Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 13
Depois da verdade, a ignorância me parece um bom caminho


Notas iniciais do capítulo

Fala, pessoal! Estou aqui de novo para postar mais um capítulo do patinho feio das minhas fics kkkkkk Ai cara não tá fácil pra ninguém

Se você chegou até aqui eu só tenho a agradecer pela confiança e paciência ao ler essa história. Isso me deixa muito contente!

CAROL!!!! Carol, minha amiga, mais uma vez me salvando nas partes mais complicadas. Obrigada por sua opinião neste capítulo, me deu mais confiança para postá-lo ♥

Bora continuar com esse angst aí. Boa leitura!



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Ao retornar ao quarto, Sara estranhou a si mesma por não se lançar no desespero e começar a chorar por tudo que ouviu há pouco. Simplesmente não reagiu. A novidade do quarto lhe era incômoda e ela não se sentia à vontade para fazer nada. Por um minuto inteiro fez um breve reconhecimento da nova casa na tentativa de se acostumar com o ambiente novo.  

Largando a pasta na cama, afastou-se do móvel até chegar ao meio do quarto.  Quando deu por si, quando realmente se deu conta do tamanho do problema do qual estava imersa ela caminhou de um lado para outro, batimentos cardíacos acelerados, sinal evidente de desorientação. 

— Merda, MERDA! 

Aquilo não poderia ser verdade. 

— Não, não pode ser... — Ela negou por várias vezes. Quanto mais ouvia sobre aquela história, mais absurda ela ficava. Então começava a se questionar se sairia daquela situação com o mínimo de sanidade. 

E se ela não fosse a única? E se já houve outros casos de pessoas que desapareceram antes dela? Pessoas que tiveram seus dias abreviados enquanto ela esperava o seu fim num jogo de roleta russa. Las Vegas inteira poderia estar "infectada" e ninguém teria ideia do que estava acontecendo até sofrerem os primeiros sintomas. 

— Meu Deus...  

Ela olhou para as mãos que suavam sem parar, assustada com a própria reação do corpo; não era uma pessoa que suava tão facilmente.  

Por fim, sentou-se na cama e ficou encarando o quarto. Quando se virou para o lado viu a pasta dada por Langston e hesitou em pegá-la. Estava pagando a língua quando disse que aguentaria os fatos e agora eles o assombravam como fantasmas. Tanto, que pensou em mil e outras teorias da conspiração das quais sua vida estaria em risco se soubesse demais. Beirava à loucura. 

Sara fechou os olhos a tentar reorganizar aqueles ruídos fantasiados de pensamentos. Estava tão submersa na lama que já não fazia mais sentido se esconder da verdade. Densa, úmida, o lamaçal tragava Sara ainda mais para o fundo. Que outra escolha ela tinha? 

Num único movimento ela pegou a pasta e a folheou. Dentre tantas e tantas páginas viu mapas, gráficos e uma série de dados sobre um assunto que parecia não ter fim. Para um evento que sequer foi mencionado na mídia ou na internet, Sara tinha em mãos informações das quais punha em risco a própria vida e de outros caso deixasse passar para o mundo além daquelas paredes. Surreal passar os olhos sob aquelas páginas que mais parecia um roteiro de ficção científica. 

Não, ela não tinha cabeça para isso. Se começasse a estudar aquelas páginas não gravaria nem 10% do conteúdo, que se perderia num mar de pensamentos confusos. Talvez fosse melhor aceitar a sugestão de Langston e descansar um pouco. 

Receosa, ela entrou no banheiro do quarto pela primeira vez e o revistou rapidamente. Era pequeno e modesto, porém com chuveiro elétrico e isto já era o bastante para repor um pouco de energia. Um banho quente relaxaria seus músculos tensos e seria um convite para dormir mais rápido. Um pouco de calmaria em momentos tão conturbados. 

