Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 6
Tentando viver duas vidas


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo novo para a tristeza de todos!

Nem imagino o que devem estar pensando aonde essa história vai acabar se encaminhando. Muito doido né. A cada capítulo as coisas vão piorando kkkkk Tanto tempo que não posto uma fic mais felizinha, será que perdi a mão?

Boa leitura!



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Lançando-se em horas (e turnos) extras, Sara e Greg apostaram todas suas fichas em resolver aquele caso o quanto antes. O promotor batia às portas, ameaçando levar em custódia o provável suspeito de ter cometido o crime (então acidente). Análises preliminares indicavam um ator de dentro do círculo social do caminhoneiro, mas dúvidas levantadas pela própria criminalista apontavam para uma reviravolta no caso; a possibilidade de o próprio motorista ter envolvimento direto no acidente que levou duas pessoas ao óbito. Deixar algo escapar naquele caso seria um erro grave, enquanto que comprovar a teoria de Sara — palavra da qual evitava falar perto de Grissom — fariam com que ela e seu parceiro ganhassem mais pontos de credibilidade entre o pessoal do Departamento.  

Pouco a pouco o caso ganhava mais nuances que o deixava mais interessante; desafio que Sara adorava resolver, ainda que não estivesse em seus melhores dias. 

— Donald Robertson forjou os documentos da vistoria no caminhão e alegou que seu parceiro de negócios seria o responsável por "sabotar" o veículo. Quando mostramos a evidência ele não aguentou e acabou confessando. — Sara, que se encontrava na sala de Grissom junto de Greg, informou um resumo do caso resolvido. Agindo de modo mais profissional possível, ao contrário do parceiro, contou alguns detalhes que os fizeram descobrir o verdadeiro culpado. — Foi um efeito dominó: sem os reparos necessários em anos de estrada, Robertson, imaginando que pudesse economizar com gambiarras baratas, perdeu o controle do caminhão e o final nós já sabemos. 

— Sem contar que ele vinha sonegando bastante dinheiro. — Greg ergueu o indicador como um adendo. Seu jeito enfático a fez disfarçar um sorriso. 

— É, Greg. — Ela respondeu como uma mãe que via o filho animado com brinquedo novo. 

Erguendo as sobrancelhas mostrando aparente surpresa, Grissom, que se encontrava com os dedos cruzados um pouco abaixo do rosto, emitiu um som de como quem ficou satisfeito com o resultado. Não deu atenção ao relatório deixado em sua mesa; adiaria para depois e daria a devida atenção aos seus subordinados. 

— Bom trabalho, vocês dois. 

A dupla trocou olhares satisfeitos. O sorriso e olhar típico de Greg fizeram Sara sorrir também. Por um breve momento se esquecera de tudo que estava passando para se contentar com o fechamento de mais um caso, além de observar o crescimento de seu colega de trabalho que teria um bom futuro pela frente. 

Franzindo as sobrancelhas levemente ao olhar para Greg, Grissom tratou de fazê-lo voltar sua atenção a ele. 

— Não tinha que me entregar um outro relatório, Greg? — Ele perguntou curioso, inclinando-se um pouco para a frente. 

— Ah, droga. 

Fechando os olhos a se recordar daquele pequeno detalhe, Greg levou a mão a testa já vindo a se levantar. 

— Espera, eu... vou resolver isso! — O jovem criminalista forçou um sorriso nervoso enquanto se afastava dos dois. —Não se preocupe! 

— Tchau, Greg. — Sara brincou, acenando para ele enquanto observava Grissom e sua feição austera. 

No momento em que Greg foi embora e fechou a porta, a atenção do supervisor se voltou única e exclusivamente para Sara.  

— Ele está crescendo — brincou ela. De vez em quando as broncas serviam-lhe para mantê-lo focado. Com a direção certa, Greg se tornaria um ótimo CSI. 

Permitindo-se focar nela por mais tempo em vez de dividir seu olhar com outra pessoa, Grissom se manteve calado como alguém que gostaria de falar alguma coisa, mas não queria ser o primeiro a se manifestar. Ele se recostou na cadeira a fim de transmitir uma postura tranquila, porém seu olhar dizia o contrário. 

— Você está bem? 

Sara tinha de confessar que ainda não se acostumou em ouvir uma pergunta daquela vinda logo de Grissom. Geralmente tinha a ver com o trabalho, mas não havia nada sobre o trabalho a ser discutido; aquela pergunta foi puramente pessoal. 

— Estou — respondeu dando de ombros, e antes que ele pudesse replicar, ela se adiantou. — Isto foi por causa do que houve na garagem? — Gesticulou usando o polegar para trás. 

