Como roubar uma estrela escrita por Férula


Capítulo 2
Capítulo 1 - Denali




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— Hoje estamos indo para Denali. Um planeta vizinho onde Moisés nos indicou uma construção antiga das Forças, algo parecido com um CEM, um Centro de Estudos Médicos onde soldados ficavam internados para cuidados pós guerra. Cuidados mentais, físicos e essas coisas.

Diana falava enquanto puxava o cinto de segurança da nave, encaixava o copo de café no porta copos do painel, prendia os cabelos cacheados que iam até seus ombros, puxando as mechas da frente para trás, e se olhava na tela de sua câmera encaixada no espaço certo do painel da nave. Zac entrava no banco do passageiro ao seu lado acenando para a lente.

— Então iremos passar em Celan, uma cidade próxima aqui onde Josh está nos esperando e logo depois partiremos para Denali. Moisés já nos passou as coordenadas e nos encontraremos com ele para que ele nos guie melhor já que não conhecemos nada nem de Denali e nem de Liu, a cidade onde fica o prédio. Ansiosos? — ela perguntou sorrindo. — Porque eu estou, nunca entramos em algo das Forças, então vamos lá!

Ela sorriu largamente apertando o botão para desligar a câmera assim que terminou a fala.

— Pronto?

Perguntou para o garoto ao seu lado.

— Claro que sim!

Zacarias concordou com mais de uma de suas aventuras, que já aconteciam fazia cerca de quatro anos. 

Diana acionou o acelerador e a propulsão, que os elevou do chão e sobrevoou o céu velozmente. A viagem de Curtis para Celan era de meia hora em uma velocidade média na pista livre. Haviam diversas pistas alinhadas verticalmente por onde as naves se deslocavam, pistas desde mais próximas ao topo dos prédios até o mais próximo da camada final que circunda o planeta, distante mil quilômetros apenas. Ninguém gostava de passar pelas pistas mais próximas do solo, eram normalmente as mais lentas porque dependendo da nave ela não aguentaria subir até as pistas mais altas, mas para Diana isso não era problema, só precisava encontrar a pista livre para ser mais rápida.

Marine é um dos planetas que os humanos habitaram após sua população crescer demais para a Terra aguentar. O novo Sistema havia sido descoberto fazia cerca de trezentos anos, o que bastou para três planetas serem habitados, Marine, Denali e Esquel. Cerca de dois bilhões de humanos habitavam cada planeta. O número da espécie havia diminuído desde a Terra já que os planetas novos também eram menores e os feitos naturais e guerras, tanto na Terra quanto no espaço, mataram muita gente. Havia mais cerca de um milhão de humanos espalhados pelo universo, a maior parte eram membros das Forças Espaciais, o resto eram piratas do espaço, hippies e nômades.

Diana estava acostumada a cruzar o espaço entre os três planetas em busca de antigos locais agora inabitados e deixados para trás há algum tempo por diversos motivos, mas nunca chegou a conhecer a tão falada Terra. A internet trespassava vários planetas daquela galáxia, o que fazia com que os vídeos do grupo de exploração de Diana fossem vistos por vários povos daquele sistema tão parecido com o antigo Solar. Eram vídeos postados semanalmente, com uma ótima edição e perfeita fotografia, coisa antiga que ainda fazia o gosto da população espacial.

A música de estilo folclórico chamada Silver Moon, de um antigo cantor da Terra, tocava alta na nave assim como no fundo dos seus vídeos, o que se tornaria sua marca registrada, enquanto Diana cantarolava.

— De onde você arranja essas músicas? — Zac perguntou tentando entender o som das cordas do violão batendo.

— Na internet, oras.

— Mas isso é de muitos anos atrás, Diana. De séculos.

Diana riu.

— Nada se perde na internet. Tá tudo nas nuvens, você só tem que procurar até encontrar as nuvens certas. – Ela aumentou o som. – Essa é minha parte favorita.