Água quente descendo por seu corpo. A sensação chocante de início foi se aliviando e uma respiração lenta foi a prova disto. Era o momento para desacelerar. Acabara de chegar em outro país cheia de dúvidas e esperanças de que pudesse encontrar uma saída. Deixou meio mundo para trás sem pensar nas consequências, sem ao menos pensar no que faria depois caso conseguisse se livrar daquilo de alguma forma — ou caso não conseguisse.  

Ela fechou seus olhos. 

Mais gente assim? 

Mais pessoas poderiam estar daquele jeito. Quem sabe, gente do próprio Departamento. Alguém, muito semelhantemente a ela, que sofreria calado com uma condição impossível. Talvez optasse por buscar ajuda em algum hospital e provavelmente seria internado para que ninguém nunca mais o visse. Ou alguém que achou estar desenvolvendo algum tipo de problema psiquiátrico e foi buscar ajuda em remédios e consultas dramáticas. Mais gente poderia se encontrar na mesma situação e no entanto ela foi a única a encontrar uma resposta. Isso não poderia estar certo. 

E então pensou em Grissom. E sua mente veio se desordenar mais uma vez. 

Ele tá bem. 

Ele tinha que estar. Não poderia suportar a ideia de que ele viesse a passar pelo mesmo sofrimento, apesar de achar muito improvável que isso estivesse acontecendo.  

Mas se fosse verdade, então acabara de largá-lo a própria sorte em seu país. 

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Duas e quarenta da tarde, dia dois de junho. 

Sentada sozinha em uma das mesas do refeitório do prédio residencial, sentiu-se uma estranha num lugar que não pertencia. Não viu mais o doutor Langston e os outros cientistas que a receberam por ali, mas recebeu seus contatos caso precisasse falar com algum deles. Comer na companhia da solidão foi bom, ao menos; daquela forma não teria de conversar com alguém ou dar alguma explicação. Era cansativo por em prática suas poucas habilidades sociais, ainda mais daquele jeito. 

Ao comer um pouco mais de meio prato de comida, Sara voltou para seu quarto. Pensou em ler o conteúdo daquela pasta para entender de vez o que aconteceu em Nevada para depois voltar aquela conversa com Langston.  

"Meu DNA está naquele projeto". 

Aquilo tudo poderia ter sido uma isca da qual Sara caiu direitinho. Ele poderia estar envolvido desde o começo e inventou uma história dramática apenas para atrair uma vítima, como um rato de laboratório. Não se surpreenderia caso fosse impedida de deixar o Complexo, ou até mesmo o país. Além de estar presa no próprio corpo, deveria se conformar ao se encontrar presa num ambiente vigiado. 

Ela folheou a primeira página. 

Era uma introdução escrita à mão, detalhe do qual não tinha prestado atenção anteriormente. Parecia ser caligrafia masculina, talvez a de Langston. 

"Relatório sobre o procedimento realizado na base americana de Nevada". 

Após uma breve introdução sobre o ocorrido naquele doze de março, Langston — ou os autores — levantou razões para acreditar que o procedimento classificado como "secreto" foi realizado à margem dos recursos repassados pela Ciência e Tecnologia, publicado no Portal da Transparência americano. Nenhuma outra informação sobre pesquisa ou desenvolvimento de uma tecnologia daquele porte foi encontrado. Nem uma palavra do Ministro ou notícia sobre algo parecido. A tecnologia para desenvolver um mecanismo que possibilitava o transporte de matéria de um ponto para outro — utilizando parte da premissa do emaranhamento quântico — deveria e continuava sendo um segredo. 

Já era de se esperar. 

Uma série de mapas de satélites mostravam um local não identificado por Sara aonde provavelmente foram realizados outros testes parecidos. Outros mapas informavam o quanto de energia foi liberado em datas diferentes antes mesmo do dia do incidente, o que indicava ensaios ou testes em menor escala. A última imagem que parecia distorcida assustava até quem não entendia do assunto. Uma enorme quantidade de energia foi liberada que, segundo o documento, teria capacidade de iluminar uma metrópole inteira por um período de tempo ainda em debate. Naquela hora ela se perguntou como a base inteira não foi destruída, o que faria os olhos do país inteiro se voltarem para lá, impossível de se livrar das câmeras e dos holofotes.  