— Deveria ser? 

— O quê?  

Nenhum dos dois conseguia entender para onde aquela conversa começou e para onde estava se encaminhando. Ela começava a se arrepender por não ter aproveitado a deixa e ter se retirado junto de Greg. 

— Olha, você quem está me perguntando. — Ela sorriu amarelo. — Se for sobre aquilo mesmo, eu estou bem. Sério. E se não for, eu também estou bem. Não precisa se preocupar. 

A cada dia seu disfarce se deteriorava. Até mesmo suas declarações automáticas de que estava bem saíam estranho para ela. Pior ainda ter que dizer uma mentira para alguém que sempre desejou e buscou que se importasse mais. 

Sara não via a oportunidade de sair daquela sala.  

— Eu não sei... eu... — Ele também deu de ombros, incapaz de prosseguir. 

Sara sentia falta do que nunca teve: um contato mais próximo e uma resposta recíproca, sem que saísse de seu caminho por várias vezes com um coração pesado. Após o incidente do qual faltou pouco para que fosse demitida, Grissom bem que tentou mudar de atitude em relação a ela. Sara não era qualquer pessoa para ele, não era uma subordinada ou amiga qualquer. Havia algo no meio dessa relação que ele temia deixar escapar e fazer com que tudo em sua vida ruísse de uma hora para outra. Por isso tentava um equilíbrio em se tornar um pouco mais maleável enquanto se retraía em seu próprio mundo quando a situação apertava. 

E de novo: Mentir para ele não era o que Sara gostaria. Não estava nada bem, era pior do que imaginava. Simplesmente poderia respirar fundo e dizer: “Grissom. Preciso de ajuda.” Mas contar toda a verdade seria envolver alguém que nada tinha a ver com a história e trazer sofrimento desnecessário para a última pessoa que ela gostaria que lhe acometesse. 

— Tudo bem. — Grissom declarou sem uma reação espontânea. 

— Nos vemos mais tarde. — Acenando com a cabeça, Sara lhe mostrou um sorriso profissionalmente cordial e se levantou da cadeira. Tudo para sair dali e não levantar suspeitas. 

Queria apressar o passo para escapar de quaisquer armadilhas, porém manteve a pose e saiu calmamente. Foi por muito pouco; um passo em falso e poderia dizer algo indevido. Ao deixar a sala levou um susto ao se deparar com Greg ainda por ali, como se estivesse aguardando por alguém. 

— Greg? 

— Eu não sabia quanto tempo você ia levar lá na sala dele. Resolvi tentar a sorte. 

— Tentar a sorte? — Ela repetiu suas palavras, desta vez um pouco mais perplexa que quando deu de cara com ele. 

— É. Que tal um rango agora? Ou café? A gente merece comemorar o fim desse caso. — Greg sugeriu, trajando um olhar confiante. 

— Não acho que... comemorar seja a palavra certa para isto. — Sara cortou seu barato. Era estranho e às vezes inapropriado citar aquela palavra para o término de uma investigação. Ainda mais quando se tratava de um crime como aquele. 

— Eu não estou me referindo a isso. É comemorar o trabalho duro e o esforço por isso. As famílias das vítimas vão ter um pouco de justiça agora. 

Olhando para o lado por instinto, Sara ainda não se encontrava satisfeita. Seu desejo era de sair dali o quanto antes e voltar para casa e para sua inesgotável pesquisa. Sentindo que estava perto de encontrar algo após dias de buscas, adiar seus planos não lhe parecia uma boa ideia. 

— Vamos. Só um lanchinho. A gente merece. — Greg tocou em seu braço gentilmente. — Eu pago. 

— Você não tinha que entregar um relatório pro Grissom? 

— Eu termino depois dessa parada. — Ele disfarçou. — Vamos, por favor. 

A cara de cachorro pidão atingiu Sara em cheio. Às vezes ela se culpava por ceder tão facilmente a certos pedidos.  

A perita olhou o relógio no pulso. O pôr-do-sol estava se aproximando e se enrolasse demais logo teria de estar de volta ao trabalho dentro de poucas horas. Pensando por alguns segundos a calcular o quanto de tempo aproveitável teria restante, decidiu aceitar a ideia do amigo, sob condições, claro. 

— Ok. Mas só um café rápido. — Ela assentiu de modo sério. 

— Fechado. 

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Seguindo para um café conhecido entre eles, Sara e Greg passaram os últimos minutos do entardecer na companhia um do outro. Não era desejo de Sara comentar sobre o caso, mas acabou rindo quando Greg tentou imitar a reação de Robertson ao ser confrontado com as evidências.  

