Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 24
O sonho de Elizabeth


Notas iniciais do capítulo

E aí galera, chega junto com mais um capítulo novo aqui! Vem que estamos rumo ao final dessa história, é só tensão do começo ao fim.

Para quem está se perguntando, peguei emprestada a história da música "Planet A" do The Devil Wears Prada para compor o título e incrementar um pouco mais a fanfic.

Obrigada a todos que estão lendo, espero que gostem. Boa leitura!



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"Elizabeth tinha um sonho", lembrou-se Sara de uma história que conheceu tempos atrás. Odiou de início, mas tinha de confessar que quanto mais o tempo passava, mais se apegava a ela.

A garota que sonhava em explorar o universo - mais um enredo dentre tantos semelhantes. Nada a impedia de desistir daquele sonho, nem mesmo a atmosfera do seu planeta, na segurança da gravidade e do oxigênio eram seus limites. 

Elizabeth cresceu e se tornou uma astronauta. E depois de tantas e tantas missões, meses de um preparo exaustante, finalmente realizou seu sonho: faria parte de uma equipe de exploração de uma galáxia desconhecida, anos-luz de distância de seu planeta. 

Irônico para Sara pensar naquela história, já que não compartilhava as mesmas emoções e sequer tinha o desejo de fazer parte da história como ela sonhou.

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A descida até o subsolo levou mais tempo do que Sara esperava. A porta do elevador se abriu revelando um corredor amplo que se estendia por um arco. A primeira sensação que teve — além do frio — foi que chegou a uma base militar secreta que não deveria conhecer de forma alguma. As paredes de concreto eram iluminadas por uma fileira de lâmpadas led, estendendo-se por um caminho que parecia interminável à primeira vista, mas que logo terminava com um portão de aço maciço. Um leve ruído grave se estendia por aquele corredor, como se fosse oriundo de algum motor ou corrente elétrica. Não que isto incomodasse Sara de início, mas não saberia dizer o quanto levaria até que se acostumasse.

— Está surpresa? — Zhang perguntou ao notar Sara encarando o espaço ao seu redor.

— Mais ou menos — respondeu por entre um suspiro, reflexo do frio que estava sentindo. Esperava ao menos que o tal macacão lhe fosse proteger da temperatura daquele lugar.

— Temos que manter o local resfriado em todo o momento para não correr o risco de superaquecer o sistema.

— Bom saber.

Ao se aproximarem do portão este foi aberto como num passe de mágica. Acionado automaticamente ou por alguém que os observava, pensou Sara. A entrada os revelou um caminho que se dividia em três partes (frente, direita e esquerda) e corredores tão extensos quanto o anterior. As paredes e o teto rebaixado, quase tão brancos como a neve, eram contemplados por uma carreira de luzes led assim como na área anterior. Tão clara que que suas sombras não resistiam e escapavam dali.

— Aquele prédio lá em cima é apenas fachada? — Sara apontou para cima. Confessava para si que não imaginava se surpreender ainda mais com aquele lugar.

— Parte do que fazemos acontece lá. — concluiu a cientista. 

— Vou avisar aos outros que já está aqui — comentou Langston, tomando a dianteira e deixando as duas. Tomou o caminho central com pressa e logo desapareceu da vista das duas.

— Venha comigo — chamou-a com um gesto da mão. — Vou levá-la até o local para se trocar.

Seguindo pelo corredor à esquerda, Zhang a levou a uma espécie de vestiário, que mais parecia um closet desenhado exclusivamente para mergulhadores ou astronautas, onde alguns macacões e trajes de proteção foram enfileirados em armários transparentes. O de Sara estava em um canto esquerdo, junto dos trajes costumeiramente utilizados pelos outros. Era da cor grafite; não havia bolsos ou detalhes adicionais, somente o necessário para que fosse confortável e, na palavras deles, seguro. Além das luvas, havia um par de coturnos pretos para fechar o conjunto. 

Ao se deparar com o novo look sentiu-se mais próxima ainda de uma ficção científica.

— Isso aí vai me proteger mesmo?

— Não consideramos que a sala possa de alguma forma ser nociva a você, mas estamos preparados para imprevistos.

A cada resposta que recebia, Sara gostaria de saber menos.

— Vou esperá-la pelo lado de fora se precisar de alguma coisa. Pode se trocar ali atrás. — Ela apontou para os fundos do cômodo, onde havia um provador.

Ao ficar sozinha finalmente, Sara não tomou posição em fazer o que tinha de fazer. Ficou em pé encarando a roupa suspensa à sua frente. Poderia ser seu último look, pensou morbidamente enquanto sorria. Nada muito diferente dos macacões que costumava usar no trabalho, então não passou longe de se familiarizar com a roupa.

Sara levou menos de cinco minutos para se trocar. Enquanto fechava os últimos botões até o pescoço, pensou se realmente aquela peça de roupa iria ajudar em alguma coisa caso realmente precisasse. Questionava, também, se tudo aquilo não passava de um circo montado apenas para lhe causar uma sensação de segurança. Foram meses. Em tão pouco tempo conseguiram a resposta para um problema de décadas. Pesou na balança então quem sairia "ganhando" mais com toda essa história se desse certo, e com certeza não seria ela.

