Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 70
O Prisioneiro


Notas iniciais do capítulo

Com o Santuário em reconstrução, Mayura não tem escolha a não ser recrutar até mesmo aqueles que haviam sido banidos ou presos. Inclusive um homem que Saga não podia matar.



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Debaixo de um céu escuro e gélido, um vento terrível soprando na copa de árvores nevadas, espalhando a neve pelo chão congelado da floresta. Caminhando com extremas dificuldades escorando-se contra o tronco das árvores escuras e endurecidas, vem um enorme homem de compleição fortíssima, os braços nus, a barba branca cortada rente ao queixo quadrado enquanto os cabelos desgrenhados lhe caem até os ombros. Na cintura e nas costas ele carrega presas a uma corda algumas lebres mortas.

Seu corpo, no entanto, está todo coberto de ferimentos quando ele é descoberto por um destacamento de homens com arcos em riste.

— Pare aí! O que está fazendo na Floresta Proibida? Não sabe que não é permitido caçar neste lugar sagrado?

O enorme homem dava o dobro de qualquer um daqueles guardas-arqueiros, pois, a bem da verdade, eles sabiam que somente suas flechas teriam alguma chance contra aquele gigante. Ele não lhe respondeu e seu corpo pendeu contra o tronco de uma árvore, como se houvesse perdido o equilíbrio.

Uma seta zuniu naquela noite e atingiu o tronco ao lado da orelha do gigante homem.

— Levante-se e saia já daqui!

— Parem!

Uma voz feminina soou do alto de uma elevação na neve, montada em um cavalo branco selado com uma barrigueira feita de filigranas douradas. Os homens imediatamente abaixaram seus arcos. Apesar do frio negativo daquela região, ela usava um longo vestido branco e tinha os cabelos muito claros esvoaçando contra o vento. O gigante homem, que àquela altura escorregara para se sentar na neve, abriu os olhos para ver a jovem descer de seu cavalo e caminhar até ele.

Ele olhou para o outro lado e suas palavras foram duras.

— Pode acabar comigo se quiser.

— Então é você que está caçando na Floresta Proibida e distribuindo para os mais pobres no vilarejo, não é?

— Eu disse que pode fazer o que quiser comigo.

— Eu sinto muito. — disse ela. — Eu governo essa terra e, no entanto, não consigo fazer nada por nosso povo.

As palavras aliviaram o rosto do enorme homem.

Ela aproximou-se dele e viu, muito perto, que seu estômago estava fatalmente perfurado de um ferimento já muito anterior. Viu na neve branca o rastro de seu sangue que se estendia até muito longe. 

— Eu já não tenho salvação. — balbuciou ele, e seus lábios eram terrivelmente rachados. — Dê essas lebres aos seus guardas, que também logo morrerão de fome.

Ela tinha uma tristeza profunda no rosto e segurou as enormes mãos daquele homem, que então já eram como blocos de gelo.

O gigante viu como, ao redor daquela jovem de longos cabelos claros, manifestou-se uma aura branca que cintilava em um fluxo constante em que expandia-se e então contraía-se sutilmente. Era um Cosmo. Um Cosmo reconfortante que invadiu o gigante homem de uma paz imensa, de um calor que talvez ele nunca tenha sentido em sua vida. Um conforto que certamente ele nunca havia experimentado. E assim deu seu último suspiro.

Mais tarde, no mesmo dia de uma noite interminável, a garota subiu alguns degraus diante de uma enorme estátua de pedra tomada pela neve. Seus olhos derramavam lágrimas que o vento uivante do frio soprava para longe.

— Por que, meu Deus? O que acontece que esta terra piora e a noite parece se tornar mais e mais eterna? Mais e mais fria! Mas que pecado será esse que cometemos para termos de resistir a uma provação tão terrível? Que destino cruel é esse o de governar sem ter o que poder fazer por seu povo que morre de fome, de frio e de tristeza?

Ela cai de joelhos em uma pequena elevação imediatamente abaixo da Estátua. Entre ela e o colosso de pedra, abre-se um abismo enorme cuja escuridão perde-se no fundo do fosso.

