Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 12
Buscando a verdade no meio de inconstâncias


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal, depois de uma pequena pausa estou de volta com mais um capítulo que praticamente tive de reescrever todo, não tá fácil pra ninguém.......

Boa leitura! E boa sorte kkkkk



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800395/chapter/12

Não foi fácil para Sara ter que suportar uma hora de viagem até chegarem no destino final: Sudeste da Ilha Lantau, um complexo de prédios modesto situado no meio de um vasto bosque composto majoritariamente de bauínias-de-hong-kong.  

— Eu sei que deve ter mil perguntas para fazer. Sinto muito por não poder esclarecer todas elas no momento.  

Para não corroer a mente com pensamentos negativos, Sara preferiu ocupar-se a saber de outros assuntos, mas que se aproximavam do que lhe era desejado. 

— Por que acreditou em mim? — questionou-o ao dar de ombros. — Eu nunca provei o que está acontecendo comigo e mesmo assim você... você me trouxe até aqui. 

— Porque não é sempre que eu recebo uma mensagem tão específica quanto a sua. — Ele disse, olhar fixo na estrada. 

— Já recebeu algo parecido, você quis dizer? 

— Não. Foi por isso que eu não poderia ignorar um pedido tão urgente. 

Sara baixou o olhar por um instante. Jurava que não teria tanta sorte por imaginar que seria ignorada por um email tão absurdo para a normalidade. 

— Eu confesso, não acreditei de início. Mas quando terminei de ler o email eu estava sem palavras. Anos de pesquisa e nunca me deparei com algo assim... 

— Nunca? — perguntou receosa. 

— Por isso tive de entrar em contato com você o quanto antes. 

—----------------------------------------------------------------- 

Fim da viagem. Só de olhar para a entrada fechada e fortemente vigiada foi que Sara percebeu que não chegara em qualquer lugar. No portão automático, uma inscrição destacada dizia em cantonês e em inglês o nome do espaço: Complexo Huxian. Embaixo dele, um aviso do qual era proibida a entrada para pessoas sem identificação. 

Ao mostrar o cartão para um segurança na guarita, o funcionário — que reconheceu Langston e aparentava ter uma amizade com ele — liberou o portão que foi aberto sem precisar de ajuda manual. Então eles entraram com o carro. 

Um mastro situado no meio do pátio, mais à frente de uma escultura arborizada, destacava-se uma única bandeira; conhecida aos olhos do público, mas com uma pequena diferença. Predominante na cor azul, havia um único símbolo no centro; uma bauínia-de-hong-kong, flor tradicional da região. Hong Kong se emancipara como país. 

 A área externa conquistava atenção imediata de qualquer um que pisasse os pés por lá pela primeira vez. Formada por dois prédios horizontais e um prédio maior (e mais chamativo) ao centro, a paisagem verde projetada se misturava à modernidade das estruturas feitas por mãos humanas. O verde das folhas e da grama, unidos ao acinzentado do concreto e do metal se tornavam uma coisa só. Parecia ser o berçário de uma futura ecocidade. À primeira vez que lançou seus olhos a observar aquelas estruturas, Sara desfrutou de uma confortante sensação de segurança em meio ao caos.  

Eles seguiram pelo pátio principal e entraram num dos prédios. Já na recepção, foram recebidos por quatro pessoas; três homens e uma mulher. Ela, junta dos dois homens, aparentavam ser moradores da Ilha enquanto o outro homem era de fora. A princípio ela se sentiu desconfortável com a presença daquelas pessoas porque achava que trataria do assunto em particular de início, mas Langston garantiu que eram de altíssima confiança, de sua equipe. Mas isto ainda não significava que Sara se sentiu melhor. 

A primeira integrante era a doutora Zhang Liu. Natural de Hong Kong, assim como seus dois conterrâneos, já conhecia os trabalhos de Langston anteriormente; era seu braço direito e a responsável por liderar o grupo em sua ausência. Os outros integrantes eram os também doutores Wu Hongfeng e Chen Wei Qi. O último doutor, Jonas Lynch, era irlandês. 

