Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 93
Um Guerreiro Deus Familiar


Notas iniciais do capítulo

Shiryu enfrenta um Guerreiro Deus curiosamente familiar, enquanto Ikki resgata seus amigos dos calabouços de Valhalla.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/93

O Guerreiro Deus havia apanhado um espião nas redondezas da estrada que levava ao pórtico de entrada de Asgard, que não era outra senão sua antiga amiga Shiryu de Dragão, uma Cavaleira de Atena. A acusação de Hilda, portanto, era correta: o Santuário de Atena realmente planejava invadir Asgard e impedir os planos de sua governanta maior.

Ficaram os dois frente a frente e Shiryu tinha certeza que a voz alterada que ouvia por debaixo da máscara sem dúvidas era a de Hyoga, assim como era o cosmo que sentia brilhar à sua frente. Era diferente, mas era ele, o Cavaleiro de Cisne. Um observador desatento ou que confiasse por demais em seus olhos seria facilmente enganado, pois Hyoga em nada se assemelhava ao Cavaleiro de Cisne que outrora havia produzido milagres em nome de Atena; sua Armadura não era mais clara como a neve da Sibéria, tampouco seu cabelo estava solto e muito menos sua feição escapava da máscara que lhe deixava apenas os olhos azuis à mostra. E sua voz, abafada pela máscara de porcelana, poderia disfarçar até mesmo seu sotaque russo.

Mas à Shiryu quase nenhum desses detalhes lhe importava, cega como era. A voz abafada não eliminava os resquícios do timbre que ela tão bem conhecia, mas muito mais importante do que qualquer outro detalhe, à Shiryu era inconfundível como o Cosmo de Hyoga ainda queimava profundamente em seu peito. Shiryu seria capaz de reconhecer seus amigos-irmãos apenas pela frequência e a sensação que seus cosmos a faziam sentir. Se Hyoga ali queria esconder-se de seus antigos aliados, talvez tenha dado azar de topar justamente com aquela que o reconheceria mesmo que estivesse irreconhecível.

— Hyoga, é mesmo você? — perguntou ela, contente. — Estamos há semanas preocupados com você.

Hyoga deixou escapar um riso baixo e Shiryu notou que algo tombou na neve fofa em que estavam; a voz do garoto soou muito mais clara e, agora sim, inconfundível. Era mesmo ele. Havia tirado sua máscara.

— Há quanto tempo, Shiryu. — falou ele, simplesmente.

Mas a Cavaleira de Dragão, assim como podia reconhecer o Cosmo do amigo, pôde notar que havia algo de singular nele também: o Cosmo de Hyoga carregava uma sensação etérea e antiga, como se envelhecido por um tempo que com certeza não havia passado. Havia algo de misterioso no amigo.

— Hyoga, o que foi que aconteceu com você? — perguntou ela, finalmente.

— Já faz um bom tempo desde que me abandonaram aqui. — respondeu ele, e Shiryu adivinhou certo amargor em suas palavras.

Um calafrio inclusive atravessou o estômago de Shiryu.

— Não te abandonamos, Hyoga. Nos perdoe, mas… a Mestre Mayura não deixou que ninguém viesse antes para te procurar, confiando que voltariam. Onde está Jamian?

— Jamian retornou há muito tempo. — falou Hyoga, sem qualquer traço de dor na voz.

— Retornou? — perguntou Shiryu. — Pois ele nunca chegou no Santuário.

— E agora você está aqui. — falou Hyoga. — E não está sozinha.

— Hyoga, perdemos contato com você e Jamian, assim como com Seiya e os outros. Portanto, viemos saber o que poderia estar acontecendo.

O Guerreiro Deus viu como Shiryu tirou de suas vestes um cilindro dourado, que reconheceu imediatamente como o Selo de Atena; ela parecia mostrá-lo para demonstrar suas boas intenções, pois lhe parecia que Hyoga tinha qualquer confusão em suas atitudes.

— Também viemos para selar a última Relíquia do Mar. Todas as outras já foram seladas por Seiya e os outros. Agora falta apenas essa que fica em Asgard para que Poseidon não ressurja.