— Diga-me, ó Deus, o que há neste futuro? Dê-nos uma chance de ver outra vez a luz do sol. Salva teu povo, Odin!

Ninguém lhe responde, como nunca haviam respondido desde que havia nascido abençoada com a função que lhe cabia. E ajoelhada, como fazia  todos os dias, orou por Odin e seu Cosmo iluminou a Estátua de Pedra.

Quando, pela primeira vez na sua vida, sua oração foi interrompida por um ronco profundo que parecia crescer, como se algo se levantasse do fundo do abismo. Uma voz finalmente lhe respondeu.

 

—/-

 

Alguns dias se passaram e uma estranha chuva intermitente começou a cair na Grécia. Em um dia muito nublado, na vila central de Rodório, homens, mulheres e gigantes se abrigavam debaixo de tendas para se protegerem da chuva. Após a terrível batalha das Doze Casas, antigos amigos receberam com o peito leve aqueles descendentes que haviam buscado refúgio longe dali para não alimentar uma grande animosidade que havia se criado contra os gigantes. Fala-se dos gigantes, mas seus descendentes, a bem da verdade, na grande maioria eram homens e mulheres mais altos do que o normal e nada mais. Aqueles que, como Aldebarã ou Cássius, quase davam o dobro do tamanho de Seiya e seus amigos, na verdade eram descendentes muito mais próximos daqueles antigos habitantes das montanhas.

E agora viviam relativamente em paz entre si. Pois, como se sabe, a ruptura de um ciclo autoritário como aquele levaria tempo para apagar suas feridas.

De todo modo, a verdade é que o sentimento no vilarejo era muito mais leve entre as pessoas mais simples; a maior parte da resistência ficava por conta dos guardas, que antes eram muito fiéis ao antigo Camerlengo do Santuário e que agora sentiam-se desafiados por qualquer um. Não houve qualquer resistência mais grave, mas Shaina por mais de uma vez precisou impor-se para que os guardas tivessem a exata noção de que agora as coisas seriam diferentes.

Alçada ao posto de Mestre de Armas, Shaina tinha livre acesso pelo Santuário e, naquela tarde chuvosa, ela subiu as Doze Casas e encontrou Mayura sentada em sua cadeira de rodas no segundo andar da basílica, como sempre estava. Ela ficava em uma sacada, olhando para o céu que chovia do lado de fora.

— Senhora Mayura. — ajoelhou-se Shaina perto dela.

A desconfortável função de Pontífice do Santuário recaiu sobre Mayura, pois era de longe a mais experiente entre todos e o Santuário sequer tinha todos seus Cavaleiros de Ouro para abrir mão de um deles que fosse para ficar naquele Templo olhando a chuva. Pois ela acumulou então a função de Pontífice e de Coruja, que ela bem sabia jamais poderiam se cruzar, mas das quais, naquela crise sem precedentes, ela não poderia fugir.

— Como estão as forças do Santuário, Shaina? — perguntou Mayura, preocupada.

— Estão ainda muito resistentes, mas cada vez mais cooperativas.

— Não há espaço para dúvidas. A Guerra Santa se aproxima.

— Não nos ajuda nada que a garota fique escondida naquela casa.

— É à Deusa Atena a quem se refere.

Shaina calou-se, pois o que havia dito estava dito.

— Os Cavaleiros de Bronze partiram? — perguntou Mayura, mudando o rumo da conversa.

— Sim. — respondeu Shaina, e empostou a voz artificialmente. — Graças às informações da Deusa Atena, tenho confiança de que conseguiremos reunir um grande número de Armaduras no Santuário.

— Muito bem. — falou Mayura. — Precisaremos reconstruir esse exército para termos alguma chance.

— Mestre Mayura. — começou Shaina, abrindo a conversa. — Por onde anda Marin?

A pergunta pendurou-se no ar entre as duas até que Mayura lhe respondeu.

— Marin ausentou-se do Santuário por tempo indeterminado.

— Mas em um momento de crise como esse…

— Eu dei à ela essa permissão. Não está em uma missão secreta, tampouco se virará contra nós. Eu confio em Marin.