— É um prazer conhecê-la, senhorita Sidle — comentou a doutora com um singelo sotaque cantonês. — Imagino que queria se instalar em um dos quartos. Venha conosco.  

— Obrigada. Vamos, sim. 

Para isto, Sara e os outros dois precisavam deixar o prédio e atravessar um caminho, repleto de arbustos decorados no formato de animais enfileirados. Se não estivesse tão absorta nas próprias preocupações pararia alguns instantes para admirar a obra de arte. 

A portaria do prédio residencial dava a impressão de ser de um conjunto de apartamentos costumeiro. Nenhum luxo ou detalhe para chamar a atenção, como a fachada do pátio principal. Levada ao seu quarto no segundo andar, a verdadeira surpresa ficou por conta das instalações. Apelidado de "alojamento" pelos outros, o quarto um era cômodo mais que modesto.  

Era decorado majoritariamente com uma tonalidade marrom, assemelhando-se ao interior uma cabana. Uma cama já feita um pouco maior que o tamanho solteiro se localizava próxima à porta; nos fundos, uma janela de um metro e meio e abaixo dela uma mesa de canto junto de uma cadeira. As cortinas estavam abertas, revelando a claridade do sol de quase meio-dia ao interior do quarto. Havia, ainda, um guarda-roupa de duas portas simples.  

— Nossa, eu... — a voz impressionada de Sara dizia o quanto se sentiu bem acolhida num primeiro momento. — Esse quarto é ótimo. 

— A maioria de nós precisa ficar por um longo período, então os quartos foram projetados dessa forma. Tem um banheiro com chuveiro logo ali. — A doutora Zhang apontou para à esquerda da cama. — Também há dois pares de roupas no guarda-roupa. Fique à vontade para usá-las. 

— Obrigada. — Meio acuada de início, Sara deixou a vergonha passar para seguir até o interior do quarto, onde deixou as malas sob a cama e foi ajudada pelo doutor Langston. 

— Quando estiver pronta, desça até o refeitório e sirva-se. — Ela visou o doutor Langston e continuou. — Vou falar com os outros para terminarmos de aprontar os últimos detalhes para os testes. Me avise quando terminar. 

— Eu vou. Obrigado. — Langston lhe respondeu assentindo.

A doutora se despediu dos dois e visou Raymond antes de ir embora. 

— Ok. — Sara se sentou na cama, ao lado das bagagens. Respirou fundo antes de continuar — Sei que eu estou me apressando, mas agora que eu estou aqui você vai me contar o que tá acontecendo, não vai? — Ela ergueu as mãos. — Acho que agora já é o momento para isso. 

O olhar do cientista baixou por um instante em lamento. Não era de seu feitio ser um homem de atrasar declarações. Era direto na maior parte das vezes, porém delicado e precavido quando a oportunidade pedia. Sara era uma destas oportunidades. Precisava ser cauteloso, ainda mais sobre o que diria adiante. 

— Não prefere descansar da viagem? — Ele tentou argumentar de modo persuasivo. — Temos muito ainda a conversar e imagino que queira se preparar. 

— Já descansei tempo demais no avião. Para quem já passou três dias sem dormir, eu acho que mais algumas horas não vão me fazer falta. — Sara foi incisiva, apesar de moderar em suas palavras. Ela esperou mais alguns segundos por uma resposta, mas como não a obteve, continuou: — Eu aguento. Estou com isso há mais de um mês — desabafou, erguendo a mão direita. 

— Senhorita Sidle, nós estamos lidando com algo muito delicado e precisamos que fique descansada para o que vier à- 

— Me desculpe, mas como acha que vou conseguir descansar? — rebateu erguendo os braços, voz um pouco mais alterada. — Eu não ligo quanto tempo vai demorar, eu tô pronta pra ouvir o que você tem a dizer. 

