Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 2
É só mais um dia normal


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente, como vocês estão? Galera, na moral, se cuidem! Parece repetitivo falar isso, mas vocês precisam se cuidar. A vida é preciosa demais.

Não esperava que fosse receber tanto engajamento com essa fic. Mas já estou deixando avisado, tem certeza que querem continuar? Se sim podem ir em frente kkkk

Vem comigo que eu te mostro o capítulo novo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800395/chapter/2

O restante da madrugada só não foi um desastre porque a energia voltou na cidade em pouco mais de duas horas. Alívio para a perita, que varava a noite coletando evidências em seu novo caso. A estratégia de se fechar para o restante do mundo deu certo; mal percebeu quando a energia voltou. Os gritos de pessoas na região foram seu despertador. 

— Animais...  

Há pouco tempo acostumara-se com a falta de energia por causa da aparente calmaria ao redor. Las Vegas ficou um pouco menos barulhenta, assemelhando-se ao subúrbio que diminuía de ritmo ao cair da noite. Se não fossem os buzinaços do tráfego e alguns ruídos aqui e ali, diria que estava numa cidadezinha do interior. 

Reunida as evidências e terminado o protocolo, Sara seguiu para o Laboratório enfrentando o mesmo engarrafamento de antes. Ou até pior. A jornada outrora perigosa se tornou maçante com o passar do tempo. Se o trânsito continuasse com o mesmo ritmo diria que seu retorno ao Departamento se daria ao amanhecer. 

— Sara, aonde você está? Preciso de atualizações! 

A voz mais ou menos audível parecia um pouco enfezada. 

— Você sabe que a energia já voltou, não é? Não precisa falar por aqui. — Ela respondeu ao supervisor quase rindo. 

— Me acostumei com o rádio. — Aparentando não estar preparado para aquela pergunta, Grissom diminuiu o tom. — Enfim. Preciso de atualizações. Você me deixou às cegas, aconteceu alguma coisa? 

— Ah, desculpe. Estava tão imersa aqui que acabei me esquecendo de você. Já terminei com a cena do crime. Super Dave está indo até aí levar o corpo da vítima. — Sem prestar atenção no trânsito parado à sua frente, Sara procurou por uma estação de rádio. — Talvez eu chegue ainda hoje. Talvez... 

Depois de um breve período de silêncio, Sara chegou a imaginar se Grissom realmente ficou satisfeito com a resposta e passou para outra prioridade ou se o sinal entre os comunicadores havia caído. Mas de repente o celular da CSI começou a tocar. Era ele. 

— Mudou de ideia, hein? — Sara curvou os lábios num sorrisinho antes de atender. — Diga. 

— Está dirigindo? — perguntou temendo que falar no veículo fosse um problema. 

— Se estar dentro do carro com ele quase parado no trânsito é dirigir, então sim, estou. 

— Ah... Não queria ser o portador de más notícias, mas... Teremos um dia cheio pela frente. 

— E não é sempre assim? — respondeu sorrindo, em tom de brincadeira. 

Deu para perceber um leve suspiro, talvez de cansaço ou alívio por não estar colocando sua subordinada em risco por usar o telefone ao volante. 

— Não é sempre que Las Vegas enfrenta uma falta de energia geral como esta. Não era para isto acontecer. Esta cidade não devia apagar como apagou. — Ele desabafou. 

Tempos após visitar Sara para tentar entender seu problema com autoridade, a relação entre os dois pareceu se estreitar. Não era a primeira vez que a conversa entre os dois saiu do lado profissional para algo mais pessoal; pequenas nuances que faziam a diferença. Porém, não seria de uma hora para outra que Grissom iria mudar; ao menos já sentia certa mudança vindo dele. O modo como falava sobre o ocorrido era um exemplo, mais humano que antes. 

— Não dá pra ficar refém disso, imaginar que nunca vai acontecer. A hora de enlouquecer não é agora. — Sara desabafou. 

— É... você está certa. — comentou por entre um outro suspiro. Seu tom de voz pareceu decepcionado. 

Um alto som de uma buzina foi ouvida por Sara do outro lado da linha, o que a deixou curiosa. 

— O que houve? Tá dirigindo? 

— Homicídio em Henderson. Não posso ficar só no Laboratório quando precisam de mim... quanto mais gente trabalhando, melhor. 

— É... hoje a gente não escapa. — A situação desfavorável não impediu o bom humor de Sara em brincar. — Parece que vamos ficar um tempinho mofando nesse trânsito. 

