Hocus Pocus escrita por Bruninhazinha


Capítulo 2
☪ O príncipe (des)encantado




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Naruto estava cansado daquela palhaçada. Quer dizer, não que a comida estivesse ruim – os cozinheiros do palácio eram muito competentes, e ele meio que entendia os motivos da mãe –, mas impedir que todos comessem peixe só porque ela era uma sereia já era um pouco demais.

Estavam na gloriosa sala de jantar, um cômodo amplo, cheio de quadros e móveis lustrosos. Vendo que a ruiva o analisava com aqueles olhos medonhos, Naruto levou um pouco de salada a boca, forçou um sorriso e levantou o polegar em um joinha. Kushina pareceu aprovar a atitude do filho, porque voltou a conversar com o marido, do outro lado da mesa.

Aquela estava longe de ser uma família normal. O imperador, Minato, há muitos anos, foi resgatado de um naufrágio por uma sereia. Os dois inevitavelmente se apaixonaram, casaram e tiveram dois lindos filhos, primeiro Naruto, depois Karin.

Apesar de serem irmãos, o rapaz achava Karin esquisita. Herdara não só a cabeleira ruiva da mãe, como poderes, conseguindo passar um bom tempo submersa na água. Falava com golfinhos e, mesmo que não se transformasse – sereia dentro da água, humana fora dela – como a rainha, tinha uma irritante mania de cantar o tempo inteiro. Acredite, não era o canto angelical de uma sereia. O som soava mais como o de uma foca engasgada. 

Um inferno.

Naruto, por outro lado, era bastante normal – ou tão normal quanto deveria ser. Havia uma profecia sobre ele, algo sobre salvar uma princesa de uma torre guardada por um dragão horrendo. A profecia foi feita por uma das videntes mais conhecidas da região, uma tal de Tsunade Senju, que na opinião do príncipe não passava de uma velha charlatã; infelizmente, Kushina e Minato ficaram bastante impressionados com os "dons" da mulher e realmente acreditavam que a profecia se cumpriria no vigésimo segundo aniversário do filho.

Ele encarou o prato cheio de salada, depois cutucou o bife malpassado com o garfo. Não aguentava mais essa dieta sem peixe. Passara noites sonhando com a porcaria de um sashimi. Ele não era sereiano, droga, não tinha que passar por isso!

Os almoços no palácio eram sempre barulhentos. Karin não calava a boca nem por um segundo, e Kushina vivia importunando o pobre marido. Naruto limitava-se a observar com indiferença, já acostumado com tudo aquilo.

Era um porre.

— Então, meu querido — demorou um pouco para perceber que a rainha se dirigia a ele. —, quando pretende partir?

O loiro, que levava mais uma garfada de alface até a boca, parou no meio do caminho, encarando a ruiva mais velha com ares de dúvida.

— Partir para onde?

— Oras, — ela semicerrou os olhos. Isso nunca foi um bom sinal. — não se faça de desentendido. Em três semanas é seu vigésimo segundo aniversário. Precisamos preparar sua partida para resgatar a princesa.

— E a senhora acha mesmo que vou? — questionou, incrédulo.

— É claro que vai. E não adianta fazer essa cara feia para mim. Você é um príncipe, um príncipe encantado, e precisa cumprir a profecia.

Naruto torceu o nariz. Príncipe encantado. Detestava o adjetivo. Era meio exagerado, mas as pessoas realmente o viam assim. Encantado. Sentiu o almoço revirar no estômago.

Odiava como todos gostavam de palpitar e decidir sobre sua vida sem pedir sua opinião. A rainha tinha essa irritante mania.

— Podemos falar sobre isso depois?

Ela cruzou os braços, recostando mais na cadeira, com aquela mesma expressão enfurecida.

— Não adianta fugir de mim, sabe disso, não sabe?

— Eu sei. — Murmurou, desanimado. Infeliz, afastou a cadeira e se levantou. — Se me derem licença, estou sem fome.

E saiu sem dar brecha aos protestos da mãe.

+

Mas Naruto estava, sim, com muita fome quando desceu aos jardins do palácio. Sentou-se embaixo do carvalho e encarou o horizonte. Um lago escuro, cercado por árvores, espelhava o céu azul sem nuvens daquele início de tarde.