Ele não concordava com a ideia, porém não podia se esquecer de que estava diante de um caso absurdo, de algo que não deveria acontecer. Era um ser humano que estava bem na sua frente; uma mulher desesperada em busca de respostas. Adiar aquilo seria quase como uma tortura. 

— Está certo. Vou pedir que venha comigo, então. 

Não havia tempo a perder. Largou tudo em seu novo quarto e trouxe consigo apenas o celular. Lado a lado com o cientista, os dois deixaram o prédio residencial e seguiram até o prédio central; o chamariz de todo o complexo e que se destacava dos demais por se assemelhar a uma ponta de lança. Pegaram um elevador acionado por um cartão especial (o dele) e pararam no quarto andar. 

— Estaremos em breve providenciando um cartão parecido para que você tenha acesso ao elevador — comentou o doutor ao mostrar o objeto a Sara antes de guardá-lo. 

O escritório oferecia todo o conforto que um homem na posição de Langston merecia. Doze metros quadrados com ambiente climatizado, uma mesa ampla que comportava um notebook fechado e algumas pastas catalogadas. À direita deles uma janela ampla com agradável vista à paisagem verdejante da região e abaixo dela um sofá elegante de couro preto. A parede ao fundo foi tomada por uma estante repleta de livros e dois gaveteiros. Ainda haviam outros pormenores que se fosse parar para atentar a cada um, Sara perderia tempo. 

— Sente-se. — Ele estendeu a mão para o sofá enquanto caminhava em direção aos gaveteiros.  

De início, Sara não se sentiu confortável na verdade. Tinha se acostumar ao ambiente novo, à atmosfera. Parecia mais uma consulta com o médico que outra coisa. Se parasse para pensar veria que, de certa forma, era uma consulta. 

— Não pedi que me contasse a data de quando começou a sentir os sintomas à toa. — Langston disse ao pegar um chaveiro num dos bolsos da calça e abrir a segunda gaveta de um dos gaveteiros. 

— Eu imagino. — Deu de ombros. — É como uma doença, não é? 

Langston não respondeu. Ao invés disso, pegou uma pasta de arquivos devidamente cheia, pegou uma cadeira próxima da mesa e a trouxe para que se sentasse de frente a Sara. Ele deixou a pasta no sofá, ao lado dela e se ajeitou na cadeira. Sara não pôde deixar de observar a pasta colocada ali, como se tivesse uma etiqueta nela pedindo que fosse aberta. Todavia, sequer a tocou. 

— Eu quero que preste bem atenção no que eu vou dizer. Lembra-se do apagão naquele doze de março? 

— Como vou me esquecer?  

Ele passou as mãos sobre a calça a secar o excesso de suor. A sala estava agradável, então não era o calor que o incomodava; só não sabia como iniciar aquela explicação. 

— Por acaso já soube o motivo que causou o incidente?  

Quanto mais Langston adiava a resposta que Sara queria ouvir, mais ela ficava impaciente. Mais um pouco e estava a ponto de se arrepender de não ir dormir para recuperar as energias. 

— Eu não sei... — Deu de ombros novamente. — Uma torre de energia deve ter pegado fogo, sei lá! O que tem de tão importante nisso? 

— A imprensa e os órgãos oficiais não informaram isso e talvez nunca vão informar. Houve um incêndio numa das bases da Área 51. 

Sara não falou nada. Esperou por um posicionamento do cientista e uma explicação mais detalhada e decente que apenas uma resposta simples e passível de teorias da conspiração. Pensou em retrucar, em questioná-lo sobre o que uma base a quilômetros de distância de sua casa e trabalho tinha a ver com ela, mas aguardou. 

— E o que causou este incidente... esta tragédia... foi uma explosão numa sala de testes. — Uma breve pausa para uma respiração prolongada. — Tentaram realizar o primeiro teletransporte de um ser humano, mas isto deu errado e- 

— Puta merda, não. — Sara ergueu a mão na mesma hora. — Espera. Não pode estar falando sério! Você-... — Ela balançou a cabeça por várias vezes e nem conseguiu terminar de falar. Acabou se levantando. — Você não pode estar falando sério! 

