Hocus Pocus escrita por Bruninhazinha


Capítulo 1
☪ A bruxa má


Notas iniciais do capítulo

Oi gente. Já faz algum tempo que essa história está guardada, porém estava meio receosa em postar. Sempre quis publicar algo no mundo dos contos de fadas. Enfim, espero que gostem. Não vou me comprometer com dias de postagens, até porque sou meio ocupada, então peço que tenham um pouco de paciência comigo. Boa leitura a todos! Como sempre, dedicada a Mayara.



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Nunca foi fácil ser uma bruxa.

Hinata, porém, já havia aceitado aquele fatídico destino. Era a última de uma extensa linhagem de bruxos e morava nas profundezas da floresta encantada desde a infância. Não havia muito o que dizer a seu respeito, exceto que era dada a acidentes e estava sempre solitária.

O traço disperso foi herdado da mãe, mas, acredite se quiser, permanecer isolada de todos foi uma escolha – só queria viver em paz, algo aparentemente impossível com os vizinhos que a cercavam. Barulhentos, inconvenientes. Essa era a parte ruim de morar em uma floresta encantada: havia animais falantes por todo lado, pássaros cantarolando e fadas madrinhas.

As princesas, no entanto, sempre foram a pior parte. A última que apareceu em sua cabana, atraída pelos feitiços que cercavam o casebre, acabou mordendo uma maçã envenenada que estava muito bem guardada no armário da cozinha, o que gerou uma grande dor de cabeça para Hinata. Ela teve que lidar com sete anões enfurecidos e foi um sufoco encontrar um príncipe que a despertasse do sono profundo.

Claro que não era o amor da vida da princesa, mas Tenten ficou satisfeita e os dois se casaram meses depois. As coisas funcionavam assim por ali, era a ordem natural. Príncipes sempre se casavam com princesas em apuros, tinham lindo filhos e depois viviam felizes para sempre.

Hinata gostava desse pensamento, mas não se iludia. Ela era uma bruxa.

E bruxas nunca tinham finais felizes.

Por isso só queria viver normalmente, fazendo poções, objetos mágicos e vendendo-os aos fregueses das redondezas. Contentava-se com o pouco e estava muito bem assim, com uma vida simples no meio daquela algazarra mágica.

Aquele era um dia especialmente ensolarado e a luz natural atravessava a janela. A cozinha, porém, estava abafada, e Hinata suava feito um porco enquanto o caldeirão borbulhava; movia a colher no sentido horário, os olhos sempre atentos nas instruções do grosso e empoeirado livro de Poções – uma relíquia da família.

Passou algum tempo esperando pela mudança da coloração. O vapor deixava o cômodo insuportavelmente quente e era impossível concentrar com o maldito barulho que vinha do lado de fora.

— Será que dá para parar com essa cantoria, inferno! — a feiticeira se viu gritando para a janela aberta, onde pôde enxergar a princesa Tenten, que cantava com a voz estridente para os bichos e seres mitológicos que a cercavam.

Hinata não entendia aquela garota, nem o que fazia ali. Por algum motivo bizarro, Tenten continuava aparecendo nas redondezas – ou melhor, no seu quintal – como se nada tivesse acontecido, como se não fosse perigoso estar nos domínios de uma bruxa. Desde o incidente da maçã, aparecia na propriedade pelo menos uma vez na semana, com aqueles animais irritantes. A princesa, de uma forma estranha, havia se afeiçoado a Hinata – e não era para menos. Foi ela quem a salvou de verdade, não o idiota do seu marido. A única coisa que ele fez foi beijá-la. Hinata foi quem teve o trabalho de procurá-lo e lidar com os anões.

A relação delas era meio estranha, mas a bruxa nunca fez qualquer objeção, o que era um bom sinal.

— Não consegue manter uma conversa normal sem acabar cantando no minuto seguinte?

— É coisa de princesa. — Deu de ombros, aproximando e apoiando os braços no parapeito da janela. — Você não entenderia.

— É claro que eu não entenderia. — Rolou os olhos.

— Alguma novidade? — tentou desviar o assunto. Em resposta, recebeu apenas um dar de ombros. — Sério? Nada interessante? Achei que a vida de uma bruxa fosse animada.

— Não há nada especial em ser uma bruxa. — Revelou, amargurada. — Só estudo o tempo inteiro, vendo artefatos mágicos e poções. Vez ou outra lanço feitiços ou contra-feitiços.

— Parece excitante.

— É chato. — A voz não escondeu o tédio. A outra arqueou uma das sobrancelhas e os pássaros piavam atrás dela, esperando que voltasse a cantar. — Mande esses bichos para longe, estão me atrapalhando!

— Credo, que mau-humor. Eles não fazem mal algum.

— Mas atrapalham minha concentração. Sabe, tenho um trabalho importante para entregar.

— Oh, — O brilho nos olhos escuros era de total interesse. Hinata soube que não se livraria tão cedo dela. — que trabalho?

— Outra maçã envenenada, já que você comeu a última do meu estoque. — Acusou e a princesa de repente pareceu constrangida. Era engraçado vê-la daquela maneira.

— Ela era muito bonita. — Defendeu-se, como se essa fosse uma desculpa perfeitamente plausível para invadir a casa de uma bruxa e se envenenar. — E estava gostosa. — suspirou com a lembrança, a expressão repentinamente sonhadora. — Foi a melhor coisa que já comi na vida. Tão suculenta.

