Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 72
Uma Vida Normal


Notas iniciais do capítulo

Os amigos estão de pé novamente e Saori quer que eles tenham uma tarde de paz em Rodório. Nada como um almoço à beira-mar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/72

 

Em um bonito dia ensolarado, uma criança corria atrás de uma garota pela grama. Os dois gargalhavam enquanto o menorzinho tentava alcançar sua irmã, que escondia-se atrás de troncos de árvores, enganava-o de leve e fazia com que o menino corresse ao redor do próprio tronco sem alcançá-la. E assim saíam correndo por um bosque. Ela se escondia e o menino gritava seu nome até ser surpreendido quando ela lhe aparecia nas costas para apertar seu bumbum. E ele saía novamente correndo atrás dela, fulo da vida, jurando pegá-la.

Era um dia diferente, pois era um dia contente.

Ao final dele, Seika carregava o menino nas costas, ele sem seus sapatinhos e roncando de tão cansado que estava das brincadeiras.

Seiya lembrava-se tanto de seu cheiro e também de como sentia-se confortável no colo da irmã.

Seus melhores sonhos eram aqueles em que se lembrava de Seika.

Seus sonhos não eram sempre tão bons, mas há tempos que tudo que ele podia fazer era sonhar.

 

—/-

 

Saori entrou no segundo andar para encontrar Seiya sentado com a cabeça baixa, Shun já estava de pé ao lado de Ikki se abraçando, enquanto Shiryu continuava deitada sendo cuidada por June. Hyoga estava sentado, o semblante muito sério no sofá em que Saori dormia. Os olhos de todos encontraram-se com os dela, que não se conteve e abriu um enorme sorriso ao vê-los finalmente todos bem.

Ajoelhou-se diante de Seiya e viu se desenhar no seu rosto um sorriso pequeno, pois ele ainda parecia um tanto zonzo. Saori o abraçou forte, mas Alice buscou contê-la, pois o coitado ainda estava muito frágil; mas ele estava acordado o suficiente para falar bobagem.

— Se você me internar mais uma vez… — ameaçou ele, brincando, e sorriu.

Pois nem Ikki conseguiu escapar de um abraço, o que fez com que todo mundo desse risada, para imensa bronca de June, pois eles não poderiam sequer estar de pé.

Ficaram todos acordados pela madrugada, pois Seiya e os demais dormiram por quase um mês, enquanto Saori parecia não conseguir viver durante o mesmo tempo. Não havia acontecido tanta coisa assim no Santuário, mas não foi como se não houvesse muito do que falar. 

Embora tivessem tido um longo momento de silêncio depois das batalhas das Doze Casas olhando o oceano no pontilhão de pedra, eles não haviam se falado desde que haviam sido induzidos àquele coma. Hyoga estava extremamente amuado e foi consolado por Shun, como também por Shiryu. Ikki ficou em silêncio no seu canto, como era de seu costume e mesmo Seiya parecia ter o coração perdido nos seus sonhos.

E assim a noite se arrastou.

Bem como os dias em que viveram juntos naquele casebre.

 

—/-

 

Saori sorria novamente e Alice podia vê-la no pequeno espelho do quarto enquanto escovava seus cabelos. Sua cor parecia ter retornado, até sua postura estava mais altiva e a voz com muito mais vivacidade.

— Sorte que a festa não é hoje, senão era bem capaz de você aceitar o pedido do Julian.

— Está com ciúmes, Alice? — perguntou Saori, e Alice puxou levemente seu cabelo.

— Eu vou cortar sua franja se você continuar a falar bobagem.

Saori deu risada.

— Você vem hoje?

— Não. Eu preciso ir até o Templo. — comentou Alice, e Saori calou-se imediatamente.

Afinal, ela também deveria ir ao Templo há muitos dias, mas a cada dia havia algo que a impedia de ir; fosse um cuidado específico para Shun, uma caminhada que Shiryu precisava fazer ao redor da casa para reacostumar as pernas ou algum cuidado recusado pela teimosia de Seiya. Respirou fundo antes de mudar a conversa.

— Vamos todos comer no píer. — comentou Saori. — Acho que você deveria vir também.

— Eu encontro com vocês depois. — limitou-se a falar Alice.

E assim colocou novamente a presilha de ouro nos cabelos de Saori. Ela estava pronta, se abraçaram e Alice a acompanhou até a porta onde seus quatro amigos já a esperavam, pois Ikki, como era de se esperar, já havia deixado o casebre para morar em algum lugar ainda mais distante dali. Um sinal de que ela já estava bem, como bem lembrou Shun.

