Como roubar uma estrela escrita por Férula


Capítulo 3
Caítulo 2 - CEM




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O rapaz de cabelos lisos empurrados para trás da orelha, vestindo uma camisa jeans de mangas longas, resmungou guardando o celular no bolso e pulando para fora de sua própria nave.

— Demoramos? — Zac arregalou os olhos. — Ela veio voando...

— Não me diga.

Moisés ironizou enquanto Diana ria pegando a mochila e montando a câmera para o trabalho.

— Você me entendeu, idiota.

Zac respondeu voltando para a nave após se espreguiçar e alongar do lado de fora.

— ...estamos prontos para entrar em um Centro antigo das Forças! — Josh falava com a lente apontada para seu rosto e a câmera já na ponta de seu tripé de mão. — E agora temos outro escudeiro, Moisés está aqui. — Ele se aproximou do rapaz que piscou e sorriu. — Como ele é o único de nós daqui de Denali, ele será nosso guia hoje, mais uma vez. Não esqueçam de se inscrever no canal dele...

— Ele não para.

Zac resmungou colocando duas esferas de gás que eles costumavam levar para casos de ataque de algum morador de rua louco que possa ter invadido o prédio, enquanto Diana ria colocando a sua mochila nas costas.

— Alguém tem que filmar o making off!

Josh gritou de longe demonstrando que sua audição era impecável para ouvir até o resmungar do amigo sobre seu falatório. Moisés abriu o caminho a frente, cortando com um laser os galhos que cobriam a entrada. Ele cortou um pedaço lateral pequeno da grade com o mesmo laser, um espaço que apenas permitisse a passagem de um de cada vez. Diana ligou sua câmera assim que entraram no terreno cercado.

— Agora estamos dentro da área, cercados por portões altos de grades. Olhem.

Ela falou próxima à câmera virando-se para filmar a cerca que acabaram de furar. Os outros rapazes já se afastavam com seus equipamentos, mas não o bastante para perde-los de vista. Era assim que funcionava o esquema, entravam juntos e saíam juntos, mas lá dentro se afastavam para cada um ter seu ângulo e suas ideias do local. Caso um deles visse algo interessante, gritava aos outros para que também filmassem aquilo, mas a proximidade era algo que mantinham apenas quando achavam mais seguro estarem juntos, quando o local demonstrava perigo.

O medo não era uma hipótese muito viável para eles. Diana sabia ser a mais medrosa entre os quatro e se espelhava em cada um para melhorar em seus aspectos que julgava ainda falhos. Moisés era quem sempre se mantinha a frente, parecendo ser aquele que queria abrir todas as portas possíveis e ver primeiro as novidades que lhes sorria ou chorava dentro daqueles lugares ermos. Podia ser considerado o mais corajoso, mas na verdade sua coragem escondia a irresponsabilidade.

— Bom, estamos dentro de um propriedade das Forças Espaciais que pertenceu ao Governo da Terra e da Tríplice, mas... — ela fez uma pausa virando a câmera para si enquanto levantava um dedo para esclarecer — de acordo com o Estatuto da Sociedade Terráquea e Adjacentes — ela enfatizou o adjacentes —, qualquer construção vazia por mais de doze anos pode ser considerada local público e caso alguém não se aposse do local criando um espaço cultural, festivo, esportivo ou qualquer coisa do tipo que sirva a comunidade local em um espaço de tempo de cinco anos, depois de dezessete anos será pertencente ao governo. E eu procurei bem e esse centro médico está abandonado há cerca de dezesseis anos, portanto estamos dentro do período de pertencência ao poder público. Então...eu não posso ser presa, certo? Não estamos invadindo um prédio do governo e ninguém ainda lhe tomou como dono.

Ela riu descontraída enquanto ainda caminhava com a câmera apontada para seu rosto. Sempre falava isso em todos os seus vídeos para deixar claro de que nem ela e nem os garotos estavam infringindo as leis.

— Mas aqui é lindo. — Ela parou olhando para cima ao chegar mais próximo do prédio. Voltou para frente a lente a apontando para a construção. — Olhem o tamanho desse prédio. Haviam quadras esportivas aqui, talvez piscinas, salas de jogos e está tudo largado.

Ela apontava para todos os lados, como uma criança encantada.

— Talvez eu o tome como dona, quem sabe? — Ela riu com sua própria fala. — Bom, mas aí sim eu correria o risco de ser presa. Não teria dinheiro o suficiente para transformar isso em algo de lazer ou educação para a comunidade, então teria que responder por fraude e possessão sem posses suficientes.

Por conta da invasão em locais abandonados, ela procurava saber bem sobre seus direitos e deveres. Não poderia invadir qualquer local, colocar o vídeo na internet e esperar que ninguém fosse bater em sua porta com o distintivo da polícia Tríplice prontos para prenderem primeiro e depois perguntarem. Não havia cursado Direito na faculdade, mas graças aos vídeos e tantas pesquisas, já se considerava uma bacharel.