Aparentemente já estava pronta. Havia dobrado as roupas metodicamente, como alguém prestes a buscá-la momentos mais tarde. Ela as deixou logo abaixo do local onde pegou seu macacão e então foi para fora.

— Não sei se isso é possível, mas... você pode chamar o doutor Langston? Eu... preciso falar com ele sobre um assunto não resolvido.

Pelo jeito como Sara se expressou, não foi necessário muito esforço para entender que ela queria falar com Langston a sós. Ela não a questionou, pois sabia que naquele momento precisaria de todo apoio possível.

— Eu não esperava que fosse me chamar aqui. — Langston comentou curioso. Chegara em pouco tempo logo após a partida de sua colega de trabalho.

— É que eu gostaria de entregar um coisa- — Sara se interrompeu. — Pedir que entregue uma coisa para Grissom.

— E o que seria?

Em cima de suas roupas dobradas havia um papel dobrado em três. Ela o pegou e o segurou em suas mãos antes de entregá-lo. 

— Caso eu não sobreviva... dê isso a ele, por favor. — Ela estendeu o papel a  Langston, que a encarou perplexo. — Só para ele.

Era uma carta de despedida, ele tinha certeza. Sequer precisou perguntar-lhe. Uma vida inteira e foi a primeira vez que vivenciou algo assim; algo que só via em histórias do século passado ou em ficções. Ficou sem jeito para pegá-la, paralisado, na verdade.

— Jesus, como nós... chegamos a isso?

Langston não a deixaria ficar esperando por muito tempo, todavia. Ele pegou a carta — o fez com receio ainda por cima —, e logo um sentimento de culpa recaiu sobre ele.

— Nós sabemos dos riscos. — Sara deixou escapar um breve suspiro. Entregar aquela carta pesava-lhe demais o coração. Sentiu que não podia deixá-lo à mercê da solidão caso ela não saísse viva de todo o processo e torcia para que suas palavras trouxessem algum alento. 

Ela olhou para baixo sem manter o olhar fixo em alguma coisa, apenas para desviar o foco de sua atenção.

— Sinto muito... por chegarmos a este ponto. — Doía-lhe o peito saber que não puderam concluir o projeto com 100% de segurança. Bem ou mal, aquela cena iria martelar em sua mente por um bom tempo.

— Todo mundo sente.

— Eu vou guardar isto aqui comigo, não se preocupe. — Ele ergueu a carta um pouco abaixo do rosto e o guardou no bolso da camisa social. — Está em boas mãos.

— Obrigada.

Ele assentiu.

— Se eu não sobreviver... — continuou Sara. — Eu não sei o que vai acontecer com ele. — Ela balançou a cabeça por algumas vezes, nitidamente preocupada. — Não sei como vai reagir. 

— Senhorita Sidle, eu... acho melhor que não fique pensando nesse tipo de coisa. — Langston interveio. — Preocupe-se com o seu bem-estar agora. Faremos todo o possível para cuidar dele caso algo aconteça, mas por favor: evite pensar no pior.

— Eu sei disso — argumentou incisiva. — Mas foi o que disse antes: os riscos são grandes, o que mais eu poderia pensar?

— No que fazer com esta carta com o sucesso do procedimento.

Pega de surpresa, Sara chegou a rir por um instante.

— Eu não sei! — Respondeu com um ar risonho — Eu não quero mais ver essa coisa. Livre-se disso, queime... eu não sei.

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Duas da tarde, parcialmente nublado.

— É aqui o local. Perdoe-me por não trazê-la aqui antes. Estávamos trabalhando quase ininterruptamente para adaptar esta câmara. — disse Langston ao levá-la para dentro da sala vermelha. 

E depois de apresentá-la a sala de controle, onde conversou brevemente com os outros cientistas, lá estavam eles no tão aguardado local.

Incrível pensar que uma sala feita para abrigar experimentos quânticos foi adaptada para receber um ser humano. A sala que mais parecia uma redoma não era vermelha como aparentava ser pelo nome. Uma plataforma se estendia até o centro do lugar, abrigando um pequeno espaço circular vazio. Anteriormente a câmara abrigava uma estrutura onde os experimentos com partículas eram realizados. Revestida com um material escuro como o grafite, as paredes "escondiam" uma série de pequenas cavidades de aproximadamente um centímetro que se estendiam por toda a sala, inclusive o teto. Era por meio destas aberturas que uma série de feixes "invisíveis" seriam disparados em sincronia de uma vez só. O procedimento final duraria menos tempo do que se poderia pensar, mas seria tão arriscado quanto. Não havia outra escolha, entretanto; era isto, ou esperar pelo pior futuramente.

Acompanhando Sara até o centro da câmara, Langston parou um pouco atrás para deixá-la se acostumar com o ambiente. Não seria frio de começar o procedimento tão de repente sem ao menos permitir que ela se familiarizasse com o local, sua "sala de cirurgia".

— Então essa é a tal sala — comentou Sara, ainda de costas para ele.

— Uma das joias da coroa.

— "Uma"? — Ao ouvir aquela resposta, ela se virou em sua direção.