— Não chegarão até a Relíquia. — falou Hyoga, de modo ríspido.

— Sabe onde ela está? — perguntou Shiryu, interessada. — Shun acredita que podemos negociar a Relíquia em paz com Asgard. Estou muito feliz que o encontramos finalmente, Hyoga; acha que pode nos ajudar junto à pessoa que conhece nesse lugar?

— Asgard não deixará que cheguem até a Relíquia. — falou Hyoga, sua voz muito dura e desconfiada. — E o que vejo ali é a Armadura de Andrômeda e também a de Fênix. Isso quer dizer que há outros invasores na região. Terei de alertar o Palácio Valhalla.

— Espere, Hyoga! — falou Shiryu, segurando o braço do amigo no escuro. — O que é que há com você, Hyoga?

O Guerreiro Deus carinhosamente segurou a mão de Shiryu quando lhe respondeu de maneira lacônica:

— O que há comigo é que invasores estão à solta em Asgard e é meu dever proteger os muros de Valhalla.

O braço direito de Shiryu começou a ser congelado a partir de onde ela havia tocado o braço de Hyoga, de modo que a Cavaleira de Atena não conseguia desvencilhar-se mais do amigo. Duplamente assombrada, de dor pelo gelo que lhe comia o braço, mas também de surpresa pelo amigo estar tão distante do que se lembrava, ao ponto de atacá-la daquela forma determinada.

— Shiryu, não tornará a usar o seu braço nunca mais. — falou Hyoga, entre sorrisos sarcásticos.

E arremessou a amiga pelo braço congelado para o ar, fazendo com que seu corpo voasse alto acima da altura dos pinheiros nevados; o Guerreiro Deus saltou na direção de Shiryu e acertou uma joelhada forte em suas costas, fazendo-a cair novamente contra a neve. A Cavaleira de Dragão estava em choque, mas o Guerreiro Deus Hyoga pouco se importou e correu adiante para acertar um soco forte no estômago da amiga, levantando a garota outra vez, fazendo-a arrastar-se contra o tronco de uma árvore próxima.

A força de Hyoga era tão avassaladora que a árvore não só balançou afastando seus pássaros, como suas raízes deixaram o chão, e ela caiu para trás deixando Shiryu rolar para o lado. O Guerreiro Deus outra vez tentou acertar Shiryu e, pela primeira vez, a garota esquivou-se da investida furiosa e usou o momento para desequilibrar o amigo usando seu único braço à disposição.

— Por que está fazendo isso, Hyoga? — perguntou Shiryu.

— É muito simples, Shiryu. — falou o amigo. — Estão aqui como invasores de Valhalla e o dever de um Guerreiro Deus é o de proteger o Palácio de Odin.

— Do que está falando, Hyoga?! Tudo que queremos é selar a Relíquia do Mar! 

— Não chegarão perto da Relíquia! — vociferou Hyoga para a amiga, novamente tentando atingi-la, agora sem sucesso.

Shiryu saltou e ficou outra vez distante do amigo.

— Não quero lutar contra você, Hyoga!

— Saia de Asgard e não volte mais, Shiryu. — pediu Hyoga.

— Não, não vou te abandonar aqui, Hyoga. Nem você, nem a Ikki ou o Shun.

— Então vai morrer aqui junto deles.

Hyoga correu e acertou outra vez Shiryu, jogando-a para longe; a Cavaleira de Dragão enganchou seu braço esquerdo em um tronco para redirecionar a força de sua queda na direção do Guerreiro Deus, finalmente atingindo o amigo, fazendo com que seu elmo caísse na neve deixando seus cabelos louros finalmente se soltarem. 

O Guerreiro Deus outra vez colocou-se de pé, disposto a lutar até a morte; Shiryu percebeu que o amigo parecia mesmo muito mudado, embora não tivesse certeza absoluta de que estivesse possuído, pois parecia ainda manter certa lógica e senso, ainda que estivesse do lado errado. Ao menos dentro da perspectiva de Shiryu.