Shaina calou-se.

— Nesse caso, tem apenas uma última coisa que preciso lhe falar. — falou ela novamente.

Ela então se levantou e colocou-se diante de Mayura.

— Existe um prisioneiro. — começou ela. — No estado em que estamos, não podemos nos dar ao luxo de deixar qualquer um de fora dessa Guerra. E se este homem foi aprisionado pelo antigo Camerlengo, talvez ele seja útil.

— Um prisioneiro? — confundiu-se Mayura. — Saga não deixava prisioneiros.

— É verdade que o antigo Camerlengo eliminava qualquer um que se opunha a ele, mas este homem é diferente. Dizem que ele jamais o poderia matar.

— Um homem que Saga jamais poderia matar?

Um silêncio se instalou naquela sacada, pois era como se falassem de um morto que tanto havia aterrorizado aquele mesmo Templo em que estavam.

— Pois então traga-o até mim. — pediu Mayura.

— Não posso. — falou Shaina. — Somente um Cavaleiro de Ouro é capaz de soltá-lo de sua prisão.

 

—/-

 

Em uma tarde chuvosa em que o sol escondia-se nas nuvens entre trovoadas, Miro de Escorpião desceu as escadas estreitas e traiçoeiras das ruínas de um Templo no Cabo Súnion. As escadas desciam ao redor da encosta do pontilhão de pedra até onde a rocha encontrava-se com as ondas poderosas do oceano que quebravam-se contra as barras de ferro de pelo menos cinco ou seis celas esvaziadas que ficavam naquela face da montanha. Havia ainda outras mais do outro lado do rochedo. Todas vazias.

Mas, em uma delas, Miro encontrou aquele a quem deveria soltar.

Jogado no fundo da caverna, deitado sobre uma cama de pedra toscamente recortada naquela grota, estava um homem de longos cabelos maltratados. A água do mar havia invadido sua cela e inundado grande parte dela e, por isso, talvez ele estivesse deitado no único lugar onde a água ainda não havia alcançado. Parecia morto, pois não movia-se nem havia se dado conta de que Miro estava ali.

O Cavaleiro de Escorpião manifestou seu maravilhoso Cosmo de Ouro e as barras daquela cela aos poucos levantaram-se para dentro da pedra, fazendo um enorme ronco enquanto o metal inquebrantável recolhia-se. O barulho finalmente fez com que o homem abrisse os olhos e enxergasse, do outro lado das ondas que quebravam em sua prisão, o Cavaleiro de Ouro que havia aparecido para lhe soltar.

— Está livre em nome de Atena. — anunciou Miro. — O Santuário te espera.

O homem lentamente colocou as pernas dentro da água que invadia sua cela e saiu do rochedo, caminhando com dificuldades pelo pequeno vale invadido pelo oceano até chegar às escadarias em que Miro o aguardava. E assim foi escoltado dali por uma peregrinação silenciosa até o Templo de Atena, onde reportou com a mesma roupa com que fora preso quinze anos atrás. Roto, a barba terrivelmente grande, os cabelos desgrenhados, a boca rachada e seca, desidratado e desnutrido.

Mayura o recebeu na nave principal do Templo, esvaziada da maioria de seus assentos, com exceção de alguns bancos longos. Ela decidiu não tomar o trono de ouro usado pelo Camerlengo no altar de Atena, que ainda estava destruído pela batalha. Ela sequer pediu aos artesãos que o restaurassem, para que servisse de memória para todos. 

Miro apresentou-se trazendo ao seu lado o moribundo prisioneiro que não havia dito uma única palavra no trajeto todo. O Cavaleiro de Escorpião se apresentou à Mayura com o homem e encontrou-a ao lado de Shaina.

— Aqui está o prisioneiro. — anunciou ele.

Shaina não reconhecia aquele homem, mas também pudera, o tempo havia escondido sua face em tanta tristeza e miséria. Mayura, no entanto, levantou-se do banco como raramente fazia. Mais raramente ainda, ela tirou as vendas dos olhos para poder enxergá-lo melhor e finalmente adiantou-se com toda razão de que conhecia aquela figura carcomida. Tomou suas mãos ressecadas e o trouxe levemente ao seu peito, abraçando-o com muito respeito. Um abraço leve, mas que quase desmontou o prisioneiro.