— Pedi apoio ao pessoal do dia e os do swing já estão a postos. Não espere moleza nas próximas horas e pelos próximos dias. 

— Para isso que nos pagam. 

Ao terminar de falar, Sara esboçou um último sorriso. Imaginava que diria alguma mensagem de despedida e enceraria a ligação. Ela seguiu com o carro por menos de um metro à frente e visou a tela do celular.  

A ligação continuava ativa. 

O silêncio na linha de ambas as partes tornava a atmosfera estranha. Muito provavelmente seria o único meio de comunicação entre eles por um bom tempo até que a situação se normalizasse ou quando acabassem se esbarrando no Laboratório por coincidência. 

Distraído, ela caçoou dele de modo saudável já que não se dispunha a encerrar a ligação. Ameaçou fazê-lo, porém, de uma hora para outra perdeu a coragem e ficou encarando a tela. Sara tinha certeza de que ele continuava do outro lado, mas não conseguia terminar a chamada. A distraída da vez era ela mesma.  

— A não ser que providenciem um helicóptero para mim, não poderei chegar aí em menos de dez minutos, detetive O'Riley! 

De início Sara achou que ele dirigia a suposta bronca a ela, até que esperou-o terminar e pensou aliviada. Menos mal. 

— Se fosse o Brass quem estivesse chamando não iria duvidar. — Ela brincou. 

— Ah...! Quer uma dica? Não seja supervisora. — Grissom desabafou de uma vez, sem ao menos pensar no que acabou de dizer. 

— Estou vendo... 

— Só aumentam um pouco o seu salário e dobram o trabalho a ser feito. 

— Justo o bastante para eles. — Ela concordou de certo modo ao dar de ombros. O semblante descontraído de Sara foi se apagando com o passar do tempo naquela conversa. Havia algo de errado nele. Talvez fosse o estresse, não sabia dizer. 

— Deus... — Ela ouviu um suspiro. — M-me desculpe por falar desse modo. Eu... não... devia estar falando assim. Estou te desanimando em vez de incentivá-la. 

O Grissom de costume estava retornando. 

— Tá tudo bem, Grissom? — Ela se atreveu a perguntar. 

? Estou. Não se preocupe comigo. Você tem coisas mais importantes para se preocupar. 

Não é verdade, pensou Sara. Palavras que, sem dúvida não as diria para ele.  

O silêncio retornou, desta vez carregado de dúvida e receio. Ao menos para ela, que lutava para saber o que se passava em sua mente. Talvez fosse o momento para encerrar a chamada já que muito em breve Grissom seria solicitado novamente. Ou talvez poderia continuar. 

— Ent- 

— Avise-me quando liberar seu caso. — Grissom tomou a palavra, parecendo que apenas esperava por Sara se manifestar primeiro. — Não podemos perder tempo. O que nos resta agora é contenção de danos. 

— Ok. 

— Não espere privilégios com os técnicos. O primeiro que chegar à sala de análise vai ser atendido. 

— Está bem. Só isso? — questionou-o, desta vez um pouco menos animada. 

— Sim. 

— Tá. Boa sorte com seu caso. Espero que chegue lá antes do amanhecer. 

Ela encerrou a chamada, desta vez com mais coragem que anteriormente. Parada com o carro, visou a tela do celular que logo se apagaria com o passar do tempo. Conversar com Grissom sempre lhe trazia sensações diversas; picos e vales que poderia (e deveria) passar batido, mas que a atraíam perigosamente.   

A monotonia tomou conta do pequeno espaço. Em busca de algo que não a fizesse se jogar daquele carro, Sara procurou por uma estação musical. Num movimento súbito, Sara se esgueirou para a frente ainda com o cinto de segurança; foi quando uma repentina dor de cabeça fez com que ela parasse todos os movimentos. 

Fechando os olhos com força, ela pressionou as têmporas numa pífia tentativa de fazer a pontada na cabeça parar de latejar. 

— Ah! Droga! — Ela sussurrou, chegando a tirar o cinto para desobstruir seu corpo da pressão exercida por ele. 

A dor pareceu descer até a nuca, tão rápido quanto o piscar de olhos. Não sabia dizer se comeu alguma comida estragada ou a falta (ou excesso) de cafeína no organismo estava lhe fazendo mal. Anos consumindo aquela bebida — por muitas vezes de procedência duvidosa —, se houvesse algo nocivo de alguma forma já deveria ter criado "anticorpos" para se proteger. 