— Vamos, então? — convidou ela e, juntos, marcharam estrada afora.

O dia estava úmido, mas não chovia, pois a chuva intermitente sempre caía pelo fim da tarde e corria noite adentro. Juntos desceram a estradinha de pedra sendo cumprimentados por quem ali passava até adentrarem o vilarejo de Rodório, onde foram recebidos com muita festa. Era sempre um privilégio enorme que a Deusa Atena caminhasse entre eles. Ainda que houvesse aqueles que duvidavam de Saori, e não eram assim tão poucos, havia aqueles que não tiveram qualquer dificuldade em acreditá-la ser mesmo a Deusa que cuidava deles naquele distante Colosso de pedra na montanha.

Principalmente as crianças. As crianças adoravam os vestidos, os cabelos, a presilha de ouro, copiavam seus maneirismos, davam risadas quando ganhavam um aceno de volta. Achavam fascinante o cabelo pintado à cor do mar do crepúsculo.

Eles caminharam juntos até a praça central em que Seiya lembrava-se tão bem da primeira vez em que havia se encontrado com Marin, sentado naquele banco ao redor das fontes. Seguiram adiante, pois dali se podia ver o mar longe e, lá embaixo, desceram uma escadaria de madeira até o porto onde levantava-se um bonito, mas muito simples restaurante de frutos do mar na beira do cais.

Não era elegante ou grande, mas era um dos lugares favoritos de quem vivia ali. Dizia-se que um dos Cavaleiros de Prata daquela geração agora cuidava do estabelecimento, o tal Moisés de Cetus, como era conhecido na região. Ele nunca estava lá, é claro, mas o cozinheiro orgulhava-se de dizer para todos que os peixes eram sempre trazidos por ele frescos na primeira faixa de luz da manhã.

— Venham, venham! — recebeu o cozinheiro-mestre a comitiva de Saori.

Havia já uma mesa preparada de frente para o mar e com cinco lugares para que pudessem almoçar em paz. Saori quis dar aquele presente a eles, pois haviam sobrevivido à base de soro no último mês, e desde que haviam acordado a alimentação tinha sido qualquer coisa menos prazerosa. E quando finalmente tiveram liberação da Mestre Mu para comerem algo mais substancial, ela logo pensou naquele lugar que servia peixes e frutos do mar deliciosos.

— Eu não acredito. — falou Seiya. — Eu adoro esse lugar, mas eu nunca tinha dinheiro pra comer tudo que queria aqui. A Marin só me trazia aqui depois que eu fazia mil abdominais e ainda assim era só pra comer o pastelzinho frito.

— Pode pedir o que quiser, Seiya. — falou Saori.

— Ah, mas você pode ter certeza disso. Ô, Atlas! — chamou logo o garçom.

— E vocês também gostam? — perguntou Saori.

— Eu vou pedir a sopa. 

— Ai, Shiryu, tanta coisa e você vai pedir sopa? Ficou um mês tomando sopa de soro e agora quer sopa? — falou Seiya, discordando do pedido da amiga.

— É que me lembra da Shunrei.

Seiya sorriu para a amiga aceitando que aquilo era mesmo muito adorável.

— Eu vou pegar a lagosta! — anunciou ele.

— Eu quero um peixe frito. — comentou Hyoga, fechando o cardápio.

— Eu vou pegar o arroz com mariscos. — falou Shun.

— Bom pedido, Shun! — parabenizou Seiya. — Assim eu posso experimentar um pouco de cada um de vocês.

O garoto estava radiante e quando Saori olhou pela mesa viu que todos estavam em paz, e até mesmo Hyoga, que costumeiramente era mais sério, parecia mais à vontade com seus amigos, ou mesmo Shiryu, que não era tão acesa como Seiya, também parecia ter uma vivacidade enorme no rosto. Isso fez com que Saori respirasse fundo o sal do mediterrâneo na brisa gostosa que vinha do mar, mas também sentisse falta de Alice ao seu lado.

Seus olhos miraram o topo da montanha em que sua própria estátua erguia-se.

— Gostaria que a gente fizesse um brinde. — anunciou Shiryu segurando seu próprio copo com um suco delicioso. — Para nunca nos esquecermos de Xiaoling.

— Por Xiaoling! — repetiram todos brindando os copos juntos e ficando um instante em silêncio, cada qual como se lembrasse de um momento adorável daquela garotinha entre eles.

