Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 25
As horas finais


Notas iniciais do capítulo

Fala, galeres, chegando aqui com mais um capítulo novo, espero que gostem!



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Não poderia ter acabado ali.

Não poderia ter sido o seu fim após uma batalha de meses, alimentando-se de uma esperança desesperada de que fosse sair dali viva.

Ele a carregou nos braços, inconsciente, até a sala de contenção, onde ambos deveriam ficar até que o risco de perigo fosse provado ser nulo. No momento, Sara poderia ser uma ameaça radioativa ambulante que precisaria ficar em quarentena enquanto o restante da equipe pensaria nas próximas medidas cabíveis. Isto significava que Langston também poderia ser um risco, já que para socorrê-la, ele decidiu tirar o traje de proteção.

Confinados em um ambiente equipado com aparatos de uma enfermaria básica, o único meio de contato entre os outros era por meio do rádio. Apreensivo, pediu ajuda a eles em todo momento em como proceder no atendimento de Sara, ainda sem sinais de reação. A cada minuto a preocupação do cientista se excedia ainda mais.

Vamos, Sara… Já acabou, você conseguiu sair de lá… Agora é com você.

Enquanto injetava o soro em sua veia ele não parava de pensar daquela forma. Já haviam feito tudo o que era necessário para o procedimento, o problema era que Sara não esboçava reação. Claro, não podiam prever quais as possíveis sequelas que envolviam uma operação tão arriscada quanto aquela; o coma poderia ser uma delas, uma das que ele mais temia além da morte.

— Liu, eu preciso de uma ajuda aqui — protestou usando o rádio. — A maioria dos aparelhos continua desligado. Não dá para fazer nada sem energia. Por favor, me dê boas notícias.

— O gerador de emergência parece não estar funcionando como deveria.

— Isso é uma boa notícia? — Ele se adiantou.

— Espere eu terminar de falar, Ray.

Ainda bem que ela não era capaz de ver seu rosto completamente tomado pela vergonha.

— Estamos investindo no gerador. Lynch e outros dois foram verificar a sala do núcleo para tentarem entender o problema.

— Eles o quê? Meu Deus, Liu, eu falei para ficarem longe daquele lugar! Quem sabe no que aquilo pode ter se tornado?

— Eu tentei impedi-los, mas Lynch preferiu seguir por sua conta e risco. Você conhece ele bem para saber como age. É igualzinho a você. Tão imprudente quanto.

Ele baixou a cabeça a lamentar com todas as forças. Nada era mais importante que a vida deles. Era preferível esperar horas e horas por uma solução segura que arriscar a vida de um jeito tão imprudente.

— Deus, ele tem família…

— Imagino que ele pensou muito nisso.  Ninguém quer ficar preso sem saber quando vai voltar para a superfície.

— Há quanto tempo ele foi para lá?

— Não muito tempo depois que você levou Sara até aí.

Langston suspirou; foi uma mistura de cansaço e indignação. Tudo o que lhe restava era esperar e torcer para que tivessem um bom desfecho. Lynch era uma vida que estava debaixo das asas dele e perdê-lo seria inadmissível.

— Lembre-me de esgana-lo quando isso tudo acabar — brincou, mas era nítido que estava tenso.

— E Ray.

— Diga. Mais alguma outra notícia para me preocupar?

— A equipe de segurança tentou me contatar há alguns minutos, mas só recebi estática. Eles me chamaram de novo… estão perguntando sobre o que houve por aqui. O apagão atingiu o Complexo inteiro.

Como ele imaginava. A notícia, no entanto, foi ainda mais assustadora ao ser ouvida. Um fato com aquele não demoraria muito para não passar despercebido por "olhares superiores", que imaginavam que um berçário de um titã nunca sofreria algo parecido.

— E o que você respondeu? Conseguiu apagar mais um foco de incêndio?

— Eu disse que não havia com o que se preocupar já que o procedimento foi bem executado e todos estavam bem.

— Liu… — disse em tom de reprovação. — Se esqueceu de quem está lá em cima também, louco para descer aqui?

A imagem de Grissom, de repente, pareceu surgir bem à frente dele; encarando-o com furor nos olhos e a angústia de ver Sara ainda desacordada. Nenhuma outra ameaça de fora era pior do que a dele.

— No momento, as pessoas mais importantes são as que estão aqui embaixo. Nós não precisamos atrair mais atenção desnecessária antes de resolvermos esse problema. Já temos dois potenciais problemas aí onde você está.

