Deitei para dormir com o coração apertado e aflito, só pensava em Hinata e Kiba juntos, enquanto eu sofria com um sentimento que nem compreendia direito. Mas, que estava claro, não era correspondido. Não havia nada que eu pudesse fazer, Hinata era areia demais para o meu caminhãozinho. Quando alguém como ela se interessaria por mim? Um jinchuuriki. Mesmo com todo o reconhecimento que obtive após a guerra, o clã de Hinata jamais aceitaria que ela ficasse comigo. Isto, óbvio, partindo da premissa de que Hinata sentia algo por mim.

— Ridículo, você é ridículo. - murmurei para mim mesmo e soquei o travesseiro. - Expulse Hinata daí se não quiser sofrer ainda mais. - ordenei ao meu coração idiota.

Pensando no quanto eu era tapado por debater comigo mesmo, idiota e solitário, esse era meu destino. E, quando dei por mim, estava chorando, chorando por não conseguir entender o que eu deveria fazer. Sequer compreendia o que sentia por Hinata, era tudo tão confuso às vezes. Quando foi que meu sentimento mudou e eu nem percebi? Por fim, de tanto chorar, acho que acabei adormecendo, enquanto um sonho estranho tomava conta de todos os meus pensamentos:

Estávamos na academia ninja, mais precisamente no dia em que Iruka-sensei propôs que colocássemos no papel a pessoa na qual queríamos passar o último dia na terra, acaso a lua caísse. Achei graça e garanti que isso não iria acontecer, mas a verdade era que eu não tinha com quem passar meu último dia na terra.

Foi quando meu eu adulto apareceu repentinamente passando por entre os alunos, observando o que cada um colocava no papel. Até que uma garotinha pequena de olhinhos enormes e perolados chamou minha atenção, era Hinata. Fitei seu papel com curiosidade e estava escrito Naruto Uzumaki.

Então uma bola gigante e escura realmente caiu em cima da academia. E eu, em meio a fumaça, apareci na arena, onde acontecia as batalhas para a terceira fase do exame chunnin. Eu lutaria com Kiba. Ah não, Kiba de novo? Nesse momento eu olhava para a arquibancada e lá estava Hinata com seus grandes olhos a me encarar. Senti meu coração se aquecer com aquela imagem.

Depois disso, fui teletransportado para minha luta contra Pain. Porém, quando Hinata vinha em minha direção. Eu novamente surgia no dia do exame Chunnin, na ocasião, Hinata me dava a pomada curativa toda envergonhada. Não obstante, quando estendi as mãos para pegar, fui puxado por uma força motriz descomunal. Dando de cara com Pain outra vez, que me pegava pelo pescoço e metia minha cara no chão.

Eu revivia o instante em que Pain me prendia com estacas que drenavam chakra, deixando-me totalmente incapacitado e desacreditado. A imagem foi cortada e Hinata surgiu em minha mente.

Eu retornei de alguma forma para a minha batalha contra Pain e continuava preso ao chão, sem conseguir escapar. Entretanto, contrariando tudo o que imaginei em vida, Hinata veio até mim obstinada e se prostrou na frente dele, disposta a lutar. Declamando um discurso lindo, tanto que quis chorar ao vê-la ali, prestes a morrer por mim, um Jinchuuriki.

Eu gritei com todas as minhas forças para Hinata ir embora. Ao invés disso, ela declarou:

Você me mudou Naruto, seu sorriso me salvou. É por isso que eu não tenho medo de morrer, se for para proteger você. Não tenho medo. Porque... Porque, Naruto, eu amo você.

Eu não me lembrava disso ter acontecido, como eu esqueci uma declaração de Hinata? Eu sei que fui dominado pela raposa e perdi a consciência. Mas, eu não podia me esquecer algo tão importante! Era real? Hinata se declarou para mim?

Eu sentia uma sensação incrível tomando conta de todo o meu ser, era como se eu começasse a me recordar de lembranças que perdi. Meu peito começava a se encher de alegria e esperança.

Meu sonho mudou outra vez, enquanto eu me remexia na cama, sentia meu corpo grudando de suor, mas não conseguia acordar.

Estávamos no Ichiraku comendo animadamente, eu comemorando o presente que minha mãe deixou, quando Hinata apareceu.

Pedi para que sentasse ao meu lado e ela, mesmo um pouquinho tímida, não fez objeção. Até que surgiram algumas garotas e Hinata escapuliu pela tangente.

Na sequência Sakura sugeriu que a levasse e eu neguei, alegando que Hinata era forte e não precisava da minha proteção.