Em outras páginas encontrou fichas com perfis de pessoas suspeitas de terem participado daquele projeto. Eram cientistas, engenheiros espaciais, militares. Nada conclusivo, mas preocupante; rostos por trás daquela experiência bizarra. Era como se Sara estivesse os encarando frente a frente, na mesma sala que seus carrascos. 

Sara se perdeu no tempo enquanto lia aquele relatório, mas tendo a certeza que sairia dali pior do que antes. Sua percepção sobre o que estava acontecendo se expandiu, era verdade. Mas não sabia mais se realmente queria saber de tanta coisa. Sentiu angústia, dor, raiva. Foi uma vítima, fruto de uma experiência que deu errado e que muito provavelmente não iria ver a justiça sendo feita contra essa gente. 

Enfezada, fechou a pasta e a trouxe consigo para fora do quarto. Celular em mãos, fez uma chamada para Langston dizendo que era urgente e que não podia adiar aquela conversa. Já imaginando do que se tratava apenas pelo tom de voz incisivo de Sara, o cientista não recuou. Chamou-a para seu escritório novamente, preparando-se para o porvir. Sabia que não seria confrontado com flores, muito menos palavras simpáticas. 

Ele abriu a porta e deu de cara com uma Sara de semblante colérico, pior do que na primeira visita. Ela segurava a pasta com o dossiê como se fosse capaz de destruí-lo apenas com a força da mente. 

— Era isso que você queria me mostrar? — Sara ergueu a pasta quase à altura do rosto. — Que você já sabia de tudo? 

— Entre, por favor. 

Pressionando a pasta sobre sua mão, Sara fez seu caminho para dentro, irritada com o cientista por não expressar reação alguma. 

— Você sabia que isso ia acontecer e não fez nada?! — Valendo-se da raiva que sentia, lançou a pasta sobre o sofá, outrora deixada no mesmo lugar por Langston. Só percebeu o quanto alterou ao sentir a garganta vibrar com o som de sua voz engrossada. 

— Não está entendendo a dimensão de tudo isso, senhorita Sidle — disse ele ao fechar a porta. 

— Então me explica, droga! 

— Não sabíamos o que estava por vir. — Langston caminhou em sua direção. Preferiu ficar de pé a encará-la de igual para igual. — Apesar de... termos ficado em alerta por conta das informações que recebíamos acerca desse projeto... Era muito cedo afirmar qualquer coisa. 

— Como vocês não sabiam?! — retrucou indignada. — Souberam de tudo que eles estavam planejando e mesmo assim deu no que deu? Era óbvio que aquilo iria acontecer, pelo amor de Deus! 

— Entenda! Era impossível prever o que iria acontecer naquele lugar! — Ele ergueu os braços. — Da minha posição tudo o que eu podia fazer era acompanhar os eventos. Eu não podia fazer mais nada. 

— Você disse que tinha parte naquele projeto! — Sara não se deu por satisfeita com as sucessivas tentativas de Langston a se defender. 

— Eu falei isso. — Assentiu, sem por dúvidas. — Participei de estudos sobre o desenvolvimento dessa tecnologia, liderei muitos deles!... Mas encarei divergências e... — Ele soltou um breve suspiro. — O projeto findou. 

— Só isso? — Ela deu de ombros ao não acreditar somente naquela declaração. — Não, eu não acredito que seja só isso. 

Langston olhou para baixo por alguns instantes. Deu para perceber uma singela mudança em sua expressão facial. 

— O grupo de pesquisa foi desfeito e não muito tempo depois eu tive de eliminar décadas de pesquisa publicadas. — Desistindo de ficar em pé, ele acabou se sentando no sofá, ao lado daquela pasta. Imaginou que pudesse estar contornando a situação. 

— Espera. — Sara ergueu a mão. Seu tom de voz era de alguém desconfiado. — Espera. Você 'teve' de apagar? 