A luta arrastou-se pela estrada, pelas árvores, pelo tapete de neve que em alguns pontos tingiu-se do sangue vermelho que ambos derramavam naquela terrível batalha entre amigos. E enquanto Hyoga lutava com toda sua força, Shiryu teimava em esquivar-se, defender-se com seu Escudo do Dragão e tentar defusar aquela batalha terrível com pedidos implorados para que ele parasse; mas quanto mais apanhava e mais distante ficava de onde estava, Shiryu parecia compreender que, se não fizesse algo, ela poderia mesmo morrer nas mãos de um amigo delirante.

— Decidiu finalmente lutar, Shiryu? — perguntou Hyoga.

Pois os cabelos de Shiryu estavam aos céus como ficavam quando seu Cosmo levantava-se com violência; ela havia passado os últimos tempos treinando ao lado de Aioria, de modo que seu Cosmo carregava certos brilhos dourados que maravilharam até mesmo Hyoga, que parecia surpreso em ver sua amiga dona de um Cosmo tão efervescente.

— Acorde, Hyoga! Cólera do Dragão!

Com seu único braço disponível, o do Escudo, ela levantou a neve ao seu redor como quem controla as águas em suas partículas e pintou um maravilhoso Dragão que atingiu violentamente o peito de Hyoga em uma velocidade impressionante, que arrastou o Guerreiro Deus para longe fazendo-o se chocar contra um tronco enorme de árvore, caindo finalmente inconsciente.

Pois se Shiryu pensou ter vencido a batalha, não poderia estar mais enganada, já que seu corpo inteiro foi congelado em um esquife de gelo, que explodiu no instante seguinte jogando a Cavaleira de Dragão para o chão.

— Quando foi que ele… Droga.

E de um lado caiu Hyoga, desacordado, e de outro caiu Shiryu, desfalecida. Entre eles, uma brilhante Safira.

 

—/-

 

Sid, um Guerreiro Deus de Robe Divina toda negra como a noite, escoltava Shun pelos túneis e corredores escuros e frios do Palácio Valhalla. O rapaz era de postura impecável, o corte rente do cabelo claro, a expressão sempre muito tranquila e de modos sempre polidos e comportados; um contraste absoluto entre a corda tensa que se estendia entre todos os demais conselheiros. Talvez justamente aquele que pacificava a dinâmica de todos eles. 

Caminhava em silêncio com o garoto à sua frente; Shun não tinha sua Armadura de Bronze à disposição, mas ainda que a tivesse não usaria, pois acreditava piamente na paz para conseguir selar Poseidon, afinal de contas não era um pedido tão absurdo aquele que faziam e Seiya havia conseguido selar seis daquelas sete Relíquias dos Mares. Não sabia a circunstância em que foram seladas, mas Shun gostava sempre de acreditar na paz.

À sua frente, realmente o guerreiro Sid parecia ter um de seus prisioneiros mais cooperativos desde que havia assumido um dos sete postos como Guerreiro Deus de Asgard; povo bravo, raramente seus aldeões eram aprisionados com presteza e facilidade, para não dizer o mesmo de seus eternos rivais além das fronteiras. Era mesmo um pouco desconcertante um garoto tão jovem, tão delicado, se prestar àquela masmorra perdida no tempo. 

Em um corredor de muitas celas, uma dúzia de guerreiros nortenhos prestou continência àquele imponente guerreiro que andava entre eles até uma das celas vazias, de portão furta-cor metálico e de detalhes lindos, forjados na antiguidade pelos artífices das montanhas. Um dos guardas abriu a cela para que o Guerreiro Deus entrasse com Shun à sua frente.

— Vire-se. — pediu ele para o garoto.

O garoto encarou o homem, que era maior que ele e branco como a neve que apavorava aquela região, bem como frio feito um bloco de gelo; o Guerreiro Deus Sid prendeu as duas mãos de Shun em manilhas de ametista púrpura presas por correntes de elos grossos e escuros nas paredes. Assim que Shun viu-se preso finalmente, sentiu as correntes serem puxadas por qualquer mecanismo na escuridão, levantando seus braços e suspendendo-o do chão, preso apenas pelos grilhões de ametista nos punhos. Sem dizer qualquer outra palavra, Sid deixou o prisioneiro em sua cela solitária e deixou o guarda trancar atrás de si a cela, deixando àquela meia dúzia de soldados a guarda quase desnecessária das celas de Valhalla.