Antes de buscar o motivo que a levou a sofrer aquela dor súbita, ela só queria voltar ao normal. Não trouxe remédios consigo. Estavam todos no Laboratório e as farmácias mais próximas ainda ficavam longe. Sair do carro e procurar por um estabelecimento era sua melhor opção, mas estaria pondo a perder todo seu caso ao deixar as evidências para trás; passíveis de serem contaminadas ou alteradas. Ela não poria a perder um caso, por menor que fosse, simplesmente porque não conseguiu aguentar uma dor de cabeça. 

Quando achava que as coisas iriam piorar pela frente, tão repentina quanto chegou, o incômodo foi embora. 

Foi um alívio. Ela suspirou por longos segundos a se recuperar do trauma de agora. Repreendeu a si mesma por não ter ingerido coisa melhor que uma simples barrinha de cereal antes de sair à cena do crime. O corpo clamava por um descanso, mas seu dia — ou noite para falar a verdade — acabara de começar. Ainda tinha muito chão pela frente. 

Não podia se dar ao luxo de parar naquele momento. Ao menos comeria algo mais saudável quando retornasse ao Laboratório; isto se o ritmo de trabalho (ou ela própria) não a sabotasse primeiro. 

—------------------------------------------------------------------------ 

Quem achava que a situação pós apagão iria melhorar se enganou. O trabalho ficou mais puxado pelo número de ocorrências acima do normal. Falar sobre hora extra seria uma piada de mal gosto aos peritos, obrigados a se acostumarem com a extensão do turno por conta de um imprevisto ou necessidade. Era baixar a cabeça e continuar trabalhando. 

Sara se pegava pensando às vezes se não seria aproveitável trazer todas as suas roupas de casa e deixá-las no trabalho, já que passava mais tempo no laboratório que em seu próprio lar. Tão natural trabalhar em turnos dobrados ou triplicados que achava estranho voltar para casa em um dia normal. 

E os casos não paravam de surgir. Sem ter como recorrer, Grissom pediu apoio da Academia e levou boa parte dos alunos para auxiliar em algumas das investigações. Ideia de Catherine, para deixar claro. Ele não gostou. Cabeça à mil, pensou em pedir mais pessoal vindo de jurisdições vizinhas que não estivessem tão sobrecarregadas quanto Vegas. Solicitou aparato humano de cidades vizinhas, cogitando pedir o pessoal de outros estados. A primeira semana pós-apagão foi a pior. 

— Todos vocês terão o devido descanso quando for a hora — disse o supervisor com a voz cansada ao se encontrar com os outros na sala de reunião. Eram oito e vinte da noite ainda. — Agradeço o esforço de vocês, mas por enquanto ainda temos trabalho pela frente.  

Quinze dias haviam se passado desde o apagão. 

— Curtis. Tentativa de homicídio em Summerlin. — Grissom estendeu uma folha para ela, que se levantou da mesa com certa lentidão. Pôde-se ouvir um suspiro incômodo vindo da CSI. 

— Ótimo. — Sofia forçou um sorriso fingido. Ela pegou o arquivo e deixou a sala de reunião. 

— Nick. Você tem um roubo de cavalo no hipódromo. 

— Tá brincando, não tá? — O texano o questionou com seu sorriso característico. O restante do pessoal riu discretamente. Se soubesse que seria chamado para um caso como aquele teria pensado duas vezes antes de aceitar ficar naquele turno. 

Por trás daqueles óculos de grau, Grissom semicerrou os olhos a encará-lo. Nick não soube dizer se era estranhamento ou irritação. De qualquer forma, aquilo indicava que ele devia levantar o traseiro dali o quanto antes. 

— Nick Stokes! O herói do velho-oeste! — Greg aproveitou a deixa para zombar dele. Ultimamente tem mostrado entusiasmado com a recente promoção a um CSI depois de um período sendo rato de laboratório. 

— Vão ver quem vai rir depois. — A ameaça de Nick não surtiu efeito sequer nos outros, que disfarçaram, mas não conseguiam evitar o semblante de riso. 

— Envie meus cumprimentos a Catherine por liberar você e Warrick para o turno de agora — ressaltou o supervisor antes que Nick fosse embora. Recebeu apenas um aceno de volta. Quando se voltou para o restante do pessoal visou logo o mais jovem para acabar com sua farra. — Você vem comigo. — Grissom apontou para Greg logo após Nick ter deixado a sala, remoendo-se de forma saudável pela zombaria que recebeu dos amigos. 

— E-eu? — O jovem perito perguntou por instinto. 