— Sempre fui contra métodos não-ortodoxos do uso de matéria orgânica como cobaia de teste. Nossa ideia preliminar era desenvolver uma tecnologia viável que permitisse o envio de matéria inorgânica de um ponto para outro, o que já seria um passo gigantesco — explicou. — Envolver um organismo complexo como um ser humano era um tabu, sim, e na época as discussões não passavam de mera conversa fiada. Não passou de suposições. — Deu de ombros, como se estivesse isentando-se de parte da culpa. — Há uma década, no entanto, os recursos do governo foram diminuindo ao passo que todo o grupo de pesquisa foi sendo desfeito. — Ele visou a mesa por alguns instantes. O rosto, de repente, se abateu. — Aparentemente alguns membros do meu antigo grupo participaram desse projeto. Não tinha como eles chegarem àquele nível de conhecimento sem que algum deles não estivesse envolvido. O pior de tudo é que se eles estiveram próximos do arco da explosão, então é provável que não tenham sobrevivido. Não tenho informações sobre o número total de vítimas até hoje. Talvez eu nunca vou saber. 

— Meu Deus...  

Sara levou a mão à boca a administrar tudo o que acabara de ouvir. Olhar incrédulo, tentava engolir aquela história. Tudo lhe parecia uma narrativa criada entre vilões e mocinhos do qual ela estava bem no meio. 

— Então você veio pra cá, pro outro lado do mundo, criar a mesma coisa que eles fizeram-  

— Não, você entendeu errado- 

— E me jogar dentro de uma máquina! — A raiva de outrora retornou e ela não dava indícios de que sairia daquela sala feito as pazes com ele. 

— Nosso projeto não tem nada a ver com isso! 

— Olha só a merda que vocês criaram! Como eu não vou saber que você estava por trás disso e só esperava a droga de um rato de laboratório! Que agora eu estou presa do outro lado do mundo prestes a morrer?! 

— Eu posso te garantir que no momento este é o lugar mais seguro para você. — Langston declarou sem permitir quaisquer tipo de dúvida em suas palavras. — Mas se nós permanecermos aqui para eu contar a história da minha vida e ainda assim não acreditar, tem total liberdade de ir embora. — Ele apontou para fora. Esperou por alguns segundos e como não foi respondido, continuou. — Nunca esteve presa aqui, senhorita Sidle. Você tem total de liberdade de ir e vir. E... — Ele hesitou por alguns instantes. — Você tem razão. Eu fiz parte da concepção deste projeto, sim. Nada vai apagar o que eu fiz. Mas o que estamos desenvolvendo aqui não tem nada a ver com aquele desastre. Nunca foi o objetivo inicial da minha pesquisa. 

— E o que vocês vão fazer? E se tiver mais gente assim?! 

— Entenda que é praticamente impossível tomarmos uma posição sobre o que está acontecendo em outro país estando aqui. A única pessoa que podemos ajudar agora é você. 

Sara balançou a cabeça repetidas vezes. Aquela história tinha um gosto amargo demais para se engolir. Pior; era como veneno. 

— Como quer que eu confie em vocês depois de tudo isso? — interrogou-o, o semblante horrorizado também carregava indignação. — Eu morro numa sala, máquina, e ninguém mais sabe de nada. 

— Não podemos forçá-la a acreditar em nós, mas eu peço que mantenha o voto de confiança que fez antes vir para cá. 

— Eu estava fragilizada! — Ela rebateu na mesma hora. — Como se eu fosse saber o tamanho desse problema! — ironizou. — Não tente jogar isso pra cima de mim. 

— Nós não temos muitas escolhas, senhorita Sidle. — O cientista argumentou. — O que vai fazer se não confiar em nós? Voltar para os Estados Unidos e pedir ajuda a quem? 

Apesar de não gostar daquela resposta, Sara não tinha munição para argumentar. Ela odiava andar no escuro. Arriscar-se no talvez único meio de salvar sua vida causava-lhe muito receio, ainda mais quando tomou conhecimento de mais capítulos daquela história. 