— Veja o que está acontecendo com você! Como não consegue acreditar no que eu estou dizendo? — O cientista ergueu as mãos ao rebatê-la. O pior de tudo era que já esperava certa resistência por parte dela. 

De braços cruzados, a mente lutava para absorver aquelas informações enquanto ainda tentava manter a sanidade intacta. Estava no começo ainda, mas sentia que já ouviu demais. Inquieta, acabou se levantando e só parou em frente à janela, seu refúgio. A paisagem tocada pelo sol nascente causou-lhe certo alívio. 

— Isso não tem lógica, não faz sentido! Não existe esse negócio de... de... teletransporte, meu Deus! — Sara se sentiu ridícula ao repetir aquela palavra em voz alta. Como se tudo não passasse de uma farsa ou uma pegadinha. 

— Então como me achou? — Foi a primeira vez que Langston ergueu um pouco a voz com ela. — Como achou o meu artigo no meio de tantos outros textos na internet, se não restou quase nenhum? Quase todos foram apagados — indagou ele, tendo a completa certeza do que estava falando. — Eu sei disso, foi eu quem apagou a maioria deles. — Ele falou com autoridade. — Imagino que deve ter encontrado meu texto depois de uma busca exaustiva por algo que fizesse sentido. 

— A gente tá falando de algo real, droga!  — Sara não estava disposta a baixar o tom até que encontrasse um motivo realmente decente para se acalmar. — Deus! Como eu vim parar aqui?! 

— Senhorita Sidle, por favor, tenha calma- 

— Não- — Dedo em riste, ela ameaçou ir ao seu encontro, mas permaneceu no mesmo lugar. — Não me peça pra ficar calma! 

— Estou disposto a esclarecer todas as suas dúvidas, mas antes eu preciso que mantenha a calma. Eu imagino o quão estressante tudo isso deve estar sendo. 

— Ah!... — Erguendo o rosto para o alto, Sara fechou os olhos e mordeu o lábio tão forte que esteve a ponto de machucá-lo. Fez isto para não interrompê-lo novamente com mais uma rodada de protestos. Querendo ou não, o homem sentado no sofá detinha todas (ou quase todas) as respostas para suas perguntas. 

Quando sentiu que o terreno estava livre para continuar, Langston prosseguiu com a história: 

— Anos de pesquisa e... aparentemente eles desenvolveram a tecnologia para realizar este procedimento. Sei que parece loucura o que eu estou dizendo, mas acredite. Isto é verdade, assim como várias outras coisas que as pessoas nunca terão ideia que aconteceram ou vão acontecer. — Ele apontou timidamente para a pasta deixada no sofá. — Estávamos em vigilância sobre um "possível" projeto ocorrendo nos arredores de Nevada. Fontes nossas disseram que a cobaia para o teste foi um ser humano, mas tínhamos de tratar isso com cuidado. Queriam transportá-lo de um ponto para outro... provavelmente um local dentro da própria base. Foi um projeto ousado demais para a tecnologia que desenvolveram. — Ele fez uma pausa para umedecer a garganta com um copo de água. Aquele breve intervalo de tempo fez Sara se corroer de angústia. — Houve uma instabilidade o que gerou uma explosão e o incêndio. Mas isto não foi o pior, como pudemos nos certificar agora. 

— O quê, isso aqui? — Sara ergueu a mão ao questioná-lo sarcasticamente. 

Langston não afirmou com palavras, mas seu olhar atormentado já dizia o bastante. 

— Deus me perdoe. A perda humana foi trágica, mas existe algo pior com que deveriam se preocupar. — Ele se curvou para a frente e cruzou as mãos, no intuito de buscar uma posição melhor. Entretanto, sentiu-se desconfortável e voltou à posição anterior. — Nossos satélites identificaram uma alta concentração de energia vindo daquela área segundos depois da explosão. Nós acreditamos que o impacto da falha no experimento gerou o que chamamos de um "pulso energético", que se comportou muito semelhantemente a um pulso eletromagnético, que se expandiu num raio delimitado e atingiu a região aonde você estava. 