— Quem mais, Greggo?! — Ainda segurando duas folhas o supervisor cruzou os braços e lhe encarou de modo sarcástico. — Ou você quer catar feno com o Nick? 

— Oh... — Vagarosamente o jovem perito se afastou da cadeira para se levantar. O semblante zombeteiro de pouco mais de um minuto foi se apagando. Mal teve tempo de curtir com a cara do amigo. 

— Vai ficar com o chefe, é? — Foi a vez de Sara se manifestar, aproveitando o momento em que ele se levantava. Ela franziu os lábios para evitar o sorriso zombeteiro. 

Pior do que imaginar o que poderia acontecer trabalhando ao lado do supervisor, era não ter ideia do que realmente iria acontecer. 

— Ei, chefe... — Ele acenou com a cabeça tentando mostrar naturalidade. 

— Prepare suas coisas e me espere no estacionamento.  

— Ok.  

Além do supervisor, sobraram apenas Warrick e Sara. 

— Duplo homicídio na Stratosphere. 

Grissom permaneceu imóvel enquanto observava seus últimos subordinados deixarem a sala em silêncio. Tentou não direcionar seu olhar para Sara que vinha logo atrás do colega, mas foi quase impossível não fitá-la, ao menos que por um instante. No momento em que trocaram olhares ela procurou desviar sua atenção dele, como se de alguma forma ele pudesse acessar sua mente pelo contato visual. Aquele semblante brincalhão de minutos atrás deu lugar à seriedade de sempre. Havia algo naquele olhar que Grissom insistia em tentar desvendar por si só, mas falhava consideravelmente.   

—-------------------------------------------- 

Sara se acostumou a trabalhar em excesso se comparada aos outros, mas naquele período pós-apagão percebeu que até mesmo uma viciada como ela exagerou de vez. Se parasse para pensar quase não teria dúvidas de que passava mais tempo dormindo no trabalho que em sua própria cama.  

Outro homicídio num hotel, quase tão parecido com o seu caso anterior. Tudo parecia tão igual ultimamente que para a perita era mais fácil ligar o automático e seguir adiante. 

— Pode cuidar da cena aqui? — Warrick sugeriu assim que entraram no quarto do hotel e fizeram uma primeira observação. — Vou pegar as gravações das câmeras. 

Sara parecia não tê-lo ouvido ou estava apenas o ignorando. Agachada, ela abriu sua maleta e retirava os objetos de trabalho que iria usar. Warrick não pensava ser a segunda opção, então deixou passar o fato de a colega estar distraída. 

— Sara. 

Nada. 

— Ei. — Valendo-se de uma última tentativa, Warrick, que já estava à porta, voltou e se pôs ao lado de Sara. Ele estalou o dedo uma vez para chamar sua atenção. — Ei, Sara. Está me ouvindo? 

— Hã? — Ela reagiu de supetão ao virar o rosto bruscamente em sua direção. 

— Tá bem? — Apesar de ter ficado um pouco aborrecido, ele sorriu ao achar engraçada sua reação. — Tá no mundo da lua, é? 

— Ah, desculpa. — Ela suspirou e logo se ergueu do chão. — Ultimamente eu tenho estado meio- 

— Fora de órbita? — Warrick a completou. 

— Maratona de casos. — A perita tentou se explicar. Chegou até a disfarçar um sorriso culpado. 

— Pra você falar assim é porque não tá nada bem. Você e Grissom são os maiores viciados em trabalho que eu conheço. 

— Vou ficar bem, Warrick. Só umas horinhas de descanso e tudo vai voltar ao normal. — Sem perder mais tempo, Sara vestiu as luvas de látex, pronta para começar a próxima etapa da perícia. 

— Devia considerar uns dias de folga. Aquele apagão ferrou com todo mundo. Ainda nem sei o que eu tô fazendo aqui, em outro turno. 

— Não há tempo para folgar agora. — Cansada de ficar parada ali conversando, Sara tratou de voltar ao trabalho. 

— Vai nessa. Quando der por si já te substituíram. 

Antes de costas para ele, Sara o encarou novamente demonstrando insatisfação pelo comentário. 

— Do que você tá falando? 

— Você sabe do que eu tô falando. Se achar que o trabalho é mais importante que você mesma, já era. 

— Quem te mandou falar isso? — Ela semicerrou os olhos na tentativa de sondá-lo. 

— Ah, você é igualzinha ao Grissom. — Rindo brevemente, Warrick desistiu de continuar aquela conversa e fez seu caminho para fora do quarto. 

