She escrita por Mavelle


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Oiee!
Caso interesse a alguém, eu fiz uma oneshot para Polin no mesmo universo dessa história. O link é esse: https://fanfiction.com.br/historia/801546/Todo_Azul_do_Mar/
Enfim, vamos voltar pra história que eu suspeito que vocês vão gostar desse capítulo

Beijos,
Mavelle



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800262/chapter/14

Na manhã seguinte, Benedict esperava ansiosamente no restaurante enquanto Sophie não aparecia.

Ele tentava se convencer que estava tudo bem, mas sabia que mentia para si mesmo: estava nervoso. Sophie provavelmente acharia que ele era louco e, no fundo, ele achava que podia ser mesmo. 

Tentando disfarçar a ansiedade, não pôde deixar de ver as mensagens que tinha trocado com ela naquela manhã.

"Benedict: Oi, bom dia

Benedict: Tudo certo pra daqui a pouco? 

Benedict: É o Benedict, caso você esteja estranhando a mensagem de um número desconhecido

Sophie: Benedict?

Sophie: Vi o número desconhecido e ia ignorar achando que era mensagem de banco

Sophie: Bom dia

Benedict: KKKKKKKK

Sophie: E tudo certo sim 

Sophie: Só preciso saber para onde vamos 

Benedict: Estava pensando em ir no Napel 

Benedict: Sabe onde é? 

Sophie: Sei sim

Sophie: Fica perto daqui 

Benedict: Eu posso passar para te buscar

Sophie: Não precisa

Sophie: Estou precisando da caminhada

Benedict: Tudo bem 

Sophie: E também, carona de volta é melhor do que na ida 

Benedict: Isso foi uma indireta? 

Sophie: Foi uma direta, na verdade

Benedict: haha

Benedict: Até daqui a pouco

Sophie: Até"

Ele bloqueou o telefone e, ao erguer o olhar, encontrou Sophie parada em frente à sua mesa, o observando descaradamente. 

— Oi. Bom dia. - ela disse com um sorriso, já deslizando para a cadeira em frente à dele. - Te fiz esperar muito tempo? 

— Não, relaxe. - ele sorriu. 

Um garçom logo apareceu ao lado deles, entregando-lhes cardápios. Os dois fizeram seus pedidos e se encararam por um momento, sem ter certeza de por onde começar aquela conversa. 

— Eu… - ambos começaram a dizer ao mesmo tempo, e então começaram a rir. 

— Isso é meio estranho, não é? - Benedict perguntou. 

— Estranho em que sentido? - Sophie perguntou de volta.

— É só que tudo entre nós até agora aconteceu por pura espontaneidade, então acho que o simples fato de termos marcado isso ajuda um pouco com a leve estranheza. 

— Acho que vou ter que concordar com você. Eu cheguei a ensaiar o que dizer. - ela admitiu. - Até repassei os cenários possíveis de como essa conversa vai sair na minha cabeça. 

— O que você precisa me dizer? - ele estava curioso. 

— Eu só queria pedir desculpa por ontem à noite. - Sophie disse. - Acho que acabei sendo meio grossa com você quando nos reencontramos.

— Tudo bem. Todo mundo tem direito a ter momentos ruins, só coincidiu de o seu ser logo antes de me encontrar.

— Sim. Eu estava me divertindo bastante, pra falar a verdade, mas aí toda a situação com o Cavender me deixou fumaçando. 

— Ele já tinha tentado algo do tipo? - Benedict perguntou, preocupado. 

— Não tão explicitamente quanto ontem, mas, sim, ele vem me incomodando há umas duas semanas. 

— Sinto muito que você tenha que passar por isso. 

— Eu também. - ela suspirou. Não tinha o que fazer sobre aquele assunto e não queria prolongar aquilo. Além disso, Philip Cavender não era, nem de longe, o pior que ela teve que aguentar por um trabalho. - O que você queria conversar comigo? 

— Bem - Benedict começou -, eu não sei bem como você vai reagir e eu sei que deveria ter falado com você antes… 

— ...mas eu dificultei bastante essa última parte. - ela completou, um meio-sorriso estampando seu rosto. 

— Um pouco. 