— Meu velho amigo Nicol. — disse ela. — É mesmo você debaixo dessa barba?

De muito perto, ela viu os olhos do homem se apertarem, como se visse uma miragem.

— Mayura?

— Sim. — confirmou ela.

Seus olhos se espremeram de felicidade e a boca retorceu-se debaixo da barba em um enorme sorriso.

— Que sonho mais belo este que no dia de minha liberdade posso encontrá-la, minha amiga.

Mayura não parecia tão emocionada como ele, mas para Shaina ou mesmo Miro — que pouco a conheciam, mas já haviam notado a maneira reservada da Coruja —, aquele breve momento dela com o prisioneiro era como se outra pessoa estivesse em seu corpo. Em pouco tempo, ela pediu que os funcionários do Templo ajudassem o prisioneiro a banhar-se e se alimentar, pois ainda tinham muito sobre o que falar.

— Devo chamar por Atena? — perguntou Shaina, já sabendo da resposta, e Mayura negou.

Ela sabia que Saori não subiria.

Mayura dispensou a escolta de Miro, que retornou à Casa de Escorpião, e ficou a sós com Shaina enquanto aguardavam o prisioneiro ter uma condição melhor para lhes falar. 

— Quem é esse homem, Mestre Mayura?

— Este é Nicol de Taça. — falou ela para Shaina.

— Taça?

— Sim. Um velho amigo da ordem que julguei ter perdido há muitos anos. Já muito longe daqui, quando eu soube que uma força havia se instalado no Santuário, eu tinha certeza de que Nicol seria morto.

— Nós da guarda do Camerlengo recebemos ordens específicas para mantê-lo preso, mas alimentado no Cabo Súnion. De forma que sua morte era como se fosse proibida. — falou Shaina. — Das muitas coisas misteriosas do antigo Camerlengo, essa era uma que nos assombrava.

— Estavam certos aqueles que diziam que Saga jamais poderia matá-lo. Ele era plenamente capaz de fazê-lo, é claro. Mas o Cavaleiro de Taça ocupa um lugar especial na Ordem de Atena. Sua função era a de auxiliar o Sumo Pontífice com a leitura das estrelas e a precisão de suas profecias.

— Ele saberia que havia algo de errado com o Santuário.

— Precisamente. Saga não podia deixá-lo solto, mas também não podia matá-lo, pois atentar contra o Cavaleiro de Taça era alterar o próprio fio do destino para algo que jamais foi documentado ou compreendido. Saga era um estudioso e sabia bem que seria um mau agouro para ele. 

— Não quis arriscar.

— Saga arriscou tudo, mas isso ele não poderia fazer.

— Então é verdade. — falou finalmente a voz de um homem diferente surgindo no templo.

— Nicol.

Ele veio usando um traje cerimonial longo, uma batina branca, os pés em sandálias, os cabelos cortados à altura dos ombros e a barba aparada, mas ainda presente no rosto. Cumprimentou Shaina com uma mesura muito educada e tomou as mãos de Mayura entre as suas, também a cumprimentando com muita educação.

Dali à próxima hora, Mayura contou ao seu velho amigo tudo que havia se passado no Santuário, a loucura de Saga, a morte do Camerlengo, os quinze anos de agruras até a invasão das Doze Casas e o retorno de Atena, que agora limitava-se às fazendas distantes de Rodório.

— A Deusa Atena não está em seu Templo? — perguntou ele, um tanto confuso.

— Não, Nicol. Ela é muito jovem. — falou Mayura. — E muito humana.

A expressão daquele homem torceu-se de confusão, mas, livre por algumas horas apenas, ele julgou melhor não contrariar aquela nova força que se instalava no Santuário.

Caminhou levemente para a lateral do Templo olhando para a chuva que caía e, ao longe, os Templos na descida da montanha. Não escondeu uma tristeza enorme no rosto.