— O quê?... Espera. — Sara ergueu a mão direita. — Espera, espera, do que você tá falando? Que essa coisa... esse negócio me atingiu?! 

— Sim. — Langston assentiu. Não imaginava que seria tão difícil contar um fato do qual tinha tanta intimidade para alguém. Uma vítima, no caso. 

— Você não pode estar falando sério... — Ela balançou a cabeça por várias vezes. Fez força para acreditar, mas parecia impossível crer em suas palavras. Ela cobriu o rosto e se virou em direção à janela. Abriu a boca para declarar algo, mas desistiu antes de emitir qualquer som e ficou em silêncio por certo tempo. Foi então que puxou o máximo de ar para os pulmões e disse finalmente: — Quer dizer que isso, esse... pulso me atingiu e pode ter atingido outras pessoas? 

— Basicamente... sim. 

— "Basicamente"! — Ela o repetiu, sem economizar no sarcasmo. Aproveitou para se afastar dois passos da janela. — Basicamente. É tudo isso que tem pra dizer?! 

Sara aspirou fundo, segurou o ar para não explodir de vez e o soltou aos poucos. Mesmo para uma cientista como ela ouvir aquilo foi confuso, revoltante demais. Se já não bastasse pensar na dimensão que seu problema possuía, imaginar que isto poderia atingir a outras pessoas era mais que desesperador. 

— Merda... — Sara balançou a cabeça em negativa. Pensou no mar de gente que vive em Las Vegas e toda a região ao redor daquela base. Pensou até mesmo em seus amigos, em Grissom. Seu corpo estremecia só de cogitar no que podia acontecer a qualquer um deles. 

Era informação demais para administrar. 

— Então quer dizer que mais gente pode estar assim e ninguém vai fazer nada?! 

— Não dá para afirmar que mais pessoas estão passando pela mesma situação. Nós mal começamos a desenvolver um cálculo que estime a possibilidade! Estamos correndo para dar prioridade única e exclusivamente a você. 

— E que MERDA é essa que tá acontecendo comigo — disparou, cansada de não receber uma luz sequer sobre sua "doença". Um dos seus maiores questionamentos - senão o maior - era justamente o que mais sentia falta de ser respondida. 

Imaginando que permanecer sentado não fosse uma boa escolha, Langston se ergueu e seguiu ao seu encontro, parando frente a ela. Olhar e feição austeras, preparava-se para contar a informação mais importante na visão de Sara até agora. 

— Precisamos de mais informações para ter uma conclusão melhor elaborada, entretanto, trabalhamos com duas hipóteses. 

Sara não o interrompeu ou comentou algo sobre sua declaração. Não era o momento para tal. 

— A primeira hipótese é que... considerando que a explosão causadora daquele pulso atingiu você e, de alguma forma, a "transportou" por uma fração de segundo... Seu corpo estaria sofrendo uma instabilidade como foi relatado nos nossos estudos. Uma degeneração molecular. — Ele gesticulou com a mão direita. — As partículas de seu corpo perderiam capacidade energética e logo não seriam mais identificadas. "Deixariam" de existir, na mais simples das definições. 

Aquela resposta atravessou seu corpo como uma lâmina afiada, fria e mortal. Sara sentiu uma sensação congelante em seu interior, parecendo que o escritório, de repente, transformou-se num freezer. 

— E a outra possibilidade? — perguntou-lhe, pela primeira vez abaixo do tom. Era nítido que a raiva de antes se transformou em apreensão. 

— A outra hipótese, ainda divergente entre alguns de nós, mas que ainda assim é uma possibilidade... É de que você está prestes a passar pelo procedimento. Está para ser teletransportada para um local que não sabemos. Entretanto — Langston se posicionou rapidamente. — Como não temos registro algum do êxito do teletransporte de matéria tão complexa de um ponto para o outro, ainda mais um ser humano, não poderíamos prever se você conseguiria passar por isso sem alguma sequela ou se conseguiria sobreviver. 

