, meu amigo, as coisas estão realmente feias para o seu lado.  

— Por que falam disso na matéria como se fosse tão importante? — entregou o jornal de volta a Gaara, que permanecia com aquele mesmo olhar indecifrável, com um brilho estranho – o mesmo de quando apresentou Hinata a ele. A ficha de Naruto, finalmente, caiu. — Você sabe de alguma coisa, não sabe?

— Fala sério, Naruto. — o ruivo suspirou pesadamente, sentando na cadeira ao lado do amigo. — Você não percebeu mesmo?

— Não sei se reparou, mas meu irmão tem a inteligência de uma colher.

— Você não fica para trás. — o Uchiha alfinetou. Antes que Karin revidasse, porém, ele cruzou os braços, fitando o loiro, e continuou. — É sério... Ela tem mesmo olhos de pérolas?

— Isso faz alguma diferença?

— Claro que faz, seu tapado. — Sasuke crispou os lábios, rolando os olhos.

— E o que raios significa?

Gaara suspirou profundamente. Tinha notado, quando viu Hinata, mas não disse nada porque, bom, não sabia ao certo o porquê. Ela não parecia má. Pelo contrário, seus olhos – aqueles olhos grandes, assustadores e lindos – eram muito gentis, ao contrário das lendas e histórias que escutara durante toda a infância. Ainda bem que ela estava com aquele capuz, ocultando parte do rosto, ou as coisas ficariam realmente feias para o lado dela.

— Olhos de pérolas é uma característica rara, Naruto. Muito rara. — Gaara acrescentou, cuidadosamente. — Sugiro que dê uma olhada na biblioteca, depois. — Naruto nunca ia na biblioteca. Sempre detestou tudo que envolvesse livros ou estudos. Mas não disse nada, pelo jeito sério que o amigo o encarava. — Chamamos de Byakugan. Um gene recessivo, pertencente a uma linhagem mágica.

— O que está querendo dizer?

O clima, então, mudou para um silencio longo e tenebroso.

Vendo que não tinha como mentir ou fugir do assunto, ele resolveu, por fim, falar de uma vez.

— Ela é uma bruxa, Naruto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Que tal um comentário para animar essa escritora a continuar? Críticas construtivas e opiniões são muito bem vindas!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hocus Pocus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.