— Que dor imensa é a morte de Camus. Quando jovem, ele adorava estar ao lado da biblioteca aprendendo tudo que podia. É lamentável. Assim como a morte de todos os demais. — sua face crispou-se de dor. — Enganados por Saga. Ó, Saga, o que foi feito de ti?

— Ele parecia tomado por uma dualidade maligna. — recontou Mayura, lembrando-se dos relatos.

— Ele era enorme. Só posso imaginar que se podia ser tão bom quanto víamos, fosse capaz de ser tão mau como jamais poderíamos crer.

— E quanto a você, velho amigo? — perguntou Mayura.

— Fui preso sob a acusação de estar conspirando com os Gigantes pouco depois do renascimento da Deusa Atena. — anunciou Nicol.

— Os Gigantes foram também culpados pela traição de Aioros. — falou Shaina.

— Não demorou muito para que a prisão do Cabo Súnion estivesse cheia de homens e mulheres que pouco sabiam o que haviam feito. Acusados de crimes que juravam por tudo que não haviam cometido. Mas também um a um eles eram soltos até que não sobrasse uma alma viva ao meu lado e em qualquer das outras celas. Por um certo tempo imaginei que ao menos haveriam pessoas presas do outro lado do rochedo, mas também logo me convenci de que apenas eu havia sido mantido ali.

— Mas agora está livre. — anunciou ela.

— Estou. E o tempo de lamentar tem de ficar para trás. — falou ele.

— A Guerra Santa. — adivinhou Mayura.

— A Guerra Santa. — confirmou ele. — Ela se avizinha e essa Crise pode ter sido um duro golpe para o Santuário de Atena.

— Estamos tentando reorganizar o Santuário. — falou Mayura. — Eu cuidarei do Templo e do coração de Atena. Confio em Shaina para que o exército se levante novamente. Peço que volte à Colina das Estrelas, velho amigo, e nos diga se as estrelas nos trazem alguma fortuna.

— E quanto à Atena… — começou ele a falar, sem finalizar, na esperança que elas lhe dessem qualquer outra informação.

— Ela estará pronta. — limitou-se a falar apenas a Mestre Mayura.

Shaina percebeu que Nicol deixou escapar um suspiro um pouco mais longo, antes que se despedisse. Talvez ele também partilhasse de sua preocupação com a função de Atena naquele cenário todo.

— Retornarei à Colina e breve trarei notícias, Mestre.

— Antes que parta, preciso lhe alertar de que Saga esvaziou a antiga biblioteca de todos os seus livros. — Nicol lamentou, mas não pareceu surpreso.

— Naturalmente. Um tirano só pode governar onde não existe conhecimento.

— Camus ainda mantinha sua biblioteca na Casa de Aquário. Fique à vontade para tomar o que precisar.

— Imediatamente. — anunciou ele, fazendo uma enorme mesura às duas antes de falar uma última vez. — Como é bom poder vê-la novamente, velha amiga.

— Igualmente, Nicol. Com você ao nosso lado, tenho certeza de que teremos chance nessa Guerra Santa.

E debaixo daquela enorme chuva que estourava do lado de fora, Nicol de Taça desceu até a Casa de Aquário pensando em sua liberdade, em Camus, mas sobretudo em Atena, que não estava em seu Templo, algo impensável para ele. Antes de entrar no templo de Aquário, ele olhou para o topo da montanha da qual havia descido e dali podia ver apenas um detalhe ou outro do elmo da enorme estátua de pedra que velava pelo Santuário.

Entrou finalmente em um templo já livre de seu congelamento terrível e iluminado de uma bonita luz refletida pelo aquário maravilhoso de seu teto pelo chão. Nicol conhecia bem o lugar, pois havia dado tantas e tantas aulas para um jovem Camus em seu segundo andar.

Subiu pela pequena escada espiralada e sentiu uma enorme tristeza ao lembrar-se daquele jovem garoto correndo pela Casa buscando livros e anotando fórmulas e descobertas nas escrivaninhas do lugar. O segundo andar daquele templo era uma pequena, mas charmosa biblioteca com um lindíssimo aquário vazio onde Camus ficava horas olhando a água mover-se contra a luz, como se na espera de uma grande ideia, ou para afixar conhecimentos.

