Hocus Pocus escrita por Bruninhazinha


Capítulo 6
☪ Eu estarei com você




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Nem é preciso dizer que Naruto recebeu o maior sermão quando chegou ao castelo. Faltava pouco para o jantar e para a chegada do casal Sabaku; as primeiras estrelas despontavam no céu e Kushina estava em frente a porta do palácio, de braços cruzados, batendo o pé no chão de mármore, sustentando uma expressão bem assassina.  

Ele não conseguiu elaborar uma desculpa esfarrapada dessa vez, por isso apenas escutou a ruiva silenciosamente, enquanto ela discursava sobre a importância da responsabilidade, dos bons modos e da pontualidade.

Naruto só não rolou os olhos e retrucou porque tinha grande apresso pelos próprios dentes – preferia mantê-los intactos na boca (a rainha tinha um soco bem forte).  Atrás da mãe, Karin limitava-se a sorrir, muito satisfeita em ver o irmão levando a pior, e Minato observava tudo com certa indiferença.

Após o sermão interminável, ele subiu para tomar um banho, colocou uma muda de roupa limpa e tentou pentear o cabelo. Vendo que os fios nunca ficariam arrumados, desistiu, resolvendo descer para receber os Sabaku antes que a paciência da rainha com ele esvaísse de vez.

A família Uzumaki ficou enfileirada em frente a porta do castelo, Kushina parecendo muito nervosa – tão nervosa que deixou todos os outros integrantes ansiosos. O primogênito enfiou as mãos no bolso e, em dado momento, a comitiva apareceu.

Não era novidade para ninguém que Ino possuía uma beleza encantadora, quase surreal. Naruto a viu poucas vezes durante a vida, a maioria delas na infância, mas podia dizer com propriedade que a garota chamava atenção, fosse pela forma esguia, fosse pelo rosto absurdamente proporcional e delicado.

Porém, quando a comitiva do País dos Ventos atravessou os portões do palácio, Ino não pareceu tão bonita assim. Estava toda descabelada, com o vestido cheio de lama e cara de quem ia colocar os bofes para fora. A guarda que acompanhava o casal mantinha a expressão séria, embora com um quê de irritação no olhar.

Ninguém, porém, estava tão infeliz quanto Gaara.  

O ruivo desceu do cavalo, tentando disfarçar a expressão emburrada com um sorriso – sem muito sucesso, evidentemente –, enquanto recebia cumprimentos calorosos da família real. O último foi de Naruto, com quem teve um aperto de mão firme seguido de um abraço.

— Ah, Naruto! — a loira correu para abraçar o primo, enquanto Gaara trocava algumas palavras com o imperador. Parecia muito satisfeita em rever o rapaz. — Quanto tempo!

— Muito, pelo visto. — ele sorriu. — Você parece, sei lá, uns trinta centímetros mais alta desde a última vez que nos vimos.

— Lógico. Tínhamos dez anos na última vez.

— É. E você não estava casada com meu amigo. — ela mostrou a língua.

— Ainda não te perdoei por não ter ido ao meu casamento.

— Ah, é? E o que posso fazer para conseguir seu perdão?

— Que tal me acompanhar até os aposentos? — entrelaçou o braço no dele, puxando-o para dentro do castelo. — Estou morta de cansaço.

— Ninguém mandou vir a cavalo. — pobre Gaara, pensou. Certamente, esse era o motivo do ruivo parecer tão chateado, assim como o resto da comitiva.

— Carruagens são perigosas, sabe disso.

Naruto apenas ficou em silencio, resolvendo ignorar o discurso da prima sobre carruagens que viram abóboras. Conseguia escutar as vozes que vinham logo atrás, de seu pai, da mãe e Gaara. Karin mantinha-se quieta, limitando-se a observar tudo, uma atitude bem estranha, já que ela era um pé no saco e nunca calava a boca.

Por isso a abordou no corredor, depois que as visitas se acomodaram em seu respectivo aposento. Os dois caminhavam logo atrás dos pais, que conversavam animadamente, comentando sobre como Ino estava crescida, até a sala de jantar.