O cientista assentiu, aproximando-se dela sem pressa.

— Posso apresentá-la aos outros espaços desse andar em breve, quando tudo isso acabar.

Impressionava-se ao reparar no quanto de fé ele tinha que tudo daria certo. Claro, era o cabeça do trabalho e por isso depreciá-lo não seria o melhor jeito de lidar com isto. Ou talvez fosse apenas uma tentativa de manter sua mente sã antes do procedimento. De qualquer forma ela respondeu com um meio sorriso.

— Melhor começarmos logo com isso, senhor Langston — afirmou decidida. — Quanto mais a gente demora aqui, mais eu vou perdendo a coragem.

— Está bem. — Langston respondeu após fitá-la por dois segundos. Gesticulando com as mãos, pediu que o acompanhasse até o centro da câmara. — Você tem alguma dúvida antes de começarmos?

Vamos, não dá mais pra adiar isso.

A mente de Sara era um campo de batalha. Queria logo iniciar o procedimento, ao mesmo tempo em que queria empurrar o homem à sua frente e correr para sua liberdade.

— Não. Estou pronta. — Ela o visou diretamente nos olhos, apesar de não carregar tanta firmeza na voz.

— Tem certeza disso? Você tem o direito de escolher continuar com isto ou não.

— Não, eu quero fazer. Se eu não tentar... — Sara olhou para o lado. — Não adianta, vou ficar presa com isso aqui pra sempre.

— Então está bem. Eu-

— Se não der certo — interrompeu-lhe ansiosa. — Use isso para acabar com eles.

Langston não era inocente para não saber quem eles eram: Aquela gente responsável por criar o problema que talvez afetou muito mais pessoas além de Sara. Um problema tão grande que se viesse a público provavelmente causaria um escândalo mundial, pior ainda que Chernobyl. Seu nome seria revelado tão rapidamente como um corpo em cova rasa. Sua vida inteira cairia na boca de muita gente, inclusive o de sua esposa, a quem ele temia que algo lhe acontecesse até o mais profundo de sua alma.

Então a imaginou no lugar de Sara e toda a razão perdeu o sentido. Se ela estivesse ali, prestes a passar por um procedimento de risco — Deus a livre disto, pensava ele — e ela não sobrevivesse, Langston seria o primeiro a se manifestar contra os responsáveis pelo incidente. Pessoas das quais já passou uma tarde tomando café e que agora carregavam culpa por uma tragédia iminente.

— Eu vou. Tem a minha palavra.

Sara assentiu e mostrou um semblante aliviado.

— Não se esqueça de colocar a proteção em seus olhos.

— Eu vou. Obrigada. 

Langston tomou um passo a frente, estendeu a mão direita para ela e foi retribuído com um aperto firme. O gesto durou mais tempo que esperava.

— Está prestes a fazer algo inimaginável agora. De todas as pessoas que conheci em décadas de carreira, de vida... você é mais corajosa de todas — declarou com ênfase. —  Obrigado por confiar em nós, apesar de todos os problemas.

— Obrigada por... ler aquele email. — Ela lhe mostrou um sorriso torto. Não tinha como imputar a eles toda a culpa do mundo até porque não faria sentido o fazer.

— Você vai saber quando o procedimento estiver prestes a ser realizado por um ruído grave, algo parecido. Até lá eu quero que esteja usando a proteção em seus olhos no momento em que eu deixar esta câmara — completou. — Fique firme. Logo nos veremos de novo.

— Ok.

Ele deu meia-volta e seguiu em silêncio para fora. Antes mesmo de vê-lo sumir de sua vista, Sara colocou a proteção sobre os olhos  e não viu mais nada. Um único som do metal reverberando no ambiente era o sinal de que estava sozinha.

Silêncio no ambiente. Nunca antes encarou um local tão quieto como aquele que lhe causava calafrios. Sara sentiu um vazio arrebatador. Lembrou-se do solitário destino de Elizabeth.

— Não, não é uma boa hora para isso — repreendeu-se. 

Bem que tentou, mas aquela história surgiu de repente para assombrá-la. Elizabeth realizou seu sonho, alcançou as estrelas e chegou a um planeta novo. Seus olhos se encheram ao ver de perto o corpo celeste, pois não estava preparada para se deparar com tamanha realização.

Todavia, também não estava preparada para uma pane no sistema da nave ao entrar na atmosfera do planeta. O que era para ser um pouso controlado se tornou o maior pesadelo na vida dos tripulantes, inclusive na de Elizabeth. Sem controle da direção, o ônibus espacial se tornou uma bola em chamas, atingiu de raspão o solo do planeta e partiu-se em dois.

Foi uma tragédia. Uma tragédia ainda maior para Elizabeth, a única sobrevivente da queda; fadada a permanecer num planeta inóspito, sem possibilidade alguma de retorno.

"Curiosidade poderia ser uma maldição", dizia a moral da história. Sara nunca foi curiosa a tal ponto, mas estava pagando o preço da curiosidade de outras pessoas. Sara não compartilhava a mesma ambição que ela, mas de alguma forma, sentia que poderia compartilhar o mesmo destino.