A biblioteca parecia intocada desde que seu dono a havia deixado; ele encontrou livros abertos na escrivaninha e percebeu que o Cavaleiro de Aquário estudava os antigos manuscritos relacionados à Guerra Santa. Um arquivista competente, sua biblioteca era muito bem organizada e Nicol decidiu que, muito melhor do que transportar-se para a Colina das Estrelas e levar calhamaços e enciclopédias, ele deveria fazer seu trabalho ali mesmo. Notou, perto de um dos cantos, um estranho pedestal em que uma pedra lápis-lazuli repousava; afastou-a ligeiramente para inspecionar que livros havia ali também.

 

—/-

 

Mas ainda que a Casa de Aquário fosse o melhor lugar para que Nicol pudesse ajudar Atena com os conhecimentos antigos, ele sabia que precisaria ir com alguma frequência à Colina das Estrelas, afinal era o lugar mais próximo do céu e onde o brilho das estrelas era mais nítido. Como não era exímio escalador feito os guerreiros do Santuário, a Coruja de Atena lhe concedeu o amuleto que carregava e que lhe dava livre acesso até o Templo Esquecido.

Lá, Nicol sentiu um enorme calafrio ao pisar no templo em que o antigo Camerlengo Mestre Arles havia sido assassinado, onde o corpo do Pontífice Sião havia sido preparado e onde, afinal de contas, sua própria Armadura de Prata havia se recolhido depois de ele ser injustamente preso.

E ali ela estava. E ele ali estava novamente.

O líquido prateado dentro da Taça abriu-se em pequenas ondas, como se algo houvesse pingado em seu centro; a Armadura de Prata manifestou uma aura prateada e finalmente abriu-se no ar para tomar o corpo de seu antigo portador. 

Com ela, ele rumou para o fundo do pequeno templo em que constatou o que Mayura havia lhe dito: Saga havia se livrado de todos os antigos livros que ali havia e a perda de conhecimento para o Santuário talvez fosse incalculável. Como se para ter certeza do que seus olhos viam, ele ainda tateou cada estante, reentrância e vão daquele pequeno cômodo. E, com efeito, encontrou um único livro. Caído por detrás de uma das estantes, ele esticou o braço e conseguiu alcançar um livro empoeirado e de muitas teias tecidas por cima.

Era um livro que Nicol jamais havia visto, pois ao contrário dos demais catálogos gregos que tinha visto, sua capa tinha um estranho brilho furta-cor em bronze, havia a inscrição de um tridente no centro e, ao folhear algumas páginas, percebeu que estava escrito em uma linguagem antiga e perdida. Uma linguagem que Nicol não dominava, mas que podia reconhecer, pois era o idioma perdido de uma ilha que se dizia ter sido submergida no oceano. Eram escritos atlantes. Mas havia sobre as palavras antigas muitas anotações gregas em uma letra vermelha; Nicol não reconheceu a caligrafia, mas notou como os escritos de uma página eram belíssimos e cristalinos, para tornarem-se tempestuosos, trêmulos e desconexos em outras.

Folheou com imensa curiosidade e leu por cima várias das anotações vermelhas que povoavam o livro, não lhe sobrando qualquer dúvida sobre o que tinha em mãos. E em uma das páginas finais daquele tomo, havia um enorme círculo ao redor de um mapa com uma única palavra grafada em vermelho: ASGARD.

Era a letra de Saga.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Determinar funções dentro do Santuário é uma brincadeira divertida de se fazer. Mayura era a escolha óbvia para Pontífice e mesmo Shaina já desempenhava uma função estratégica na Saga de Hades, bem como era subalterna de Gigars, o Mestre de Armas de Arles no Anime. Sobre Nicol. Eu sei que na Gigantomaquia, ele é Nicol de Altar e não Taça. Mas eu queria aproveitar o conceito divinatório da Armadura de Taça com ele, por isso fiz a alteração. E é claro que vai ter Asgard. =)

PRÓXIMO CAPÍTULO: SAORI KIDO

Saori sente-se deslocada como Deusa e insuficiente como amiga.



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