Hocus Pocus escrita por Bruninhazinha


Capítulo 3
☪ Nas profundezas da floresta encantada




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 Sasuke entregou ao amigo todas as instruções escritas em um pequeno papel. O local, aparentemente, ficava no centro da floresta e só era aberto depois das oito da noite. Ansioso, Naruto retornou ao castelo, preparando pelo caminho a desculpa que daria a mãe.

— Só vou dar uma voltinha pelo vilarejo com Sasuke. — disse, um pouco mais tarde naquele mesmo dia. Estava na saleta particular da rainha, que o encarava cheia de desconfiança, os braços cruzados. — Qual é, mãe, você sempre diz que preciso sair mais.

Ela pareceu ponderar por um momento. Estava sentada atrás da escrivaninha de carvalho, lendo cartas, parecendo um bolo de casamento vestindo aquele vestido cheio de laços. A sala era toda frufruzada, com prateleiras, poltronas rosa e almofadas.

— Sasuke vai mesmo estar com você? — Ela considerava o Uchiha o mais responsável da dupla, por isso parecia tão preocupada. Mantinha uma das sobrancelhas ruivas arqueada, os olhos azuis analisando o filho de cima a baixo, como se buscasse qualquer vestígio de mentira.

Felizmente, Naruto era um ótimo mentiroso.

— Claro que sim. — Havia uma falsa expressão inocente no rosto, e a voz estava mais aveludada que o habitual.

— Tudo bem. — Suspirou. — Só tome o cuidado de voltar antes da meia noite. Não quero que pensem que meu filho anda vagabundeando por aí. E — Fez uma pausa, levantando uma das cartas. — Ino chega pela manhã. Sabe como ela vai surtar se souber que você andou se esgueirando por aí depois da meia noite.

Naruto segurou um gemido frustrado. Ino era sua prima por parte de pai. Casou há pouco tempo com um de seus melhores amigos, príncipe Gaara, do País dos Ventos. Ela era muito atrapalhada, vivia perdendo os sapatos com a desculpa de que tinha pés muito pequenos e odiava carruagens, pois achava que elas se transformariam em abóboras depois da meia noite. 

Para piorar, falava com ratos. Ou eles falavam com ela. Sei lá, tanto faz. Não deveria se importar tanto, afinal, tinha uma mãe sereia e uma irmã que conversava com golfinhos.

Seria só mais uma no bonde.

Resolveu se retirar do cômodo antes que Kushina mudasse de ideia, começando uma caminhada tranquila pelos corredores do castelo. Assobiava, animado com o que faria mais tarde. Ele sempre foi uma criatura meio rebelde com as regras, ainda mais quando sua comida favorita estava envolvida.

Antigamente, ele e Sasuke viviam visitando um restaurante japonês ilegal localizado em uma estradinha fora da vila. É claro que, dada a localização, o imperador descobriu o paradeiro do estabelecimento, que foi fechado por tempo indeterminado.

Suspirando, entrou no corredor dos quartos, porém, deu de cara com a desagradável figura de sua irmã caçula. O cabelo ruivo estava preso em um coque muito bem-feito, trajava um vestido cheio de babados e...

... O encarava como quem sabe das coisas.  

O Uzumaki detestava esse olhar porque, no fim das contas, ela realmente sabia.  

— Um passarinho me contou o que você anda aprontando.

— Sasuke é mesmo um fofoqueiro maldito, em.  — Resmungou, sentindo-se traído, mas a ruiva meneou a cabeça como se não concordasse.  

— Não, — começou a explicar. — foi literalmente um passarinho que me contou. Ele estava em uma árvore próxima, escutando o que você e Sasuke conversavam.

Ah.

Bom, isso fazia sentido.

— Espera aí! — fitou-a de um jeito acusatório. — Achei que só falasse com golfinhos.  

Ela o encarou como se acabasse de escutar um palavrão.

— Claro que não, imbecil. Sou uma princesa. — Frisou, como se isso explicasse tudo. — É da minha natureza falar com animais.

Ficaram em silencio por um segundo, encarando-se. Agoniado com a situação, Naruto resolveu perguntar de uma vez – não dava para adiar o inevitável.

— Você vai contar para a mamãe?

É claro que Karin contaria. Era a maior fofoqueira do reino.

A resposta, no entanto, o pegou de surpresa.

— Não. — e deu de ombros.