Langston percebeu que suas palavras saíram mais que uma alfinetada. Zhang não iria perdoá-lo tão cedo.

— Não podemos esconder isso por muito tempo.

— Todo tempo que ganharmos vai ser o suficiente, pense assim.

Até quando um homem como ele vai aguentar sem notícia alguma, indagou-se o cientista.

De certa forma ela tinha razão. A primeira coisa a se fazer tinha de ser a contenção de danos para depois lidar com o mundo lá em cima. De costas para onde Sara estava repousando, observou-a por cima do ombro e não percebeu diferença alguma. Era nela quem deveria concentrar seus esforços.

Não muito tempo após o término daquela conversa, as luzes principais e toda a energia da sala foram restabelecidas como num passe de mágica. Seus olhos se arregalaram num sobressalto e ele suspirou aliviado, sequer havia largado o rádio quando chamou por Zhang.

— Ele conseguiu — exclamou incrédulo. — Meu Deus, finalmente!

— Seja lá o que tenha acontecido acaba de nos salvar.

— Me avise quando tiver notícias dele, por favor. Ainda não acabou se não soubermos como ele está.

— Vai ser a primeira coisa que vou fazer, não se preocupe.

Hora de voltar seu foco a Sara. Utilizando o conhecimento que tinha, ligou todos os aparelhos necessários para o monitoramento do quadro de Sara. Se comparado aos equipamentos na enfermaria principal, esta poderia ser chamada de precária. Continha apenas o básico para atendimentos leves e passava longe do ideal que gostariam. Mas era o que tinham no momento. Levá-la para cima sem ao menos alguma estabilidade não seria uma boa ideia.

Sinais vitais se normalizando; batimentos cardíacos, pressão sanguínea, nenhuma alteração significativa. Aproveitou, inclusive, para coletar uma amostra de sangue para ser analisada lá em cima. Infelizmente não poderia fazê-lo no momento.

Tudo bem com seu corpo aparentemente, a questão era ela mesma. Langston nunca iria se perdoar caso o resultado de suas ações levassem Sara a uma prisão interna.

— Liu, e os mediadores? Quero ter certeza de que está tudo bem aqui e levar Sara para outro local.

Raymond já havia recebido a notícia de que estava tudo bem com Lynch e os outros. A hipótese mais recente foi de que o gerador foi "desligado" ao entrar em modo de segurança para que o núcleo não fosse hiperaquecido e causasse um acidente. Mais investigações ainda teriam de ser feitas.

Os próximos passos eram realizar uma varredura no sistema para identificar possíveis danos e torcer para que os últimos minutos do procedimento não tenham sido perdidos com o apagão. Tão importante quanto isso era saber se os níveis de radiação liberados no processo não foram altos o suficiente para que Sara não fosse prejudicada, quem sabe mortalmente. E se isso fosse provado, Langston estaria em sérios riscos.

Nesse meio tempo, entretanto, nenhuma resposta de Sara. O que era uma preocupação natural, pouco a pouco se tornava uma angústia. E se ela não acordasse? E se o seu destino foi passar os últimos minutos de sua vida às escuras e sem ninguém por perto?

— Você conseguiu passar por aquilo, Sara. Vamos. Falta bem pouco agora — disse a ela após beber um gole na garrafa de água estocada no quarto. Focou tanto naquele trabalho que ignorou a garganta sedenta por um pouco de água.

Passando o dorso sobre a boca, Langston olhou para a porta fechada (e trancada), imaginando como seria o futuro de ambos. Pensou em sua esposa e como seria sua reação se ele estivesse realmente contaminado por radiação. Pensou em Grissom, também. Se já sabia que não ganharia o seu perdão tão facilmente antes de tudo aquilo acontecer, imagine agora. A esta altura mal conceberia o quanto tempo restante ainda teria de vida.

E foi com estes pensamentos destrutivos que passou ao menos 3 minutos sentado em uma das macas, deparando-se com a realidade que finalmente lhe deu às caras. O sangue esfriou e a ficha caiu. Ele não tinha ideia do que fazer. Estava ao lado de uma mulher, sua paciente, que não dava sinais de reação enquanto ambos poderiam estar com seus dias contados.

— Ray.

Era a voz de Zhang no rádio. Langston pegou o aparelho que deixou ao lado com rapidez para respondê-la.

— Diga.

— Boas notícias para começar: não identificamos uma assinatura de radiação tão impactante como temíamos. A princípio, a senhorita Sidle não correu riscos aparentes.