Corri até ela, no entanto, não consegui alcançá-la. Meu peito doía e eu queria acordar daquele sonho, desejava mudar o que aconteceu. Eu queria ter me oferecido para levá-la em casa, eu queria não ter sido tão gentil com aquelas meninas que me abordaram quando Hinata estava perto de mim. Eu queria uma chance de concertar meus erros, só que já era tarde demais.

Senti uma lágrima escorrer dos meus olhos, enquanto meu corpo dormia, eu sabia que estava sonhando, era como um sonho lúcido. Mesmo assim eu não conseguia acordar. No outro instante, Hinata estava perto de mim novamente, ambos estávamos sentados um em cada balanço da pracinha que eu costumava ficar quando criança e que agora eu sempre encontrava Hinata.

Foi quando eu vi a ponta do cachecol vermelho que Hinata tanto tricotava vindo em minha direção.

A outra ponta do mesmíssimo cachecol envolveu Hinata e eu senti uma paz de espírito tão grande me inundar, que quis ficar ali para sempre, ao lado dela. Mesmo que eu não pudesse tocá-la. Olhei de lado para Hinata, que chorava baixinho, suas lágrimas brilhavam, refletindo o luar e me peito ardeu. Eu não queria que ela chorasse por nada nesse mundo, eu quis chegar perto, quis me aproximar, mas era como se minhas pernas não me obedecessem. Ela parecia não me ver também.

— Naruto-kun, por que você não pode gostar de mim? - resmungou baixinho e eu quis gritar que eu a amava, só que minha voz não saia.

Foi nesse instante, observando Hinata chorar em silêncio, que eu finalmente reconheci. Hinata me amava e eu a amava em igual proporção. Acordei ofegante, sentando na cama desajeitadamente, eu suava e meu coração batia acelerado como se eu estivesse em uma batalha.

— Hinata! - gritei e, no outro instante, ouvi a voz do Kurama em meu subconsciente.

— Até que enfim percebeu. - rosnou, fazia dias que não nos falávamos, eu não estava muito animado e Kurama sempre me perturbava.

— Percebi o que? - devolvi, tentando me acalmar, se não acordei meus vizinhos com meu grito não digo nada.

— Percebeu que gosta da menina Hyuuga e que ela gosta de você, sempre gostou. - retrucou impaciente.

— Que sonho foi esse, Kurama? - perguntei atordoado. - Foi real ou eu projetei em sonho o que queria que acontecesse na vida real?

— Foi real, eu que lhe dei esses sonhos, para você perceber que precisa insistir nessa garota. Você a ama e ela também te ama. - explicou e eu estremeci. Era possível que fosse verdade? Agora que acordei, já não sentia mais aquela certeza de quando estava sonhando. - Eu posso ver coisas que você não vê e perceber o que você com sua lerdeza não consegue enxergar. Além disso, você perdeu algumas lembranças quando tomei sua consciência na luta contra Pain, achei que era o momento de recordá—las.

— Por que não me disse antes? - resmunguei inconformado.

— Você não entenderia se eu revelasse antes, se só agora percebeu o que sente pela Hyuuga. - retrucou e eu precisei reconhecer que era verdade. - Você despertou somente quando a viu com o tal de Kiba.

— Verdade... - respondi baixinho. - Somente quando a vi com ele, que percebi o quanto doeu vê-la tão próxima de outro homem que não fosse eu...

— Chega de se martirizar, você precisa agir. - repreendeu-me. - Já estou cansado de te ver se menosprezando, ouça Naruto, qualquer pai ficaria feliz em tê-lo como genro, não pense que você é pouca coisa. Saiba o seu valor!

— Você está muito emotivo hoje, Kurama. - zombei rindo, mas a verdade era que eu me senti um pouco melhor com a nossa conversa. Eu sentia falta do Kurama.

— Chega de conversa fiada, vá dormir e acorde disposto a lutar pela pessoa que ama, ou acabará sozinho comigo pelo resto da vida. - ameaçou e eu senti minha espinha gelar.

— Hinata está com o Kiba agora...

— Ela pode estar com ele, mas tenho certeza de que ainda te ama, lute pela sua garota seu idiota! - gritou e eu balancei freneticamente a cabeça em resposta.

— Farei isso, vou reconquistar a Hinata ou não me chamo Naruto Uzumaki, dattebayo!

Voltei a dormir e quis muito que Kurama me desse novos sonhos com Hinata, sonhos que em breve eu tornaria realidade.