Zac revirou os olhos olhando para o lado de fora da nave, quando percebeu que todos os motoristas paravam ou diminuíam a velocidade enquanto Diana parecia não perceber.

— Presta atenção na fila, Diana.

Zac resmungou abaixando o som rapidamente fazendo ela desviar bruscamente para a fileira de cima do trânsito aéreo.

— Calma lá, Zac. Eu consigo cantar e dirigir, vocês homens que não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo.

Moisés, Zac, Josh e Diana se conheceram via internet, os quatro faziam vídeos de exploração e cresciam juntos na rede só que separadamente. Diana precisava de pessoas para entrarem com ela em lugares que sentia medo, já que sabia ser corajosa até certo ponto. Ela mesma duvida de sua própria coragem. Josh e Zac moravam em Marine assim como ela, já Moisés era de Denali, tendo vivido também em Esquel e pouco tempo em Marine.

Diana acelerou mais até conseguir avistar Celan de cima. O GPS apontava o caminho.

— É por aqui.

Zac apontava nervoso para o lado oposto da qual ela ia, sabendo do horrível senso de direção da amiga.

— Claro que não, Zac.

— É sim — ele insistiu enquanto Diana diminuía a velocidade da nave e descia as fileiras até a mais próxima do chão. — Olha o mapa. Ou então se não sabe, deixa o piloto automático te conduzir até lá.

Zac estendeu a mão para apertar o botão do piloto automático.

— Tira a mão. — Ela lhe deu um tapa rápido fazendo-o recolher a mão e não apertar o botão. — Eu sei dirigir. Posso chegar lá.

Depois de mais quinze minutos rodando pelo bairro indicado enquanto Zac bufava ao lado, eles conseguiram pousar no topo do prédio de Josh que já esperava com seu mais novo tom de cabelo, azul dessa vez.

— Cabelo legal.

Zacarias riu cumprimentando daquela forma o amigo que subiu no banco de trás da nave com sua câmera já em mãos, filmando Diana e ele.

— Gostou?

— Tá o máximo de horrível.

Zac gargalhou ao receber um soco no ombro.

— Eu gostei.

Diana afirmou fazendo Josh dizer um "está vendo" para Zac e lhe lançar mais um soquinho antes de recostar no banco e colocar o cinto. Ele falava sem parar para a câmera enquanto Diana avançava em rota de saída da atmosfera verticalmente. Apesar de mexer com vídeos e mídias sociais, Diana sabia bem a hora de ligar uma câmera e a hora de manter-se no anonimato.

— Hoje o caminho parece estar vazio, então chegaremos em cerca de três horas.

Ela avisou olhando para a frente, sem se virar para a câmera de Josh a filmando. Empurrou mais fundo a alavanca de propulsão e passou pela atmosfera de Marine com rapidez para pausar no espaço e então precisar trocar a forma de operar seus motores já que agora estavam no vácuo.

O motor acionou o modo Pontual de operar, o que não funcionava como uma dobra Espaciais, mas permitia "encolher" o tempo de viagem ao entender que a linha temporal não é horizontal, ela é um ponto possível de se movimentar em qualquer direção, assim toda relação entre distância e tempo é quebrada, sobrando apenas a velocidade agora em um novo algoritmo. A unidade de medida é chamada de Pontos e a máxima alcançada até os dias atuais é de 120 Pontos apenas pelas melhores naves caríssimas, sendo a máxima permitida na Ponte apenas 50 Pontos. A questão da velocidade Pontual permite que ocorra um trânsito entre outras naves e uma viagem constante sem perda de imagens ao redor, ou seja, preza pela jornada, diferente da Dobra Espaciais que "some" com a paisagem em uma onda que tem como objetivo apenas o destino.