Em dado momento, escutou passos, mas não deu atenção. A pessoa se sentou ao lado com as pernas estendidas, encostando o corpo preguiçosamente no tronco da árvore.

— Sua mãe vai acabar explodindo em algum momento. — A voz de Sasuke quebrou o silencio sepulcral, cheia de indiferença.

—Ela vai me enlouquecer com essa história de profecia. Ela e meu pai. Precisava de um tempo longe daquela maluquice.

— Então escolheu um péssimo lugar. — O príncipe rolou os olhos. Sasuke, o loiro notou, estava engomado até o pescoço, trajando uma daquelas vestes desconfortáveis da nobreza. O Uchiha vivia tentando persuadir a mãe, Mikoto, a parar de tentar obrigá-lo usar aquela porcaria, mas pelo visto esse era um daqueles dias sem sorte. — Perto demais do castelo.

— Queria o que? — resmungou. — Que eu me enfiasse nas masmorras?

— Anime-se, meu caro. — Deu palmadinhas fortes no ombro do loiro, propositalmente, arrancando uma careta de dor do rapaz. — Nem parece que logo terá uma festança para comemorar seu aniversário.

O loiro arqueou uma das sobrancelhas, fitando o melhor amigo. Sasuke era filho de um duque muito próximo ao imperador. Cresceram praticamente juntos, já que a propriedade dos Uchiha ficava nas proximidades do castelo.

— Até parece que não sabe o que meu aniversário significa.

— Ah, claro, como pude me esquecer? — falou dramaticamente, em seguida um sorriso debochado surgiu nos lábios finos. — Não é como se comentassem todo santo dia a porcaria da profecia. Nunca ouvi tanta besteira.

Naruto, segurando um sorriso, voltou os olhos para o lago e encheu os pulmões de ar quando a brisa fresca soprou.

— Mas você devia aproveitar... — continuou ao perceber que o loiro não falaria tão cedo. — Quer dizer, daqui um mês você vai partir nessa missão suicida, não é? É melhor aproveitar enquanto pode já que tem grandes chances de você não sair dessa vivo.

— Nossa, — rolou os olhos. — obrigado. Suas palavras são realmente animadoras.

— Não agradeça, é a minha especialidade.

Ficaram em silencio novamente, dessa vez Naruto pensando que Sasuke tinha completa razão. Precisava aproveitar enquanto ainda estava vivo.

— Tem uma coisa que quero fazer antes de partir.

— E o que é? 

O moreno esperava por algum feito heróico ou qualquer besteira de príncipe, mas o que veio a seguir o pegou desprevenido. 

— Quero comer sashimi. Já faz meses e não aguento mais salada. — murmurou, muitíssimo aborrecido. — Minha mãe é diabólica. Certeza que daqui um tempo vai obrigar a família inteira a virar vegetariana. 

Os dois se encararam por um longo instante, Sasuke com as sobrancelhas arqueadas, em incredulidade, e Naruto com aquela expressão de urgência.

— Sabe o que sua mãe vai fazer se descobrir?

— Me esfolar vivo, evidentemente.

— Isso que você quer é proibido, cara.

É óbvio que era proibido. A rainha obrigou o rei a criar a porra de um decreto proibindo qualquer venda de peixe ou abertura de restaurante japonês.

— Eu sei, mas você não faz ideia do que é conviver com uma sereia embaixo do mesmo teto. É um pesadelo, e eu nem estou falando da minha irmã. — Sasuke fez careta. Karin era uma das inúmeras garotas que davam em cima dele. — E aquele restaurante ilegal que íamos escondido fechou. 

O Uchiha pareceu ponderar por um momento, encarando o além. Então, com um sorriso indecifrável, inclinou na direção do amigo.

— Conheço um lugar, — pausou, só para dar um ar a mais de mistério a situação. — mas é perigoso.

— Cara, eu vou ter que enfrentar um dragão. — disse, descrente. — A merda de um dragão, por uma princesa que eu nem conheço. O que pode ser mais perigoso que isso?

— Está mesmo disposto?

— Sim.

— Mesmo que tenha que atravessar parte da floresta encantada?

Naruto hesitou por um momento. Conhecia a floresta encantada, adentrara lá com o Uchiha quando tinham doze anos e os dois quase foram chifrados por um unicórnio.

Pode acreditar, unicórnios eram assustadores.

Porém, não havia dúvidas.

— Só me diga o caminho.


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