— Pode falar a verdade e dizer que eu tornei praticamente impossível de me encontrar, considerando que não disse meu nome ou de onde era. 

— Sim, foi impossível. - ele concordou. - E eu acreditei que você não ia me processar. 

— E não vou. Foi um choque, mas eu me sinto lisonjeada.

Benedict pareceu confuso. 

— Você sabe do que eu queria te falar?

— Eu acho que sim. - Sophie respondeu. - Você queria falar sobre a exposição, certo?

— Sim. - ele respondeu, suspirando aliviado. Tinha muito medo de como ela podia reagir a tudo aquilo, mas, aparentemente, ela não se importava. Não sabia com quem teria de reclamar por ter dito aquilo para ela, mas não achava que Sophie contaria quem tinha falado sobre a exposição. - Eu queria falar com você antes de fazer isso, mas não tinha como, e aí eu consegui o espaço no Museu Nacional— ele enfatizou - e meio que tudo se atropelou. Então eu sinto muito por ter feito uma exposição inspirada em você sem perguntar antes se eu podia. 

Sophie acreditava que o fato de a exposição ter sido no Museu Nacional provavelmente era a principal razão para ele ter feito aquilo sem tentar falar com ela. Definitivamente era uma oportunidade que não dava pra deixar passar. 

— Bom, eu não me arrependo que você tenha feito. Acho que eu não deixaria que você fizesse se me perguntasse, mas eu vi a exposição e, meu Deus, o resto do mundo precisa ver o quão talentoso você é, Benedict, e não vou ser a pessoa que vai tentar tirar essa oportunidade de você mostrar.

— Calma. - ele disse. Ela tinha falado o final muito rápido e ele ainda estava preso no meio da frase. - Você já viu a exposição? 

— Já. - ela admitiu. - No final de outubro, no dia em que eu fui contratada. A Kate foi quem fez minha entrevista e me disse que eu podia ir no museu pra gastar tempo enquanto a Posy não saía.

— Foi numa sexta-feira? - ele perguntou, num tom um pouco grave. Agora as coisas estavam começando a fazer sentido: as mensagens doidas de Kate, ele achar que Sophie estava lá… 

— Sim. Eu… te vi lá com a Daphne. 

— Eu achei que tinha te visto. - Sentido, na verdade, mas vou parecer um maluco ainda maior se disser isso, Benedict pensou e Sophie arregalou um pouco os olhos. - Mas acabei me convencendo que estava louco. 

— Não estava. 

— Por que você não foi falar comigo?

Sophie parecia um pouco envergonhada.

— Ok, isso é uma grande besteira agora que eu sei o que eu realmente estava vendo, mas eu não fui falar com você porque você estava com a Daphne. - ele franziu o cenho. - Vocês entraram na sala rindo e de braços dados e ela tem um anel de noivado ridiculamente grande. 

— Então você pensou que ela fosse minha noiva. - Sophie assentiu e ele chacoalhou a cabeça em repulsa. 

— Desculpa. - ela disse, meio por impulso.

— Não tem problema, sua reação foi justificada. É só que é estranho pra mim qualquer um achando que eu teria algo com a minha irmã. E eu sabia que aquela monstruosidade de anel ia atrapalhar a vida de alguém um dia, só não imaginava que seria a minha. - Sophie riu. - É sério. Aquele negócio pesa tanto que levou duas semanas pra Daph se adaptar com o peso.

— Minha nossa. 

Nesse momento, seus pedidos chegaram e os dois se dedicaram a comer por um instante. A conversa parou um pouco enquanto os dois simplesmente apreciavam a refeição.

— Por que eu estou surpresa de você ter bom gosto para restaurante? - Sophie perguntou. 

— Porque você só conheceu meu lado que come salgadinho e bebe em festa. - ele respondeu. - Não me deixou nem demonstrar minhas habilidades culinárias fazendo café da manhã para você.

— Ok, essa parte é minha culpa. - Mas eu não me arrependo, ela pensou. Eu já passei o ano inteiro pensando nele sem termos passado o dia juntos, imagine se não tivesse sido assim. Não que tenha sido o pior pensamento do ano, mas era irritante em alguns momentos me pegar pensando tanto em uma pessoa com quem eu tinha ficado uma única vez. 