Ela subiu a escada espaçosa branca de mármore que dava para a varanda. A porta da frente era do tipo que deslizava, feita de madeira real, o que era muito raro nos dias atuais na qual toda a madeira foi substituída por um material de textura mais lisa e fria que tenta imitá-la.

— Achei uma entrada.

A voz de Josh ecoou até seus ouvidos. Diana seguiu até onde achou ter vindo som, para o lado externo da varanda ao lado da escada, Moisés já se enfiava em um buraco no chão enquanto Josh estava do lado.

— Cadê o Zac?

Diana deu de ombros.

— Não sei não.

Ela seguiu o caminho do primeiro enquanto Josh ainda esperava do lado de fora. Moisés estendeu a mão para ajudá-la a descer aquela escada apertada que era feita do mesmo material da porta. Diana pegou a pequena lanterna enganchada em sua mochila e a acendeu jogando a luz em volta e depois no rosto de Moisés que fez uma careta. Josh era o próximo a descer e logo os três tinham suas lanternas acesas e postas em suas mãos, enquanto com a outra seguravam cada um sua câmera.

— Isso é o porão, né? — Josh perguntou andando de costas.

— Aham. Primeiro vamos achar a saída para o andar de cima e depois podemos nos separar.

Moisés indicou enquanto Josh já caminhava para mais longe para mexer em alguma papelada jogada em um canto do chão sujo de cimento.

— Olha, isso é um panfleto explicativo sobre aquela doença, a EX.

Diana acoplou a lanterna em seu tripé e pegou o panfleto sujo para lê-lo, apontando a câmera para ele.

EX era como ficou conhecida uma doença que veio com soldados após o início da guerra de Color que durou 50 anos e atingiu cerca de duas gerações de famílias. Ela causava machucados nos tecidos epiteliais que ficavam abertos para infecções. A explicação é que foi causada por exposição a raios ultravioletas emitidos pelo novo Sol durante um longo tempo e uma proximidade exagerada. Cinquenta anos atrás ninguém sabia das Forças desses raios e as naves das Forças não estavam tão preparadas para barrá-los. Ele perfurou lentamente os escudos e a carcaça de muitas dessas naves, sem que sua tripulação e até mesmo o sistema percebessem, achavam que ranhuras poderiam ser apenas desgastes do tempo, como se o tempo pudesse atingir o espaço — burros humanos.

A guerra ocorreu muito próxima do Novo Sol mais frio que o Sol antigo, mas que mesmo assim não perdeu nem um pouco de seu poderio e que nunca permitiu, assim como o outro, ser tocado. Talvez essas estrelas inteligentes que não se deixavam tocar pelos homens, eram os locais mais seguros do universo, zelando por sua preservação.

A EX demora um certo tempo para começar os danos em seu organismo, o que fez com que os soldados começassem a sentir já no final da guerra. Grande parte dos feridos já eram ex soldados, daí o nome. Muitos deles foram movidos para quarentena e ali onde Diana segurava o panfleto deveria ser um local de antiga quarentena.

— Achei uma passagem!

Moisés gritou longe do campo de visão deles após ter sumido por um corredor do porão que parecia mais ser a casa de máquinas de todos os três ou quatro andares acima. Diana parou de ler o panfleto e o enfiou no bolso, seguindo Josh. Uma escada mais larga do que a que haviam descido para o porão mostrava uma porta aberta em seu topo que dava para a casa, onde Moisés já esperava.

A escada dava para uma despensa onde não havia mais comida, apenas as prateleiras de metal com suas correias que levavam o alimento pedido até o consumidor demonstravam o que aquele quarto havia sido. Moisés abriu uma porta de saída da grande despensa o que lhes permitiu encontrar o refeitório e ao olhar para trás perceber as máquinas que pegam a comida pedida naquele grande armário e as entregam por meio de suas gavetas.

Um som estranho surgiu longe dos três. Eles viraram seus olhares rapidamente para a direção de onde acharam ouvir o som que se aproximava. Abaixaram as lâmpadas e apontaram as câmeras. Eram passos. Moisés levantou a lanterna na direção da porta sem dizer nada. Os três esperaram nervosamente, Moisés talvez estivesse ansioso já que Diana percebeu um leve ar de sorriso em seu rosto, ele queria uma aventura além do que já estavam tendo e aqueles passos poderiam ser sua aventura. Enquanto um carregava um sorriso, Diana sentia medo e imaginava milhares de coisas que poderiam estar vindo e Josh era tentado a se aproximar para filmar melhor mas se continha mantendo-se atrás de Diana. Mas qualquer ideia que pudesse surgir na cabeça dos três havia sido quebrada ao surgimento de alguém com a lanterna também apontada na direção deles. Diana deu um passo para trás fazendo Josh também se deslocar o mesmo tanto e mudar a posição rapidamente já que Moisés havia ficado em frente à sua câmera.

— Quem tá ai? — Moisés perguntou sem conseguir enxergar direito com a lanterna da outra pessoa em seus olhos.

— Cara, sou eu.

Uma voz conhecida respondeu abaixando a lanterna. A imagem de Zac na frente com sua câmera em mãos fez com que os três suspirassem, Diana de alívio, Moisés de decepção e Josh por achar graça.