Havia um sorriso descontente entre eles, talvez de saudade, mas ao mesmo tempo não era um clima fúnebre. Como aquele vivenciado por todos quando receberam a primeira notícia.

— Shiryu, eu me lembro na Casa de Câncer que você havia se encontrado com Xiaoling no Limiar do Submundo. — começou Shun.

— Sim, é verdade. — concordou Shiryu relembrando-se.

— Como ela estava, Shiryu? — perguntou Seiya.

— Na verdade, ela estava animada, como sempre. — falou a amiga. — Mesmo estando naquele lugar há alguns dias, ela ainda manteve o espírito leve e me ajudou na luta contra a Máscara da Morte. A impressão que eu tenho é que foi escolha dela ficar lá.

— O que ela poderia querer no Limiar do Submundo? — perguntou-se Saori.

— Dizem pelo Santuário que um Cavaleiro de Prata certa vez desceu ao Submundo.

— Como assim, Seiya? — perguntou Hyoga.

— Foi antes de eu chegar aqui, ao que parece, mas é uma história contada por Rodório.

— Ah, é verdade. — concordou Atlas trazendo alguns petiscos e colocando-se na conversa entre eles. — Era um antigo músico da região, eu lembro-me bem dele, era jovem e adorava tocar sua harpa na praça de Rodório para todos ouvir. Há muitos anos que ele desapareceu e dizem mesmo que ele desceu ao Submundo.

Do jeito que chegou intrometendo-se na conversa, o dono do restaurante deixou-os com aquela informação pairando em suas cabeças.

— Talvez seja possível resgatar a Xiaoling. — comentou Seiya para seus amigos.

Saori olhou para o garoto que tinha novamente um certo brilho nos olhos e refletiu como Seiya tinha uma especial gana para resgatar quem quer que fosse, buscar as pessoas de onde quer que elas estivessem que não fosse em seus lugares. Como ele queria agora fazer com Xiaoling, como fez com ela quando foi sequestrada e como sempre quis ir atrás de sua irmã.

As comidas chegaram e armou-se entre eles o princípio de um plano, mas Shiryu ponderou que aquela havia sido a escolha de Xiaoling, que se ela quisesse retornar, ela o teria feito. 

— Em certo sentido, eu sinto que precisamos respeitar sua decisão. — falou ela.

A conversa morreu ali não em uma nota de tristeza, mas em uma admiração mútua daqueles jovens amigos para com a coragem e determinação daquela garota tão teimosa. Almoçaram, enfim, com o mar ao fundo revoltoso nas rochas. As horas passaram entre eles, de maneira leve e de certa forma bem-humorada.

No fundo, Saori gostaria que eles tivessem dias como aquele para o resto de suas vidas. Uma vida normal. Comum, feito as crianças que ainda eram aos seus olhos. Se ela tinha de tomar o seu destino e ser uma Deusa, não via motivos para eles terem de trilhar um caminho parecido. Afinal, agora ela tinha os Cavaleiros de Ouro para protegê-la, um Santuário que a manteria segura; ela tinha Mayura e, por mais difícil que fosse a relação com Shaina, ela tinha plena confiança de que a Cavaleira de Prata estaria ao seu lado, bem como os indecisos do Santuário.

Não havia motivo para aqueles garotos seguirem se machucando por ela.

Saíram do restaurante do píer caminhando muito calmamente, seus passos rangendo a madeira do passadiço. Shun parou em uma pequena tenda próximo às escadas que levavam à faixa de areia daquele local; ali ele tirou para ele e Hyoga um pedaço cortado e gelado de uma fatia de melancia vermelhíssima. Hyoga o olhou confuso, mas Shun tinha um sorriso doce no rosto.

— Como sabe? — perguntou ele para Shun.

— Na Casa de Libra. — começou ele. — Eu acho que quando alcancei o Sétimo Sentido ao seu lado, de alguma forma nossos Cosmos se uniram, nossos universos, e eu lembro de sentir algumas sensações que eu não entendi a princípio. Mas então eu imagino que tenham sido algumas de suas memórias.

— Shun. Então você…

— Sim. Mas eu guardarei seu segredo. — falou o amigo. — Agora come sua melancia.

Deu um sorriso para Hyoga, que retribuiu outro para ele. Shiryu apareceu para apressar os dois, pois Seiya e Saori já estavam na faixa de areia olhando para as ondas.

— Sente-se melhor, Seiya? — perguntou Saori.

— Agora que não tem fios espalhados pelo meu corpo, sim. — respondeu ele, olhando para ela.