— Vai, tente só fazer isso. Acha mesmo que pode viver uma vida louca enganando a Receita? Daqui a pouco serei eu quem vai estar te investigando.  

— Ah, eu duvido. 

Ela ameaçou bater nele enquanto ria da situação. A feição risonha entregou todo seu fingimento. Por essa e outras risadas foi que começou a perceber que foi bom ter separado um tempo longe de casa. 

— Ei, eu... queria pedir desculpas pelo meu deslize lá na garagem. — Aproveitando que Sara estava de bom humor, Greg comentou sobre o caso novamente. O pedido para um café também foi a oportunidade para se acertar com ela. 

— Você já me pediu desculpas. 

— É, mas eu queria me certificar pra saber se está tudo bem. 

Arqueando as sobrancelhas, Sara mostrou-lhe um sorriso de lado e balançou a cabeça. 

— Eu quase ferrei com nosso caso... fiquei super mal. 

— Que bom que você sabe. — Sara comentou de modo sarcástico, mas sem perder a alfinetada. 

— Droga. O Grissom não comentou de mim não, comentou? — perguntou com receio. 

— Não se preocupe com ele... por enquanto. — Ela fingiu um tom ameaçador.  Ao perceber que a brincadeira surtiu efeito nele, continuou: — Fez um bom trabalho, Greg. Só peço que da próxima vez tome mais cuidado. Um errinho nosso e eles nos destroem no tribunal. Estou falando isso para seu bem. 

— Eu entendi. Não fiquei chateado. 

— Que bom. — Assentiu. 

Chamá-la para um café também foi a oportunidade para se certificar de que o pequeno incidente na garagem já era coisa do passado. Greg sabia que tinha errado feio e sabia também que teve muita sorte em não comprometer o caso. Parte disso devia a Sara; isto e um pedido de desculpas decente, ainda mais depois do episódio. Nunca a tinha visto tão irritada, tanto que pensou ter ferrado com tudo. Mas no decorrer dos dias notou que não passava do estresse que o trabalho proporcionava. Qualquer um sentiria o mesmo. 

Sara ficou ali por pouco mais de uma hora. Até que aproveitou bem o momento de descontração junto de Greg e chegou a sentir um pouco de culpa por ter sido tão dura com ele. Não se manifestou sobre isso porque sabia que às vezes precisava apertá-lo para mantê-lo nos trilhos. Se afrouxasse demais a corda o jovem perito não iria amadurecer. 

Dentre as conversas triviais ela cogitou por alguns instantes contar a ele o que estava acontecendo. Loucura, corrigiu-se. Se já não contou a Grissom, não seria Greg a pessoa mais apropriada a revelar um segredo tão pesado quanto aquele. Talvez fosse pedir desculpas a ele algum dia, quem sabe, caso se recuperasse. Caso se recuperasse. 

Quase se deixou a levar pelo tempo estipulado por ela mesma, mas não teve outro jeito senão encerrar-se por ali. O tal compromisso era importante demais para ser adiado. Questão de vida ou morte por assim dizer; por mais mórbida que a piada interna tenha sido. 

Deixara a casa praticamente da mesma forma que acordou. Daquela forma não se perderia tentando reorganizar seus pensamentos ou procurando por algo que moveu de volta ao lugar. 

Sua única prioridade do momento era aquele texto e o que mais fosse encontrar adiante. Lançou-se no sofá, mas se levantou irritada para pegar o carregador na mesinha próxima à porta, pois o notebook havia descarregado. Ficara mais de um dia fora e se esquecera daquele detalhe. Quando enfim estava pronta, Sara se desligou do mundo lá fora apenas para focar no que era mais importante: o maldito texto. 

O artigo era complexo. Nem sua formação em Física era o bastante para compreender todo aquele conteúdo com clareza, apesar de conhecer Física Quântica tão bem quanto um velho colega. Precisou se desviar em certos momentos a se lembrar de algumas definições detalhadas sobre o que estava lendo ou acabaria má interpretando alguma coisa. 

Vinte páginas pareciam pouco para uma análise superficial, mas a impressão que tinha era de se encontrar diante um livro com mais de trezentas páginas. O autor do texto abordava de início uma discussão iniciada há mais de duas décadas sobre o futuro da Física Quântica e a possibilidade de que o teletransporte pudesse ser realizado com matéria, antes realizado apenas com partículas subatômicas, como fótons. Uma ideia audaciosa que, se tivesse êxito, traria um novo capítulo à história da civilização moderna. Atenção aos gráficos detalhados para indicar a progressão dos testes realizados por grupos de pesquisa em um pequeno recorte de anos. Todos eles apontavam para pequenas evoluções nos resultados e o progresso na capacidade de utilizar cobaias "maiores", mas nada que passasse da escala atômica.

