Hocus Pocus escrita por Bruninhazinha


Capítulo 4
☪ Se já está no inferno, abrace o capeta




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Sentado na poltrona desconfortável da sala, Naruto aguardava Hinata sair do banho. Ela pediu por esse tempo, afinal, depois de meses desacordada era de se esperar que estivesse fedendo. A garota garantiu que seria rápido.

Mas ele devia saber que "rápido" é uma palavra muito forte nessas situações. 

Tinha certeza de que estava na mesma posição há uma eternidade. 

— Por que mulheres são assim? — murmurou para ninguém especial, entediado, observando os arredores.

A casa, embora simples, tinha um ar intimidador se reparasse bem. As prateleiras alcançavam o teto, abarrotada por livros empoeirados, e os armários continham coisas esquisitas. Identificou pelo de rabo de unicórnio em um dos frascos. Resolveu não olhar muito para os outros potes. 

Ele ficou ali, parado, sem saber o que fazer, então decidiu passar o tempo espiando os exemplares. Tossiu um pouco por causa da poeira quando puxou um qualquer da prateleira, em seguida foleou as páginas. O livro era sobre ervas medicinais e havia anotações em cada canto. O conteúdo das anotações deixou Naruto bastante impressionado.

Hinata, pelo visto, era uma criatura muito inteligente.

Passou algum tempo imerso na leitura, quando um pigarro alto ecoou pela saleta, chamando sua atenção.

A Hyuuga estava parada embaixo do batente do quarto com uma aparência muito melhor. O cabelo úmido escorria até o quadril e aquele vestido, de fato, valorizava seus dotes, se é que me entende.  

Ele piscou, meio atordoado com os pensamentos. Nunca foi esse tipo de cara que fica reparando no corpo das garotas, mas... Hm, como poderia dizer isso... Era meio difícil não olhar para as curvas de Hinata.  

O vestido preto escorria até o calcanhar e não era daqueles volumosos como os que sua mãe e irmã usavam. Pelo contrário, escorria lindamente, moldando a cintura, e a cor contrastava com os olhos e a pele pálida. Não era indecente, nada disso, apenas revelador.

Revelador porque, até então, não tinha reparado que ela tinha um corpo tão bonito.

— Poderia, por gentileza, parar de encarar os meus peitos?

Ele levantou o rosto, percebendo, pela primeira vez, que os orbes perolados faiscavam em sua direção. O rosto angelical, no momento, não tinha nada de angelical. Mantinha-se contorcido em uma expressão zangada.

Droga.

Foi meio que automático, ele realmente não tinha intenção de ficar olhando os... Bom, deixe para lá.

— Não é isso... é que... — coçou a nuca, deixando uma risada nervosa escapar. Foi patético. — Só estava olhando seu vestido. É muito bonito, inclusive.

É óbvio que essa foi a desculpa mais estúpida do universo e também é óbvio que ela era inteligente demais para acreditar, porém, para felicidade geral, Hinata resolveu se fazer de sonsa.

— Obrigada, eu mesma costurei. — cruzou os braços. — Também agradeceria se não xeretasse minhas coisas.

Ele até tinha esquecido que ainda segurava o livro. Colocou-o no mesmíssimo lugar, murmurando vários pedidos de desculpas, meio atrapalhado.

— Então... — seguiu-a até a porta, tentando se recompor ou mudar o assunto. Qualquer coisa que pudesse acabar com aquele clima esquisito. — Você tem livros bem interessante. É curandeira?

Ela ponderou por um instante, pensando que não seria certo revelar seus ofícios a um desconhecido, ainda mais um príncipe. Não era seguro.

— Mais ou menos isso. — e girou a maçaneta.

Nessa altura do campeonato, o céu estava abarrotado por estrelas e a lua, de fato, era a grande atração da noite. Iluminava parcialmente a copa das árvores e o pequeno chalé. Enxergou uma linda coruja em um dos galhos. O pássaro o encarou com curiosidade, enquanto atravessavam o gramado até Azriel, que relinchou para o dono, satisfeitíssimo por reencontrá-lo.

Hinata não precisou de ajuda para subir no animal. Surpreendentemente, sentou-se no cavalo como se fizesse isso todo dia. O príncipe também subiu, rodeando o cavalo com as pernas, logo atrás, sentindo as costas da moça contra seu peitoral firme. Silencioso, Azriel obedeceu ao comando do dono, trotando para o interior da floresta.

Em minutos, o casal se viu cercado pelas árvores, Naruto desconfortável e Hinata pensando no porquê diabos estava fazendo aquilo.

Podia ter negado a ajuda, mas, infelizmente, seu coração era bom demais para negar alguma coisa. Pode acreditar, essa não é uma característica admirável em uma bruxa.

Sua mãe foi uma feiticeira temida e causava pavor em crianças. A avó era uma lenda.  Foi uma geração inteira de mulheres terrivelmente maldosas.

Hinata, no entanto, herdou da família apenas o sangue mágico.