Eles logo terminaram de comer e Sophie, direta como geralmente era, simplesmente jogou o elefante que ainda estava na sala.

— Então… você fez uma exposição sobre mim. - ela disse ainda meio sem acreditar, apesar de já ter essa informação há mais de 6 semanas. Benedict assentiu. - Nós conversamos, ficamos, conversamos um pouco mais e depois eu fui embora. 

— Eu nunca tinha me sentido tão conectado com alguém. Fazia um bom tempo que nada parecia tão real quanto aquelas horas foram para mim. - Foram só algumas horas, mas eu não consegui te tirar da minha cabeça por um ano inteiro, Benedict pensou. Acho que posso estar quebrado para qualquer outra pessoa

— Nossa. - ela disse, um pouco atônita, e então engoliu em seco. Por que ele tinha que entender exatamente como ela se sentia? - Eu entendo o que você quis dizer. Aquelas horas pareceram um conto de fadas, mas, ao mesmo tempo, foram mais reais do que muita coisa que eu passei esse ano. 

— Exatamente. - ele concordou. Então olhou nos olhos dela. Continuavam o par de olhos mais bonitos que ele já tinha visto, principalmente agora, em que tudo o que ele via era a sinceridade pura. - Acho que é bem óbvio, e por favor não se assuste, mas eu não consegui te tirar da cabeça durante esse ano.

— Não me assusta porque, por alguma razão, eu também não consegui te tirar da minha cabeça, então, se você for um doido, eu também sou. 

Benedict riu e Sophie sorriu para ele. Era fácil estar ali com ele e simplesmente falar porque ele a fazia se sentir confortável. Como se ela pudesse dizer qualquer coisa e ele não a julgaria. 

— Nossa, tudo isso foi muito melhor do que eu tinha imaginado que seria. - Benedict disse, após refletir uns momentos. 

— Como você tinha imaginado essa conversa acontecendo?

— Bem, na melhor das hipóteses, com você indo ver a exposição antes de decidir se me processava ou não. E, na pior, essa conversa não teria acontecido. Mas acabou saindo melhor do que a melhor hipótese. 

— Sua ideia para a melhor hipótese era bem tentadora. - Sophie disse. - Tirando a parte de considerar te processar, claro, já que isso já está descartado. 

— Você quer ir ver a exposição? - ele parecia animado. 

— Sim. Era o que você tinha planejado para o resto do encontro, certo? - ele assentiu, mal notando o uso da palavra “encontro” por ela. Tinham dito que seria uma conversa e, no fundo, era, mas a intenção dele (e agora dela também) tinha sido fazer daquilo um encontro. Sophie sorriu. - Então vamos. Quero ter o privilégio de poder dizer que sei o que tudo naqueles quadros quer dizer. 

— Você já sabia a história completa. - ele disse, já chamando um garçom e pedindo a conta. 

— É, mas eu não sei porque está tudo em preto e branco. Inclusive, vou logo te parabenizar porque eu nunca conseguiria imaginar que o nascer do sol em preto e branco ficaria tão lindo. 

— Obrigado. - ele pareceu um pouco tímido. - Me deu muito trabalho, mas foi o meu quadro favorito dessa exposição. 

— Eu imagino que deva ter dado mesmo.

— Eu precisei fazer um rascunho colorido, mas, honestamente, a versão em preto e branco é a minha favorita. 

Eles dividiram a conta e passaram no armário para pegar seus casacos.

— Você trouxe um casaco desta vez. - Benedict disse enquanto os dois vestiam os casacos, e Sophie não conseguiu conter a vontade de dar uma cotovelada de leve nele, que sorriu de lado. - E ninguém vai passar frio hoje. Eu vim de carro.

— Ótimo. - ela sorriu. - Como eu disse, carona de volta é melhor do que de ida. Não - ela emendou ao perceber que ele ia dizer alguma coisa -, que eu não queira uma carona para ir ao museu. 

Benedict simplesmente sorriu para ela, que entrelaçou seus dedos nos dele antes de saírem do restaurante.