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Quando fechou a porta e se afastou dando dois passos para trás, Langston levou a mão à boca e respirou fundo. Estava abalado. Ele fechou os olhos por uns instantes e baixou a cabeça, lamentando com todas as forças que acabara de deixar uma mulher sozinha num lugar que não foi feito para ela. De tanta gente, tantas pessoas que mereciam coisa pior, Sara era a última pessoa a merecer algo assim.

E se ela morresse? E se aquele encontro tivesse sido o último? Tomado pela angústia, arrependeu-se de não ter ficado mais um pouco ou de ao menos ter lhe garantido uma conversa mais agradável. Nunca foi habilidoso com as palavras, mas culpou a si mesmo por não ter se esforçado um pouco mais.

Deixara numa sala talvez sua primeira e última paciente, para o bem ou para o mal. Irônico pensar desse jeito. O sonho de sua falecida mãe era de que fosse um médico, a área não importava. Sempre viu no filho os trejeitos de um jovem voltado à medicina, alguém que usaria seu conhecimento para ajudar outras pessoas, salvar a vida de muita gente. Já seu pai, veterano de guerra, alimentava o sonho bobo do filho pequeno de se tornar um astrônomo; de olhar para longe, para as estrelas e para outras galáxias.

Quando cresceu acabou se tornando uma "decepção" para ambos ao escolher a Física Quântica como sua profissão. No entanto, a grande ironia de toda aquela história, era que estava prestes a fazer um pouco daquilo que seus pais viam nele: salvar alguém e olhar para longe, além do que os olhos comuns conseguiam enxergar.

Não que sua reflexão lhe trouxesse algum alento, pelo contrário; pensar assim o deixara ainda pior. Se encontrasse com sua mãe e pai naquele exato momento teria vergonha de mostrar-lhes o rosto.

— Ray? Está tudo bem por aí? 

Zhang veio ao seu encontro, preocupada com a demora em seu retorno à sala de controle. Encontrou-o virado para a entrada, parado e ombros decaídos. Não percebeu que cobria o rosto com ambas as mãos. Somente quando ouviu sua voz foi que ele se virou em sua direção. Caminhou até ela antes que terminasse sua trajetória.

— Não muito — confessou abatido.

— O que houve? Aconteceu alguma coisa com Sara? — perguntou com receio.

— Aparentemente ela está bem. Melhor do que eu imaginava.

— Então...?

Ele fez um gesto para que seguissem adiante.

— Liu... temos que ser perfeitos nessa.

— Foi para isso que nós trabalhamos nesses meses.

— Meu Deus, tem um ser humano lá dentro! — lamentou, sem erguer muito a voz, mas o suficiente para mostrar o quanto estava abalado.

— Raymond. — Ela fez com que recebesse sua atenção e eles pararam de caminhar. — Isso não é hora para deixar suas emoções tomarem o controle.

— Deus... — Langston pressionou as têmporas com força.

— Aquele ser humano lá dentro, aquela mulher precisa de nós, de você. — Zhang apontou na direção da sala vermelha. — Ela está contando com isso. Que façamos um trabalho excelente e a tire daquela situação. Mas não vamos conseguir se um de nós não estiver bem.

Ele suspirou por cansaço. Foi como se todo o estresse acumulado dos últimos meses tivesse transbordado justo naquele momento.

— Todos nós estamos com medo que isso dê errado. Que ela não aguente ou que o sistema sobrecarregue demais e destrua tudo isso aqui. — Ela deu de ombros. De toda a equipe, não havia mais ninguém tão preocupado em voltar para casa que não fosse Zhang, temendo que nunca mais fosse ver o rosto do filho novamente. De alguma forma conseguiu guardar tudo o que era negativo dentro de si para focar naquele projeto. — Mas agora teremos de ser mais frios que o gelo.

Ele fechou os olhos e respirou fundo. Tirou aquele pouco tempo para se recompor, agradecendo em silêncio por Zhang ter chegado na hora certa mais uma vez.

— Vá se vestir. Estamos esperando você.

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Na sala de controle, uma suntuosa área ampla disposta com um aparato utilizado para controlar e monitorar os eventos que aconteciam na câmara onde Sara estava. Monitores dispostos na parede indicavam o status do sistema, temperatura do gerador abaixo deles e da sala vermelha e outros detalhes adicionais. Nada passava despercebido por eles, nem mesmo o mapa de calor de Sara. Não foi possível instalar câmeras ou outro tipo de equipamento para observarem-na sem que isto afetasse a estrutura da sala, então foi o melhor que puderam fazer.

Todos da equipe de Langston estavam ali, vestindo macacões brancos e capacetes de segurança, posicionados numa mesa horizontal, cada um encarregado de uma função específica. Tirando eles e dois encarregados de "vigiarem" a sala do gerador, não havia mais ninguém no prédio; fora evacuado de cima a baixo. Nem mesmo Grissom ficou por lá, mandaram-no esperar no prédio residencial contra sua vontade. 

Langston, de pé em frente ao painel, observava religiosamente cada monitor para garantir a si mesmo que tudo estava a correr bem antes de iniciar o procedimento. Quase não piscava. Olhos vidrados em cada número, cada informação que fosse, o coração acelerava por uns instantes a cada equívoco seu ao interpretar algo errado. Estava quieto demais, até para ele.