— Ei, volta aqui! Como assim, igual ao Grissom? — protestou Sara, mas foi inútil. Àquela altura já falava para a porta. 

Franzindo as sobrancelhas como quem não gostou, Sara desviou o olhar da entrada. Talvez fosse melhor assim, ficar sozinha sem que ninguém a tirasse de suas próprias reflexões. Seu dia já não estava bom e arranjar uma discussão no meio do trabalho seria ruim para ambos; pior ainda para ela, aguardando de modo inconsciente uma oportunidade para explodir. 

Então ela se voltou para o trabalho, imaginando o tanto a ser feito em sua recém chegada à cena do crime. Só de pensar naquilo seu corpo, já exausto, adquiria uma postura ainda mais pesada, como se ela própria fosse entrar em colapso a qualquer momento. Parar não era uma opção, Sara não podia fazer aquilo. 

Só mais esse caso, pensava, imaginando que fosse deixar os outros na mão caso desistisse de vez. O pior de tudo que pensava do mesmo jeito há uns dias. Uma hora teria de parar, só não saberia quando. 

Talvez repensaria seus atos o quanto antes porque, passado pouco tempo de sua estada ali, sentiu uma forte pontada na cabeça. A sensação foi a mesma ocorrida há duas semanas.  

Para piorar, as mãos de Sara ficaram dormentes de uma hora para outra e ela teve a impressão de que a dor se espalhava por seu corpo. Apesar de estar sendo tomada por aquela sensação angustiante teve receio de alguém vê-la passar por aquilo, trazendo para ela consequências futuras. 

De pé e imóvel por alguns segundos, Sara chegou ao ponto de se esgueirar na parede mais próxima antes que acabasse sucumbindo e caísse no chão. A dor era mais intensa que sua preocupação com a cena do crime. De lado e encostando sua cabeça na parede, Sara fechou os olhos como da outra vez, desejando que fosse apenas um sinal de que seu corpo reagia ao estresse e trabalho em excesso. 

Ela realmente desejou que fosse aquilo, queria ser inocente a ponto de imaginar que seu sofrimento era algo momentâneo. 

Quando se viu livre da tormenta, Sara acabou retirando as luvas de látex para serem descartadas. Suou em excesso e precisaria sair por um tempo a respirar um pouco de ar puro. Não seria agora o momento que poria tudo a perder. 

—-------------------------------------------------- 

Fim de caso. Voltando para a casa finalmente, convicta que tiraria as próximas horas para descansar, Sara estava um verdadeiro caco. Ela retirou os sapatos, afrouxou os botões da calça e se jogou no sofá, pronta para cochilar ali mesmo. Nunca esteve tão cansada ultimamente e nem parecia que nem doze de horas de sono seguidas seriam o bastante para fazê-la melhorar. 

Todos os dias pareciam iguais. Talvez fosse um sinal para mudar alguma coisa na vida. Ou será que chegou a um ponto em que não havia mais volta? 

Sua boca estava seca, mas o corpo sequer respondia direito à vontade de se erguer dali. Poderia ficar imóvel até que o sono chegasse e compensasse seu desejo, mas teimosa do jeito que era acabou se levantando. Resmungou algumas palavras e se encaminhou até a geladeira a passos vagarosos. A jarra d’água chegou à sua vista, mas uma garrafa de cerveja brilhou mais em seus olhos e foi sua escolha final. Um gole de vez em quando não lhe faria mal e ela tinha total controle sobre sua situação. 

Após abrir a garrafa um gole gelado da cerveja foi um alento. Ela respirou fundo a se refrescar e relaxar a mente enquanto voltava para o sofá. Passaria mais alguns minutos ali até que tomasse coragem de seguir para o banheiro. Um calafrio percorreu o corpo, mas ela o ignorou. Entretanto, ao tentar erguer a garrafa para tomar outro gole, Sara deixou-a cair no chão de repente.  

— Merda! — Ela vociferou com o susto. Mais um pouco e a garrafa cairia em seu pé. 

Uma sensação estranha tomou seu corpo, quase tão parecida quanto a vez no carro. 

Espatifada no chão com metade do conteúdo jogado fora, Sara só sentiu raiva de si mesma; sentimento este que foi embora logo que pôs seus olhos em sua mão esquerda. Viu com horror e incredulidade uma cena que ficaria guardada em sua memória por muito tempo. Talvez por toda vida. 

Sua mão desapareceu. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desaparecendo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.