— Desembucha, Karin. — arqueou uma sobrancelha loira. — Você está esquisita, digo, mais esquisita do que já é. O que aconteceu?

— Ah, qual é? — fitou-o de um jeito para lá de ofendido. — Uma dama não pode nem querer ficar quieta depois de ter o coração partido? Por acaso virou crime?

— Coração partido, você? Que eu saiba, nem coração você tem. E sabemos que você está longe de ser uma dama. — Vendo-a ranzinza, bagunçou a cabeleira ruiva com os dedos, rindo. Karin bufou; odiava quando ele fazia isso, tratando-a como um bebezinho.  — Me conta, não sou linguarudo que nem você. Foi o Sasuke? O que ele te disse no jardim, mais cedo?

Os olhos vermelhos encheram-se de lágrimas, lágrimas que não caíram. Ainda assim, a cena foi inédita, afinal, nunca a vira daquele jeito.

Ela nunca chorava.

Nunquinha mesmo.

— Ele... — fungou, sentindo-se patética, enquanto limpava o rosto com o dorso da mão. — disse que arranjou uma namorada.

Naruto comprimiu os lábios tentando – com força — não rir. Não é necessário ser muito inteligente para saber que aquilo era mentira, estava até surpreso pela irmã ter acreditado! O Uchiha sempre pareceu ter aversão a relacionamentos, ainda mais os românticos.

Mas não seria ele a dedurar o rapaz.  

De qualquer forma, seria melhor assim. Karin era menor de idade, Sasuke não aguentava a garota e os dois certamente não dariam certo.

— Não esquenta. Você logo arranja alguém para encher o saco com esses seus dramas de adolescente. 

— Mas eu não quero outra pessoa. — crispou os lábios, meio irritada. — Eu quero o Sasuke.

— Eu já disse, maninha. Desiste. Arranje alguém da mesma idade, e de preferência alguém que goste de você. Não é justo que fique chorando por uma pessoa que não te dá a mínima.

Ela não disse mais nada a partir do momento que adentraram a sala de jantar. Naruto também não insistiu no assunto, com os olhos arregalados, atordoado com a decoração. Havia velas e castiçais por todo lado, pequenas fadas brilhantes voando no teto, uma banda de liras e flautas em um canto separado e um verdadeiro banquete posto a mesa, o que inclui tortinhas, carne de cordeiro, o melhor dos vinhos e muitos doces.

Ele piscou sequencialmente, depois encarou a ruiva mais velha com evidente incredulidade. Percebeu que Minato e Karin faziam o mesmo.

— Que foi? — Kushina questionou, como se aquilo não fosse nada.

— Lembra quando conversamos, mais cedo, sobre você estar exagerando, querida? — a voz de Minato soou baixa, enquanto ele apertava o ombro da esposa. — Era exatamente disso que estávamos falando.

Ela limitou-se a dar de ombros, mandando que todos assentassem em seus devidos lugares. Não tardou para que o casal Sabaku aparecesse, acompanhados pelo mordomo, que fez as apresentações antes que os dois adentrassem o recinto. Ino se sentou ao lado dos tios, enquanto Naruto estava entre Gaara e a irmã caçula.

Gaara e Naruto eram amigos desde a infância e, embora pouco se vissem, trocavam cartas eventualmente. Se davam muito bem, por isso o loiro não hesitou em começar uma conversa, mesmo que o ruivo parecesse exausto.

— Como foi de viagem?

— Terrível. — revelou em um sussurro, para que apenas os dois escutassem. — Três dias cavalgando por causa daquela doida. Minha bunda está assada.   

Naruto pensou que o que o amigo sentia realmente era amor verdadeiro, porque só mesmo o amor para fazer alguém como Gaara concordar com tamanho absurdo.

— Ainda me pergunto se Ino algum dia vai superar os acontecimentos com a carruagem. — comentou, compadecendo da situação do rapaz. O ruivo estreitou as sobrancelhas.