— Shiryu está planejando voltar para a China por alguns dias. — falou Saori. — Por que não experimenta ir com ela para conhecer?

Seiya sorriu, pois lembrou-se de Xiaoling.

— Eu lembro de Xiaoling dizer que o Mestre da Shiryu obriga a visita a treinar também. Acho que vou passar a oportunidade.

Saori experimentou rir, mas notou que os olhos de Seiya olharam distante no oceano.

— O que tem em mente, Seiya?

— Eu vou atrás da minha irmã, Saori. — falou ele, sem tirar os olhos do mar. — Agora que eu sei que ela veio pra cá me buscar, talvez eu possa encontrá-la se sair para procurar.

Saori experimentou olhar para as ondas que faziam os olhos de Seiya tão distantes; ela respirou fundo, engoliu em seco e tornou a falar para ele.

— Quando eu soube pela Mestre Mayura que Seika havia vindo atrás de você há tantos anos, eu criei uma força-tarefa específica na Fundação para encontrá-la. Temos um setor inteiro dedicado a recuperar todos que foram enviados por meu avô. — havia um certo peso triste em sua voz. — Toda semana eu recebo essas informações.

Seiya olhou para ela, dividido entre a esperança por Seika, mas ao mesmo tempo com um certo pesar por Saori, pois ela era semanalmente relembrada de erros que não eram seus. Mas ele encontrou seus olhos confiantes, seu rosto parecia tão mais maduro do que  daquela primeira vez que se reencontraram. Se ele e seus amigos tiveram batalhas inacreditáveis para chegarem onde estavam, Saori não havia deixado de lutar suas batalhas para estar ali também ao lado dele.

— Ainda não conseguimos encontrar a Seika, mas pudemos eliminar muitos lugares de lá até aqui. E, mesmo aqui na Grécia, temos boas informações e tenho certeza de que iremos encontrá-la, Seiya.

Ele sorriu.

— Acha que eu posso ajudar? — perguntou ele. — Eu pensei em perguntar a todos em Rodório e na cidade-grande que fica além das montanhas. Pode ser um começo.

Saori lhe sorria.

— Acho que podemos ajudar, sim. — falou ela, para um olhar confuso de Seiya. — Vou te acompanhar nessa busca, Seiya. Acho que juntos podemos encontrá-la.

Seiya sorriu para ela de volta.

Os demais chegaram e sentaram em cangas pela areia, olhando as ondas quebrarem-se contra o rochedo de Rodório à esquerda, enquanto o sol caía no horizonte já coberto pelas nuvens carregadas da sempre eterna chuva que caía pela noite. Estava ainda um dia agradável, embora o céu não estivesse totalmente limpo.

Saori olhou para a escadaria do píer e flagrou Alice descendo, como se a sentisse chegando. Logo Shun e Hyoga a saudaram, bem como Shiryu e Seiya. Ela sentou-se ao lado da melhor amiga, como sempre, e as duas entreolharam-se brevemente, pois Saori desviou o olhar; sabia que havia no semblante de Alice todo o descontentamento da Mestre do Santuário em sua nova ausência. O mar era o único que falava naquele fim de tarde e as ondas pareciam quebrar-se cada vez mais próximas deles na faixa de areia.

Até que o mar recuou de maneira curiosa, de modo que Shiryu inclusive tocou em Seiya, perguntando-lhe o que havia acontecido no oceano. O amigo achou estranha a pergunta, mas então percebeu que o mar parecia extremamente pacífico, paralisado feito um lago; Hyoga observou que o mar não formava mais ondas e Shun viu como, na verdade, o mar parecia realmente recuar pouco a pouco.

Alice foi a primeira a se levantar e, como se solto de uma paralisia, o mar finalmente voltou a quebrar com violência no rochedo, e a água salgada avançou pela areia até que molhasse as roupas deles todos. Hyoga praguejou, Seiya morreu de dar risada, mas Saori encontrou no semblante de Alice um olhar severo de volta para ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: O famoso capítulo do restaurante. Leve, sem nada acontecendo além deles todos se reencontrando após um bom tempo de descanso. A ideia inicial veio do episódio do restaurante do Ômega, mas aqui eu não coloquei nenhuma 'ameaça', pois era justamente para que Saori visse como eles podiam ser felizes com um dia normal. Ainda é importante para a história que Seiya não esqueça de Seika também.

PRÓXIMO CAPÍTULO: O SELO DOS MARES

Saori finalmente retorna ao Templo de Atena, pois há algo urgente a ser tratado. Uma possível nova ameaça.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.