Não era exatamente o que ela buscava. Sem respostas, apenas mais indagações. Nada que fosse o estalo que tanto precisava para se por de volta aos trilhos. 

— Ah, Deus... 

Ela soltou um suspiro por cansaço e por decepção. A mente inquieta não se dava por satisfeita, ao mesmo tempo em que dizia para desistir daquilo por enquanto; aceitar a derrota e continuar depois. 

Continuar, era isto. Não podia se dar por vencida, não quando largou todas as outras opções e não tinha mais nada a recorrer a não ser suas próprias forças. Haviam outros artigos recomendados ao final daquele texto que o próprio site mostrava. Quem sabe não teria uma chance? 

Pausa. 

A melhor coisa, pensou ela, seria ingerir algum alimento saudável e nutritivo para voltar com as buscas em seguida. Não poderia se estender tanto ou perderia o dia e sequer teria descansado. Em poucas horas deveria voltar ao trabalho novamente.  

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O despertador em seu celular tocou. Nove e quarenta e cinco da noite. No chão da sala de estar havia uma garrafa de cerveja e restos de comida chinesa. A cabeça latejava e suas costas doíam pela posição que ficou ao pegar no sono: sentada no chão e encostada no sofá. Tantos fracassos, cair no sono enquanto realizava sua pesquisa era mais um deles.  

Ao olhar em seu redor sentiu um breve alívio ao se lembrar de que era antissocial demais para receber visitas com frequência. Parecia que um furacão passou por ali. Não saberia quando, mas já sentia cansaço só de se imaginar arrumando aquela bagunça. 

Na tela do computador um artigo ainda no início; já nem se lembrava mais do assunto. A cor e o brilho do monitor causaram-lhe certa aversão. Não suportava olhar para aqueles textos sem que a ânsia subisse-lhe à boca. Estava cansada. Nenhuma de suas buscas deram resultados satisfatórios, tendo a impressão de que cavava e cavava para chegar a lugar nenhum. 

Ela olhou em sua volta mais uma vez. Não encontrava forças para continuar com aquilo sem que uma onda de desânimo lhe atacasse. Sentiu de repente que tudo estava perdido, que nada do que procurasse iria adiantar de alguma coisa. Existiria cura para "aquilo"? 

Sara ergueu a mão direita à altura do rosto. Teve o desejo de chorar, de arrancar tudo de dentro e se afogar nas próprias lágrimas. Nada estava dando certo. Nada. Os dias iam passando e nenhuma resposta evidente para o que acontecia com ela lhe era revelada. A ideia de pedir ajuda em algum hospital começava a permear a mente. 

Ou poderia jogar tudo para o alto, na verdade. Embriagar-se com as cervejas na geladeira, sair e comprar mais bebida e apagar a mente naquele dia. E no dia seguinte e no dia seguinte. Deixar que a natureza fizesse o resto e acabasse com ela. 

— Por que que eu ainda tô fazendo isso — lamentou com a voz meio embargada.  

Ela se ergueu do chão e foi até o banheiro. Ao lavar as mãos olhou-se no espelho e ficou aterrorizada em poucos segundos: não conseguiu reconhecer seu próprio reflexo. Tudo o que via era um rosto estranho encarando-a de volta. Olhos arregalados, era como se tivesse perdido sua identidade; uma total estranha. Forçou um sorriso para saber se conseguia reconhecer aquela expressão, mas não teve reação. Era uma estranha ali no espelho, não era Sara Sidle. 

Sara se apoiou sobre a pia, mas não ficou muito tempo naquela posição com medo de “aquilo” acontecer de novo e acabar se acidentando. Ela suspirou, cansada de ser refém de si própria.

Quais eram realmente as chances de encontrar respostas para algo que, oficialmente, não existia? Tantos e tantos dias de buscas e só encontrava mais e mais decepção. Ainda não sabia como tinha forças para ficar de pé e viver mais um dia. Viver duas vidas ainda por cima. 

Sobreviver. Esta palavra era mais apropriada. 


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando da fic. Caso eu tenha errado em alguma coisa eu peço desculpas e que considerem valer da licença poética para lerem esta história, já que eu não tenho formação em Física Quântica. Sou apenas uma admiradora de ficção científica.


Muito obrigada a todos que estão acompanhando (e aguentando) esta jornada de sofrimento e GSR por aqui! Até o próximo capítulo!!!



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