Se não a conhecesse bem, agradeceria, mas, infelizmente, havia convivido tempo demais com aquela insuportável para conhecer o ligeiro brilho que surgiu em seus olhos vermelhos.  

— Desembucha, Karin. — cruzou os braços, sentindo-se aborrecido. Ela queria alguma coisa, certamente não o encobriria de graça. — O que quer em troca?

— Você é bem esperto.

O canto dos lábios repuxou-se em um sorriso mínimo. Se não fosse tão chata, as pessoas até diriam que era bonita.

— Gostaria de me gabar dizendo que é esperteza, — crispou os lábios. — mas a verdade é que sei que você não passa de uma interesseira.  

— Ei!

— Por acaso menti?

Ela não discordou.

— E então?

A ruiva ponderou por um instante, como se pensasse se devia falar ou não. Optou por falar de uma vez, afinal, o que tinha a perder?

— Quero que me arranje um encontro com Sasuke.

— Esquece. — a resposta foi rápida.

Karin semicerrou os olhos, os lábios entreabertos, com uma cara de quem acabou de levar uma bofetada.  

— Por quê?

— Karin, você tem dezesseis anos, porra. Ele já é maior de idade.

E daí?  

Naruto piscou os olhos, incrédulo.

— E daí que vocês não podem ficar juntos! Você é menor de idade, sem falar que ele não te suporta e você sabe. Na verdade — respirou fundo, sentindo o último fio de paciência esvair. —, todo mundo sabe disso.

— Não custa nada tentar.

— Ele vai te dar outro fora. — Observou o bico emburrado que surgiu nos lábios dela e pensou que não teria jeito. Ela não ia desistir fácil dessa ideia estúpida. — Tá, tudo bem. — Deu-se por vencido. Era uma luta perdida, sempre foi. — Não garanto um encontro, mas posso arranjar um momento a sós. Que tal?

Ela fitou a mão dele, que estava estendida, pensando se deveria ou não.

No fim, a apertou, selando o acordo.

— Feito.

— Se prepare para mais um fora.

— Cala a boca. — Ela agora sorria, mais feliz do que nunca, e ele riu, observando-a se afastar saltitante e cantarolando até que sumisse. Enfim, adentrou o quarto.

O cômodo estava exatamente como deixara – exceto a cama, que os empregados arrumaram. As janelas abertas revelavam o céu azul e as montanhas que se erguiam atrás da floresta encantada. O vilarejo ficava ali na beirada das árvores, e o vento fazia um barulho gostoso.

Cansado, Naruto se deitou na cama e cochilou por um tempo – algumas horas, talvez, não soube ao certo. Mas acordou quando o sol começava a se pôr em meio a uma vastidão alaranjada.

Era o momento.

Abriu o armário e procurou pela capa grossa, colocando-a por cima das vestes reais, depois tentou inutilmente pentear a cabeleira loira. Por fim, guardou a espada na bainha e desceu até os estábulos, onde seu fiel cavalo branco, Azriel, dormia tranquilamente.

— Como vai, amigo? — acariciou o focinho do bicho, que relinchou baixo, como se o cumprimentasse.

Azriel, felizmente, era só um cavalo normal, mas as vezes o príncipe tinha a impressão de que ele era muito inteligente para um animal.

Depois de selá-lo, subiu no lombo e deu batidinhas na barriga com as botas, fazendo-o trotar para fora dos domínios do palácio.  

+

Quando se viu cercado pelo bosque, encheu o pulmão com o ar puro, os ouvidos atentos aos ruídos. As árvores imensas e contorcidas projetavam longas sombras no chão lodoso, cheio de pedras. O cavalo branco trotou por um bom trecho; Naruto não tinha ideia de onde estava, mas folgou as rédeas, começando a ler o papel.

Primeiro tinha que ir para o norte, depois a virar a leste, quando encontrasse uma pedra enorme com formato de uma fada. Havia seguido as instruções. Olhou para os lados. Não tinha pedra alguma.

Estava perdido.

Ótimo, era só o que faltava.  

Não devia estar tão surpreso. Ao contrário do imperador, Minato, Naruto tinha um péssimo senso de direção. Não sabia ler um mapa sem pedir por ajuda.

Quem dirá instruções em um bilhete.

Mas não desistiu. Continuou tentando seguir as linhas que Sasuke escrevera, cavalgando cada vez mais para as profundezas daquele lugar esquisito. Era cheio de bichos e até mesmo se deparou com um coelho falante usando cartola.