Suas palavras encheram os olhos de Langston, que mal conseguiu se expressar direito. Ele se ergueu da maca e seguiu até o meio do quarto.

— Zhang, isso é ótimo! — exclamou, visando Sara logo em seguida. — Mas, espere. Vocês checaram os dados mais de uma vez para não haver margem de erro?

Ele não queria ser um estraga-prazeres, mas tinha de ter total certeza antes de comemorar realmente. Já estava ali junto de Sara passado mais de uma hora e continuaria aguardando pelo tempo que fosse. Claro, não teria outra escolha.

— Eu não diria isso se não tivéssemos certeza. Você nos conhece bem.

Antes de responder, Langston suspirou de alívio enquanto baixava a cabeça. Até passou o antebraço pela testa a secar um pingo de suor pelo nervosismo.

Ah, Deus, menos uma coisa agora.

Os sensores de radiação daquele sistema eram extremamente precisos. Ouvir aquilo foi um refrigério para a mente em turbilhão de Langston.

— E o que mais você iria me dizer?

— Estou indo até aí para medir os níveis de radiação em vocês. Só assim vou poder liberá-los.

Langston não soube dizer ao certo o que lhe acometeu já que ficou sem reação.

— Você vai… vir?

— Eu não posso arriscar a vida do nosso pessoal sem ter certeza de que vocês não apresentam risco.

— Liu… Não há outro jeito?

— Eu já tomei a minha decisão.

Apesar da resposta, o cientista ainda continuava avesso àquela opção. Seu desejo na verdade era de levar Sara para outro local o mais rápido possível e continuar a tomar as medidas cabíveis. Numa outra ocasião, todavia, faria o mesmo.

— Está bem. Por favor, venha rápido.

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E lá se foram dez minutos de uma espera interminável. O tempo estava passando como um dia em Vênus: simplesmente não se movia do lugar.

De repente, a imagem de uma pessoa vestindo o mesmo traje que Langston usou anteriormente era o sinal de que Zhang chegara ao local. Ele correu ao seu encontro, porém o limite foi a porta com uma peça transparente de meio metro possibilitando a eles o contato visual.

— Desculpe a demora. Pelo bem de todo mundo eu não podia ignorar as normas de segurança. Precisei me vestir — disse ela ao comunicador à porta.

— Eu faria a mesma coisa — admitiu consternado. — Desculpe por colocá-la nesta situação.

— Não é hora para isso. — Zhang respondeu sóbria. Tinha em mente que o amigo caminhava entre uma linha tênue entre a razão e a angústia, então precisava mantê-lo alerta.

Ele se afastou da porta até o final do quarto e a deixou entrar. Zhang portava em mãos um aparelho sofisticado que detectava radiação a pelo menos quinhentos metros de distância e com uma precisão acurada. Era o último estágio de um período tão turbulento que ambos sabiam que precisava terminar com boas notícias.

Zhang iniciou a varredura no local e caminhou com cautela pelo interior do local. Para a sorte de todos, se o nível de radiação estivesse acima do limite, o radar já teria disparado antes mesmo de se aproximar da sala de contenção. Bastava agora a palavra final.

— Vocês estão seguros.

O “peso” do alívio, de repente, lançou-se estranhamente sobre Langston, que pela primeira vez relaxou os ombros e todo o corpo ao se jogar sobre a maca que antes estava sentado. Eles estavam a salvo. Receberam mais uma oportunidade de viver.

— Eu já sabia — ele zombou. Suspirava enquanto dizia aquilo, estava mais tenso que nunca. Ele respirou fundo umas duas vezes e então assentiu.

Enquanto isso, Zhang retirou o capacete, pegou a rádio e noticiou aos seus colegas que a área não era um risco. Os minutos de silêncio na comunicação entre ela e o restante da equipe foi de uma angústia interminável para os que ficaram. Saber que os dois estavam livres de contaminação foi uma das melhores coisas que poderiam receber; melhor ainda que saber que o gerador não havia sido danificado.

— Eu nem sei por onde começar. Você foi irresponsável em agir assim e sabe muito bem disso — repreendeu-o com veemência. — O que pensou estar fazendo ao por sua vida em risco, Raymond?

— Eu sei que fui irresponsável. — Ele respondeu incisivo. — Mas eu devo isso a ela. Eu tenho maior responsabilidade aqui com ela que vocês.

