— Qual seu problema, Ascian?! – Hernan repreendeu. – Se Eiren não me acordasse…

— Desculpe… – falou, recuperando o ar.

— Não se desculpe, comece a pensar! Já estamos aqui, isso não tem como resolver, mas você continua testando esse lugar. Você teve sorte com o rio e com a chuva, mas não vai ter sorte sempre! Quer acabar morto ou ficando preso aqui?!

— Não! – respondeu rápido, mesmo que não fosse realmente uma pergunta. Soter… A dríade… Não… Ascian preferiria morrer que fazer parte da Floresta.

Hernan respirou fundo. Quando cruzou novamente o olhar com o dele, Ascian viu mais que cansaço obscurecendo-lhe a calma. Ainda esfregando o pescoço dolorido, Ascian sussurrou, pois Eiren estava perto:

— Como está seu braço?

— Bem. – Meias verdades. O ferimento causado por Soter parou de queimar surpreendentemente rápido, mas não de sangrar. Sempre que Hernan reposicionava a atadura improvisada, parecia pior. A pele estava diferente, a cor, até mesmo o sangue. Tudo mostrava o lento avanço da Floresta, expandindo seus domínios não sobre a terra, mas sobre um corpo. Como um cadáver esquecido entre as árvores, mas ele ainda estava vivo, e isso era pior. A Floresta tinha outras armas além da comida, mesmo que mais lentas. Eiren não sabia. Preferiria que Ascian também não soubesse. – Não se preocupe, não vou virar uma dessas coisas.

— Não pode prometer.

— Posso, eu garanto.

Hernan não sairia da Floresta, ele sabia. Perdera essa chance dias antes, ao ferir Soter, e agora, a dríade. Aqueles que voltavam nunca eram os que levavam machados ou armas. Mesmo seu pai, que trabalhava provendo para bruxas as plantas especiais nascidas apenas na Floresta, dizia que não pegava nada sem antes “pedir” permissão.

Perguntou-se outra vez se sua presença marcada impedia os irmãos de encontrarem uma saída.

Assustaram-se, agora não com uivos, mas um grito.

Um grito humano.