— Acredite, a carruagem anda sendo o último dos meus problemas. Ela trouxe aqueles malditos ratos falantes. — resmungou, rolando os olhos. — Eles cantam, Naruto. Cantam. — pobrezinho, parecia à beira de um colapso. — Juro: mais uma canção, só mais uma, e eu surto de vez e chamo a porra da equipe de dedetização para exterminar aquelas pragas.  

O Uzumaki não conseguiu segurar a gargalhada. Era uma situação tão bizarra e idiota que não tinha como não rir.

— Sabe, quando você se casa, todo mundo te dá conselhos sobre o relacionamento, sobre como é difícil a convivência, mas que vai dar certo e que vocês viverão felizes para sempre. — o ruivo continuou, enquanto servia a si e ao amigo com vinho. — Mas ninguém menciona esses detalhes de princesa.

— Sei como é isso, acredite. — o loiro inclinou mais, temendo que Karin ouvisse. — Uma semana aqui e você vai entender o que quero dizer. Pior que uma princesa, é uma sereia e uma princesa meio-sereia. Você ainda está no lucro.

Os dois brindaram, depois beberam todo o vinho em um único gole, ambos imersos nos próprios pensamentos. Naruto, então, deu três batidinhas no ombro do amigo.

— Espero que aprecie as férias. Você está mesmo precisando.

— É por isso que estou aqui. A propósito, — encarou o rapaz. — sua mãe é sempre tão exagerada assim?

— Acredite, — pausou, encarando o cálice que segurava, depois desviou os olhos para o ruivo. — você ainda não viu nada.

Gaara, então, engoliu o seco, percebendo que preferia não ter perguntado.

+

Felizmente – principalmente para a rainha –, o dia seguinte amanheceu ensolarado, sem nuvens ou perspectivas de qualquer tempestade. Aquele, aparentemente, era um dia de milagres, já que Naruto acordou bem cedo.

O festival começaria em algumas horas – tempo que levaria para alcançar a casa de Hinata e retornar a vila com a garota. Por isso mesmo ele não se demorou muito em se arrumar. Apenas escolheu uma roupa qualquer, com a capa pesando nos ombros, calçou as botas e guardou a espada na bainha antes de descer aos estábulos.

Até Azriel parecia animado com a perspectiva de um dia diferente. O bicho relinchou para o dono, batendo as patas na terra, como se sorrisse. Selado, cavalgou para fora dos domínios do palácio, trotando entre as árvores pelo caminho já conhecido.

Hinata, por outro lado, esperava que Vossa Majestade só estivesse fazendo algum tipo de piada quanto a maluquice de levá-la ao festival. Preparava o café da manhã quando as batidas soaram pelo cômodo apertado.

Desviando da mesa e dos móveis, girou a maçaneta e deparou-se com o inusitado. Lá estava o príncipe, todo felizinho, exibindo aqueles dentes perfeitos.

— Que foi? — ele questionou, ainda sorrindo. Os olhos dela estavam arregalados e a boca entreaberta. — Por acaso está encantada com minha beleza? — brincou. Ela, no entanto, não riu, apenas ficou com cara de quem ia bater em alguém.

— O que está fazendo aqui?

— O que acha? Vim te buscar para o festival.

— Eu já disse que não vou.

O sorriso dele transformou-se em uma expressão inconformada.

— Mas viajei até aqui!

— Uma pena para você.

E fechou a porta.

Simples assim, sem mais nem menos, deixando o rapaz atordoado, piscando sequencialmente. Foi a primeira vez que alguém bateu a porta na cara dele, logo ele, Sua Majestade Real, o príncipe!

Quanta ousadia e petulância!

Não conseguiu conter o sorriso, muito satisfeito em perceber que Hinata não era como as outras garotas. Aparentemente, não estava nem aí para seus títulos nobres ou o que quer que fosse.

Isso era admirável, de certa forma.

— Se pensa que vou desistir, está muito enganada! — berrou, encostando a orelha na madeira, tentando ouvir os ruídos de Hinata dentro do casebre. — A propósito, que falta de educação não convidar um visitante para entrar!

Ela não respondeu.