— Já estamos há algum tempo aprofundando os estudos sobre esse fenômeno e a partir disso conseguimos criar esta tecnologia. É o meio que temos para trazer você de volta. 

— Nunca fizeram testes com seres humanos. Vai ser agora que na primeira tentativa isso vai dar certo?  

Era a primeira vez que Sara o deixou completamente desarmado de uma resposta convincente. Ele bem que tentou; engoliu em seco de modo discreto e desviou o olhar por um breve instante. 

— Precisa dar certo. 

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De volta ao quarto. Sensação de solidão corroía-lhe até a alma e a consumia pouco a pouco. Era ser sugada para dentro de um buraco negro em câmera lenta enquanto via o mundo ao redor tomar uma imagem curva e distorcida. Não podia gritar e tampouco ouvir os sons de fora; estava presa em um vácuo. 

Ela já não tinha mais certezas sobre o que estava fazendo. A esperança que alimentou sua viagem para o outro lado do mundo, de repente, abandonava seu barco e a deixava sozinha à deriva. A vontade de desistir foi a primeira ideia que surgiu em sua mente. Gastou tempo e energia apenas para encontrar mais incerteza e uma chance mínima de que as coisas dariam certo. 

Sentando-se na cama, pegou o celular por curiosidade. Não demoraria muito para receber mensagens ou ligações de seus amigos do trabalho perguntando sobre ela, se estava bem ou coisa parecida. Até que poderia respondê-los; poderia responder cada uma das futuras mensagens ou retornar cada uma das ligações, mas achou melhor se manter distante de todos. Foi por isso que foi embora sem se despedir; não seria a hora para recuar. 

Mensagens e ligações burocráticas; uma de Greg perguntando por ela, o que a fez sorrir por um instante. Nem teve coragem de abrir, se não iria voltar atrás com suas promessas. Pensou em ignorar todas as mensagens até o momento em que notou um email em particular. 

Ah, não. 

Era um email dele, a única pessoa que fazia seu coração se partir em mil pedaços por saudade. Àquela altura já sabia que ela se fechou para o mundo e não receberia mais nenhuma ligação. 

— Ah, Gil... 

Todo aquele abatimento, aquela angústia voltaram de vez. Sara leu aquela breve mensagem e de repente algo vindo de dentro quase a fez chorar. Ela queria tanto encontrá-lo uma última vez, abraçá-lo e sentir o calor de seus braços. Queria dizer tudo o que sentia, desabafar o quanto tinha medo daquilo tudo e o quanto queria tê-lo por perto. Ela o amava demais, mais do que imaginava. 

Poderia apenas ignorar o email e fingir que sequer o abriu. Poderia manter a posição de isolamento completo e, quem sabe, voltar quando tudo fosse resolvido. Mas sua mente gritava para respondê-lo; pedia por seu contato ainda que não fosse físico. 

Ao menos por algum sinal de respeito, acabou ligando para ele. 

— Sabe que se descobrirem esse email você vai ter problemas — disse logo após ouvi-lo dizer "alô". Tentou forçar naturalidade e um pouco de sarcasmo para indicar que estava tudo bem. Só esperava que ele caísse em sua lábia. 

— Sara? Ah, Graças a Deus!... 

Quando ouviu aquilo seu coração se despedaçou ainda mais um pouco. Ela levou a mão ao rosto e fechou os olhos, segurando-se com todas as forças para não desabar em lágrimas. A cada segundo que passava seu desejo que Grissom estivesse ali, bem ao seu lado, aumentava cada vez mais. Mas como isto não seria possível, queria apenas ouvir sua voz nem que fosse por meio de broncas. 

— Você tá bem, Gil? — perguntou com um sorriso no rosto. Fungou uma vez e torceu para que ele não percebesse como estava. 

— É claro que eu não estou bem! — rebateu chateado. — Deus, Sara! Você-... você foi embora sem avisar... E-eu... 

Ele se calou, sem ter coragem de continuar. 