— E isso significa se arriscar assim e colocar a vida da senhorita Sidle em risco também?

Langston sabia que estava errado, mas ainda assim se mantinha irredutível em seu olhar.

— Essa conversa ainda não acabou — disse ela. — A prioridade agora é outra.

— Temos que tirá-la daqui rápido — disse Langston ao finalmente se erguer do choque. Ele foi ao seu encontro e ajudou a retirar o restante do equipamento. — Ela não reagiu até agora.

— Vamos subir com ela até a enfermaria e… — Zhang parou de falar ao se aproximar de Sara para verificá-la. — Se não houver melhora, vamos ter que levá-la ao hospital e contatar o secretário sobre isso.

Era isso que Langston mais temia, que de uma hora para outra, o castelo de cartas pelo qual se dedicaram incansavelmente viesse a ruir. Lembrava-se muito bem de ver aquele olhar sedento por uma saída, por um alento que a fizesse sair daquele buraco sem fundo. A vida de Sara não poderia terminar ali.

— Vamos logo.

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No andar térreo, Gil Grissom estava uma pilha de nervos. Quem quer que passasse por perto notaria facilmente que ele não estava bem. Ora, faltava bem pouco para completar 3 horas desde que ficou por ali a esperar a realização daquele procedimento e tudo o que conseguiu foi uma mensagem da boca de um dos seguranças dizendo que todos lá estavam bem. A energia havia sido restaurada e nem após isso recebeu alguma outra notícia. Se tivesse meios já teria descido aquele elevador há muito tempo, todavia estava de mãos atadas.

E foi esse mesmo elevador pelo qual dirigia seus pensamentos que se abriu de repente. Sentado em uma das cadeiras pelo cansaço que o venceu, prendeu a respiração por um instante ao ouvir o som específico vindo de lá. Então se ergueu na mesma hora já com o coração acelerado.

De sua boca saíram apenas sussurros inaudíveis. Entrou numa espécie de transe; nada nem ninguém o iria impedir de se aproximar daquele elevador, nem mesmo o pequeno batalhão de homens armados guardando o local. Estava disposto a conseguir respostas custe o que custasse.

A primeira pessoa que viu sair do elevador, por ironia do destino, foi logo ele. Langston. Isto não o fez recuar, pelo contrário; vacilou em apenas um passo e prosseguiu obstinado a se encontrar com eles antes mesmo de ser alcançado.

— Langston! — chamou-o. Sua voz ecoou pela recepção e chamou a atenção de todos à sua volta. Era um grito preso em sua garganta pelo qual esperou tempo demais para soltá-lo. A doutora Zhang também o acompanhava, mas a raiva dele se direcionava a apenas uma pessoa.

O cientista mal pareceu ter lhe dado ouvidos, irritando Grissom ainda mais. Virou o rosto em sua direção por um breve período e então o desviou para dar atenção ao que lhe era mais importante: a maca que vinha logo atrás. Foi então que, bruscamente, ele parou de caminhar. Nem precisou ver seu rosto para descobrir quem estava deitado, talvez inconsciente.

Num movimento súbito ele retomou os passos, na direção dos que vinham do elevador. Deixou Langston de lado para se concentrar apenas naquela maca.

— Sara? — chamou-a transtornado. Ignorou as duas figuras de pé e se pôs ao lado da maca. — Sara…? Sara?

Suas mãos trêmulas tentaram alcançar as dela, mas ele não havia notado que estavam cobertas por um lençol. Apenas o rosto sereno e os olhos fechados eram visíveis. A mulher que amava, logo ali. Era a euforia, a angústia, o desespero que tomavam conta de Grissom.

— O que vocês fizeram com ela? — perguntou quase sem voz. Visou Langston diretamente e, sem pensar nos seus atos, segurou-o pela gola da camisa. Foi como se de repente o sangue em suas veias queimasse, fazendo-o agir fora de sua normalidade. As sobrancelhas franzidas traduziam um homem furioso. — Meu Deus, o que vocês-

— Senhor Grissom, acalme-se! — Zhang não poupou esforços e tratou de intervir. Ela tocou em seu braço, mas não tentou puxá-lo.

— Ela está viva — disse Langston, erguendo a mão para que Zhang não continuasse.

Grissom pressionou a gola da camisa para mais perto ainda. Ele olhou para Sara que permanecia imóvel.

— Desgraçados — sussurrou Grissom.