Hinata encarou a princesa, depois o caldeirão que borbulhava o veneno. Discretamente, o afastou para longe da janela.

— Acho melhor ficar longe daqui, só por precaução. Sei como minhas maçãs são atraentes e prefiro que meu trabalho não seja roubado outra vez.

— Calma, não vai acontecer de novo. Só venho aqui porque acho agradável conversar com você. — Deu de ombros, como se não dissesse nada demais, mas as palavras pegaram a feiticeira de surpresa.

— Certo. — foi a única coisa que conseguiu proferir, ainda sem saber o que dizer a respeito daquela revelação. Quer dizer, fazia cerca de cinco meses que vinham se encontrando, não eram amigas nem nada, mas havia um laço esquisito entre as duas.

Tenten encarou o céu, como se acabasse de perceber algo, e desencostou do parapeito.

— Volto semana que vem para te ver, caso Lee não retorne. — A expressão no rosto dela mudou de feliz para irritada. — Faz uma semana que saiu para caçar.

— E daí? — voltou a mexer a colher de pau no caldeirão. — É o que príncipes fazem, não? Saem para caçar, casam-se com princesas e procriam o tempo inteiro.

— E daí que não aguento mais limpar aquela porra de castelo.— A Mitashi preferiu ignorar o último comentário da Hyuuga. Foi melhor assim. — O tempo todo lavando e esfregando!

— Achei que tivesse empregados.

— Dispensei todos. Não fazem nada direito.

— E os anões?

— São uns merdinhas, um bando de preguiçosos.

— Nisso tenho que concordar. E você devia procurar novos empregados.

E a conversa se encerrou meia hora depois. "A mais bela de todas" foi embora, despedindo-se de forma calorosa, sendo acompanhada pelos animaizinhos que não desgrudavam da barra de seu longo vestido.

Patético.

Hinata voltou a atenção ao caldeirão, que borbulhava mais do que nunca. Droga, se esquecera completamente da poção. Despejou o pó de luar – sem perceber que passara da quantia exata descrita nas instruções –, depois as raízes. Um vapor perolado subiu, preenchendo a cozinha. Tinha um cheiro estranho.

Ela pegou a maçã, localizada na mesa, entre inúmeros potes contendo ervas, raízes e ingredientes suspeitos, depois a mergulhou no caldeirão. Era um momento delicado e tinha que ser precisa no tempo. Com exatos dois minutos, enfiou a concha e retirou a maçã, antes verde, agora linda, grande, vermelha e muito apetitosa.

Hinata sempre recebeu pedidos questionáveis, mas nunca fazia muitas perguntas a respeito. Era melhor assim, para o bem de sua sanidade. O pedido dessa vez foi feito por uma rainha de um reino distante.

Morando no meio daquela floresta, era de se esperar que seus clientes não fossem apenas humanos. Trolls, sereias, princesas desesperadas, rainhas más, ogros, piratas. Aparecia de tudo ali.

Não era o trabalho dos sonhos, mas garantia o pão na mesa e dinheiro suficiente para manter a propriedade de pé. Ela só precisava guardar um dinheiro a mais para, quem sabe, mudar para o vilarejo. Talvez não fosse aceita, mas era melhor que morar naquele fim de mundo idiotamente encantado.

Perdida nesses pensamentos, sequer notara que o caldeirão continuava aceso, borbulhando mais do que nunca. Ao perceber era tarde demais. Ele explodiu na cara dela, derramando gosma nas paredes, no rosto e no vestido novo.

— Merda. — Resmungou, irritada. Nunca deu atenção as próprias vestes, mas aquele vestido foi realmente caro. Estava completamente suja. E fedendo. — Merda, merda, merda! — atirou a colher em um canto qualquer, quase acertando Hades, sua coruja lindamente quieta no poleiro, perto da pia. A ave soltou um pio indignado, encarando-a cheio de censura. — Desculpe. Só estou... Ah, que se dane!

Mas Hinata não queria saber. Estava tão enfurecida por ver todo aquele veneno ser desperdiçado, que teve um acesso de raiva. A maçã não se safou do infeliz acidente. Droga.

Se perguntou se valia a pena passar mais seis horas preparando aquela porcaria, e concluiu que não. Resolveu colocar os afazeres domésticos em dia. Depois que a casa estava organizada, o jantar pronto e o quintal varrido, ela observou, escorada no batente da porta do pequeno chalé, o horizonte alaranjado até que as primeiras estrelas despontassem no céu. Sentindo-se repentinamente cansada – muito mais que o habitual –, voltou para o casebre, tomou um banho para se livrar da poção impregnada na pele e se jogou na cama, esperando que o dia seguinte fosse um pouco melhor.

Mas não houve dia seguinte.

Nem semana seguinte. Ela simplesmente não acordou. Ainda dormia.

Ninguém foi atrás dela, exceto Tenten, que bateu muito na porta, mas, ao não ser atendida, desistiu, pensando que a jovem bruxa havia viajado ou algo do gênero.

Ninguém a socorreu.

Os dias continuaram a passar. A vida continuou.

Hinata, porém, permaneceu adormecida, cercada por livros e móveis velhos, em um sono profundo.


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Notas finais do capítulo

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