— Onde você estava, cara? — Josh perguntou cruzando o salão para encontrar o outro garoto.

— Entrei por uma janela quebrada que deu pra sala. Por onde vocês entraram?

— Porão — Diana respondeu de mau grado, os seguindo. — Grande passagem que o Moisés achou.

Eles rodaram a casa toda. 

Salas do andar debaixo, refeitório, subiram nos andares de cima e vasculharam os quartos, tinha uma biblioteca virtual que já havia sido desativada e uma sala de jogos onde alguns equipamentos ainda estavam lá.

— Olha só isso!

Zac não pôde conter a felicidade, assim como Josh, ao verem os antigos vídeo games sobre a mesa no centro da sala. Eles gargalharam se aproximando para mexer em tudo enquanto Diana caminhava para uma porta no final desse grande quarto. Ela girou a maçaneta lentamente e percebeu ser um escritório. Havia uma mesa central de vidro, estantes vazias atrás da mesa, uma janela imensa do lado esquerdo que dava agora para um caos que era a vegetação que tomou o local mas que antes deveria mostrar toda uma paisagem aberta, além de um sofá encostado debaixo da janela.

Ela deu a volta na mesa encontrando um tablet que limpou a poeira e tentou ligar mas ele já não dava mais sinal de vida. A mesa tinha uma tela acoplada que também não mostrava sinal de que ligaria. Diana girou em seus calcanhares ouvindo os risos dos garotos na sala ao lado e uma musiquinha de jogo.

— O jogo ainda funciona! — Josh gritou — Vem ver, Diana!

— Já vou.

Ela respondeu mais interessada na estante de madeira que continha um livro solitário. Um livro de verdade como visto apenas uma vez por ela. Ela carregava um consigo "Senhor dos Anéis", o único livro que já tocara na vida e isso apenas porque esse livro parece ter nascido com ela. Não existiam mais livros nos tempos atuais. Ela puxou o único volume da estante para ler o título em sua lombada: "O Hobbit". Diana se afastou. O autor era o mesmo, J.R.R.Tolkien. Ela riu ainda boquiaberta.

— Não pode ser.

Sussurrou consigo mesma encarando o exemplar empoeirado. Ela nunca pegou nada de nenhum lugar do qual se meteu. As casas eram abandonadas e isso não quer dizer que você tenha o direito de pegar o que há dentro delas. Tendo ou não tendo dono, aquelas coisas continuavam não sendo suas. Mas dessa vez ela o pegou. Quebrou a primeira regra de exploração a locais abandonados. As regras eram claras: Durante a exploração urbana 1 — não roubarás, 2 — não vandalizarás, 3 — deixarás tudo da mesma forma que foi encontrado (ou o mínimo que pudesse manter para não fazer grandes estragos).

Diana segurou o exemplas nas mãos sem conseguir ler muito mais do que o título e o nome do autor. Tirou a mochila das costas a apoiando sobre a mesa e guardou—o depois de tentar tirar um pouco de sua poeira com as mãos. No mesmo instante, algo brilhou debaixo de sua mochila. Diana arregalou os olhos e puxou a bolsa de cima da mesa que acendia sua tela com a devida inscrição:

"Acesso negado"

Ela se afastou rapidamente, dando a volta na mesa para sair correndo daquela sala. Não quis sequer ler o resto da mensagem.

— Precisamos ir.

Falou alarmando os garotos que de pé tentavam acompanhar os passos de dança que o jogo lhes propunha na grande tela de alta definição meio falha na mesma parede onde atrás era o escritório.

— Que? Por quê? — Josh perguntou parando de dançar.

— Alguma coisa ligou naquela sala e é melhor sairmos daqui.

Logo ela soube que não deveria ter falado, os três pegaram suas câmeras de onde haviam deixado para voarem para a porta de entrada do escritório à procura do que Diana havia feito.

— Que merda é essa?

A tela piscou com a mesma inscrição, trocando seu idioma, enquanto Moisés sussurrava.

— O que você fez? — Zac perguntou enquanto Diana não ousava se mover da porta.

— Não sei, dá pra irmos embora agora?

Ela pediu batendo o pé nervosamente no chão.

— Mas você tentou acessar alguma coisa? — Moisés insistiu.

— É claro que não, Moisés! Vamos embora, por favor?

Os três concordaram e saíram da sala rapidamente. Diana não filmava mais nada assim como Zac. Moisés mantinha a câmera nas mãos filmando a saída e Josh era o único que tentava explicar para o vídeo — e para as pessoas que assistiriam aquilo quando o publicassem — o que havia acontecido, enquanto eles andavam rapidamente descendo as escadas e voltando pelo caminho de onde Zac entrou mais facilmente na casa.

Como em um piscar de olhos já haviam passado pelo buraco aberto por Moisés na cerca e já se posicionavam em seus carros. Diana e Josh no dela e Zac e Moisés no carro desse último. Combinaram de se encontrar na casa de Moisés e Diana só conseguiu acalmar seus batimentos cardíacos quando pousaram no jardim do garoto.


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