A mãe sempre reclamava que a filha era solícita demais, o que não era mentira, ou não estaria se submetendo a tal situação, logo ela, uma bruxa, em cima de um cavalo branco com um príncipe ridiculamente bonito.

O pensamento a fez rir, quebrando o silencio.

— Que é? — Naruto arqueou as sobrancelhas, interessado.

— Nada. — soltou uma risadinha nasal. — Só estou pensando em como essa situação é clichê.

— Bom,...

— Não é só a situação. Você é clichê. Além de me salvar com um beijo, é loiro, príncipe e tem a porcaria de um cavalo branco.  — o fitou por cima do ombro. — Você é claramente um príncipe encantado.  

Argh. Aquela palavra de novo.

Naruto torceu o nariz, ranzinza.

— Não. Não sou.

— É, sim. — falou com convicção, o semblante indecifrável. — Acredite quando falo que é. Aliás, quase é.  

— Quase?

— É. Falta uma coroa e uma profecia.

Naruto bufou, muitíssimo aborrecido, olhando para um lado qualquer. Ela tinha tocado justamente na ferida.

— Para a sua informação, coroas são pesadas e desconfortáveis. — suspirou pesadamente. — Quanto a profecia...

Percebeu que devia ter ficado quieto, porque um sorriso muito irritante surgiu nos lábios dela.

— Oh... — ela continuou com aquela mesma expressão e levou a mão até a boca, fingindo surpresa. — Então, de fato, tem uma profecia.

Ele não respondeu, o que, claramente, significava “sim”.

— Vai ter que salvar alguma princesa?

— É.

— Tão típico.

O assunto não se estendeu porque ela precisava dar as instruções. O Uzumaki apenas a obedeceu sem pestanejar, fazendo curvas, virando ocasionalmente. Só viu que estavam no caminho certo ao enxergar a estátua de fada, iluminada por vagalumes.

— Caraca. — parecia verdadeiramente impressionado com tamanho feito. — Por acaso conhece a floresta inteira?

Ela deu de ombros, como se não fosse nada.

— A gente pega o jeito depois de viver tanto tempo em um lugar. Agora, siga em frente. Estamos perto.  

Foi o que ele fez. Não parecia ter nada diferente da paisagem habitual, até que a imagem de um galpão imenso surgiu em meio as árvores.

As paredes eram pretas e o vidro fosco, de forma que era impossível enxergar o que ocorria dentro, mas uma música alta soava, abafada pelas paredes. Fadinhas presas em pequenos potes de vidro iluminavam a estradinha que levava a entrada.

Porém, o que, de fato, chamava atenção era a placa rosa neon que brilhava no meio daquela escuridão. As letras eram muito chamativas. Ele arregalou os olhos enquanto lia o conteúdo.

Cabaré Mágico

Piscou sequencialmente, atordoado, agora lendo as letras miúdas que vinham abaixo.

“O local mais badalado da floresta encantada. Strippers sedutoras e quartos individuais. Garanta já o seu!”

Houve um silencio longo.

— Pela cara que está fazendo — a voz de Hinata soou baixa. — suponho que não sabia. 

— É. — confirmou com a cabeça, ainda chocado, pensando que mataria Sasuke. Simplesmente o mataria. — Não sabia.

— Era de se esperar.

Mais silencio constrangedor.

— Eu só queria comer a porra de um sashimi, não vir a um prostibulo. — Naruto ciciou, indignado, arrancando uma risada da morena.

Ao menos, ela estava se divertindo com a situação.

— Veja pelo lado bom, — parecia ter se compadecido da situação dele. — lá dentro tem uma taverna. E a comida é boa.

— Espera aí! — soou com uma nota acusatória. — Como você sabe?

— É o que dizem.

Encararam-se por um tempo.

— Tem comida japonesa?

— Tem todo tipo de coisa ilegal aí dentro, então pode apostar que sim.

Novamente silencio.

— Você vai comigo?

— E acha mesmo que eu perderia a oportunidade de dar uma espiada no — ela fez uma pausa só para ler a placa. — Cabaré Mágico? É claro que não.

— Então vamos.

E a ajudou a descer do cavalo.

É como diz o velho ditado: se já está no inferno, abrace o capeta.

+

O Cabaré Mágico era um lugar estranho, pouco iluminado, cheio daquelas luzes coloridas. Criaturas de todos os tipos estavam ali, apreciando as ninfas que dançavam agarradas ao pole dance. Naruto e Hinata, por outro lado, estavam sentados nas banquetas do bar. 

— Já pensaram no que vão pedir?

O cardápio era vasto. O loiro sabia o que queria, mas a Hyuuga ficou tão atrapalhada com aquela quantidade de itens que precisaram de mais meia hora. O senhor Teuchi, dono do estabelecimento, retornou com a caneta e o caderninho em mãos, meio impaciente com a demora. A moça acabou optando por um lamén de porco simples.