Zhang, que se pôs ao lado dele, o acompanhou por pouco tempo. Ela viu seus colegas, rostos tensos, alguns visando Langston a esperar por um sinal. Tinha de ficar de olho nele algumas vezes ou acabaria vendo aquela cena anterior.

— Estamos prontos — disse a ele, sendo recebida por um olhar um tanto atordoado. Zhang assentiu com confiança e tocou firme em seu braço a "despertá-lo" para a realidade mais uma vez.

Sara, aguente firme.

Era chegada a hora.

— Toda a energia do Complexo vai ser voltada para aquela sala. Monitoração constante em ambos os locais — declarou.

Langston também pediu por uma última checagem individual antes de ativarem o protocolo. Um a um, foi recebendo a confirmação sobre cada setor; tudo funcionando normalmente conforme o esperado para seu alívio.

Quando recebeu o último "ok" foi como se sua mente fosse bombardeada por uma série de imagens do passado e projeções para o futuro. Em suas mãos, várias vidas que corriam riscos junto a ele; seus amigos, gente que conhecia há vários anos, que criou laços e que poderiam morrer com ele. Pensou em sua esposa e o quão ansiosa estaria esperando por seu retorno para casa, já que não o via pessoalmente há uns meses. Seu último "eu te amo" veio de uma ligação comum. Gloria não tinha ideia do que ele estava prestes a fazer, apenas que realizaria algo importante para seu novo país, novo lar. Sequer poderia imaginar que corria o risco de nunca mais vê-lo.

Deus a ajude.

— Redirecionar a força do gerador para a sala vermelha — solicitou.

O doutor Wu iniciou o protocolo e uma pequena contagem regressiva se iniciou na mente de Langston.

— Dez por cento — disse o doutor após alguns segundos.

Eles estavam prestes a realizar o procedimento mais perigoso de suas vidas. Se isto desse certo, salvariam uma vida e entrariam para a história. Por outro lado, se houvesse um erro de cálculo, por menor que fosse…

— Vinte e cinco por cento.

Era a primeira vez que realizavam uma experiência naqueles moldes, canalizar toda a energia de um complexo inteiro num só lugar. Não havia outro caminho, todavia. Não sem que arriscassem uma chance ainda maior de falharem com Sara.

Sara, Sara…

Queria ele poder enxergar o interior daquela sala e ver como ela estava. Ao menos se fazer presente ou de alguma forma conseguir falar com ela. Aquele período de silêncio o corroía por dentro e só de pensar em como ela deveria estar aflita pela solidão e o silêncio, já era o bastante para incomodá-lo ainda mais.

— Cinquenta por cento.

Quando o marcador passasse dos setenta por cento um alerta seria acionado e seria necessário um comando para que toda a capacidade do gerador fosse redistribuído para um lugar somente.

— Vamos lá, eu sei que você consegue — sussurrou para que ninguém pudesse ouvi-lo. Não poderia conceber a ideia de que Sara não tivesse um final feliz após passar por tanto.

— Começamos a entrar na fase crítica — declarou Wu.

— Desativar o protocolo de segurança — disse Langston, comando que foi executado por Lynch ao digitar uma sequência numérica.

O comando causava calafrios até mesmo nele.

O marcador apontava uns quinze graus naquela sala e mesmo assim dava para sentir a tensão em forma de calor. A temperatura não condizia com o real estado ou era o próprio Langston a pessoa nervosa por ali. Um pingo de suor escorria pela testa e ele foi ligeiro em secá-lo com a manga do macacão.

— Peça para aqueles dois saírem de perto do gerador. Aquele lugar pode virar um forno e eu não quero arriscar a vida de mais ninguém. 

Falando em cantonês, o doutor Hongfeng comunicou-se pela rádio com os encarregados de vigiarem o gerador para retornarem ao andar em que estavam. Por dentro, Langston rezava para que o sistema de resfriamento do gerador pudesse suportar a liberação de energia em forma de calor sendo formada. Uma falha e todos teriam problemas. Talvez bem graves.

— Último relatório visual.

— O gerador respondia bem até a última vez em que o viram. Nada anormal.

— Bom.

Ainda assim era bom que saíssem de perto. Nem mesmo uma centena de normas de segurança previam situações inesperadas.

Um minuto se passou.

— Noventa por cento.

Um aviso de alerta sobreveio em um dos monitores, indicando que quase 100% da capacidade estava sendo usada. Em dias comuns mal passavam de 40. Por mais que as letras em vermelho os incomodassem, era a hora de ignorar qualquer tentativa de desviarem suas atenções.

—Preparem-se.

Vai acabar logo, Sara. Aguente firme.

— Cem por cento.

Espero voltar, Gloria.

Ele prendeu a respiração por um segundo.

— Iniciar.

Ao dizer aquilo, Langston digitou o comando no painel que deu início ao procedimento. Foi somente pelo indicador no monitor principal que tiveram noção do que estava ocorrendo. 

Contando o tempo de resposta do sistema até a ativação dos componentes da câmara, seis segundos se passaram.