As bizarrices não pararam por aí. Tentou conversar com um duende que encontrou no meio do caminho, para pedir mais informações, mas a criatura recusou-se a falar com ele, achando que ele estava atrás de ouro. Também encontrou um ogro, mas ogros só rugem.

Felizmente, não houve nenhum unicórnio a vista.

Não soube por quanto tempo cavalgou. Cerca de duas horas, talvez, e parecia longe de encontrar o tal local. As árvores começavam a parecer cada vez mais distantes uma das outras e, em dado momento, uma clareira surgiu. Uma clareira com grama alta, cercada pela floresta densa.

Um pequeno córrego corria nas proximidades e o chalé velho erguia-se no centro, cercado por macieiras. Identificou, na lateral, uma horta.

Aquilo o pegou de surpresa.

Quer dizer, não esperava encontrar uma casa – não em um local como aquele.

Mesmo que as estrelas despontassem no céu, as luzes estavam apagadas.

— Parece abandonado. — disse para ninguém em especial, analisando melhor o espaço.

Tomado pela curiosidade, desceu, amarrou o cavalo no tronco mais próximo e bateu na porta.

Evidentemente, ninguém o atendeu.

Ele tentou girar a maçaneta – pensou que fosse estúpido, a princípio, contudo, para total surpresa, a porta abriu facilmente, rangendo alto. O interior da casa era bem-organizado, apesar da poeira. Sala e cozinha eram um cômodo só. Havia prateleiras para todos os lados, uma poltrona velha e um caldeirão em meio a armários lotados por frascos e objetos esquisitos.  

Não soube ao certo o que o instigou a continuar se aventurando pela casa. Havia algo no ar, algo diferente. Encontrou um escritório de tamanho razoável, depois um banheiro.

Por fim, o último cômodo era um quarto – ele ficou boquiaberto, mas, pode acreditar, não foi por causa da decoração. Na realidade, o quarto era bem simples, com uma cômoda, o piso de madeira, as paredes em um tom lilás.

O que chamou sua atenção foi a moça que dormia na cama pouco confortável.

Aproximou-se, temeroso, para observá-la melhor. Todo o corpo estava coberto por uma fina camada de poeira.

Ele não tinha o mais inteligente dos cérebros, porém, avaliando os cômodos empoeirados e toda aquela sujeira em cima dela, deu para perceber que não se encontrava em condições normais.

Estava adormecida há muito tempo – talvez alguns meses.

Ajoelhou ali ao lado, limpando o rosto com a mão enluvada, notando como era bonita e jovem, mais ou menos de sua idade.

Apesar de fraca, havia um fio de respiração, o peito subindo e descendo imperceptivelmente.

Ainda estava viva.

Ele conhecia a situação e sabia o que fazer. Aquele era um clássico, como o da profecia que teria que cumprir.

A princesa salva pelo beijo do amor verdadeiro.

Claro que aquela garota estava longe de ser uma princesa – sem mencionar que era loucura essa coisa de beijo de amor verdadeiro, afinal, como se ama alguém sem conhecer a pessoa? –, mas a premissa do anti-feitiço não deixava de ser o beijo.

Naruto, porém, hesitou. Pela primeira vez na vida, refletiu sobre como a situação era desrespeitosa e não gostou nada da ideia de beijar uma desconhecida sem o consentimento dela.

Por isso mesmo optou por outros caminhos.

Começou com um cutucão forte no braço, evidentemente, sem resultados. Depois a sacudiu com força.

Ela não deu qualquer sinal de vida.

— Bom, — avaliou as opções. — talvez ela só tenha o sono pesado.

Mas ela não tinha o sono pesado. Fora realmente enfeitiçada – soube disso porque deu um beliscão forte no braço, que não causou qualquer efeito (foi sua última tentativa desesperada).

Não havia outras opções.

— Desculpe. — Murmurou, antes de inclinar.

Os lábios, então, se tocaram, um toque suave feito pena.

O efeito, porém, foi instantâneo.

Ela se levantou de uma vez, assustada, batendo suas cabeças. Naruto caiu para trás, xingando aos quatro ventos, com a mão na testa dolorida. A jovem também reclamou, massageando a região, e o encarou com incredulidade, pulando da cama.

Olhares cruzaram-se pela primeira vez. Naruto, percebeu, meio embasbacado, que nunca vira olhos daquela cor. Eram lindamente perolados, cercados por cílios longos e grossos.

Piscou, atordoado; ela não estava em situação melhor.