— Vamos levá-la para a enfermaria, mas não posso fazer nada desse jeito, senhor Grissom — continuou o cientista. Ele suava um pouco, mas a feição continuava inabalável. Logo se lembrou que poucos centímetros abaixo das mãos de Grissom estava a carta que Sara o entregou caso ocorresse o pior e ele não tinha ideia disso. Engoliu em seco.

E com muito esforço Grissom o soltou. Sara ganhou sua atenção novamente. Ele passou a mão por sua testa hesitante e delicadamente; o coração alcançou a boca. Ela estava bem ali e só Deus sabe o que deve ter passado numa câmara sozinha. Sentiu-se como o pior dos homens.

Só depois a ficha caiu e ele deu espaço para que eles continuassem o curso e então os acompanhou.

Langston liberou os guardas do local e pediu que apenas a entrada do Complexo fosse guardada.

— Por que demoraram? — protestou enquanto os auxiliava a empurrar a maca.

— Tentávamos reiniciar o sistema — respondeu Langston.

— Pelo amor de Deus, o que houve lá?

— Um corte de toda a energia logo após o procedimento. O gerador desligou para evitar a sobrecarga.

— Não foi só isso que aconteceu e vocês sabem disso. — Grissom contestou. — Foi a maldita coisa que aconteceu antes e deixou Sara daquele jeito!

Langston e Zhang trocaram olhares por alguns instantes.

— Nós vamos esclarecer tudo ao senhor quando a levarmos até a enfermaria. — Zhang se manifestou ao notar que os ânimos continuavam aflorados.

Grissom chegou a lançar um olhar quase mortal à doutora, mas acabou se contendo ao visar a mulher que amava deitada na maca que ele ajudava a carregar. De uma hora para outra poderia parar de caminhar e se debulhar em lágrimas. Não foi desse jeito que ele esperava ver Sara; encontrar-se com ela desacordada o tirou da órbita completamente e por isso estava deixando de agir com a razão.

Um momento de trégua era necessário. As partes estavam desgastadas demais.

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— Vamos manter o monitoramento constante e… Se não houver sinal de reação a levaremos até o hospital para realizar outros exames.

Então Grissom ouviu toda a história dos acontecimentos no subsolo. Enfrentou uma enxurrada de emoções; medo, sofrimento, ansiedade, revolta. Nada do que ouvia parecia ser o suficiente para se conformar e de alguma forma inconsciente sempre tentava imputar a todos eles a culpa sobre tudo de ruim que aconteceu a Sara. Sentiu-se e sentia-se impotente também, afinal, não passou de um mero espectador diante de um espetáculo bizarro. De pé, ouvia tudo enquanto a única mulher que realmente amou permanecia desacordada. Já estava cansado daquilo, sempre a mesma cena.

— Meu Deus… — Grissom não sabia mais o que dizer. Foi como se a história o deixasse num estado catatônico. Era o choque de quase perdê-la numa operação arriscada e o medo palpável de que ela nunca mais pudesse acordar. — Vocês tem que levá-la para o maldito hospital. Vão deixá-la aqui? Desse jeito?

— Já... estamos preparando uma ala no hospital particular daqui. — Langston lhe disse. Falou calma e pausadamente, assim como explicou a ele cada detalhe do procedimento e o porquê de não permitir que Grissom fosse junto.

— E vão esperar até quando?! — Grissom ergueu a voz e ergueu ligeiramente os braços. — Até acharem que não tem mais jeito? — Ele o encarou por alguns segundos. — Se ela não acordar-... Deus…!

Irritadiço, afastou-se do cientista para voltar para perto de Sara e reviver aqueles momentos de dor que sofreu anteriormente.

Langston pensou numa resposta apaziguadora. Um pedido de desculpas talvez, ou quem sabe uma mensagem de apoio ou de consolo. No entanto, sabia que isto apenas daria combustível para Grissom descarregar toda sua raiva para cima dele, verbalmente ou até mesmo fisicamente. Viu um pouco disso minutos atrás.

E de uma hora para outra, Sara abriu os olhos de uma vez só. Acordou subitamente, como se fosse liberta de uma paralisia do sono. O movimento atraiu os olhares dos dois homens no mesmo instante.

— Sara! — Grissom, a pessoa mais próxima, foi o primeiro a socorrê-la. Impedindo-a de tentar se erguer da cama, ele a segurou pelo tórax e fez com que apoiasse as costas sobre sua mão. Com cuidado, sustentou firmemente uma mulher que parecia em pânico. — Está tudo bem.