E então de uma para outra o sistema e todas as luzes se apagaram.

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Do lado de fora do Complexo, um cerco discreto de seguranças portando pistolas. O acesso ao local fora restrito, como numa quarentena: ninguém entrava ou saía até segunda ordem. As armas de fogo estavam ali para serem utilizadas caso fosse necessário, não importasse quem fosse. 

Na recepção do prédio residencial, um homem angustiado buscava incessantemente por meios de aplacar a ansiedade antes que esta o destruísse. Mais de uma hora havia passado desde quando chegou ao local para aguardar o retorno de Sara. Ficar às cegas por tanto tempo o estava levando à loucura.

Pensou em mil coisas: ligar para Catherine a contar do ocorrido, dizer que Sara estava passando por uma situação delicada e que as chances não eram boas.

Não seja tolo.

Não era de seu feitio pensar dessa forma, além da razão. A verdade era que no meio de tantos homens guardando a entrada e saída do prédio, Grissom se sentia só e não encontrava refúgio nem se procurasse o isolamento em seu quarto.

Mão ao bolso e a outra tapando a boca, andava de um lado para o outro, perdido no meio de suas angústias. Os minutos passavam e nada havia acontecido. Nenhuma resposta, nenhuma notícia; fora isolado dos demais e como se já não bastasse, saberia do resultado tempos depois.

Sentimento de remorso o atacava nesse meio tempo. O tanto que poderia ter feito e dito a ela para que ao menos se sentisse um pouco melhor… Entretanto, ele não foi capaz de realizar tais coisas, era um homem inseguro demais mesmo após tanta coisa que passou.

Você vai ficar bem, pensava no intuito de se acalmar. Tentava criar a imagem da mulher que amava retornando bem, sã e salva, e não o pior cenário.

Então todas as luzes se apagaram.

Ele levou um susto. Olhou para os lados e procurava saber o que houve. O céu estava parcialmente nublado então o meio de tarde virou início da noite. Os seguranças acenderam suas lanternas e se mantiveram alertas.

Sara...

— Ei, o que houve? — perguntou ansioso para um dos seguranças. Na hora não cogitou a ideia de que ele não soubesse falar inglês, então cerrou o punho com raiva de si mesmo.

Ao notar a aproximação sucinta de Grissom, um dos homens que guardava a entrada fez um gesto com a mão para se afastar enquanto a outra ameaçava abrir o coldre.

— Não sabemos. Alguma coisa deve ter acontecido com o gerador — respondeu um dos seguranças, um homem magro de estatura mediana, o que segurava a lanterna. Ao contrário de Grissom, não aparentava tanta preocupação.

— Eu quero falar com o doutor Langston. Posso?

— No momento isto não será possível, senhor — respondeu logo. — O acesso a qualquer local fora deste prédio está restrito até segunda ordem.

Ele não escondeu a frustração que sentiu com a resposta já esperada.

— Deus, isso- — Correndo a mão sobre o rosto um estalo veio sobre sua mente enquanto lamentava. 

Nervoso, pegou o celular no bolso para confirmar o que estava pensando. Semblante em choque ao ligar a tela e ver que nem ao menos o aparelho estava ligado. Foi como se tivesse descarregado em um instante.

— Tem algo errado. Deus- Alguma coisa aconteceu por lá! — esbravejou irritado. — Eu preciso saber o que houve!

A lembrança do que ocorreu naquele dia do apagão o assombrou de repente, como se fosse transportado para o caos que desencadeou os piores momentos na vida de Sara.

A porta principal foi aberta. Um homem que vestia o mesmo uniforme que os outros veio ao encontro deles para informá-los o que estava acontecendo. A julgar pela sua feição, Grissom o viu tão confuso quanto os outros. Não pareciam ansiosos, mas também não imaginavam o que poderia estar havendo.

— Você- vocês não entendem. — Grissom gesticulou ao caminhar na direção do segurança. Mal sabia se ele tinha ideia do que realmente estava acontecendo no subsolo então precisou tomar cautela. — Tem uma pessoa importante pra mim lá em baixo e eu preciso saber se ela está bem.

A feição do segurança parecia irredutível, para o desespero de Grissom.

— Me deixe só falar com ele daqui. Por favor — insistiu, completamente incapacitado de pensar racionalmente.

Murmurando em voz baixa, o homem pegou um comunicador via rádio para chamar um dos integrantes do grupo de Langston.

Ele ligou a frequência costumeiramente usada e contatou um dos responsáveis. O silêncio quase sepulcral na recepção do prédio permitiu que ouvissem somente chiados vindo do comunicador.

— Tente de novo — falou um deles após a primeira tentativa frustrada.

O segurança tentou contatar Langston mais uma vez, já imaginando a repreensão que iria levar ao chamá-lo em má hora.

E novamente a tentativa falhou.

Grissom se lembrara muito bem de uma situação semelhante que aconteceu meses atrás. Toda a energia do local cortada de uma hora para outra, telefones desligados e interferência na radiocomunicação.

Era aquilo de novo.

Ah, meu Deus.

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Olhares em choque, surpresa. Uma reação silenciosa de início que logo se transformou em comentários desordenados.