***

Algumas horas mais tarde, depois de rodar o museu quase todo, eles tinham chegado à última sala antes daquela em que a Lady in Silver estava exposta. Benedict tinha dito que se sentia presunçoso demais indo só para ver a própria exposição e Sophie simplesmente concordou em ir ver o resto das obras do museu. Enquanto conversavam, ela contou que amava história da arte e que era uma das coisas que teria estudado na faculdade, se tivesse ido. Pelo que falava, teria ido para Cambridge, assim como ele, e entraria dois anos depois, na mesma época que Kate e Penelope. Se as coisas tivessem sido um pouquinho diferentes, podiam ter se conhecido naquela época e, por um momento, Benedict se pegou imaginando como teria sido, ao mesmo tempo em que prestava atenção no que ela dizia. Ela estava falando sobre como tinha morado na França nos últimos anos e que tinha tornado seu objetivo conseguir visitar todas as áreas do Louvre, coisa que finalmente tinha conseguido terminar nesse ano. Ele tinha compartilhado um pouco sobre sua família e sobre o trabalho que fazia na empresa da família antes de sair para se dedicar à carreira de artista.

— Acho que essa é uma das minhas pinturas favoritas daqui. - Benedict disse quando pararam em frente a uma tela naquela última sala antes de seu destino final. Psiquê mostrando às suas irmãs os presentes de Cupido, lia-se na plaquinha ao lado do quadro. - Não tanto pela pintura em si, mas pela história que retrata. 

— Cupido e Psiquê. - Sophie disse, com um suspiro.

— Você também conhece o mito? - ele perguntou, se possível ainda mais interessado do que estava um momento antes. Não seria tão incomum que ela conhecesse, dados os seus interesses, mas, ainda assim, o deixava animado, por alguma razão. 

— Não, não conheço. Minha reação é porque eu vi a escultura baseada no mito quando morava na França, e é definitivamente uma das coisas mais lindas que já vi na vida. - ela virou para ele. - Você gosta da história?

— Bastante. 

— Pode me contar? 

— Claro. É meio longa, mas posso contar a versão reduzida. - ele limpou a garganta. - Um rei e uma rainha tinham três filhas. As duas mais velhas arranjaram casamentos com homens ricos, mas a mais nova e mais bonita, Psiquê, ainda não tinha se casado. Ela era tão linda que os habitantes da cidade começaram a cultuá-la por sua beleza e passaram a ignorar o culto a Vênus, que resolveu puni-la fazendo-a se apaixonar pelo homem mais feio do mundo. Para isso, ela pediu que seu filho Cupido a atingisse com uma de suas flechas, mas ele acabou se distraindo pela beleza dela e se cortou acidentalmente com a própria flecha, se apaixonando por ela. Os pais de Psiquê estavam preocupados com ela por não ter se casado ainda e perguntaram ao Oráculo o que deviam fazer e a resposta foi que ela devia se casar com um monstro e, como os bons pais que eram - ele disse, a voz carregada de ironia -, eles simplesmente obedeceram ao Oráculo. 

— Merecem o prêmio de pais do ano. - Sophie comentou baixinho, o que fez Benedict sorrir. 

— Ela foi preparada para o casamento e levada para um penhasco, de onde foi transportada para um belo e rico palácio, onde era visitada por seu marido todas as noites, apesar de nunca o ver e não saber sua identidade. 

— E era Cupido. 

— Sim. Ele tinha pago ao Oráculo para que dissesse aquilo aos pais de Psiquê para poder ficar com ela. Cupido e Psiquê estavam se apaixonando, mas um dia ela recebeu a visita de suas irmãs, que ficaram com inveja da riqueza da casa da irmã e começaram a colocar minhocas na cabeça dela para que revelasse com quem tinha se casado. - ele mostrou a tela na frente deles. - Como a própria Psiquê não sabia, as irmãs concluíram que ela devia ter se casado com um deus e ficaram instigando ela para que tentasse descobrir qual a verdadeira identidade dele. À noite, Psiquê perguntou ao marido sobre a sua identidade e ele simplesmente disse que ela devia confiar nele e que não podia saber. - A essa altura, Sophie quase teve que buscar por ar. Assim como Psiquê não podia saber quem Cupido era, Benedict jamais poderia saber qual a sua verdadeira ocupação. - Por isso ele só ia no escuro. Se ela o visse claramente, perceberia as asas. - Benedict completou. Se ele me visse claramente, sairia correndo na direção contrária, ela pensou.