Langston, ao contrário de um Grissom mais proativo, ficou sem reação de início. Ele visou a cena incrédulo, pego de surpresa por algo fora do comum. E foi num desses estalos na mente que foi despertado para lidar com a realidade. Tratou de chamar a doutora Liang para atendê-la no que fosse necessário. Daria um jeito de contatar Zhang e informar a novidade. Tão surreal era toda aquela história foi o modo com o qual Sara voltou.

— Está tudo bem, querida. — Grissom tentava acalmá-la a todo instante. Ele atentou para o monitor cardíaco e viu a frequência de batimentos disparar como um revólver.

Sara tocou em seu braço por instinto. Procurou-o primeiro pelo tato e então pelo olhar. Se reparassem bem veriam suas pupilas dilatadas quase como se tivesse recebido uma injeção de adrenalina.

— Ei, está tudo bem, já passou. Você conseguiu — disse enquanto a posicionava na cama novamente para que ficasse deitada. Qualquer esforço brusco poderia ser prejudicial. Sara continuava ofegante; não tanto quanto no momento em que acordou, mas tão preocupante quanto. — Está tudo bem.

A doutora Liang chegou junto de Langston e tomou posição para auxiliá-la. Preparou uma ampola com tranquilizante para ser injetada ao ver a frequência cardíaca acelerada e, ao ver isso, Grissom interveio.

— Espere, ela está ficando estável — relatou ele ao apontar para o visor. Fitou Sara e a viu estender a mão para ele timidamente, fazendo-o se arrepender de ter se afastado. Então pegou a mão dela e a segurou firme.

Ao verificar que o uso do sedativo não era mais necessário, a médica desistiu da ideia e resolveu checá-la. Mas isto não impediu Grissom de permanecer bem ao lado dela, consolando-a num momento tão turbulento.

— Você conseguiu. — Ele disse baixinho, orgulhoso e, ao mesmo tempo, pasmo.

Langston retornou sozinho após dar a notícia aos outros. O restante da equipe continuava no subsolo a acessar os dados sobre o procedimento. De modo tímido, se aproximou pouco da cama de Sara e deixou Liang fazer seu trabalho; dar o espaço que eles precisavam.

Ver Grissom segurar desesperadamente a mão dela apenas comprovou o que já pensara antes sobre os dois.

Mais que tudo isso estava adiante de um evento extraordinário. Sara superou todas as expectativas. Ele, que já imaginava toda uma logística de levá-la para receber todo o atendimento e cuidado que merecia, de repente se viu extasiado pela novidade.

— Bem-vinda de volta, senhorita Sidle — declarou contente. Nunca ficou tão feliz por uma surpresa, sendo ele um homem não muito acostumado a elas. Só de vê-la acordada o exumou da culpa de uma tonelada que repousava sobre sua cabeça.

Os outros se voltaram para ele, inclusive Sara, que enquanto voltava a respirar normalmente, deixou-se sorrir por um instante. A verdade era que ainda se encontrava um pouco desorientada, sem ter ideia de onde estava ao certo.

— Onde eu tô?... — perguntou meio rouca.

— Enfermaria. Já estamos aqui em cima — replicou o cientista.

Curiosa, rondou o quarto com os olhos e só depois de um tempo se recordou que o local lhe era familiar. Respirou fundo e até tentou se erguer da cama, porém o cansaço era latente.

— Precisa repousar, Sara — alertou Grissom. — Você passou por um processo difícil e agora tem que recuperar suas energias.

— Eu tô bem… — falou com a voz arrastada de uma criança que queria sair do quarto para brincar. Já estava cheia de acordar por tantas vezes numa cama de hospital. — Eu só… Quero comer alguma coisa… Sair daqui.

Grissom não soube dizer o que aconteceu no instante após ouvir aquilo que despertou nele uma vontade de chorar. De repente se lembrou do momento em que toda a energia se foi, da mesma forma que ocorreu no fatídico dia em Las Vegas. Pensou que a perderia para sempre, que nunca mais iria vê-la ou que nunca mais a veria acordar.

Ele engoliu o choro e assentiu mostrando-lhe um tímido sorriso.

— Você vai, não se preocupe. Apenas… Me prometa que não vai sair daqui por enquanto, para a sua saúde.

— Tá… — Ela respondeu, sabendo que não iria vencer o cabo de guerra. Chegou a rir brevemente.

Todos ali acharam prudente considerar que o pior finalmente havia passado.


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