E assim que os passos do Guerreiro Deus perderam-se na distância, Shun percebeu curioso como aqueles grilhões de ametista que o prendiam tinham certo brilho púrpura efêmero naquela escuridão em que estava. Refletiu sobre a missão que tinha ido efetuar naquelas terras geladas e pensou em Ikki, que havia se deixado prender na entrada do reino para que ele pudesse chegar até o Palácio, ou mesmo Shiryu, que os esperava em um lugar combinado com suas Armaduras, afinal de contas não queriam ser vistos como ameaças.

Na escuridão da prisão, Shun adivinhou gemidos de outros prisioneiros nas celas ao lado, e imediatamente refletiu se não seriam Hyoga ou mesmo Jamian, uma vez que aqueles grilhões pareciam especialmente capazes de impedir que ele os rompesse com seu cosmo. Não eram mesmo grilhões comuns e a confiança daquele Guerreiro Deus de lhe deixar com simples capatazes à guarda era prova suficiente de que ele de fato não poderia se desvencilhar do que o prendia.

Fechou os olhos, pois ainda tudo estava sob um certo controle, afinal de contas seus olhos viram com clareza que a iluminação daquele corredor de celas era feita à moda antiga: por tochas e candeeiros.

Ele sabia muito bem o que iria se suceder.

A luz que entrava pela fresta da cela bruxuleou como se as chamas que iluminavam o corredor houvessem sido assopradas por baforadas de querosene, aumentando a intensidade e o brilho nas paredes. A dúzia de guardas do lado de fora reagiu e seus urros chegavam abafados para dentro daquela cela quase hermética; uma gritaria desenfreada acordou todos os prisioneiros daquela ala, enquanto corpos pareciam bater contra a parede, vozes ganiam de dor e o metal das portas da prisão retorcia-se com a força com que os guardas eram jogados sobre elas.

Certamente haviam sido todos espancados por invasores impiedosos.

E quando o silêncio tomou conta do corredor finalmente, o metal reforçado e grosso da porta recebeu uma pancada que lhe afundou o corpo; e então duas, e na terceira finalmente ela foi ao chão, revelando a silhueta de uma garota com tranças nos cabelos: era Ikki, emoldurada de fogo. Ela entrou na cela e percebeu o garoto soerguido e suspenso pelas correntes negras, enquanto os grilhões de ametista lhe brilhavam nos pulsos machucados. A Cavaleira de Fênix surpreendeu-se quando viu o estado lamentável em que o garoto estava e, com suas penas de fogo, rompeu as duas correntes escuras, tomando o rapaz nos braços.

— Seiya, você pode me ouvir? — perguntou ela, preocupada.

Nos punhos do menino, Ikki viu morrer o brilho púrpura da ametista até que ela se desfez em cinzas pelo ar. Lentamente, Seiya abriu os olhos e maravilhou-se ao ver diante de si a face de Ikki, que há meses havia abandonado no Santuário quando partiu para os Sete Mares.

— Ikki? — perguntou ele, delirante, sem poder acreditar.

— Sim, Seiya. Estamos aqui. — falou ela. — Estão todos aqui?

Seiya estava esgotado e mal conseguia falar, quando Ikki ouviu uma voz familiar em uma cela próxima lhe chamar. Colocou Seiya no chão lentamente e arrombou a próxima cela que havia naquele corredor, resgatando também Shun de seus grilhões.

— Cuide do Seiya, ele está na cela ao lado, Shun. — pediu ela.

— Seiya? — surpreendeu-se o garoto.

— Sim, ele está mal. Muito mal.

— Se o Seiya está aqui, talvez todos estejam.
— Deixa comigo. — falou Ikki.

Shun correu à única cela aberta além da sua e ali viu Seiya lentamente levantar-se com muitas dificuldades, seus punhos muito machucados, seu rosto cavado de cansaço, sua boca ressequida de fome e sede. Shun o tomou nos braços de saudade.

— Seiya, estamos aqui. — tentou ele acalentar o amigo.

— Ah, Shun. Como é bom ver vocês.