— E depois disso? 

— As irmãs dela continuavam visitando e enchendo a cabeça dela de minhocas, até que a convenceram que, se ele era um monstro, deveria ser morto. Naquela noite, Psiquê pegou algumas das flechas de Cupido para matá-lo, mas resolveu acender uma lamparina para poder finalmente vê-lo. Ela ficou surpresa ao perceber quem ele era e o quão bonito era e se descuidou: se feriu com uma das flechas dele e deixou que um pouco do óleo da lamparina caísse nele. 

— Ai. - Sophie fez uma careta de dor e Benedict não conteve um sorriso. 

— Exato. Então Cupido acordou e ficou puto porque Psiquê não tinha confiado nele, não tinha confiado no seu amor e foi embora. Ele foi tratar as feridas na casa da mãe e Psiquê passou a vagar pela terra, e, numa tentativa de reconquistá-lo, perguntou a Vênus onde ele estava. Em troca da localização dele, Vênus pediu que ela fizesse duas tarefas praticamente impossíveis, mas Psiquê conseguiu cumpri-las com a ajuda de amigos e servidores de Cupido. Então foi realizar a terceira, que envolvia descer até o Mundo Interior e que acabou quase a matando, mas Cupido a encontrou e a salvou. Eles se resolveram, se casaram e Psiquê foi feita imortal. 

— E por que Cupido não revelava quem era? 

— Eu particularmente acredito que era para proteger Psiquê da ira de Vênus. Se Psiquê soubesse, poderia comentar com alguém e a informação acabar chegando em Vênus. Psiquê correria um risco maior se Vênus soubesse que ela, sua rival, tinha se casado com seu filho. 

— No fim das contas, ele mentiu, mas mentiu para protegê-la. - ela parou para refletir um momento. - Você acha que, nesse caso, os fins justificam os meios? 

Por alguma razão, Benedict soube que essa era uma pergunta importante, cuja resposta podia alterar tudo.

— Nesse caso em específico, eu acho que sim. Cupido estava só tentando manter Psiquê segura e eu acredito que ele acabaria contando para ela eventualmente, mas Psiquê se deixou influenciar pelas irmãs e as coisas se atropelaram. 

Não vou deixar as coisas se atropelarem, Sophie pensava. Ele jamais vai saber porque eu vou sumir antes que isso se torne sério o suficiente para precisar contar… eu estou realmente considerando  começar alguma coisa com ele?

— Qual a razão para você gostar tanto dessa história? - ela perguntou. 

— Acho que é a mensagem de que só o amor não é suficiente se você não confiar na pessoa. Claro que você provavelmente não vai confiar tanto no início, porque isso é algo que deve ser construído, mas alguém tem que dar um salto de fé. 

— Eu concordo.

Benedict pegou a mão dela na sua e a levou para a sala onde a exposição estava no momento, que era bem menor do que a sala original, uma vez que já faziam quase dois meses que estava exposta, então, apesar da procura ainda ser relativamente alta, o espaço foi aberto para uma outra exposição de arte contemporânea. 

— O que você quer saber? - Benedict perguntou enquanto Sophie soltava sua mão e ia ficar de frente para a pintura do nascer do sol. 

— Eu tenho duas perguntas. - ela disse e ele simplesmente assentiu. - Por que você me representou como um passarinho?

— Porque era assim que eu te via: livre para ir e vir como e quando quisesse.

— E por que tudo em preto e branco? 

— Porque a noite tinha se tornado apenas uma memória e memórias me remetem a fotos em preto e branco. 

— Entendi. - ela disse, e então voltou a olhar para o quadro à sua frente. - Eu sei que estou aqui com você, mas ainda é difícil acreditar que tudo isso aconteceu. - ela virou para ele e colocou a mão sobre o peito dele, sentindo o coração acelerar debaixo de sua palma. - Que tudo isso está acontecendo agora. 