— Se você não abrir, juro que começo a cantar! — seria sua última tentativa desesperada. — Acredite, eu sou um péssimo cantor!... Sério, não vai mesmo abrir? Então, ok!... — pigarreou. Assim que começou uma música, a porta foi repentinamente aberta e ele quase caiu para frente.

Hinata não parecia nada contente, embora houvesse a sombra de um sorriso no rosto.

— Por favor, nunca mais cante, para o bem dos meus tímpanos. — e deu passagem para que ele adentrasse.

Ele cruzou os braços, fingindo irritação, enquanto passava a mão pelos fios loiros.

— Você só está é com inveja dessa minha voz galante.

— Tão modesto. — rolou os olhos.

Um cheiro divino tomava conta da casa, não pôde deixar de notar. Viu a mesa organizada, com um prato, jarra de suco e lindas panquecas empilhadas, com calda por cima, ao lado de várias iguarias.

Houve então um barulho – um barulho muito desvergonhado que saiu do estômago do rapaz.

— Desculpe. — coçou a nuca, todo sem jeito. — Vim correndo e acabei esquecendo de comer.

Dessa vez ela sorriu, um daqueles sorrisos de quem acha graça da situação.

 — Venha, sente-se. Espere só um minuto.

Naruto obedeceu, observando Hinata andar de um lado a outro. Colocou um prato e um copo para ele, depois sentou-se a frente do rapaz, servindo-o com suco e as panquecas. Então, comeram silenciosamente, absortos em pensamentos, Naruto tentando imaginar uma maneira de convencê-la a ir ao festival, Hinata considerando a situação toda esquisita, afinal, há muito tempo não comia na companhia de outra pessoa – isto é, claro, ignorando o dia que jantaram no Cabaré Mágico.

A última vez foi com sua mãe. Hiromi, na época, estava definhando aos poucos e mal tocou no jantar. Morreu, no dia seguinte. Balançou a cabeça, tentando ignorar os pensamentos, fixando os olhos no rapaz.

Percebendo que era encarado, Naruto tratou de quebrar o momento silencioso.

— Você cozinha muito bem. — elogiou, observando-a dar de ombros, como se não fosse nada. — Aprendeu sozinha?

— É. — apoiou o rosto na mão e o cotovelo na mesa, pensando a respeito. — Basicamente. Depois que fiquei sozinha, tive que aprender a me virar.

— Entendo. Sabe, Hinata...

— Pode esquecer.

— Mas eu nem terminei de falar! — franziu as sobrancelhas. Que garota mais complicada!

— Nem precisa. Eu já sei o que vai dizer. E a resposta é não.

— Qual é, vai ser divertido. — enfiou uma quantidade generosa de panqueca na boca. — Não é todo dia que tem um festival na cidade. Vai, por favorzinho!

— Eu não caio nos seus truques, Uzumaki, muito menos nessa sua cara de cão sarnento abandonado. — ele torceu o nariz. Cão sarnento?

— Credo, Hyuuga, para que essa defensiva toda? Não é como se as pessoas fossem, sei lá, te atacar ou coisa do tipo.

— Você não sabe. — estreitou os olhos. — Em Konoha, os moradores costumavam odiar minha mãe.  

— Bom, — recostou na cadeira. — você não é sua mãe, certo?

Ela ficou em um bom silencio por um segundo, refletindo sobre aquelas palavras.

Vendo que estava no caminho certo, Naruto resolveu continuar.

— Vai ser divertido. Ninguém vai ousar falar nada ou chegar perto. Os aldeões costumam não ser hostis com convidados da família real. Eu estarei com você.

Hinata piscou sequencialmente, surpresa com as palavras, pensando que, tá, ok, tudo bem, ele tinha um ponto. Um ótimo ponto, na verdade. Crispando os lábios, meio emburrada, acabou concordando. 

— Esse é o espírito! — exclamou, animadíssimo. Depois de ajudá-la a lavar a louça – talvez alguns pratos tenham quebrado em meio ao processo, já que era uma negação com afazeres domésticos – os dois saíram para a vila, montados no cavalo branco do príncipe.


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