— Eu quero um relatório da situação. — Langston requisitou incisivo. Olhava para todos os monitores esperando por uma resposta do sistema, mas nada. — Deus, o que houve aqui?!

— O sistema todo foi desligado! — retrucou Zhang. As luzes de emergência que deveriam ser acionadas no momento da queda de energia estavam oscilando, levando-a aos nervos. — Não há energia aqui, sofremos um apagão! 

— Meu Deus… Sara. Qual o estado dela? Ao se virar na direção.

— Raymond, você está me ouvindo? Estamos às cegas, presos aqui ainda por cima!

As palavras da doutora foram lançadas no ar, deixando o clima ainda mais pesado.

Langston se afastou do painel de costas e cobriu o rosto com as mãos, completamente desnorteado.

— Isso não pode estar acontecendo. — A última coisa que precisavam era de uma queda de energia. Ele correu as mãos até a nuca e então abriu os olhos, virando na direção de Zhang. — Deus, vocês estão bem? Alguém se feriu? — Ao ouvir a resposta de sua equipe, suspirou um pouco mais aliviado. — Sara, como ela está? Eu preciso vê-la.

Antes que Langston se preparasse para sair, todavia, Zhang interveio.

— A energia não voltou ainda e não temos um indicativo do quanto aquela câmara pode ser um risco. 

— Então eu vou me trocar — replicou decidido, então se dirigiu aos outros. — Eu quero um monitoramento do reator e do gerador quando a energia voltar. Vocês não são heróis, não se aproximem daquele lugar antes da energia voltar de forma alguma — ordenou-lhes, usando um tom que raramente costumava falar. — Fiquem de olho no sistema quando ele voltar e me atualizem pelo rádio.

Tendo dito isso, deixou seu posto e saiu da sala de controle com pressa. Seguiria para o vestiário para vestir um traje que o protegeria contra riscos da suposta radiação que viria daquela sala. Torcia fervorosamente que não, pois significava más notícias para Sara.

Mesmo com a iluminação precária, Langston chegou ao vestiário com rapidez; gravara o caminho ao percorrê-lo por tantas vezes. O traje sob medida foi vestido o mais rápido que conseguiu. Cada segundo de demora poderia ser uma chance a menos de socorrê-la caso precisasse. 

 — Raymond! 

Antes mesmo de terminar de se aprontar, Zhang chegou ao vestiário. Estava apreensiva. Correu temendo que já fosse tarde para alcançá-lo.

— Percebe o que está prestes a fazer? Arriscar-se num lugar sem saber o quão perigoso é não é nosso trabalho — repreendeu-o.

— Liu. Tem uma mulher lá dentro, é só isso que precisamos saber — retrucou enquanto vestia as luvas. Deixaria o capacete por último. — Anos que nos conhecemos e quando foi que cogitamos algo assim?

— Ninguém está processando isso direito. Mas você não pode agir de modo imprudente!

— Onde está o detector de radiação? — Ele questionou, hesitando ainda em pôr o capacete. — Aquela coisa funciona, ao menos?

Ela odiava quando o amigo colocava suas convicções acima da razão certas vezes. Tinha de vigia-lo desde quando recebeu o email de Sara, meses atrás. Percebendo que continuava irredutível, procurou em seu kit um pequeno aparelho que detectava radiação no ambiente. Quando ligou o medidor digital, no entanto, percebeu que as coisas iam de mal a pior.

— Tem algo errado — disse ela.

— O que houve?

Ela lhe mostrou o aparelho. O visor digital oscilava seus números sem parar.

— Ou o aparelho está com problemas, ou somos nós quem estamos em apuros.

— Acho que estamos diante daquele mesmo fenômeno que ocorreu em Nevada. 

Ela o encarou com um semblante um perplexo. Pensou o mesmo que ele, mas foi difícil ter que lidar com a realidade.

— Por enquanto vamos focar nossos esforços nela — concluiu ele. Tudo para não permitir que a ansiedade tomasse as rédeas.

— Posso buscar o contador Geiser — Zhang apontou para trás. O medidor clássico era a opção mais segura no momento, pois não seria afetada pela pane nos aparelhos eletrônicos como seus parentes mais modernos. Para a infelicidade de ambos estava num outro lugar.

Ele sabia dos riscos, mas também sabia que estava correndo contra o relógio. Seria uma das decisões mais difíceis para tomar.

— Não, não temos tempo. Já perdemos tempo demais aqui. — Decidido a sair, ele vestiu o capacete.

— Ray — insistiu Zhang. — Não foi desse jeito que nós concordamos em agir. Por acaso você enlouqueceu?

— Você sabe de tudo o que eu fiz por aqui, não sabe? Conhece meu trabalho melhor que eu. Se acontecer algo eles vão precisar de você.

— Você não é um herói. Raymond!

Ele ajeitou o capacete e ligou o comunicador interno. Deixaria o para receber sua repreensão depois.

— Vou precisar de sua ajuda.

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Para um homem conhecido por sua prudência, por várias vezes exacerbada, o que estava prestes a fazer seria loucura demais. Um astronauta, a pouco de sair de seu veículo espacial para encarar solo desconhecido; apenas ele e mais ninguém.