Do lado de fora, Ikki espancava as portas e efetivamente parecia encontrar mais prisioneiros deixados à sua má sorte.

— O que aconteceu, Seiya? — perguntou finalmente Shun.

— Conseguimos selar seis Relíquias dos Mares, Shun. Mas quando chegamos em Asgard… — engoliu ele em seco. — Assim que chegamos, fomos capturados e jogados nessas celas.

— Vamos libertar todos. — garantiu Shun ao ouvir as pancadas que Ikki desferia nas celas.

— Não estamos todos aqui. — falou Seiya para ele. — Apenas June, Geist e eu.

À entrada, viram finalmente surgir Ikki com June no colo e Geist cambaleando e apoiando-se na Cavaleira de Fênix para dentro da cela do Cavaleiro de Pégaso, que ali usava tão somente o que havia sobrado de seu outrora bonito sobretudo marítimo.

— Disse que foram capturados? — perguntou Ikki, surpresa. — Os Guerreiros Deuses são tão fortes assim?

— Eles são muito fortes, mas nos pegaram de surpresa. — falou Seiya, arfante.

— Nos receberam com enorme cortesia no porto e quando baixamos a guarda, nos cercaram. — falou Geist. — Tentamos lutar, mas já era tarde demais.

— Esses grilhões são especiais. — observou Shun. — Não pude rompê-los com minha força.

— Nenhum de nós pôde. — falou Seiya. — Se não fosse você, Ikki…

— Não importa, agora estão livres.

— E quanto ao resto da tripulação? — perguntou Shun.

— Fugiram. Estão no céu. — falou Geist para eles. — Em segurança, espero…

— Não temos tempo para conversa, precisamos fugir logo deste lugar. — falou Ikki, adivinhando que não demoraria muito para guardas aparecerem para averiguar que algazarra havia acontecido ali nas masmorras.

— Espere. — pediu Seiya. — Nossas Armaduras. Eles as levaram quando nos prenderam. Talvez ainda estejam nesse lugar.

— Eu duvido muito. — falou Ikki, e todos olharam para ela. — As Armaduras Sagradas não são coisas de que deixariam em calabouços como estes. Certamente é um tesouro valioso demais para deixarem aqui. E eu ouvi dizer que há um lugar para tesouros valiosos. A Caverna de Surtr.

— Uma caverna? — perguntou Shun.

— Vamos, eu conto tudo quando sairmos desse lugar. — falou Ikki.

Não era preciso ser um gênio para adivinhar que o caminho mais arriscado para eles seria subir as óbvias escadas espiraladas daquela masmorra para o que sem dúvidas deveriam ser os andares térreos do Palácio Valhalla. Por sorte, como se veria, o corredor das celas agora arrombadas continuava adiante, onde embrenhava-se fundo no rochedo de um complexo subterrâneo de Asgard.

Com Ikki carregando uma tocha à frente deles, eles abandonaram a prisão para o que efetivamente era uma mina abandonada de seus carrinhos-de-minérios, picaretas lindíssimas espalhadas no chão e reentrâncias na rocha de antigas escavações. Não havia ninguém ali, pois há muitos anos que também não tinha sentido algum minerar tesouros, já que Asgard não tinha com quem negociar.

Seguiram por trilhos abandonados até que surgiram em uma colossal caverna iluminada pelo céu branco que entrava por uma brecha no teto e então espalhava-se refletindo nas estalactites de gelo, nas pedras de topázio e cristais de rocha. O cenário de tirar o fôlego daquela caverna, que era tão alta quanto profunda, era entrecortada por trilhos de trem que embrenhavam-se pelo chão, mas também aventuravam-se a cortar estalactites suspensas por cordas grossas pelo ar.

Um vozerio chamou a atenção deles às costas, pois sem dúvidas que haviam descoberto a fuga da prisão, os corpos desacordados dos guardas, bem como as celas vazias. Estavam já ao encalço deles e tanto Seiya como Geist não estavam em condições de lutar, enquanto June permanecia ainda desacordada.

