Primeiro veio Victoire. 

Fleur e Bill sempre quiseram ter filhos, no entanto, não podiam se dar ao luxo de sequer pensar no assunto em meio a guerra, já era suficientemente perigoso sequer terem feito uma cerimônia naquela época, como ficou comprovado com a queda do Ministério e a invasão de comensais, a qual encerrou a comemoração de maneira abrupta. Não podiam cogitar colocar uma vida no mundo, não naquele mundo pelo menos. E por isso precisavam lutar, nem que suas vidas fossem colocadas em risco. 

Além disso, haviam acompanhado o que Tonks e Lupin passaram durante o período da gestação do primeiro e único filho deles, com as incertezas do que os aguardava, incluindo a sobrevivência deles, a do bebê e a de todo o mundo bruxo. É fácil dispor-se a salvar o mundo e dar sua vida por isso quando não se tem nada a perder. No caso de Tonks e Remus, eles tinham e muito a perder. Isso, no entanto, não os impediu de seguir adiante, com Edward Remus “Teddy” Lupin vindo ao mundo com muita saúde em abril de 1998, a tempo de passar um certo período com os pais - mesmo que tão curto e impossível de se lembrar no futuro - antes do fatídico 2 de maio daquele ano.  

Após o fim da guerra, um sentimento ambíguo pairava por todos os sobreviventes. Haviam vencido, mas por outro lado inúmeras vidas foram perdidas. Heróis que visavam um mundo melhor e que, infelizmente, não estariam mais ali para ver os reflexos do esforço e dos sacrifícios de anos. Remus, Tonks, Fred… E a lista se seguia. Não havia como pensar em gerar uma nova vida tão cedo, não com tantas feridas ainda abertas. 

Mas o tempo foi passando, as feridas cicatrizando e a esperança ressurgindo.         Foi em uma manhã como outra qualquer no Chalé das Conchas que, de repente, Bill disse para Fleur que, talvez, fosse hora deles começarem a viver, porque, até o momento, tinham apenas tentado sobreviver, primeiro à guerra e depois às consequências dela. Não era fácil seguir adiante, não quando parecia tão injusto que os outros que se foram jamais teriam essa chance. Todavia, estava mais do que na hora de pensar no futuro, honrar os sacrifícios e as marcas, pois tinham um mundo muito melhor do que antes e eles mereciam ao menos tentar, apesar e por causa de tudo. 

Combinaram de tentar com calma, ver no que ia dar, sem muito planejamento ou expectativas, um dia após o outro. Quase um ano depois, Fleur descobriu que estava grávida. Pelos cálculos, nasceria entre abril ou maio de 2000, o que acabou gerando um silêncio profundo em todos os Weasley quando o casal mencionou algumas datas possíveis, sendo 2 de maio uma delas. Seria o segundo aniversário do fim da guerra e, querendo ou não, a data possuía um grande peso para todos. Não havia um bruxo que não tivesse perdido alguém importante, independente do lado que tivesse lutado. Foi Molly quem disse, com um sorriso e lágrimas nos olhos, que se fosse para o bebê chegar naquele dia era apenas um sinal de que, aos poucos, a vida ia tomando seu rumo novamente, com novos integrantes chegando para trazer alegrias e relembrar que, no final tudo fica bem, que todo o sacrifício não havia sido em vão, afinal. 

A primogênita Weasley-Delacour de fato veio ao mundo em 2 de maio de 2000, cercada por parentes mais do que emocionados, alegres e empolgados, trazendo um novo significado para um dia com tamanho peso. Seu nome não poderia ser outro a não ser Victoire, já que a data ficaria marcada para sempre como o dia da vitória do bem sobre o mal e, agora também, pelo dia no qual as coisas começaram a tomar seu curso natural mais uma vez, sempre em frente. 

Victoire foi o respiro que toda a família Potter-Weasley-Delacour precisava. Havia vida depois de uma guerra, embora em um primeiro momento parecesse difícil. Era possível seguir em frente, dar novos significados a acontecimentos e buscar a felicidade. Era possível vencer os próprios receios e demônios pessoais e simplesmente viver, conquistando uma pequena vitória a cada dia. 

Bill e Fleur não poderiam ter ficado mais felizes.