— Uma barca especial de sessenta itens e cinco temakis de salmão. — Naruto falou animadamente, praticamente gritando por cima do som, sob o olhar indignado da bruxa, enquanto Teuchi anotava tudo. — Por favor, me traga uma vodka.

— Você vai beber?

— Estamos em um bordel. — disse, como se fosse um ótimo motivo. 

Ele não esperava pela reação seguinte. Hinata deu de ombros e cravou os olhos no velho.

— Me traga uma cerveja.

Teuchi escreveu no bloco e saiu, deixando-os sozinhos.

—  O que foi? — questionou, ao notar o rosto embasbacado do rapaz.

— Você não tem cara de quem bebe.

— Para tudo tem uma primeira vez. — soou com indiferença.

Os pedidos chegaram rápido. Brindaram, batendo os copos e Naruto, depois de virar a vodka, pegou os hashis e atacou a barca. Hinata, segurando o copo de cerveja, fazia careta de nojo a cada gole.

— Damas geralmente não bebem. — o rapaz começou. Não estava querendo ofender, apenas puxar algum assunto. — Faz mal para a reputação.

— Minha reputação já está arruinada, se não percebeu. Estou em um cabaré fazendo companhia a um desconhecido, não tem como as coisas piorarem.

— É, você tem razão.

E sorriram para o outro.

— Afinal, Hinata, — cutucou um dos sushis com o hashi. — por que mora na floresta?

Ela encarou o teto escuro por um momento, pensando em uma boa resposta.

— Nunca sai da floresta, na verdade. — Não havia mal em dizer a verdade, sem revelar a própria identidade. — Minha família nunca foi aceita em Konoha, então mudaram-se para a floresta. Nessa época, minha mãe já estava grávida.

— Compreendo. — fitou-a, contemplativo. Não esperava por uma resposta assim. — Nasceu e cresceu naquela casa?

— Basicamente.

— E sua família?

— Bom, — estreitou o olhar. A expressão dela de repente mudou. Havia um brilho estranho nos olhos perolados. — éramos só eu, minha avó e a mamãe. As duas morreram quando fiz dezesseis anos.

— Ah. — entreabriu os lábios, sem saber ao certo o que dizer. — Sinto muito.

— Não sinta. — deu de ombros, como se não fosse nada. — As duas eram pessoas horríveis. Estou melhor sozinha.

— Ninguém é melhor sozinho.

— Sou uma exceção.

Ele não discutiu. Ela fitou um ponto a frente.

— E você? — inclinou-se na direção dele, agora sorrindo em divertimento. — Um príncipe com uma profecia, em.

— Ah, claro. — rolou os olhos, aborrecido. — Até achei que tinha esquecido.

— Mas é claro que não. Quase todo dia me deparo com príncipes, mas não príncipes encantados. — riu da expressão desgostosa no rosto dele. — O que dizia a profecia?

— Algo sobre matar um dragão e salvar uma princesa.

— E o que vai acontecer depois?

Ele arqueou as sobrancelhas loiras.

— Como assim?

— Vocês vão se casar? — Naruto estreitou as sobrancelhas. Na verdade, não tinha pensado muito a respeito.

— Acho que sim. Mesmo que eu não queira, talvez minha mãe obrigue.

—  É a ordem das coisas. — ela refletiu, bebericando a cerveja mais uma vez.

— Uma ordem bem babaca, não acha?

— Certamente.

Ficaram ali, conversando por um tempo. Até comentaram sobre as ninfas. Uma estava tão entretida rebolando que caiu do palco. Havia algo de confortável na conversa deles e tudo soava terrivelmente natural.

Além de Tenten, Hinata nunca havia se identificado com outra pessoa.

Era estranho.

Ele pareceu pensar o mesmo, porque se virou para ela com uma expressão esquisita.

— Ei, Hinata — ela fez um gesto para que continuasse, enquanto saboreava a comida. — você se importa se eu te visitar amanhã?  

Hinata quase morreu engasgada. Tossindo, deu soquinhos no peito – o Uzumaki também lhe deu palmadinhas nas costas, preocupado, e a fez beber um gole generoso de cerveja. Por fim, o mirou com incredulidade.

Oi?

— Você é legal. — deu de ombros, meio arrependido por ter feito o pedido, mas estava dizendo a verdade. Achava Hinata uma pessoa legal e, além de Sasuke e da família, ele não tinha ninguém com quem conversar. Os outros amigos moravam longe. Também pensou em Hinata sozinha, naquela cabana, e no quão solitário devia ser. — Só achei que seria... Ah, sei lá, pensei que fosse uma boa ideia e... 

— Ok, tudo bem. — Não soube o que a levou a concordar com tamanha estupidez. Foi meio que por impulso, mas agora já estava feito. Ele parecia bem satisfeito. — Desde que me ajude amanhã com a faxina.

— Ajudo.

— Sério?

— Prometo que sim.

— Lembre-se de que são dois meses de sujeira.

Naruto, por um instante, se arrependeu da promessa.


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Notas finais do capítulo

Eai? O que acharam?



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