Outro banho de água fria. 

— Trabalhando com a premissa de que transportar matéria de um ponto para outro significaria destruir o objeto original, transformá-lo em informação e enviá-lo para outro ponto... Não haveria um cenário em que você sairia viva desta situação. 

Olhos um tanto arregalados, ao perceber que havia finalizado, Sara mudou o foco de sua atenção. Sentiu que o ar lhe faltou por alguns instantes. A medida em que o tempo passava naquele espaço, mais acreditava que não vivia um sonho longo demais: tudo parecia ser verdade. Ela mordeu um lábio inferior, chegou a abrir a boca para declarar algo, mas se viu sem forças na voz. 

— E vocês não... fizeram nada para impedir essa coisa? — perguntou quase em sussurros. — E nem contaram a ninguém? 

— Estaria nos pedindo para fazer algo impossível, senhorita Sidle. 

— Como?! — retrucou indignada. — Vocês sabem o que houve, sabem quem fez isso e vão ficar parados?! 

— É-... É uma situação complexa e delicada — disfarçou ao tentar encerrar aquele assunto. O cientista apontou para a pasta deixada de lado por toda a conversa. — Leve isto. É um pequeno dossiê com informações que levantamos sobre o Caso Nevada. Leia quando estiver disposta e depois venha falar comigo. Mas agora o melhor é que você descanse um pouco. Foi uma viagem exaustiva. Já ouviu demais e deve estar confusa sobre muitas coisas. 

— Ah, você não tem ideia! — Ela rebateu de modo sarcástico. 

Depois de tudo que ouviu nem seu espírito teimoso tentaria outra peleja. O medo e a incredulidade deixaram-na em crise. Ela queria ouvir tudo e saber o que realmente estava acontecendo com seu corpo, entretanto, não tinha coragem de pedir por mais ou sairia daquela sala direto para a enfermaria. Inacreditável pensar que ouviu uma série de absurdos. 

— Veja o conteúdo desta pasta e depois fale comigo. Pergunte tudo o que desejar e eu vou esclarecer suas dúvidas. 

— Como eu posso acreditar em vocês depois de tudo que eu ouvi agora? — questionou-lhe com um semblante atemorizado.

— Não a julgo por não acreditar nessa, mas eu preciso que você leia esse documento primeiro. Depois disso... vamos concluir esta conversa.

— Você não parece um homem alheio demais a tudo isso. Estava envolvido nesse projeto? — Olhando para ele diretamente após tantos desvios, a voz de Sara se enrijeceu, assim como seu semblante. 

— É uma pergunta ambígua demais. 

— Só me responde isso. 

— Como acha que sei de tanta coisa? — indagou retoricamente. — Sim. Meu "DNA" está naquele projeto, isso eu não posso esconder. 

Mantendo-se quieta, Sara lhe lançou um olhar como quem dizia já imaginar sua resposta. Ainda assim queria ouvir de sua boca que parte daquela experiência passou por suas mãos. Ficava ainda mais difícil saber o que era verdade e em quem depositar sua confiança.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Prometi que as coisas iriam piorar não é? Então bora!!!!

Alguém tinha algum palpite parecido sobre o que tava acontecendo? kkkk Poxa se vocês soubessem como ficaria o decorrer da história original ficariam mais chocados, mas acho que não seria viável passar para o papel kkkkkk

Sou fã de Arquivo X, sim, como adivinharam??

GENTE, POR FAVOR, eu não sou formada em Física Quântica e todo meu conhecimento sobre isso veio de uma pequena pesquisa que fiz ao longo do tempo, antes mesmo de criar essa história. Com certeza, a ciência por trás de "Desaparecendo" está passível de erros, mas eu peço que relevem e, como pedi no começo, façam uso da licença poética para curtir a dinâmica da fanfic.

Agradeço de coração a todos que estão lendo e a todos que estão comentando. Vocês alegram meu dia! Um beijo e até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desaparecendo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.