A própria nave ativou sua proteção assim que percebeu estar fora de atmosfera e os envolveu no oxigênio impedindo que o vácuo os atingisse. Aquela nave era boa, Diana havia comprado especialmente para viagens de rápido e longo alcance justamente por ter um bom motor Pontual, que poderia até mesmo percorrer a galáxia inteira e talvez até fora dela caso quisesse. Não havia sido barata, mas ela se orgulhava de sua conquista. Mesmo que ainda estivesse pagando parcelas horrendas e intermináveis cada pequeno pedaço da nave de origem Moratis – vida alienígena super inteligente que aprendeu como ganhar dinheiro ensinando e vendendo sua tecnologia avançada para humanos. Os ainda atrasados que sempre achavam estar passos à frente, humanos.

O canal de vídeos intergalácticos permitiu que ganhasse dinheiro com isso. Era tido como uma forma de entretenimento e assim a internet lhe pagava por ter anúncios em seus vídeos. Não era a mais famosa da internet, outros ganhavam muito mais que ela e já estavam trilionários, ela só conseguia sobreviver sem procurar outro emprego, mas não tinha o bastante para pagar Frodo – sua nave – à vista.

Diana tinha seu espaço entre aqueles curiosos que gostavam do mesmo ramo, afinal, nem todos têm interesse por ver prédios velhos desmoronando, por isso seu nicho era menor. Os 1,1 bilhão de inscritos em seu canal, era pouco perto dos 56 bilhões de Molusco, um humano que parecia divertir as pessoas ao pregar peças em outras e gravar vídeos. No final, todos adoravam um homem que nem sequer tinha um nome real. Uma imbecilidade, Diana julgava. Mas era como tudo funcionava. Os idiotas sempre estavam em ascensão sabe-se lá como, talvez porque os que lhe fizessem subir também fossem idiotas, e talvez isso ocorra porque os idiotas são maioria.

Eles se aproximavam do outro planeta, Denali. O tráfego entre os três planetas habitados por humanos, chamados de "Planetas Terráqueos" ou então "Planetas da Tríplice" – ou seja, pertencentes ao império da Terra, dominados e governados por humanos – era um tráfego livre. É permitida a passagem pela atmosfera de qualquer um dos três se a nave viesse da Ponte, como é chamada a rota de ligação entre eles. Havia apenas uma simples identificação pelos satélites que orbitavam ao redor de cada planeta e detecção de que a nave que buscava entrar era de outro planeta terráqueo. Os planetas eram próximos, tinham uma distância média de quinze milhões de quilômetros de distância entre um e outro, o que facilitava o deslocamento quase que diário dos habitantes deles utilizando o motor de propulsão Pontual.

A viagem de três horas foi feita em duas, o que fez Zac resmungar o tempo inteiro no banco do carona pedindo para que Diana diminuísse e respeitasse as regras de trânsito da Ponte. A Ponte é como um longa e espaçosa faixa de luz azul, que estava desativada no momento, mas que pode ser ativada caso necessário, em casos de ocorrência de acidentes ou então caso uma nave quebre no meio do caminho e assim é seguro que agentes Interplanetários salvem os coitados que pararam no meio da rota; pode ser ativada também para proteger o tráfego de pedaços de meteoros ou lixo Espaciais que serão contidos por suas barreiras azuladas que envolve os carros.

Diana ainda circundou o planeta para a direita dentro de sua atmosfera, desligando o motor Pontual, até chegar próximo ao país das coordenadas que Moisés lhe passou. Aos poucos ela foi trocando de faixa até chegar à quinta faixa que lhe dava uma boa visão aérea. A cidade onde o Centro de Estudos Médicos ficava estava próxima e ela se posicionou na primeira faixa rondando em meio aos prédios e seguindo agora o GPS que demonstrava as ruas e não mais pontos longínquos. A nave, muitas vezes, tomava o controle e virava para o lado oposto que Diana seguia enquanto ela resmungava sua frase de sempre:

— Você sabe que nunca tive um bom senso de direção, Frodo.

Frase essa que fazia Zac revirar os olhos de tanto saber. De cima puderam ver a grande construção acinzentada cercada por portões com grades e um grande campo no qual a natureza começava a tomar conta. Moisés já lhes esperava quando ela estacionou na área externa do terreno do CEM.

— Demoraram.


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