— Acho que é difícil mesmo de acreditar que tudo isso é real, mas eu acredito que estamos conectados. - Benedict disse depois de uns momentos de silêncio. - Chame de destino, de conexão de almas, de vidas passadas, chame do que quiser, mas eu sei que eu estava destinado a te encontrar naquela noite. - Sophie arfou. - Eu tinha que te encontrar.

Sophie simplesmente olhou para ele, deixando que tudo aquilo que sentia ficasse visível no seu olhar. O desejo, a admiração que tinha por ele e a pontinha de orgulho por ter sido a pessoa que inspirou algo tão bonito. 

O que via refletido no olhar dele era semelhante, mas havia algo mais: felicidade. 

Simplesmente por estar ali, por estar com ela. 

Ela não conseguiu evitar que seu coração batesse mais forte. 

E então Benedict levantou um pouco o seu queixo e juntou seus lábios aos dela. Sophie prontamente abriu espaço para que ele pudesse explorar sua boca com a língua, achando que já sabia o que esperar. 

Estava enganada. 

Beijar Benedict tinha sido bom quando não sabia o que esperar, mas agora que já sabia, era ainda melhor de alguma forma. A sensação que tinha era de que estava voltando para casa depois de um bom tempo à deriva. Ele a beijava como se tivesse todo o tempo do mundo e como se não houvesse mais nada que preferisse fazer e, apesar de muito bem treinada e podada, Sophie era apenas humana: jamais poderia resistir àquela sensação.

Ela sabia que não devia se deixar levar por aquilo, mas não conseguia evitar. Seu estilo de vida e seu trabalho não permitiam que ela tivesse esse tipo de aproximação com ninguém. Ela não tinha tido nenhum namoro sério desde que entrou no MI6, nem tinha formado amizades muito concretas fora do trabalho. Não queria arriscar a vida de ninguém, mas ninguém nunca tinha mexido com ela como Benedict mexia, e eles mal se conheciam. 

Deus sabia como ela poderia ficar se se permitisse aquilo.

Então Benedict passou as mãos por sua cintura, puxando-a mais para perto, e Sophie sentiu quase todas as suas barreiras caírem por terra. 

Eu poderia fazer isso, ela pensou. Não tem nenhuma regra que diga que eu não posso ficar com alguém, eu só preciso sair antes que fique sério, pela segurança dele

Então o estômago de Sophie roncou. Eles tinham comido no brunch, mas tinham se empolgado no museu como os bons admiradores de arte e história que eram, e agora já era quase o meio da tarde.

— Está com fome? - Benedict perguntou.

— Um pouco. - Sophie admitiu.

— Vamos almoçar? Conheço um lugar legal a uns 5 minutos daqui.

— Você está tentando dar um jeito de transformar uma conversa antes do almoço em um encontro que vai durar o dia inteiro? - Sophie perguntou, com um sorriso brincando no rosto.

— Eu te perguntei se você tinha o dia livre ontem à noite, você que me perguntou se poderia ser de manhã. - ele sorriu. - De qualquer forma, você tem alguma programação para o resto do dia? 

— Não. 

— Então depois do almoço eu te levo no meu ateliê e te mostro as telas que não foram para a exposição.

— Eu gostaria muito de ver.

Benedict sorriu para ela e Sophie sentiu uma pontadinha no coração.

Ele nunca pode saber o que eu realmente faço, mas, enquanto isso não se tornar um problema, eu vou aproveitar, Sophie pensou. E não é como se eu não fosse conseguir me afastar antes de ficar muito sério... Ai ai, Cupido, como se manter escondido de Psiquê?

— Vamos? - ele perguntou, estendendo a mão para ela. 

E, que Deus a ajudasse, ela pegou a sua mão. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Disclaimer: o Benedict conta a história de Cupido e Psiquê usando o nome das divindades romanas porque esse é um mito romano. Eu particularmente sou mais acostumada (e gosto mais) dos nomes gregos das divindades, maaaaaas, como a história é romana, resolvi manter os nomes romanos. 
Pra evitar confusão para os que, assim como eu, estão mais acostumados com nomes gregos:
Cupido = Eros
Vênus = Afrodite 



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "She" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.