— Você não tá falando sério. — protestou Seiya ao ver Ikki trazer para perto deles um dos carrinhos que ainda tinha suas quatro rodas de metal funcionando e, surpreendentemente, sem tanta resistência, como se houvessem sido usadas dali a alguns minutos apenas, tal era a qualidade dos materiais dos antigos artífices de Asgard.

— Entrem. — falou ela.

Geist saltou para dentro e Seiya também; Shun passou o corpo de June para Seiya, para que ele a sentasse na parte de trás do carrinho e os dois irmãos colocaram-se cada um de um lado. E quando rompeu atrás deles a urbe de soldados com tochas perseguindo-os, os dois correram empurrando o carrinho milenar dos antigos anões de Asgard para que ele ganhasse velocidade pelos trilhos abandonados.

— Pule, Shun! — pediu Ikki.

O garoto saltou dentro do carrinho em altíssima velocidade e logo Ikki também saltou dentro quando o carro, veloz como estava, subiu por um trilho retorcido que jogava-se para fazer uma curva ascendente de um pináculo de pedra, onde viram, já muito lá no chão, surgir os soldados que os perseguiam.

— Vocês são malucos! — gritou Seiya.

O carrinho fez uma curva aberta e então desceu violentamente uma queda para passar por debaixo da plataforma onde os homens e mulheres gritavam loucuras para eles arremessando tochas e atirando flechas, que zuniram ao lado, mas não atingiram ninguém. Estavam já muito longe de serem pegos, mas não faziam ideia de onde aquela fuga desenfreada os levaria.

O sacolejar violento do carrinho em ótimo estado acelerando contra os trilhos abandonados daquela mina fez com que June despertasse de seu torpor no exato momento que o carrinho tomou velocidade e subiu uma rampa à frente deles que parecia não acabar nunca; e se o início foi pujante e forte, a subida era tamanha que logo a gravidade os freava de modo que por pouco não retornaram de ré para onde haviam partido. O carrinho finalmente tomou a plataforma, estabilizou, ganhou um pouco de velocidade, pois o trilho seguia por um breve declive até que à frente deles viram com assombro que a queda que tomariam seria ainda mais terrível. 

Foi quando June despertou completamente.

Seu urro fez cair estalactites ao redor deles, tamanha a violência de seus gritos, mas a queda durou pouco mais de cinco segundos; a velocidade que tomaram era tanta que, assim que o carrinho voltou à horizontal, eles quebraram uma barreira de madeira e o carrinho foi lançado daquele trilho para outro, rompendo a escuridão e reaparecendo na face externa e lateral da montanha, do lado de fora.

— Cruzes! — bradou June, finalmente acordada em péssimo momento.

A velocidade era alta demais e o caminho do trilho ao redor daquela montanha fazia uma curva muito aguda, de modo que se aquela extrema velocidade se mantivesse, o pequeno carro descarrilaria, jogando-os em uma queda abrupta para uma floresta que cobria a planície abaixo deles.

E foi exatamente o que se passou.

O carrinho capotou contra a face da montanha tantas vezes que se arrebentou inteiro, enquanto os Cinco Cavaleiros de Atena caíram juntos pelo abismo de Asgard. Distante dali, no entanto, uma observadora atenta das florestas abaixo da montanha viu como, do céu, cinco brilhos de cores diferentes pareciam cair lentamente feito estrelas-cadentes dentro do coração da floresta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Se alguém chutou que a cena final foi baseada em Donkey Kong, não estará de todo errado. Também quis aludir à um pouco de aventura, como no filme do RinTinTin e dar uma fuga de prisão digna de grandes aventuras aos Cavaleiros; colocá-los em situações que nunca vimos e com soluções engenhosas. Principalmente porque faria todo sentido que o interior da montanha fosse uma enorme mina dos antigos anões de Asgard. =) A luta entra Shiryu e Hyoga é exatamente como se deu no segundo filme da série e eu quis prestar uma homenagem àquele visual maravilhoso do Hyoga no filme.

PRÓXIMO CAPÍTULO: A ESTELAR SAFIRA DE ODIN

Depois de fugir dos calabouços de Valhalla, os Cavaleiros de Atena se vêem diante de uma ameaça terrível que não parece compreender nada além de uivos de lobos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.