— Quem é você? — a voz fina saiu rouca e esganiçada. Estava assustada. — O que faz aqui? O que aconteceu?

Naruto ficou meio desorientado com tantas perguntas, colocando-se de pé.

— Não sei. — Sentiu-se um idiota, acuado por aqueles olhos que o fitavam de forma tão tempestuosa. — Desculpe por entrar em sua casa dessa forma, mas achei que estivesse abandonada e... Uou! — ela havia retirado um pequeno canivete de dentro do bolso do vestido e agora apontava a arma para ele. — Calma. Só estou tentando ajudar.

— E por que eu precisaria de ajuda?

— Você estava dormindo. — Certo, foi uma explicação muito idiota. Tentou soar melhor. — Quer dizer, enfeitiçada. Dormindo por causa de um feitiço.

Ela, então, piscou sequencialmente, e a sombra de compreensão se passou por seu rosto.

— Ah, droga. — Abaixou o canivete, dando-se conta de algo que ele não sabia o que poderia ser. — Acho que exagerei nas raízes de asfódelo ou em um dos ingredientes. Não era para ter efeito em contato com a pele. — Aquilo, para ela, parecia fazer algum sentido, embora ele não estivesse entendendo nada. — Espera aí! — os olhos faiscaram na direção do rapaz. — Você me acordou?

Naruto coçou a nuca, sentindo-se repentinamente sem graça com a lembrança do beijo.

— É, meio que sim.

Ela ficou atordoada com a informação, como se fosse desmaiar.

— Olha, — ele tentou se explicar — os outros métodos não funcionaram. Te sacudi e fiz várias coisas. O beijo foi o único que resolveu.

— Naturalmente. — Um suspiro escapou pelos lábios avermelhados. Belos lábios, de fato, o rapaz pensou, ainda com a sensação quente da boca dela na pele. — Vamos apenas esquecer isso, certo?

— Tá, tudo bem.

— Sabe me dizer que dia é hoje?

— Hm. Quinze de julho.

Ela ficou pensativa por um tempo.  

— Se Minato ainda for o rei, faz cerca de dois meses que estou desacordada.

— Ele é.

— Isso é bom. — Parecia muito aliviada com a notícia. — Antes dois meses, do que um século.

— Certo. — A situação toda era bizarra. Quer dizer, ele só queria comer sashimi, e agora estava conversando com aquela garota esquisita no meio de uma floresta, em uma cabana velha. — Considerando toda a situação, acho que seria apropriado nos apresentarmos. Meu nome é Naruto. Uzumaki Naruto.

A resposta não causou a impressão nem o efeito que desejava. O rosto dela, antes aliviado, transfigurou para uma expressão assustada.  

O príncipe?

— Hm. É.

— Só para deixar bem claro, — deu um passo para trás. — não sou uma princesa em apuros e não vou me casar com você.

— Típico. — Ele resmungou, aborrecido. — Por que todos acham que príncipes devem se casar depois de salvar uma garota em apuros?

— É o que príncipes geralmente fazem. Nunca entendi isso. É algum tipo de regra?

— Não, não é regra. E eu não sou esse tipo de príncipe. — tentou deixar bem claro sua índole. A moça sorriu. — E qual o seu nome?

— Hinata. Hyuuga Hinata. — respondeu. — A propósito, obrigada por me... bom, por me acordar, majestade.

— Sem formalidades, por favor, nós somos íntimos, já até nos beijamos. — Hinata riu da piada. Percebeu como tinha um sorriso lindo. Naruto não conseguiu evitar sorrir de volta. — E me desculpe por invadir sua casa. Achei que não morasse ninguém e estava meio curioso.

— Não é a primeira vez que minha casa é invadida por gente curiosa — disse, lembrando-se de Tenten. — E não será a última. Agora, porque um príncipe como você está andando aqui, nessas redondezas?

— Acabei me perdendo. — Revelou, sem graça, começando a mexer no bolso na calça. Retirou de lá o papel que continha a caligrafia de Sasuke. — Por acaso conhece esse local?

Hinata apanhou o pequeno papel amassado, os olhos lendo as instruções.

— Claro que conheço. — O devolveu, agora com uma expressão indecifrável.

— Pode me ajudar a encontrá-lo?

Ela piscou sequencialmente e ele pensou, por um momento, que ela recusaria.

Mas não foi isso o que aconteceu.

— Claro.


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Notas finais do capítulo

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