— Liu, consegue me ouvir? — Ele a chamou enquanto se aproximava da sala vermelha.

O corredor ostentava um brilho carmesim incômodo. Pensou por um momento estrelar um suspense cósmico no qual procurava por sobreviventes diante de uma ameaça. Estava quase um completo silêncio se não fosse o ruído em seu comunicador, o que deixava o clima ao redor ainda mais desagradável.

— Horrivelmente, mas consigo. Já está na sala?

— À porta.

À fronteira do universo.

— Você vai ser meus olhos a partir de agora. Me conte tudo. Boa sorte.

— O medidor já voltou a funcionar?

— Ainda não. Mas ainda acho que você deveria ter levado.

— Peso morto. — Ele se preparou para pressionar o mecanismo de destravamento da porta. — Me avise quando ele normalizar.

Um suspiro cansado foi ouvido por ela.

— O que foi?

— Vai começar a esquentar aqui.

Estar dentro daquela roupa o fazia se sentir como um pernil a ser defumado lentamente.

— Lynch e Wu foram verificar a sala do gerador de emergência. Vamos ter energia logo.

— Esse procedimento desligou uma das fontes de energia mais avançadas dos últimos anos e você acha que o gerador vai funcionar? — Ele ironizou. 

Langston abriu a porta num único movimento.

— Senhorita Sidle?! — chamou-a no instante em que entrou. — Senhorita Sidle, sou eu! Você está bem?

A Câmara estava um breu total. Langston mal conseguiu enxergar um palmo de distância direito com a pouca luz e com o visor do qual nunca se acostumou a usar.

— Liu, estou me aproximando do centro da sala, está me ouvindo?

— Contato… senhorita Sidle? — A comunicação continuava a falhar e o chiado o estava levando aos nervos. Ao menos conseguiu entender parte da mensagem.

Ele não a viu de início. Na verdade, à distância pela qual a procurou pela primeira vez, não viu nada. Um calafrio percorreu a espinha e de repente todos os seus receios voltaram como fantasmas. 

Então apertou o passo e seguiu mais a fundo. Sua visão o levou para baixo, no chão, onde a encontrou caída.

— Sara! Meu Deus! — Ele se aproximou dela e se apoiou sobre um joelho. — Liu, ela está aqui! Está me ouvindo? Está caída, vou verificar os sinais vitais.

Ele ouviu o que seriam palavras de comemoração.

— Sara, está me ouvindo? — Ele checou seu pulso e suspirou aliviado ao senti-lo. Um pouco fraco, mas ainda estava lá. Abrindo uma bolsa que continha um kit de primeiros socorros, ele retirou uma pequena lanterna e uma almofada para que ela apoiasse a cabeça sobre ele.

Seus olhos não puderam crer no que viram. Ela estava viva, inteira no melhor sentido da palavra. Recebeu uma carga de energia que poderia tê-la matado na mesma hora, mas sobreviveu ao quase impossível. Se não fosse toda a adrenalina do momento, talvez permaneceria imóvel em choque.

— Deus, você conseguiu... Você está aqui… 

Com o auxílio da lanterna ele verificou que as pupilas estavam dilatadas, mas ela não dava resposta aos estímulos.

— Deus, o que houve aqui…

— O que está acontecendo, Ray?

— Sara parece inconsciente…

Aquele traje o estava levando à loucura. O pouco treinamento envolvendo primeiros socorros não envolvia usar uma roupa reforçada que limitava seus movimentos.

— Liu, eu vou tirar o capacete. Estou agonizando aqui.

— Ficou louco? Vai se expor ainda mais se fizer isso!

— Não vou conseguir fazer nada com isso. Ela quem precisa de atenção agora, não eu. Me desculpe.

Langston pensou em muita coisa antes daquilo, principalmente em sua esposa e como ela ficaria caso algo acontecesse com ele. Mas também pensou no quanto ele seria capaz de se lançar no abismo se fosse ela quem estivesse no lugar de Sara. Nenhum princípio tinha valor ali quando se tratava de uma situação que não deveria acontecer de forma alguma.

Ele retirou o equipamento com pressa junto das luvas. Fazendo isso, sabia que estava selando seu destino caso houvesse um risco alto no local, mas não podia arriscar deixando-a à própria sorte.

— Liu, se estiver me ouvindo, você está no comando agora — disse ao pegar o rádio.

Houve um silêncio na comunicação repleta de ruídos.

Por favor, não me abandone agora.

— Você é… — Zhang suspirou. Deu para perceber certo abalo em sua voz. — Você sabe o caminho da sala de contenção.


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Notas finais do capítulo

Ok, eu poderia ter dividido o capítulo em dois, mas tiraria parte da emoção e isso eu não poderia fazer haha. Vamos pensar que foi uma compensação por eu ter levado um pouco mais de tempo para atualizar a fic. Uns problemas aqui e acolá...

Bem, espero que tenham gostado. Ao menos vocês sabem que a Sara passou dali inteira aparentemente, então já é um começo. O que vem por aí?

Obrigada a todos que leram, até o próximo capítulo!!!



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