Foi pior que imaginou. Ela o fazia sofrer ainda mais e isto a quebrou por inteira. Sentiu-se um monstro, o pior deles. 

— Eu tive que fazer isso — respondeu baixando o tom de voz, ou senão seria descoberta por ele. 

— Deus... 

Sara sabia que se avisasse sobre sua partida, Grissom daria um jeito de pegar o mesmo voo, disso ela não tinha dúvidas.  

— Deus... você está aí, do outro lado do mundo sozinha... 

— Eu tô bem. Ela insistiu, deixando escapar um pouco do controle, como se estivesse prestes a choramingar. 

— Sara? — chamou-a, desconfiado pela mudança repentina em seu tom de voz. — O que eles fizeram com você? 

— Eles não fizeram nada comigo. Eu só estou... cansada — sussurrou a última frase. E realmente era verdade. — Só preciso... 

Ela precisava de muita coisa. Ver seu rosto e sentir sua respiração unir-se à dele eram alguns de seus desejos, todavia, não podia ceder às suas vontades egoístas. De certa forma se imaginava usando o homem que amava apenas para preencher o vazio sentimental do qual se encontrava, valendo-se de sua consideração por ela. Era terrível. 

— Eu ouvi algumas coisas... — comentou de modo evasivo. — Vão ter bastante trabalho. 

Um minuto de silêncio a fez achar que a ligação tinha caído ou se encerrado. Melhor para ela, que tentava escapar de suas perguntas. 

— Sara. — Ele insistiu, mas não sabia como dizer aquilo de um jeito mais apropriado. 

— E-eu vou ficar bem. — Sara respondeu após respirar fundo e impedir que mais lágrimas caíssem. 

— O que eles fizeram com você, Sara? — Ele insistiu ao ouvi-la fungar uma vez. Só podia estar chorando. 

— Nada... — Ela tentou forçar um tom de voz austero, mas pouco a pouco via suas defesas se desfazerem. — Já disse. Vão ter... trabalho comigo. 

Tudo o que ela conseguiu ouvir foi um lamento inaudível vindo do outro lado da linha. Grissom nem imaginava a falta que fazia a ela. 

— Vou pegar um voo até aí. 

— O quê? 

Foi quando as coisas começaram a piorar e Sara teve de se recompor o quanto antes. 

— Eu falei pra ficar longe disso. Por que você não me ouve, Grissom? — O abalo emocional de antes de lugar à raiva e o incômodo. Já nem sabia mais se continuaria naquele lugar e agora tinha mais um motivo para levá-la aos nervos. 

— Porque eu me importo com você. 

Bastaram poucas palavras para que ficasse devastada e que sua raiva se dissipasse como vapor. Apesar de cruel, aquela frase soou como uma música em seus ouvidos. Ele realmente se importava. Não falou como um simples supervisor ou colega de trabalho; disse aquilo como alguém que a considerava profundamente. 

— N-não... não faça isso, Gil — pediu quase em sussurros. Pediu que não viesse, mas suas palavras continham um significado maior. Não queria se envolver naquele jogo dele. 

— Sara- 

— Não destrua sua vida desse jeito. — De olhos fechados ela continuou. — Você não tem ideia do que está falando. 

— Sei muito bem o que estou prestes a fazer — respondeu sem hesitação. — Mas antes disso eu... preciso que você me aceite. 

Sara iria se arrepender daquilo, não tinha dúvidas. Antes mesmo de tomar a decisão já sabia lá na frente que iria se arrepender. Resistir era quase impossível. Até que tentou afastá-lo com todas as forças, mas o coração tolo não o resistia. Era uma batalha que sabia que iria perder. 


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Notas finais do capítulo

E aí hein? Será que ela vai dar outro migué nele ou vamos ter um encontro dos dois?

Muito louco isso né? Depois daquilo tudo a Sara se arrependeu de saber tanto dessa história kkkkk Mas quem não ficaria louco também? O negócio tá estreito.

Bem, muito obrigada a todos que estão lendo! Um beijão e até o próximo capítulo!!!



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